sábado, 26 de janeiro de 2008

Morrendo na praia.



-Hey velhinho, venha aqui me foder! E....Um Feliz Ano Novo pra vocêêêê!

Essa era Paty. Umas dessas garotas da classe média, tanto perdida, e pelo seu sotaque, oriunda de uma faculdade qualquer ao sul do país. Eu estivera acompanhando a sua forma de viver nos últimos 15 dias e o jeito indiscriminado que se relaciona com as pessoas, dormindo à cada dia numa nova barraca e com um novo cara. Definitivamente, ela me inspirava a menor confiança. E, mesmo para um sujeito sem escrúpulos como eu, justificava-se preocupar-me com a sanidade física do meu corpo. Claro, as minhas concepções poderiam ser plenamente discutíveis e poderia até estar incorrendo em algum erro de avaliação, já que jamais teremos a certeza que a aparente conduta de uma pessoa possa estar nos expondo à algum tipo de risco de saúde. Mas, errado ou não, com ela era assim que funcionava. E para evitar maiores preocupações ou dissabores, achei melhor manter-me longe da sua insistência e do seu corpo maneiro. Quanto a mim? Bem, eu era um escritor ou ao menos achava que era um. E era lá no meu trailer, sempre no meio da noite que essa maluca surgia em calcinha e sutiã me incitando para uma trepada relâmpago. Já que mencionei a minha casa “andante”, nós, eu e ela, estávamos nanquele local há quase dois anos; um camping, agregado a um braço de mar entre a divisa do Rio e São Paulo, conhecido por Camburi. Pra quem o visse lá do alto da estrada, admiraria aquela maravilha de lugar e chegaria à conclusão que; são raras as vezes como essa que o homem esquece-se de predar e depredar o meio ambiente. E este, estando uniforme, intacto, nos agracia com locais mágicos e espetaculares como esse, onde o bucolismo nada mais é e se faz paisagem dessa pintura chamada; natureza. E assim no camping e naquele extenso gramado, a minha casa e eu, vivíamos quase que solitários até a chegada sa época de férias.
E essa, chegava entre dezembro e fevereiro, fazendo aquele local abarrotar de gente de todo tipo e credo. Isso, por um lado, tornava o lugar um tanto confuso, mas, se visto por outro, reparíamos na sua insolitez. Bem, voltando a garota da trepada relâmpago, sempre que ela dava as caras, ou estava drogada, ou alcoolizada. Quase sempre a sua voz arrastada e a falta de coordenação motora denunciavam que estava numa “viagem”. E era fácil constatar o quanto a garota era pirada; Estávamos no dia 19 de Dezembro, portanto há 12 dias de um Ano Novo.
E, fora isso, eu decidira não mais manter relacionamentos sexuais e afetivos com quem eu não houvesse trocado ao menos umas 30 frases completas. Equacionei rapidamente e cheguei à conclusão que eu jamais houvera trocado mais que quatro ou cinco cinco frases com a maluca. Absolutamente certo dos meus cálculos, virei-a de costas, dei-lhe uma boa palmada na bunda, e a mandei passear. Ela se foi, trôpeçando, resmungando enquanto descia os degraus da escada. Assim, conforme ela se foi eu a olhei por trás e quase senti pena de mim por ter enxotado aquela doida, de corpo fenomenal. “E se eu estivesse errado?” Avaliei novamente - Bem,era complicado, e como eu houvera resolvido assunto daquela forma, voltei para a velha Remingtom e tentei retomar o romance que tentava desenvolver. Para piorar, estava empacado com a trama, e a minha mente se encontrava tão oca que nada produzia que fizesse a safada Judith, mulher de César, o advogado , abandonar as abastadas suites de motéis, muito menos as trepadas sempre as escondidas e com os seus melhore amigos. Eu estava nesse dilema quando fui acordado por batidas na porta do trailer:

-Quem é, porra? - Esbravejei. Eu não havia gostado da quantidade de porradas que desferiram na porta. Um breve silêncio, após, ouvi pessoas cochichando lá fora. Pareceram munir-se de coragem.

-Somos nós! Holly, seu velho sacana! Somos os seus fãs! - Acho que nunca me deixariam em paz. Um pouco após, ouviá-se risos e eles pareciam se divertir. Aquilo me irritou:

-Mas que merda! – Gritei.


– Ah, Holly, larga de ser chato, Trouxemos para você umas boas garrafas de vinho do Porto! – Gritava lá fora um deles.

Hã? Eu ouvira corretamente? Três garrafas de vinho do Porto? Mais que de repente passei gostar da surpresa da visita, e já fazia um bom tempo que não bebia um bom e legítimo vinho português.

-Tá certo, porra! Entrem! – Convidei-os, abri a porta e os olhei bem nos centro dos olhos e para as garrafas que traziam. Vi os rótulos; legítimos. Eu era um tanto desconfiado. Abri-lhes à passagem: dois rapazes e uma moça. Estava mais que evidente que eram universitários – Eu estava habituado com aqueles garotos e seus sorrisos e seus modos de nada quer, como nao estivessem nem aí. Pura lorota. Eles estavam sim e sempre estarão, e o problema se consiste no fato deles nao gostarem da idéia que você saiba do fato.

-Holly, até que enfim te achamos! – Disse o que tentou ser o mais parecia esperto deles.

-É sim, Holly! Viemos aqui porque lemos uma matéria sua no “Ratos de Esgoto” onde mwncionavam que você estava morando nessa praia. – Completou a garota, que logo achou um banco e acomodou-se bem à minha frente.

Sentada, cruzou as pernas no alto e me deixou ver debaixo da minúscula saia jeans, uma ponta de algo de um vermelho vivo que nem sangue; sua calcinha.
A garota lera algo na “Ratos de Esgoto”. Uma tiragem para um público composto ´por estudantes universitários e um público alternativo, principalmente para os que transitavam no “subterrâneos”. Portanto, além de fazerem matéria sobre as minhas andanças, convidaram-me à publicar semanalmente qualquer coisa que eu quisesse.
Me pareceu interessante. E como não ditavam o que deveria ser publicado, aceitei prontamente. E assim ficamos nós três naquele lenga-lenga dos diabos, uma conversa sem pé e nem cabeça, dando fim nas três garrafas de vinho do Porto. Os rapazes bebiam rápido demais, e ao fim da segunda percebi que estavam embriagados; coisa de amadores – conclui – A garota, mais maneira, não queria ficar “balão” tão depressa, e assim sorveu lentamente o seu néctar. O porre veio e os garotos silenciram e ficaram lá com suas expressões idiotas estampadas nos rostos. Ela,não! Ela me olhava diretamente nos olhos e não perdia qualquer dos meus movimentos. Trocamos algumas palavras e ela me falou o seu nome; Andréa. Sem dúvidas, Andréa era linda, talvez uns 23 anos, pernas fortes e bronzeadas e um par de olhos azuis que teriam causado ciumes à Jesus Cristo. E conforme a bebida ia surtindo os seus efeitos, para a garota foi inexistindo a inibição e bem mais em cima as suas pernas se cruzaram. Eu passei a devorá-la com os olhos; à ela e a calcinha vermelha escancarada à minha frente. Eu e ela passamos a rir de algumas bobagens enquanto os garotos pareciam não agüentar mais. Trôpegos, e com as mãos segurando suas bocas abandonaram o trailer. Achei decente a atitude deles; mesmo alcoolizados perceberam que seria ridículo vomitarem ali, bem no meio da minha sala. Com a Andréa, não! Ela agüentaava firme, apesar da voz ligeiramente pastosa, mas que dizia coisa engraçadas do tipo; “Hey, Holly! É verdade que uma vez você transou com três mulheres de uma só vez? - ou – “Holly, é verdade que você conseguiu chupar o seu próprio caralho?”

Eu a olhava e me divertia também com o seu sorriso sexy e ainda mais com aquela minúscula calcinha, que parecia ter ido com a minha cara. A noite estava quente, muito quente, então ela desabotoou os primeiros botões da blusinha brancae eu vi saltarem fora, dois belos volumes estampados num tecido vermelho, idêntico ao da calcinha. O sutiã, um tanto cavado, exaltava dois volumes bronzeados, magníficos, tal qual o par de coxas. Sem demonstrar afobação, levante e me encaminhei na sua direção.
Lá fora, os garotos, talvez já estivessem desmaiados já que não ouvíamos qualquer ruído vindo de lá. Ela continuava me olhando de forma provocante e suspirou deliciosamente tão logo sentiu a minha mão penetrando por dentro de um daqueles bojos. Com movimentos circulares, eu fazia massagem em seu seio, e esse movimento se estendia até a extremidade, onde fazendo voltas com a ponta do dedo indicador, eu sentia o seu mamilo crescer. E ele ficava mais rijo à cada volta dada. Ela, excitada, sussurrou sensualmente;

-Não Holly! Por favor....não!

Eu conhecia aquele “Não” com um sabor de “Sim”. Com a outra mão destravei o fecho do sutiã e os libertei da escravidão. Eles surgiram soberanos, belos, voluptosos. Fiz um meneio de cabeça e então desci com a boca. Chegando lá, eu rodeava seus mamilos com a ponta da língua e, um por vez. Aquilo foi demais para Andréa:

-Vem, Holly! Vemmmmmmmmm!

Eu peguei em suas mãos e a puxei do banquinho. Ela veio por inteiro, e com a sai ainda em cima, já que não houvera tempo do tecido ganhar o seu caimento natural. Ainda em pé, acariciava com os meus dedos a parte da frente da sua calcinha e notava que ela ficava cada vez mais úmida aos toques. Ela cerrava os olhos e seus cabelos brilhavam sob a lâmpada que pouco lumiava. Estava soberba. Tentei beijar a sua boca, mas ela não permitiu:

- Holly, por favor! Sem beijos. Só sexo, Holly! - Disse para mim.

Rapidamente procurei o zíper da sua saia e os desci e então surgiu o esplendoroso corpo de mulher. Excitada, ela chutou a saia e tirou o sutiã que se mantinha dependurado. E ali nos entrelaçamos ferozmente. Éramos duas feras; uma no cio e o outro, um macho, sedento por sua femea. Ali, em pé eu a possuí e o meu pau penetrou a sua gruta, quente, apertada, úmida. Era uma sensação indiscritível.
Eu olhava para o rosto de Andréa e ele parecia arder em brasas. Eu me concentrava em seus olhos e eles faiscavam, talvez fosse até a filha do próprio Demo. E aí ela implorou;

-Assim, Holly! Assim, seu puto! Me foda mais rápido! Maissssss!

E eu a estocava com golpes rápidos como se fosse um esgrimista. Era o prenúncio que o grande momento dela estava próximo. Andréa pedia para que eu fosse cada vez mais rápido e contundente. Eu também queimava e as minhas estocadas se tornaram fortes como alguém que estivesse martelando num único local. Por essa altura ela gemia forte e vez por outra me sussurrava a fêmea, satisfeita. Antes mesmo que ela chegasse ao clímax, eu a virei de costa e indiquei para que fosse para a ponta da cama e permanecesse na posição de "quatro". Ela gemeu deliciosamente; havia entendido o que eu queria. Pelo jeito que gemia, sussurava e separava as pernas, uma da outra, deixando um bom vão entre elas, com certeza, queria aquilo também:

-Vem Holly! Eu quero, agoraaaaaaaaaa! – Rogou naquela sucessão de “a”

Eu entrei por trás. Ela sussurrou, resmungou, urrou ais e uis e pedia para que eu penetrasse cada vez mais fundo em seu rabo. Eu, excitado e ensandecido pela súplica, soquei forte, enquanto ela, com uma das suas mãos, extasiava-se masturbando, acariciando o seu clitóris. O momento do gozo foi intenso e mágico para ambos. Ela, urrando de prazer, e eu mais discreto me preocupei com o escândalo que ela causava. "Acho que Deve ter acordado todo o acampamento" - imaginei - Eu era um predador sim, mas não um exibicionista - justifiquei-me As minha pernas tremiam e eu, encurvado, mas ainda dentro dela, mordiscava a sua nuca. Sutilmente, Andréa foi se deitando, mas nao permitindo que ele saísse de dentro dela. Acompanhei a sensualidade do seu movimento e me deitei completamente por cima das suas costas. estirado por toda extensão do seu corpo. Ficamos ali, por uns bons minutos, e o meu peito arfava e fazia pressão nas suas costas. Um pouco além, assim que meu pau amoleceu, Andréa virou-se para um dos lados e me puxou para que aninhasse ao seu lado.
Olhou-me no fundo dos olhos. Fixou-se bem nas minhas feições dos quarenta e tantos anos, e no meu rosto nem feio e nem bonito, e então me beijou como poucas. E eu amei aquele beijo poderoso e aquela lingua sugando a minha. e os seis dentes mordiscando meus lábios, paea depois, com a ponta da lingua, contorná-los voluptosamente. Amei e deixei que ela me possuísse mais do que a possuíra poucos momentos antes. – Eu sempre achara que o ato de beijar é muito mais íntimo e avassalador que o sexo em si.
Por outro lado, e para empatarmos, eu também acabara de quebrar as minhas regras já que, talvez, ela e eu não tivessemos trocado mais que 10 ou 15 frases, além dos 50 palavrões. Erros de cálculos...erros de cálculos; sinceramente, não me diziam nada nessa altura. Eu me via absurdamente compensado por todos esses erros em meus cáculos e por transgredir as mimhas próprias imposições. Andréa olhou-me novamente, encheu os pulmões e o esvaziar num longo suspiro:

-Holly, que delícia! Você foi a das melhor trepada que eu dei na vida. Você foi um Antonio Banderas!

-Hummmm. Você achou, baby? – Respondi um tanto desconsertado, afinal, o que eu tenho a ver com a porra do Antonio Banderas?

E o pior foi que ela me fez sentir na pele de um jovem no seu dia de prova. Bom, talvez a pretensão, juntamente com a auto-suficiência, sejam a marcas características nos jovens nos dias de hoje. Eu também teria dito que ela fora uma “número um”, mas, qualquer coisa que eu falasse agora soaria pouco imaginativo ou, sem qualquer criação. Ficamos ali mais uns 20 minutos, somente nos olhando, nos beijando, mas sem nada dizer um ao outro: éramos de diferentes gerações e certamente nem compartilhávamos das mesmas idéias ou ideais. Mas, à despeito de tudo isso, havia algo que combinávamos explendorosamente; nos beijos e no sexo.
Silenciosamente, Andréa se levantou e deixou eu perceber toda a sua graça de mulher ao se recolocar nas sensuais lingeries cor de sangue. Após, vestiu-se com aquelas roupas tão singelas e joviais que a deixavam com a aparência de uma garotinha de 16. Levantei e me vesti. Silenciosamente a acompanhei até a saída do trailer. Descemos os degraus e procuramos pelos rapazes já que eles pareciam não estarem próximos. A neblina dificultava a nossa visão – era quase 01:30 da madruga, e percorrendo o longo do gramado, uns 15 metros adiante os encontramos. Estavam lá, dormindo um sono pesado, inocente, e etílico. Com algum esforço, ela e eu conseguimos colocá-los em pé, e apoiá-los em nossos ombros. Eles balbuciavam coisas incompreensíveis, e eu só achei engraçado quando o garoto loirinho, ao se ver levantado da gramam berrou um “va se foder” Eu não pude deixar de rir, gostosamente. Assim que estavam firmemente amparados ela me pediu

-Holly, poderia me ajudar a levá-los pra barraca? –

-Claro, claro, Andréa! – Afirmei, afinal, um pouco mais de esforço até que me faria bem.

E assim andamos uns 60 ou 70 metros até chegarmos onde haviam acampados; um par de barracas colocadas uma do lado da outra. A maior seria a dos garotos; uma dessas com quartos, cozinha e os cambaus. A da Andréa era menor, do tipo iglú, porém, muito confortável. Acomodamos os garotos na barraca e, assim que se perceberam deitados em seus colchonetes, balbuciaram algumas coisas incompreensíveis e voltaram à ferrar no sono. Ao sairmos da barraca deles, Andréa me olhou profundamente. Apesar do pouco tempo e das incompletas 30 frases, eu percebia o significado daquele olha. Então me perguntou:

-Holly, quer dormir aqui? – Aquilo soára mais que um questionamento; fôra um convite.

-Não, não, Andréa! Não me ajeito com nessas coisas. To acostumado com o meu colchão de molas. – Me desculpei.

Foea melhor assim; aquela menina poderia me matar sem apertar um único gatilho. Então me despedi e segui rumo ao trailer.
Ela ainda olhou ao me afastar. Talvez eu tivesse caminhado uns 12 metros quando eu ouvi a sua voz. O tom era doce, até que meio romântico dessa vez:

-Holly, posso te visitar no seu tariler? Ah! Se eu puder, juro que não levo esses babacas, ta?

Evidente que ela não pode reparar nas minhas feições e nem perceber o meu sorriso:

-Claro, claro! Você será sempre bem-vinda...sabe disso! – Respondi numa tonalidade elevada, talvez acordando oessoas nas barracas vizinhas.

-Ok, Holly! Estarei lá. Me aguarde! – Disse num ar vitorioso com o polegar ereto e para cima. Eu sabia distinguir o som que emite uma mulher vitoriosa

Dito isso, entrou na barraca e então eu ouvi o irritante som daqueles enormes zíperes se fechando.

Caminhando lentamente rumo à minha casa eu pensava que um homem nunca haverá satisfeitos todos os seus absurdos e insanos desejos. E o desejo que eu tinha era o de pegar aquela garota e trancafiá-la no trailer e tê-la só pra mim, escondê-la da humanidade. Essa idéia me assustou, mas depois, pareceu me satisfazer.
Percorri aqueles 60 ou 70 metros com um olho voltado para a neblina e o outro, no dia seguinte. Claro, eu sabia que havia o perigo dela me matar sem detonar qualquer projétil. E, além do mais, eu jamais teria para mim a imortalidade. Isso era pra Zeus e outros da sua turma. Eu era somente um ser humano. Eu poderia morrer à qualquer momento, picado por um escorpião, uma cascavel, por dengue ou até por uma gripe mal curada. E, se fosse assim, qual seria a desgraça em morrer por mãos ou dentro do corpo de uma bela mulher? Nenhuma!
A minha sorte estava lançada.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O dia que Don Juan DeMarco pescou.


-Vô, por que as garotas estão vivem querendo pisar na gente?

O velho olhou para o guri. Achava um tanto engraçado vê-lo no alto dos seus 12 anos, vara de pescar numa das mãos e olhos concentrados no balanço das águas. O guri, efetivamente se saíra um melhor pescador que ao conquistador que tanto o velho gostaria que o neto se transformasse. Ele se orgulhava do guri. Orgulhava do jovem e eficiente “pescador”, mas, a natureza deste de só interessar-se por de vídeos-game, computadores e ter a casa abarrotada de amigos distanciavam-nos de uma intimidade maior. Não foram poucas as vezes que o neto e os amigos silenciavam tão logo entrasse no quarto de Felipe. E, além do mais, o futuro do garoto o preocupava. Seria Felipe um desses “nerds” que pensam com a rapidez e desenvoltura de um computador, como se toda sabedoria produzida pela sua mente, tivesse que desembocar ali, naquele amontoado de teclas e letras? Poderia haver mais num teclado e nos vastos programas de computadores, tão excitante como um bronzeado par de coxas ou o baton vermelho na boca de uma mulher? Era nisso que pensava o senhor Chilavert. E os pensamentos se amontoavam e ele vislumbrou o garoto na pele de um executivo. Num desses almofadinhas engravatados, exalando Paco Rabanne, sufocando o ar com o perfume bom mas enjoativo, num olhar altivo, insensível, credor de que nada lhe servia a humanidade, salvo fazer-se de uso como fazemos num trampolim. Acontecera dentro da sua própria casa e com a única filha. Mônica era o seu nome. Era uma dessas pessoas; uma excepcional executiva que expandíra em mais de trinta vezes os negócios e o patrimônio da família Chilavert. E tudo isso começara nele e com a editora que fundara e outorgara a ela, tão logo essa terminou a faculdade. Talvez houvesse sua parte de culpa nesse processo Ele mesmo, comandara o barco por uns bons anos, mas, a convivência entre escritores nunca fora fácil. Ele mesmo o sabia, pois fora um. – “Os escritores são ególatras e narcisistas e sempre se julgam melhores uns aos outros. Consideração? Oras bolas! A desconsideração entre a nata é tão contundente, e tratam-se entre si como se fossem excrementos que se se vão, descarga abaixo, num único pressionar de botão” – Concluía o senhor Chilavert. Porém, Mônica, ao contrário, saiu-se diferente dele e amava ter por perto aquela cambada de exibicionistas e canastrões, embora houvesse entre eles, raras e deliciosas exceções. E assim, diploma na mão, ela se dedicou à editora como se fosse a um filho e fez aquilo crescer como ninguém jamais o faria. Porém, apesar de todo o sucesso, a filha se tornara uma pessoa triste; uma executiva eficiente e fria.

Talvez a convivência com a falsidade ou a prematura viuvez que afastou de si o marido, logo após o primeiro ano de casamento, tivessem sido os maiores responsáveis. Houve sim, após a morte do marido, um escritor por quem ela se apaixonou e por ele fez tudo que se pode fazer por alguém. E ele foi reconhecido pelo público, talvez nem por seus méritos, mas pela irritante insistência de Mônica , que às duras penas o introduziu no mercado. Mais uma vez ela provava da falsidade do mundo literário, e assim que esse se viu reconhecido, best seller, desfez-se dela e até trocou de editora. Não raras, foram as vezes que a vi, olhar perdido, rosto sombrio, telefone numa das mãos e toda a desesperança de ter a certeza que, mais uma vez, ele mandara dizer que não se encontrava. Retornar ligações? Nunca!
Dessa forma, usada, ferida, viu ruir o seu castelo ilusório, para trancafiar-se ainda mais no mundo dos negócios e dos resultados. Para o filho, quase não sobrava tempo, principalmente após o terceiro ano de idade. Felipe sempre foi preterido diante das sucessivas e exaustivas reuniões que faziam de Mônica, uma refém dentro da redoma empresarial. E assim, para o senhor Chilavert sobrara a incumbência de tentar manter-se o mais próximo do neto, assumindo a ausência de um pai falecido e de uma mãe faltosa. Não era uma tarefa das mais fáceis, e ele tinha as suas dificuldades com o Felipe e, afora o fato de curtirem juntos uma boa pescaria, poucas coisas lhes diziam comuns já que ele, sempre ao lado dos amigos de escola e, incentivado pelo dinheiro e os raros contatos com mãe, mantinha-se cercado de toda parafernália tecnológica possível. Não é necessário dizer que isso o afastava das coisas simples da vida e do real sentido da natureza humana. Acordando desses pensamentos, ateve-se à questão do neto e lhe respondeu:

-Ah, não sei Felipe! As mulheres são assim mesmo. Talvez seja a sua natureza de ser – Falou, sem desviar o olhar da fina linha de nylon, que suspensa, fundiasse a uma pequena e bóia de cor alaranjada, imersa ali, ao encontro com a água.

Claro, qualquer tremor na bóia significaria que algum peixe estivesse mordiscando, ou mesmo, abocanhado a isca. O garoto, silenciosamente, mas atento, prestava atenção na sua bóia que sutilmente era puxada para baixo. Ágil, como deve ser todo bom pescador, deu uma guinada com vara para a direita e esse movimento fisgou de vez o peixe. Ainda, com movimentos rápidos e precisos, e com as mãos trabalhando em conjunto, foi trazendo-o para o barranco, num jogo de muita paciência. O peixe, voluntarioso, não queria entregar-se assim tão facilmente, e então lutou bravamente para não se deixar levar. Mas, o seu esforço para livrar-se do anzol o exauriu completamente, e ao final, permitiu-se capturar sem oferecer maior resistência. O senhor Chilavert percebia os movimentos e, assim que o neto içou o peixe, viu aparecer um belo e pesado pacu. Examinou o peixe e sorriu para Felipe - aquele peixe deveria beirar uns 3 quilos – concluiu.
O menino, cuidadoso, bem sabia o quanto de complicado era retirar um daqueles do anzol, e o menor descuido seu representava devolvê-lo à lagoa. E foi com muita habilidade que o trouxe até o barranco. Içado, reparou que o peixe respirava com muita dificuldade. Havia sido uma boa briga e, antes de tirá-lo do anzol para colocá-lo no cesto, questionou o avô, novamente:

-Vô, por que todass não são iguais aos peixes? – O velho, sorriu. Um sorriso interno, anônimo. Evidente, sabia por dedução que havia “algo” detrás das questões do garoto. Fez-se desinteressado, desentendido, e sem desviar a atenção da sua vara de pescar, questionou o garoto:

-Como assim, Felipe?

-Assim vô! Que dessem trabalho, se debatessem, ficassem bravas, mas que no fim, tudo voltasse ao normal e não mais brigassem com a gente! – Explicou em tom inconformado.

-Bem, Felipe, as mulheres são assim e às vezes, nem elas mesmas sabem o porquê de estarem brigando. Muitas, se não arrumarem alguém para brigar, acabam brigando com si próprias! - O garoto pareceu se divertir com a afirmação do avô e então gargalhou gostosamente.

-Éééééée! É isso aí, vô! O senhor sabe das coisas! – O estardalhaço do menino veio em má hora e o senhor Chilavert seria capaz de jurar que um peixe dos bons havia acabado de mordiscar a sua isca, pode sentir até a fisgada na linha, mas o barulho o afugentou:

-Psiuuuuuuuu. Silêncio, moleque! Assim você me fará perder todos os peixes! –

Felipe silenciou-se, colocou o seu pacu de 3 quilos no cesto. Ele se debatia em vão, sabia que o seu fim tinha sido decretado. Assim que se viu livre do peixe, inspecionou a sua vara e a isca; um daqueles peixinhos plástico e, novamente, num hábil lançamento a fez aninhar-se no lugar pretendido; no meio da lagoa. E assim permaneciam avô e neto, ambos calados, prestando atenção no movimento das águas. Pouco após, um novo tremor, e o senhor Chilavert olhou incrédulo; não era a sua bóia que acabava de submergir. Felipe fisgava o seu oitavo peixe. O velho, um tanto desanimado, com o canto dos olhos olhou para o seu cesto, e lá, permaneciam duas pequenas tilápias, inertes, olhos vidrados, gozadores, como estivessem se divertindo com ele e com o seu ineficiente estilo de pescar . A sensação o incomodava. Olhou novamente e elas continuavam lá, inertes, zombeteiras – Puts! Que merda! E nem grande coisa eram! – concluiu. Desalentado, desviou o seu olhar de lá e voltou a concentrar-se no o neto:

-Menino, e não é que a sorte está do seu lado hoje? –

E, admirado, percebia os movimentos do neto em pleno embate com mais esse peixe; a briga, desta feita, era das boas e o peixe, dos bons. A água, freneticamente, espirrava para os lados e o combate qualificava a destreza de cada um; peixe e pescador. Agora, o garoto não encontrava tanta facilidade e, se não fosse possuidor de tanta paciência, do senso exato de perceber que, com esse, teria que fazer uso de outras táticas, diferentes das que usara com os outros. Esse peixe era um “brigador”. Um daqueles que desafiam a nossa sagacidade. Com esse, teria que adotar a tática de cansá-lo, para daí então trazê-lo de forma segura até o barranco. E assim ele o fez, soltando a linha da carretilha, dando terreno para o peixe, deixando-o imaginar que pudesse estar se livrando, e então o surpreendia, recolhendo a linha e o trazendo novamente. Sucessivamente, soltava e voltava a manivelar a carretilha, e , brigar com um peixe daqueles não era tarefa das mais fáceis, ao contrário, também o deixava exausto. O avô sempre lhe fizera ver que a pescaria, nada mais é que um jogo; um formidável jogo. E nessa contenta, a desproporção entre os combatentes é brutal, mas, que não significa dizer que o combatente dotado de inteligência sair-se-á sempre vencedor. Ele mesmo, por precipitação já deixara de capturar alguns belos exemplares, que se foram, lagoa adentro, quando já os imaginava capturados. E assim foi, até que o peixe, exausto, veio à tona, sucumbindo à força daquele homem-menino. Um outro belo e imenso pacu surgiu. Esse, beirava facilmente os 5 quilos. Preocupado que, num movimento de sorte, o peixe conseguisse se livrar, ofereceu ajuda ao neto.

-Não vô! Não é necessário não! Desse eu dou conta. Eu só não consigo é da conta da Angélica! Mas, desse “peixinho”aí? Ah desse, dou conta sim! – Disse sorrindo, recolhendo o peixe para o alto do barranco. O peixe, exaurido, mau se mexia.

O senhor Chilavert, curioso, ficou a matutar o que podereia haver por detrás daquele “ Não dar conta da Angélica”. E, continuando a fazer-se despretensioso, inquiriu-o com um ar de desinteresse:

-Ah, sim! Por acaso seria àquela loirinha linda, de olhos azuis que você ficou seguindo o tempo na festa do teu aniversário?

-Sim vô! Ela mesma! Tão brava que parece um escorpião acuado! – Respondeu um tanto desanimado, enquanto tentava retirar o baita do anzol. O avô, prevendo problemas com o peixe e, antes que a auto-suficiência de Felipe colocasse tudo à perder, assumiu a incumbência de resgatá-lo da vara de pescar. O garoto, percebendo que a briga agora seria de “cachorro grande”, postou-se ao lado cedendo a tarefa ao avô. O senhor Chilavert assumiu o posto com a atenção redobrada, já que, sabia, que tão logo se visse livre do anzol, o peixe faria tudo para se libertar, mesmo que extenuado; era da sua natureza, também.

-Mas, o que foi que aconteceu, Felipe? – Perguntou o avô, enquanto uma de suas mãos segurava o peixe firmemente, e a outra insistia em desenroscar aquela enorme cabeça do anzol.

-Bem, vô, é o seguinte; A Angélica me pegou com a “boca na botija”

-Como assim....com a boca na botija? Explique isso melhor! – surpreendeu-se o velho.

-Assim, vô! Lá na escola, tem uma garota de outra classe que vive me dando “mole”. O Nome dela é Luana, Sabe vô, mas eu acho que ela não é pra namorar, é mais pra passar tempo. Essa garota tá sempre dando “bola” pra todos, e parece que ela nunca se contenta com um namorado só. Ela tava namorando um tal de Luigi quando começou a me provocar. Sabe vô, ela é muito bonita e tem até uns.... grandes – Explicou ao avô, com as duas mãos em concha, curvando-as no próprio peito, simulando o par de seios da garota. Sentia-se envergonhado ao explicar para o avô, mas, já que chegara até ali, não poderia parar:

– Entendeu vô, o porque eu não quero namorar com ela? Pra namorar eu quero a Angélica. E, além de gostar dela, sei que ela não fica marcando “bobeira”, dando “mole” pros garotos. Bem, pelo menos, não que eu veja!

E então continuou explicando ao avô, que à coisa de 20 dias atrás, estava de paquera com essa Luana e quando ninguém olhava, sinalizou para que ela o seguisse. Ele descobrira um lugar deserto na escola, onde raramente aparecia alguém. Era uma espécie de depósito. Lá eram guardados objetos quebrados e sem serventia; cadeiras, mesas, computadores e outras bugigangas. E, ele, sempre curioso, descobrira aquele local, meio que por acaso, ao subir por uma escada que saia anexa à casa dos geradores. Descoberto o local, e sem que as pessoas percebessem, o usava o para dar vazão as suas pequenas safadezas. Era lá que ele em companhia do inseparável Jonas, folheavam as Revistas Playboy, Penthouse, e outras mais apimentadas, que o amigo trazia escondido na mochila escolar. Nunca houvera nenhum problema e não seria agora a tê-lo. E assim, Luana o seguiu. Ela seria a sua estréia no campo “pessoal”, no “olho no olho”. Seria o seu primeiro passo, a sua “avant-premier”, a realização do seu primeiro e ansiado desejo; correr a mão por debaixo daquela saia. Mas, algo dera errado e a sorte pareceu lhe abandonar – Explicava, gesticulando os abraços, formando as frases, ora desalentadamente, ora alegremente, para um atendo avô, que não perdia qualquer dos seus movimentos - E o que não dera certo ficara por conta da Angélica, que desconfiada, naquele dia não desgrudou os olhos, dele. E, tão logo percebera que Luana o seguiu, postou-se cuidadosamente alguns bons passos atrás e os seguiu. E pra piorar, com muito cuidado, Angélica entrara pela porta, sem que eles se dessem conta e então os pegou “flagra”, com a “boca na botija”. Ele, claro, excitado, saciava o seu desejo e passeava a mão por debaixo da saia de Luana, enquanto a outra mão, nervosamente, entrava pelo vão onde os botões foram desabotoados, e acariciava um dos seios de Luana, por sobre o sutiã branco e rendado. Foi assim que, perplexos e assustados deram com a presença dela. Ele, sintomaticamente, retirou apressadamente as mãos da garota, enquanto ela, assustada, tentava abotoar os botões da camisa escolar. Felipe, gaguejou ao tentar se explicar, enquanto Luana, rapidamente, abandonava o local. Evidente, Angélica nem o deixou justificar-se, e, saiu de lá tão furiosa, que não mais voltara a conversar com ele.

-Então vô! Foi isso que aconteceu. O que a Angélica não percebeu é que não pretendo abusar dela. Ela não é menina pra isso, e muito menos precisa se insinuar para chamar a atenção dos garotos. O que eu sinto por ela é algo bom, um geladinho que me da na barriga toda vez que ela está próxima à mim. Eu realmente gosto dela! Sacou tudo, vô?

-Hehe!Claro, claro, que saquei! - Dignou-se à sorrir o avô. – Olha Felipe, chegando em casa vou te dar um presente! E, definitivamente não fique preocupado com a Angélica, que, logo, logo estarão conversando novamente. Ainda mais se ela te gosta.... E, em gostando, ela te perdoará. Pode demorar um pouquinho, mas, te perdoará!. As mulheres são assim; se magoam facilmente, mesmo que os motivos que as fazem-nas magoar-se, sejam para preserva-las. Nunca se esqueça disso, Felipe; essa é a natureza da mulher

Como já estavam em fim de tarde, acharam melhor retornar para casa. No caminho, o garoto ficou imaginativo quanto ao presente que o avô lhe daria. Durante o trajeto questionou o avô sobre o assunto. Ele, numa expressão misteriosa, apenas sorria para o neto, mas, sem nada elucidar.

Chegando em casa o garoto, insistente, perseguiu o avô até o quarto desse:

-Vô, o que é? O que é? – insistiu.

-Calma ! Vocês, jovens, parecem que nasceram com toda a pressa do mundo. Calma, Felipe, calma! – Respondia.

O garoto acomodou-se numa poltrona ao lado do computador do avô, enquanto esse, procurava no seu armário coisas de um passado distante. Não, não era aquele um armário qualquer. Não! Esse, estivera consigo nos últimos 30 anos.

-Ah! Achei! – Exclamou o senhor Chilavert com voz abafada. O som truncado era pelo fato da sua cabeça estar completamente dentro do compartimento.

Retirou-se de lá e encaminhou-se na direção do garoto. Na mão, trazia um pequeno estojo negro com as inicias V.C em filete dourado, gravadas nele. O garoto olhou espantado para o seu presente tão logo o viu fora do estojo:

-Mas, vô! Pra que eu vou querer um par de óculos de lentes escuras e arredondadas ? – Questionou manipulando os óculos

-Sabe por que garoto? Porque você é um excepcional garoto! – Dito isso abriu um imenso sorriso ao Felipe. Ele se encontrava feliz ao poder dar ao garoto aquele objeto que muito lhe representara na sua trajetória de vida. E aquele objeto significava para si, um tempo de liberdade. Um tempo que, como escritor anônimo e desconhecido, gozou da plena liberdade de escrever o que quisesse e para quem quisesse. Os óculos apenas simbolizavam isso; a liberdade de expressar seus sentimentos, seus conceitos e convicções, aceitasse quem aceitasse, doesse em quem doesse
E, aquele garoto havia feito por merecer. Poderia parecer, à primeira vista, que o neto estivesse arraigado de em preconceitos. Não, simplesmente o garoto já pressentia o que lhe pudesse ser bom ou não, o discernimento necessário e que faz toda a diferença entre ser e estar feliz ou não. Talvez, Felipe fosse possuidor de um dom que ele jamais detivera; o de evitar problemas. Mais do que nunca, ele tinha a plena convicção agora que, mais que um grande pescador, batia no peito do neto, um coração de conquistador. Sim, conquistador, mas um conquistador sensível, generoso, emotivo, mas sem abrir mão da racionalidade. E ele soubera ali, naquela breve conversa à beira de um barranco, que o neto haveria de ser alguém nessa vida. Haveria de ser homem que respeitaria e exigiria respeito aos seus semelhantes. Haveria alguém que não usaria do poder para passar como um rolo compressor por cima das pessoas e dos seus sentimentos. Afinal, estivera ali, diante dos seus olhos, um novo e verdadeiro Don Juan Demarco. E com um sorriso nos lábios, e sua mente dominada por esses pensamentos, conclusões, o senhor Chilavert pediu ao neto:

-Felipe, por favor. Vá até a geladeira e traga a minha Sputnik. É uma garrafa de rótulo esverdeado.

O neto o olhou divertido e então meneou a cabeça, cerrou os olhos e o gozou:

-Que porcaria, vô! Aquela bebida nacional? Como o senhor pode gostar de uma bebida tão horrível e barata?

Pelo jeito, o danado, além de ver o preço estampado no rótulo, estivera bebendo da sua vodka. Então sorriu. Sabia que Felipe estava coberto de razão, mas a Sputnik o acompanhara por toda uma existência , e não seria justo e nem agora que, quase que ao fim de vida, depois das alegrias e desgraças vividas em conjunto, que a abandonasse por completo. O velho se manteve o sorrindo ao vê-lo se aproximar com a bebida em mãos. Sabia que existiam no garoto todos os ingredientes que o fariam, com o tempo, perceber compreender todas as suas opções e escolhas na vida, como ao fim acabaria compreendendo as escolhas do avô. Tudo era uma mera questão de tempo. O tempo é o senhor de tudo; o tempo é o absoluto senhor da razão. E o tempo parecia conspirar à favor do neto como nunca conspirara pra si. E ele se aproveitaria dele enquanto houvesse mais alguma disponibilidade de tempo para si. O que vivia era o segundo tempo do seu jogo com a vida. Após isso, restar-lhe-ia, se muito, um diminuto tempo de prorrogação, e ele bem o sabia.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Perfume de Mulher ( By China )


- Zambroni, temos "carne nova" no pedaço. Se quiser, vai te custar "cinquentinha" extras, pra fazer o "test drive" com a mulher.

Essa era Matilde, a cafetina do local. O lugar, um tanto inusitado com pequenos quartos distribuídos numa enorme casa de dois pavimentos. Na entrada, um imenso jardim e uma estreita alameda nos levava direto à entrada principal. Em que pese o bucolismo e aquele estático e insistente par de querubins urinando no alto de um chafariz, bem ao lado da entrada principal, encontrávamo-nos numa casa de tolerância. Sim, num perfeito e saudável puteiro!
Mas,não era um puteiro qualquer. Esse tinha as suas particularidades que o transformavam em nada tradicioal e totalmente diferente. Se eu pudesse classificá-lo, diria estarmos diante de uma zona da "terceira idade". As prostitutas, zanzando de lá pra cá, nada tinham a ver com essas garotas de rabos e tetas siliconadas, comumente encontradas em puteiros tradicionais. Não! ali não funcionava dessa forma. As "garotas", na casa dos 40 em diante, todas escoilhidas à dedo, num processo seletivo, severo e tão difícil como o de classificar para cursar a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Assim colocado, não seria difícil deduzir que, apesar de experientes, eram ainda belas mulheres e davam uma "meia sola", e das boas. O senhor Zambroni, um cinquentão, comerciante na área de automóveis usados, e um dos seus assíduos frequentadores, lá deixava, duas ou três vezes por semana, boa parte dos seus ganhos, no meio daquelas pernas bem depiladas e cheirosas, mas que, somadas umas as outras, suplantariam facilmente a marca de alguns séculos de existência. Talvez a rota do puteiro lhe fosse obrigatória por haver perdido, por completo, o encantamento pela senhora Zambroni. Ela, aparentemente tímida, apesar de bela mulher, não mais conseguia despertar o interesse sexual do marido. E ele, já não suportava vê-la vestida naquelas calçolas enormes e nem muito nos imensos sutiãs que não deixavam de mostra, sequer, dois dedos de carnes do seu volumoso par de seios. E raro, quando uma davam uma trepada, tinha que ser debaixo de lençóis e com as luzes apagadas; timidez, dizia ela. Em algumas ocasiões, o desinteresse era tão latente que ele brochava em pleno ato sexual. Ele abrira mão dela muito cedo e as traições, corriqueiras, se tornaram meras consequências. Mas,o senhor Zambroni,um incorrigível mulherengo, queria mais, sempre muito mais, desde que não fosse a própria mulher. Ela, sentia a sua indiferença na carne e aquilo a magoava, profundamente:

-Tá certo Matilde, mas, me garante que essa dona ainda tem o rabo "firme" e uma par de seios suculentos?

-Claro homem! Me passa logo esses "cinquentinha" extra e vá lá, você mesmo, conferir!

Ele conhecia Matilde há anos e ela bem sabia do seu gosto por mulheres. Sabia de como ele gostava que fossem e da sua predileção por bundas rijas e seios enormes, mas que nao ficassem dependurados como uma fruta qualquer no pé. E ainda mais, se ela garatira era porque a mercadoria era de boa procedência e valia a pena. Ainda na penumbra e sob os efeitos da luz suamente rósea que inundava o ambiente, subiu as escadas; a novata o aguardava na última porta à ditreita, ao fim do corredor. Seus passos ecoaram no corredor de tábuas largas. Parou e entrou sem bater. Foi uma supresa inesquecível e assim que a viu, exclamou:

-Oh! Por todos os deuses! Não acredito !

A prostituta, deu um salto da cama e então ele pode visualizar por completo aquela bela mulher. A idade, talvez uns quarenta anos e os cabelos lisos e negros desciam pela extensão da bunda e lhe dava um ar de garota traquina. No rosto não se via uma única ruga e os olhos, igualmente negros, brilhavam e na boca, o vermelha do baton tornava aqueles lábios carnudos em algo mais que desejado, ansiado, e aquilo queimou na na alma de Zambroni. Na testa, dois pequenos filetes de suor desciam lateralmente , mediante a visão da langerie negra, pequena e justa, que tornava aquela mulher na coisa mais desejável, mil vezes melhor de todas com as quais, ali se relacionara.

E ela, dona de uma sensulidade acima dos padrões, e sabedora dos efeitos que exercia naquele homem, assim que o viu entrar, discretamente ligou o system Aiwa e iniciou uma dança para ele. Ele, insano, a saboreava com os olhos, e teve até medo em tocá-la e quebrar aquela magnífica porcelana de mulher. Então, ela aproximou e volteou os braços no pescoço de senhor Zambroni e enfiou as pernas no meio das pernas dele, num devastador e misericordioso atrito de genitais. A mulher ensaiava e o levava com alguns passos de dança num tango de Carlos Gardel. Ele, estupefato e sem palavras, não se mantinha quieto e só balbuciava:

-Mas, mas, mas! -

Então não mais permitiu que a surpresa o dominasse e deixou suas mãos descerem por detrás dela e alisou o seu maravilhoso traseiro. A paixão, a volúpia, foram tão devassadoras que ele, não conseguia se concentrar em quialquer outra coisa que não fosse ela e aqueles seus olhos negros. Gardel, prosseguia:

"Por una cabeza, todas las locuras. Su boca que besa, borra la tristeza, calma la amargura." -Ele tinha a mais absoluta certeza agora que já o ouvira essa canção e a apresentação de uma dança de tango num filme chamado; "Perfume de Mulher". Pra ele estava sendo a continuidade dquela cena. E dançando, o atrito causado pelas coxas dela e os seios, fartamente espremidos no seu peito, faziam- desejá-la com mais voracidade. Os movimentos dos seios e a carne que jorrava deles, acomodados que estavam num sutião dois números menores, definitivamente o transtornavam. Não mais resistindo à excitação, cedeu por completo, arrancou com o violência todos os panos da muler a a galgou, penetrou, com tanta fúria como jamais houvesse ocorrido com outra. Obcecado pelo desejo, seus movimentos se tornaram descompassados e o orgasmo não tardou a chegar. Ele veio intenso, prazeroso e então quis beijar aquela boca de batom:

-Esqueceu que putas não beijam seus clientes? - Zombou num ar misterioso e provocador. O senhor Zambroni ficou olhando atentamente para ela. Admirava suas curvas nuas, ali ao seu lado, no leito. Aos poucos a respiração ofegante cedeu à normalidade e então falou:

-Oras Manuela! Que frescura foi essa? Você e a Matilde se aliaram? Foi um presente de aniversário antecipado? Estranhei quando ela ligou e solicitou que viesse aqui hoje e sem falta - Dito isso, continuo a namorar a mulher. Ele esquecera até de como era namorar uma mulher, e sentindo-se o rei do mundo pediu:

-Vamos para casa, meu amor! Adorei a surpresa e a brincadeira. Saiba que nunca mais pisdarei meus pés aqui, novamente! - Dito isso sorriu meigamente. Mas, estava feliz demais e então abriu o seu coração; sentia-se apaixonado:

-Agora, posso te dizer com a mais absoluta certeza, Manuela; Passados esses 20 anos, te redescobri, meu amor!

Então sorriu, e suavemente abriu o armário, pegou o casaco da esposa que estava dependurado e a vestiu, beijando cada milímetro do seu corpo. Ela, sorria, maliciosa, satisfeita, e antes que ele lhe fechasse todos os botões ainda sentiu a boca do marido mordiscando um dos seus mamilos. Compostos, já estavam de saída quando, um rapaz, aparentando seus 25 anos, subia as escadas com um ar de preocupação estampado no rosto. Ao passar por eles, Manuela virou-lhe o rosto, na tentativa de não ser reconhecida pelo rapaz. Cruzando, o rapaz a olhou quase que despretenciosamente: Ah! era ela! Jamais poderia esquecer aquele rosto - Voltou a olhá-la e agora, com a absoluta certeza de que era a pessoa que lhe dera aquele prazer, único, raro, interceptou-a sem dirigir o olhar para ele, imaginando que fosse um cliente qualquer:

-Morgana, desculpe te aborrecer, mas ao sair, não percebeu se esqueci o meu par de abotuaduras em cima da mesinha de cabeceira?

-Morgana? Morgana? Morgana? - Balbuciava um incrédulo senhor Zambroni.

Então, ele tudo entendeu. As luzes róseas foram se apagando suavemente das suas vistas, e uma dor, forte e centrada, surgiu. Faltou-lhe o ar e umas das suas mãos se dirigiu ao coração. Na boca, ele podia sentir o coração pulsar, como se quisesse escapulir dentes afora. O enfarto veio rápido e fulminante. O rapaz, ali, sem saber exatamente o que acontecia, tentou ajudar, mas foi em vão.
Ele se despedira desse mundo. Desistira dessa vida, deixara tudo para trás, sem ter sido ao menos, o "Number One"

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Roberto Carlos, Jesus Cristo e um triste fim


-Mãe, cadê o pai que não vem? –

Era a mais pura manifestação de aflição que um garoto poderia demonstrar. E essa manifestação se tornava cabível já que ele, um garoto de 9 anos de idade, já nem se lembrava da última vez que estivera com o pai, de tão pequenino que era.
Mario Augusto, esse era o nome do seu pai. Presidiário, cumprindo a sentença de vários anos de prisão, naquele 31 de dezembro, logo cedo e por bom comportamento na cadeia fora contemplado com a liberdade para estar o ano novo em casa e com a família. Regininha, como era conhecida, também estranhava o fato do marido não estar no lar, apesar de ser quase onze da noite e o ano estar por virar.

-Regininha! Vou ao mercadinho comprar umas cervejas – Dissera ele naquela mesma tarde, por volta das três. Despediu-se beijando a boca da mulher, o rosto do filho com o qual pouco ficara e se foi porta afora com aquele seu jeito malandro de andar.

Ela, ao vê-lo sair, pressentiu algo que lhe deixou aflita e ainda lhe pediu - “Mario, não demore, por favor” - Ele lhe sorriu e acenou lá do portão enferrujado que dava acesso a entrada da casa. Casa? Casa sim, se é que aquilo pudesse ser chamado de casa; um pequeno cômodo de paredes de tijolo, sem reboco, que com tanto esforço, mantinha com seu trabalho assalariado de manicure num salão próximo dali.

-Isso é um assalto! – Anunciou ele.

As pessoas olhavam incrédulas para aquele rapaz, aparentando uns 30 anos. Ele empunhava um revolver e ordenava para que permanecessem colados uns nos outros. A família, pequena, fora pega desprevenida enquanto ouviam na sala Roberto Carlos cantar - “Jesus Cristo, Jesus Cristo, Jesus Cristo eu estou aqui” - O som estava alto e ele não sabia dizer os motivos, mas a música o irritou profundamente:

-Jesus Cristo é a puta que pariu! – Vociferou, castigando com sucessivas coronhadas o dispositivo onde se alojavam os Cds. Assim que o rompante de fúria cedeu se via por todos os lados pequenos pedaços de plásticos espalhados pelo chão. Enfim, Roberto Carlos se calou e nada mais foi ouvido.

-Garoto, venha aqui! – Disse apontando a arma para o garoto, talvez uns 12 ou 13 anos, provavelmente o único filho do casal, já que, somente os três estavam em casa.

O garoto ainda olhou para o pai o qual assentiu com um movimento de cabeça. Um tanto desajeitado caminhou na direção do bandido.

-Qual é o seu nome, moleque?

-Ro...Roberto. – Disse nervoso e numa justificável gaguez.

-Roberto, quem nem esse filho da puta que estava cantando? – Questionou irônico apontando a arma em sua direção.

-Por favor! Não faça mal ao nosso filho. Faça a mim, mas não faça mal a ele – Interviu o pai, aflito ao ver a arma apontada para o filho.

-Mas.... Não vá me falar que se chama Roberto Carlos? – Insistiu com o menino. Esse, temeroso procurou não gaguejar dessa vez:

- Não, moço! Roberto Augusto da Silva –

-Augusto?... Augusto? Bonito nome,Augusto... O meu nome também é Augusto. É Mario Augusto e, toda pessoa que se chama Augusto tem que gozar dos seus privilégios.

Dito isso, apontou a arma em direção da mãe do menino e disparou. Foi um tiro certeiro que atingiu em cheio o tórax da mulher. O marido, apavorado chorava ao sentar-se com ela, ali no chão. Ele percebia a vida da esposa esvair-se ao niná-la em seus braços. Ambos choravam enquanto ela tentava estender os braços na direção do garoto. Os dois souberam ali que não haveria saída para qualquer um deles. Imediatamente, um segundo tiro foi dado e a bala alojou-se na testa do homem, que ainda sentado desabou para trás. O baque foi tão violento que ele mais parecia um desses patinhos atingidos por tiros num parque de diversões. O garoto, incrédulo, viu seus pais estirados no chão e o sangue jorrava em veios como se fossem braços de um rio; estavam mortos.
Mario Augusto, olhou-o insanamente. Louco e transtornado vistoriou a pequena mesa adornada por uma toalha plástica, simples porém bonita. Lá estavam o peru, maionese, arroz e um pedaço de costela assada e então a fome o incomodou. Passando as vistas por sobre a mesa procurou por algo para beber, mas não achou. Como a sede era intensa perguntou ao pelas bebidas e esse respondeu que estavam na geladeira. Mario Augusto, que há pouco e pela primeira vez consumira diversas pedras de crack com uns amigos do passado, ali perto, num lugar conhecido como “boca do lixo”. O efeito da droga em seu cérebro foi tão devastador que pra ele não havia o certo, errado, bom ou mal. Tudo parecia não lhe fazer qualquer sentido, e apontar a arma na direção do garoto era
mais que justificado. Ainda apontando, direcionou o cano da arma para a cozinha; estava claro, queria que o garoto fosse buscar as bebidas. O garoto, um tanto trêmulo trouxe duas garrafas de cerveja; uma em cada mão. Mario Augusto apontou para a mesa; queria que ele as deixasse em cima da mesa. O menino obedeceu prontamente colocando-as no lugar ordenado. O bandido, faminto e com sede repousou a arma na mesa enquanto procurava o abridor de garrafas por entre os pratos. Foi a ártir daí que tudo ocorreu, e tão rápido e definitivo quanto à descarga de um raio.

A sirene de um carro policial tocava insistentemente e, mãe e filho foram surpreendidos por palmas que as chamavam ao portão. Saíram. Os dois policias os aguardavam. Lá no carro, sons em vozes abafadas eram emitidos pela freqüência de rádio. As vozes soavam nervosas, rápidas, e isso deixou o menino receoso, porém, curioso. O policial com uma pequena prancheta em mãos se reportou a ela:

-Por favor, a senhora é esposa do Mario Augusto? – Perguntou, enquanto retirava do bolso da camnisa a cédula de identidade do seu marido.

-Sim, sou eu sim! Aconteceu alguma coisa, moço? – Perguntou assustada.

-Sim dona. Aconteceu sim. Ele foi morto a menos de meia hora - Comunicou-lhe laconicamente o policial. Ela sentiu o chão faltar sob os seus pés e o ar rarear em seus pulmões. Diante daquele pesadelo todo tentava inspirar, puxar o ar para dentro mdo peito. O policial continuou:

-Ainda o encontramos com vida. Ao seu lado, apenas um garoto trêmulo, que chorava copiosamente, e com a arma numa das mãos. E ele, antes de morrer, pediu para dizer que amava a senhora e ao filho. Depois, os seus olhos foram se fechando lentamente e ele balbiciou cantarolando uma música do Roberto Carlos; “Jesus Cristo, Jesus Cristo, Jesus Cristo eu...”

E antes mesmo que houvesse tempo para o policial terminar a frase, fogos de artifício espocavam nos céus. Eram jatos coloridos e barulhentos que vestiram a escuridão das mais variadas cores. Nas casas vizinhas, os alaridos eram imensos e gritos ensurdecedores de uma turma de garotos que se aproximavam rua acima, se faziam ouvir num - “Feliz Ano Novo” - Diziam a todos que encontrassem fora de suas casas.

-Feliz Ano Novo, dona! – Saudaram ao passar por ela.

Regininha, olhar incrédulo, pensamentos perdidos não se sabe aonde, sem a noção exata de tempo ou espaço, contida por lágrimas que insistiam em não desaguar e naquilo que se transformara a sua vida; um deserto seco, árido, apenas pó. Na garganta o grito entalado, dolorido, que urrado ecoaria por todos hemisférios. E ela ali, parada, os gritos dos garotos,as gargalhadas, divertindo-se como se o mundo fosse somente uma bola azul e não fosse acabar. Ela e o par de olhos, tentando enxergaqr aquilo que não se poderia ver, estática, cercada por policiais, e por um em especial que insensível não se apercebia da sua dor. E não restava nada que pudese fazer a não ser estar ali, estagnada, plantada como um vegetal qualquer e, para piorar, dilacerada por aquele sujeito que cismara de recitar as últimas palavras do marido. E esse complexo e truncado estado de coisas traduziam-se bizarras, cômicas, se não fosse tudo tão duro e doloridamente trágico. E na boca um gosto ruim, da língua sem saliva, amarga, daqueles que sabem que jamais nasceram para ser ou estar feliz. Então algo aconteceu e da alma jorrou a força ao encarar o seu menino; ele estava assustado e não tinha qualquer culpa e mais do que nunca precisaria de si, agora. E antes que tudo terminasse, abraçou ternamente o garoto, e as lágrimas vieram fáceis desta vez, então sussurrou:

-Feliz Ano Novo, meu filho! Feliz Ano Novo!