tag:blogger.com,1999:blog-57693044545839251682024-03-12T19:59:58.084-03:00VÉÏÖ CHÏÑćContos, crônicas, vídeo-tapes, verdades, farsas e mitos, nem eu sei...
Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.comBlogger190125tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-75737203646301327472015-01-16T19:46:00.001-02:002015-02-10T10:12:11.140-02:00Uma noite com os Rolling Stones<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiglVq0iDR95_f-wRjEGujfB7mOTmf9qk_ztOmTQ7VCYGCJHPEINrDZK3s7ApsawKf8p2JASbcCaBD8aHDvhzbmfxxtfzmp_L0UKKUDXLk96GsCAli07jfnNTqjGg27EJjE1WKvGpsTCgYc/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiglVq0iDR95_f-wRjEGujfB7mOTmf9qk_ztOmTQ7VCYGCJHPEINrDZK3s7ApsawKf8p2JASbcCaBD8aHDvhzbmfxxtfzmp_L0UKKUDXLk96GsCAli07jfnNTqjGg27EJjE1WKvGpsTCgYc/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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Paro na esquina e olho para o prédio que conheço como a palma da mão. Estar ali era compulsão, o alimento num hábito diário que sempre me levou porta adentro mesmo que, antes tivesse a necessidade de ver o que passava lá dentro através de um dos muitos retângulos de vidros duma complexa armação de madeira. Sim, era essa a fachada, toda envidraçada e que causava ótima impressão vista de fora. Portanto, após verificar que não havia movimento no interior, entrei.<br />
Olho para o relógio
e ele diz que faltam dois minutos para as nove horas quando cumprimento
o sujeito que está atrás do balcão. Ele me olha com expressão de enfado, essas do tipo; lá vem o mala, mas como não sou um sujeito que não se abate com pouco escolho uma banqueta logo à sua frente e peço a minha bebida favorita. Provavelmente estejam questionando o que pode estar fazendo um sujeito cinquentão num lugar daqueles e nessa hora. Bem... deixar de estar ali se tornou impossível, pois não imagino o meu dia longe dali e das bebidas que tripudiam de minha alma mais que a meu próprio corpo. Claro, é hábito, e o que dele deduzo é que o vício tem a propriedade de encarcerar o homem nas paredes cinzas do seu EU, deixando apenas à mostra um pequeno visor para que possamos ter a dimensão do que se passa la fora.<br />
<br />
É verdade também que algumas coisas naquele bar me mantem calmo, relaxado, assim como a parca iluminação que me remete num clima “noir” como os filmes da década de 50 estrelados
por Humprey Bogart. Sim, me eram fatores desafiadores, mas como não pretendo ser herói de nada jogo um pouco de conversa fora com o sujeito do balcão e depois procuro uma mesa mais ao fundo. Escolhida, sento e retiro o notebook de 14 polegadas da minha pasta 007 imitativa do couro. Pronto! Era o que necessitava para percorrer o meu calvário, o ponto de partida à caça das palavras e ideias que conseguissem deixar o mundo das letras de pernas para o ar, quem sabe estaria nascendo ali uma obra literária das boas, quiça um best-seller. Todavia fiquei olhando para as teclas e elas mudas nada disseram. E isso me obrigava a refletir o quanto me sentia endurecido, talvez um caso para o tratamento de choque tal qual o bife de segunda que necessita ser amaciado por um apetrecho especial. Essa era a realidade, e eu necessitava, mais que nunca exercitar o poder de criação, voltar a fazer arte, pois o que escrevi num passado distante jamais foi arte, e serviu apenas à poucas centenas de universitários que exalaram dos meus livros apenas o odor do
álcool e do perfume barato nos quartos de prostituição.<br />
<br />
Ainda sobre as reminiscências do vício e dos viciados, é certo que no mundo das chapações o álcool é a droga lícita. E sobre o álcool afirmo que tudo se faz engodo, e eles dizem - "Beba com moderação" - "Ao beber não dirija" - E aí está a grande farsa, pois se estivessem preocupados com a nossa saúde ou sanidade proibiriam as indústrias da bebidas e pagariam o nosso tratamento em clínicas de reabilitação. Entretanto isso não importa ao governo, e o que conta são os altos impostos pagos, mesmo que reconheçam que o álcool estará devorando teus miolos com maior rapidez que te inutilizará o fígado. <br />
Enfim, é isso, e a bebida e o bêbado são máculas da sociedade, e nada que deve ser renegado, nem os exageros que cometemos, apesar que, pessoalmente, me sinto recriminado pelo bom senso quando ele me na posse de alguma lucidez. E os seus protestos são duros, pois o bom senso detesta te ver exposto às situações ridículas, como nas vezes que, embrigado abandonava a mesa e me dirigia a jukebox empurrando fichas no seu interior até fazê-la vomitar um tango de Carlos Gardel. Não, não é o que pensam, não sou saudosista ou apreciador de tangos, aliás, nem deles eu gosto, Todavia ainda criança ouvia os programas de rádio junto de meu pai, e o carismático Gardel cantava sua voz anasalada, e aquilo sempre me impressionou.<br />
<br />
Assim, ao começar a música eu caminhava trôpego para o meio do salão e ali me rendia às infindáveis tentativas de bailar o tango. Certo também é que por vezes surpreendia, e as pessoas acreditavam que eu iria até o fim, porém o álcool com sua personalidade devastadora fazia colidir as minhas pernas estatelando-me ao chão. Eram horas que me sentia na pele assim dum boxeador castigo duramente na região da cintura, e lá do chão eu olhava para o alto como se esperasse a ajuda de Deus, entretanto o Todo Poderoso nunca me levou a sério e me largava na própria conta. E ainda no chão o ar parecia faltar, mas não queria me ver derrotada, e tentava levantar, e em algumas ocasiões quase que consigo, mas na maioria das vezes precisei da ajuda dos braços dos clientes para novamente estar em pé.<br />
No entanto passado o constrangimento o que cravavam em mim era a marca do idiota, um sujeito selado selado á ferro quente que se oferecia ao escárnio das pessoas, mesmo que estas soubessem que haveria condescendências para mim, afinal ao escritor tudo é permitido, e eu sou um escritor.<br />
<br />
Sim, igualmente sei que sou polêmico, melhor dizendo, somos todos polêmicos. E a
polêmica retira o estilingue das nossas mãos e nos transforma na vidraça que se estilhaça às críticas, pois senso comum é conceituarem-nos o pelo local que frequentamos, com quem andamos, ou pelos atos que cometemos. Assim, aprendi que tanto faz o ódio ou o
apreço que nutram por mim, e estar ali ou num bordel seria perfeitamente suportável e normal assim como são os suores frios deixados em cadeiras de dentistas. Também é bom estabelecer que não pretendo ser
revolucionário de nada, não sou do contra e nem pratico a discriminação com os ditos “normais” pois se me dissessem que naquele momento pessoas estariam bebendo café, leite, sucos, deglutindo frios, frutas e croissant, acharia tudo absolutamente normal, apesar do nó no estomago só ao pensar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Enfim, tudo, inexoravelmente tudo será passível nesse mundo
de Deus, até o fato de eu ser o único bêbado naquele bar. Aliás, minto, eu não
estava só, pois havia a mulher acomodada numa mesa mais adiante. Bato os
olhos nela e talvez ela estivesse na casa dos 43 ou 44, e logo percebi suas pernas grossas e fartos cabelos negros. Curioso, olhei-a com atenção e a notei otimamente
vestida num blazer e saia, cinza. No pescoço circundava uma echarpe rubra e de tecido
leve, e isso lhe conferia certa sofisticação. Evidente, me foi possível observar as suas pernas porque elas estavam desnudas em 10 ou 12 centímetros acima dos joelhos. Inspecionando-a melhor pareceu-me estar numa espécie de transe onde o olhar se perdia num ponto obscuro do passado. Ainda mais instigado pela curiosidade aproximo de sua mesa e lanços os olhos para o chão como se
procurasse por algo perdido. E é nesse caminho que ergo o meu rosto e estou tão
próximo que percebo como são bonitos os olhos negros num rosto que se
adorna nas linhas suaves apesar das poucas rugas. Porém no frigir dos ovos o que me impressiona nela é a sensualidade dos seus densos lábios tingidos por um batom avermelhado. Afixo-me neles e era como pedissem para serem tocados.<o:p></o:p></div>
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<br />
Ainda vivia o a tensão dos terrenos desconhecidos quando repentinamente seus olhos avivam, e ela lança o olhar para o teto e balbucia
algumas palavras esparsas e depois frases completas. Não que me fossem todas
audíveis, mas, as entonadas com contundência foram as que consegui ouvir
com maior clareza. A voz parecia golfar dores e lamentos: <o:p></o:p></div>
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<br />
- Cara, por que teve que fazer isso? Por que tinha que ser
assim? – Era o que questionava. Suas palavras esfaqueavam o ar como se fosse a
chaga de um mundo mau. <o:p></o:p></div>
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<br />
Depois gesticulou as mãos espalmando-as para frente,
empurrando alguém imaginário, evitando sua aproximação. Observo e tento ser
discreto, no entanto foi impossível não sorrir, afinal eu reconhecia os loucos,
e ali estava um, já que era pródigo ao aproximá-los. Falar sobre a insanidade sempre me foi apaixonante assim como suportável a sua inevitável e pública demonstração. Tenho cá com meus botões que é terrivelmente enfadonho passar pela existência sem jamais termos optado por ela, mesmo que por momentos.<o:p></o:p></div>
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<br />
-O que está olhando com essa cara de tolo? O senhor me causa
repulsa com esses seus olhos loucos e indecentes! – Ela exclama á queima roupa
– Estranhei, pois mal começara a beber. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
A rudeza da constatação me pega de surpresa, no entanto sou vivido e a enfrento ao concentrar-me em seu olhar altivo, superior, talvez filho bastardo dum autoritarismo que nela parecia prenunciar. Por instantes permaneço reflexivo, pois há
verdades que jamais sucumbem, tal como a necessidade que o louco tem em te fazer
sentir que és mais louco que ele. E assim afirmo porque também além dos traços da loucura me é usual o mesmo tipo de padrão comportamental. Em suma
era esse o caso, e aquilo me irritou, e tinha urgência de me posicionar,
afinal fora mencionado de modo depreciativo pelas questões da mulher <o:p></o:p></div>
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<br />
-Olha dona, vai me desculpar, mas não me julgo indecente e
nem tão pouco bobo ou louco! É bom que saiba que estava apenas observando – Respondi de forma
pausada e reticente tentando demonstrar a opulência do equilíbrio emocional. Claro, menti, apesar de que
a mentira jamais foi privilégios dos bêbados, drogados, ou mesmo, dos tão unicamente loucos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Observando é? Sei... – Devolve com a mesma reticência, alem duma generosa dose de pouco caso. Estranho, algo nela
me levava às salas duma Universidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Em seguida desativou o olhar de mim e se concentrou à mesa
na procura de deficiências na madeira até identificar pequenos orifícios, os quais os alargou escavocando com o grampo dos cabelos. Até aí tudo
bem, pois recordo que sempre fiz das minhas ao estar ébrio. Rememoro que ali
mesmo e há muitos anos costumava subtrair os rótulos das cervejas, e molhando-os juntamente como essas bolachas de papelão que se fazem suporte, os arremetia para o alto na tentativa de colá-los no teto. Sim, eram momentos de expectativas e dificuldades, mas, depois de alguma insistência conseguia o
objetivo com o “ lance perfeito” E la estava ele selado ao
teto, e me sentia vitorioso qual o americano que cravou a bandeira no lua. Depois de tanto esforço e sucesso tudo era motivo de festa, e eu volteava o banco concretado ao piso como um guerreiro indígena conclamando seu povo à luta. E então eu ria e gargalhava, e não me amedrontava com a
cara de poucos amigos do Sr. Finley que, diga-se, jamais deixou passar passar em branco:<o:p></o:p></div>
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<br />
-Além de bêbado o senhor é uma cabeça de vento! Não percebe que
não é mais um garoto? -Protestava formal, mesclado entre o
português no seu inglês.<o:p></o:p></div>
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<br />
Ah sim, falemos do Sr. Finley, o dono do bar. Natural da Inglaterra estava há 25 anos no
Brasil, e há 20 adquirira o estabelecimento. Lembro das datas porque fui marinheiro de primeira viagem naquele bar, antes um reles boteco, depois transformado num tipo de Pub que, segundo o Finley seguiu o padrão dos bares de Nottingham, sua cidade
natal. Portanto eu estava acostumado às contestações do Sr.
Finley antes meus bailados e rótulos, ocasiões que, munido da severidade no olhar tentava me amedrontar.
Claro, era pura besteira e perda de tempo, pois decorridos alguns minutos terminava
por sorrir-me compreensível, afinal os donos de bares que não compreendem ou aceitem a
loucura jamais obterão sucesso nos negócios, e ele assim como tantos outros donos de bares
nunca desconheceu o fato. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Bem, depois depois desses videotapes mental e da curta e ríspida conversa
com a moça autoritária permaneço no silêncio e sorvo lentamente a minha dose de Smirnoff. Tudo parecia voltar à realidade e me preparava para retornar ao
balcão quando, novamente a mulher se manifesta. Dessa vez o seu olhar e dedo
indicador apontavam para mim. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Por acaso o senhor já se apaixonou por alguém 25 anos mais
jovem? – Surpreso a olho e ainda vejo loucura em seu olhar. Agora sim a ficha caia e tudo fazia sentido ao poder compreender os motivos da agressividade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Fiquei pensativo por alguns instantes, não que isso
denunciasse em mim alguma paixão por uma jovenzinha de sorriso malicioso ou de
bumbum empinado, não, ao contrário. O que fazia mergulhar nos pensamentos era a
questão humana e as concernentes a ela. E um termômetro apontava que aos 25
anos o homem não atina para o fato de que após decorrer 20 ou 25 anos poderá dar de cara
com uma guriazinha que acaba de ser parida numa maternidade qualquer. Avanço
no raciocínio e a temperatura sobe ao chegarmos nos 35 do homem enquanto a garotinha brinca com suas bonecas aos 10. O que se falar sobre isso? Nada,
salvo concluir que ela tem a idade para ser uma linda sobrinha. Porém a temperatura
avança e tais diferenças começam desaparecer quando o homem atinge os 45, e que nessa idade veria a tal garota, agora aos 20, com um olhar diferente,
pecaminoso até, ainda mais diante duma devastadora minissaia, moldura perfeita para um bem torneado par de pernas juvenis. Todavia e apesar das inquietações que a
garota possa estar causando ainda se vê adepto das mulheres dos 30 e tantos,
pois lhes parecem ter mais maduras de conteúdo e bagagem, portanto refreia seus impulsos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Bem...e aí o homem alcança os 50, e o termômetro aponta para uma temperatura difícil de ser combatida, pois o capricho do destino lhe prega uma peça e o acaso faz a jovem habitar o seu cotidiano, admitida que foi pelo RH de sua empresa. Ao vê-la, surpreso, constata que ela está esplendorosa aos 25. E é esse o instante
imprevisível, pois na angustiante ansiedade diária de pousar seus olhos na garota o fazem supor apaixonado. Há o flerte, o encantamento, e ela tão jovem, atraente,
ele, boa pinta, sedutor. E há todo um tsunami de sensações, e
essas ondas tragam a vida de ambos, e ele abandona os filhos e uma esposa
balzaquiana lapidada por dietas e cirurgiões. Talvez nesse novo
relacionamento haja amor, paixão, talvez não haja nada, apenas acomodação de
interesses, egos. O dele se prostrando à juventude, e ela à experiência e refinamento daquele sujeito grisalho e de bom gosto. É óbvio
que as esposas, mesmo que mantenham a ótima aparência jamais concorrerão com a
exuberância dos 25. É óbvio também que não estou afirmando que esta é a regra.
Não! Não é. Há e haverá exceções e serão vividos ótimos e duradouros
relacionamentos mesmo com a visível diferença entre suas faixas etárias.<br />
<br />
Porém
como exclusões também não se constituem regras, o mais comum são os relatos dos
casos dramáticos e que seguem a previsibilidade. Sendo assim vamos em frente com o caso, pois agora ele se vê refém daquela garota que o faz
sentir tão jovem. Para ele nesse instante tanto faz ou faria se ela estivesse 18,
19, 20, pois seria nada mais que mero detalhe. E ele mergulha sem máscara
no jogo da sedução, dos galanteios e das ofertas de presentes, (muitos, caros) E
ele se sai bem, pois a experiência está a seu favor. Porém existirão coisas que
não foram pesadas numa balança de precisão, pois repentinamente a juventude passa
a aflorar nele o ciúmes, a possessão, há algo doentio e inesperadamente já não há a
certeza de que aquele corpo escultural seja somente dele. Enfim, e para o azar
daquilo que já não está bom, nada mudará o fato de que ele está com
alguém 25 anos mais jovem. E é
neste ponto que desanda a maionese e o relacionamento passa ser um forte
candidato ao naufrágio. E se naufragarem, para ela a vida será apenas a continuação,
possivelmente o desemprego a a procure gente de sua idade, do seu meio, afinal, os mais
velhos lhe parecem complexos e desinteressantes. Para ele talvez os fatos
sejam mais cruéis e rudes, pois poucas pessoas estarão dispostas a perdoá-lo, mesmo que afirme que andou com a cabeça nas nuvens. Todavia se acostumou à juventude, portanto haverá o consolo da ciência e seu avanço, uma mãozinha extra de drogas que permitam que usufrua uma virilidade quase milagrosa, evitando assim que sucumba à
humilhação total...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Psiiiu! Você ouviu o que falei? Você se imaginaria tendo um
caso com uma garota de 25 anos? Já parou para pensar o que isso poderia
representar? – Ela questiona raptando-me dos pensamentos. Os olhos agora não
parecem tão duros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Não dona, não parei pensar não. Deve ser muito complicado –
Devolvo laconicamente. Algo me dizia que a exposição do meu ponto de vista
talvez não fosse do seu agrado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Enfim, quem poderia me afirmar se o caso inverso não fosse o
dela? E se assim fosse quem ficou abandonado no apartamento de quatro quartos e três
suítes foi o marido cinquentão, grisalho e executivo. Não é de duvidar que à
reboque haja um filho de 17 vestido numa negra camiseta do Ozzy
Osborne. Portanto sem a certeza de nada procuro evitar juízo de razão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Pois é! Homens nunca pensam em nada! Só querem aproveitar –
A voz quase esganiça num soluço breve. Era notório que existia o sofrimento.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Entretanto nada poderia fazer, pois é o tipo da dor que se
combate como um único antibiótico, e esse medicamento miraculoso é o tempo, é o deixar passar, é o dia após o outro. E também ficar
olhando para ela com cara de idiota não resolveria a questão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Dona, posso me sentar à mesa? – Pergunto, já que a companhia parecia a melhor opção. Ela olha surpresa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Por acaso o senhor tem 25? – Eu sinto o sabor do deboche.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Não – Devolvi já dando as costas à caminho de minha mesa<o:p></o:p></div>
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<br />
-Bem...então pode! – Ela exclama se vestindo duma gargalhada que, notei, esforçada. Penso sobre aquilo e concluo que além de louca é
esperta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Com gestos comedidos puxo a outra cadeira e me acomodo enquanto ela, sentada, volta o corpo e suspende a alça da bolsa que se dependura no encosto da cadeira. Já com ela em mãos revira o interior e procura sabe-se lá o que, afinal a bolsa de uma mulher tem a capacidade de guardar o universo. Segundos depois e objetos retirados ela repousa na mesa a carteira de
cigarros, o isqueiro e um celular de tamanho considerável. Em seguida acende um e
liga o aparelho tocando em alguns dos seus comandos e concentra-se na espera de
algo. Inesperadamente o seu sorriso, e ela me oferta o celular e eu o pego com a mão direita enquanto que, com o dedo indicador da outra mão tento centralizar os óculos no nariz. Olho para a tela e a imagem é de ótima resolução. Sim, claro, sorrio, pois aquilo nada mais é que coisa de burguês, não a foto, obviamente, mas o Iphone
de última geração.<o:p></o:p></div>
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<br />
-É ele! André! 21 anos! – Olho outra vez e cravo a imagem e vejo um rapaz bonito e de sorriso atraente, desses que parecem dizer: Hey, ta tudo bem! Sempre estará tudo bem!. Procuro mais detalhes na imagem alguns deles me remetem à infância, talvez o seu par de
covinhas nos cantos da boca, não sei... Penso em fazer algum comentário elogioso, porém acredito que o instante seja inapropriado.</div>
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<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-É por causa desse maldito que estou desse jeito! – Ela mastiga as palavras ao acender outro cigarro. Eu a olho perplexo, pois deixou de ser comum pessoas acendendo cigarros em shoppings, bares e afins. Ela percebe a minha surpresa.<o:p></o:p></div>
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<br />
-Ih, não vá me dizer que é mais um desses castradores dos fumantes...Se for..foda-se! – Ela sentencia para meu desapontamento.
Definitivamente a retiro da lista dos espertamente loucos e a coloco numa nova
divisão, algo mais ou menos como a dos porra-loucas.<o:p></o:p></div>
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<br />
-Não, não dona! Também sou fumante...é que a legislação
municipal estabelece que... –Ela não me deixa terminar<o:p></o:p></div>
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<br />
-Danem-se as imposições municipais, estaduais, federais. Danem-se as autarquias, os protestos e pretextos. Quero é que todos se explodam! – Ouço-a em silêncio procurando me isentar de qualquer
expressão facial, afinal, não pretendia ser achincalhado por outras de suas observações.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Sem nada comentar levo meus olhos para a madeira da mesa e reparo nos pequenas crateras que ela alargou e também em seu copo
e no pouco líquido que nele adormece. Tentando ser feminina se apodera
do copo de forma delicada e dá uma longa tragada fazendo desaparecer a bebida trnsparente.
Após estala os dedos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Hey Tony Blair, mais um duplo Absolut e meio copo de soda.
Ah...não se esqueça do gelo, muito gelo! – Solicita como um estivador ao prestativo dono do bar. <o:p></o:p></div>
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<br />
Aproveito a ocasião e também peço mais uma dose da minha.
Era evidente o nosso abismo social. Olho outra vez e agora ela está numa guerra
com os comandos do celular, todavia sorri ao novamente achar o que procurava.<o:p></o:p></div>
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<br />
-Eis aqui um outro meu amor! – Ela diz passando-me de novo o celular. Olho para a tela e na foto a Sra Porra-Louca surge enroscada no
pescoço de um rapazote de compleição atlética e aparência adulta, inclusive mais até que o garoto da foto anterior.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Uau! A mulher era simplesmente um “papa-anjos” a Messalina dos tempos cibernéticos– Tive que concluir pelo suposto tom de intimidade que a foto me sugeria<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Esse é Carlos, 18 anos, meu filho! – Ela sentencia agora numa tonalidade suave e onde não mais parece existir o olhar da loucura.<o:p></o:p></div>
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<br />
-Ah sim! Aquele com a camiseta do Ozzy? – Pergunto aliviado sem
lembrar-me de que foram os meus pensamentos que assim vestiram um rapazote até então fictício.<o:p></o:p></div>
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<br />
-Ozzy? Cê tá louco cara? Por acaso você está falando do Ozzy
Osborne, o vocalista do Sabbath?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Sim, dele mesmo! – Confirmo. Obviamente não confessaria
para ela que, apesar dos meus 50 e tantos eu era um fanático por rock progressivo, principalmente o dos anos 70, entre eles as bandas Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath, afinal, o que ela poderia pensar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Não meu amigo, não é bem isso não. Do rock e do Ozzy Osborne gosto eu!
A praia do meu guri é outra, pois somos apostos no quesito musical. Deve ter ouvido falar em Daniel, Gean & Giovani, Zezé Di Camargo, e outros desaforos musicais... –
Ela diz num tom inconformado derrubando os ombros em desânimo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Hahahahaha – Sim, foi a minha resposta, a primeira gargalhada em
dias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Depois das risadas pareceu criarmos alguns vínculos de cumplicidade, então conversamos bastante e rimos um bocado quando
soube que eu também era chegado num bom e velho rock in roll. Riria também com um caso
que lhe contaria em seguida, já que ao recordar as questões das fotos afirmei
que não apenas nós, mas também os animais praticam aquilo que denomino como “síndrome dos fatores e imagens associadas”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-E com os animais, que fatores poderiam ser esses? – Quis
saber, Seus olhos brilhavam mais curiosos que ébrios. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Mesmo depois de algumas doses o seu corpo se mantinha ereto, e ela tinha classe e bebia como poucas. Mais uma vez molhou a boca no copo e me surpreendia, pois não me mostrava os efeitos da bebida, e mesmo estando “tocada” praticava a nossa língua e de forma precisa, sem as palavras
arrastadas ou o queixo caído dos bêbados. Aproveitando o tema "Síndrome dos fatores e das imagens associadas" mandei ver:</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Tá bom! Vou citar um caso sobre velhos amigos meus. Dylan e Janis –
Comecei após um pequeno gole na bebida – Bem, é um casal de chipanzés
abrigado no zoológico municipal. Aliás, sobre eles eu os conheço há uns 6 ou 7 anos... e esse nome fui eu quem os dei, já que acho muito chinfrim seus nomes oficiais, ou como são por lá conhecidos; Frederico e Margarida –<br />
<br />
Nesse ponto da narrativa pauso, retiro um cigarro do maço que estava sobre a mesa, olho para o Finley, e ele como parece não se importar dou uma longa
tragada até me arder o peito. Depois ergo a cabeça num ângulo perpendicular e, abrindo os
lábios expilo rodas de fumaça. Ela parece se
divertir vendo os pequenos círculos de fumaça levitando no espaço e tenta fazer o mesmo, porém engasga na primeira
tentativa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Você está me enrolando assim como essas rodas de fumaça! Conta logo essa história, homem! -
Ela sorriu demonstrando ainda o ranço da altivez. Bem, talvez fosse o
seu jeito, nada mais que isso – Concluo. Então continuei;<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Bom... lembro que há muitos anos atrás estive por lá e me
juntei aos visitantes para olhar os macacos, já que sempre é divertido notar suas
reações. E o pessoal atirava amendoins, pipocas, balas e outras coisas, apesar
do cartaz que pedia para não alimentarmos os animais. Bem, já era tarde e o zoo estava
para findar as atividades e os visitantes começavam a se retirar e eu permaneci ali olhando pare eles. Repentinamente me deu uma vontade de voltar a ser a criança
transgressora. assim, retirei alguns salgadinhos da embalagem vermelha do “Baconzitos” e atirei para o
Dylan, já que seus colegas haviam se recolhidos mais ao fundo da
jaula. Os petiscos atravessaram a tela de arame e foram parar próximos a ele que, sem
titubear levou-os à boca...- Outra vez pauso a narrativa e ela me olha atenta. Aproveito o situação e trago, não o cigarro, mas outra parte da minha bebida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Anda! Conta, conta logo isso! – Ela solicitava, ansiosa e divertida, agora com os olhos negros mais reluzentes que nunca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Sim...Depois que Dylan comeu os salgadinhos, esmurrou o
peito por quatro vezes e saiu em disparada para o final da jaula. Fiquei observando as suas reações e foi então que arrebatou Janis no meio dos colegas ou parentes e a trouxe até onde eu estava. Agora a coisa mais louca aconteceu - Outra vez fiz a pausa para lhe observar as reações. Não demorou:<br />
<br />
-Anda, anda! Quer me matar de curiosidade? - Ela protestava<br />
<br />
-Bem...foi então que ele praticou o
sexo mais louco e selvagem que presenciei, e a Janis se empolgou, pois provavelmente jamais viu o parceiro naquelas condições. E o estranho é que depois disso visitava-os regularmente, ocasiões que lhes atirava pipocas, amendoins e
outras bobagens, e não havia no Dylan ou na Janis qualquer reação, apenas comiam e me olhavam desinteressados. Entretanto, era verem a embalagem vermelha dos Baconzitos, aí, bem, aí tudo se transformava, e eles agiam frenéticos e gritavam sem parar ao chacoalharem a tela de com violência, insanos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Nossa...que história mais louca! – Hum...síndrome dos fatores e
imagens associadas...interessante isso, muito interessante – Ela conclui sem me parecer convencida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Depois disso bebericamos lentamente mais algumas doses e conversamos sobre
outra infinidade de assuntos, ocasião em que relatou a sua má história da paixão nutrida pelo
garoto da foto. Resumindo, eram quase duas da tarde quando ela resolveu ir
embora. Nos despedimos com um aperto de mãos e olhares cúmplices, ocasião em que retira um
cartãozinho da carteira. Antes porém rasga com a mão a parte superior. "Não precisamos de nomes" - Ela diz - Acho engraçado ela devolver para o interior da bolsa o pequeno pedaço extirpado. Olho para o cartão e nele consta o número do seu celular<br />
<br />
-Isso é pra quando você quiser jogar um pouco de conversa fiada! - Disse e sorriu tímida. Depois rumou para o balcão. Vi quando conferiu as comandas apresentadas pelo Finley deixando sob o balcão um par de notas
de 100.<br />
<br />
-Psiu! Paguei suas bebidas! - Ela me comunicou de longe. Agradeço com aceno de mão e ela devolve o gesto.<br />
<br />
Assim que saiu do estabelecimento me desloquei rapidamente aos retângulos de vidro da janela e a vejo entrar no estacionamento do outro
lado da rua. Aguardo dois minutos e a flagro ao volante de uma Mercedes Benz, fato que
confirmava que aquela mulher jamais seria para o meu bico. Logo à saída do estacionamento vira à direita e tento acompanhar o carro até onde os pequenos retângulos permitem. Seu cartão ainda está em minha mão e o roço em meus lábios e ali mesmo sinto a suavidade dum odor feminino, e não me surpreenderia, claro, se o perfume fosse francês. Penso nela e em sua presença no bar, bebendo desde horário tão cedo, e imagino que ela tenha dado ali ao caso, talvez pela necessidade de beber e esquecer o garoto e as poucas horas antes, talvez a derradeira madrugada passada num motel de lençóis alvos e espelho no teto. Abandono as conjecturas e retorno à realidade e guardo o cartão na carteira e dirijo-me para a mesa. Ali, mais uma vez retiro a carteira do bolso e sacando o cartão fico olhando-o com certa esperança, um cartão estranho, sem nomes, mas tão somente números de formas arredondadas e no tom róseo. Apesar da vontade, jamais liguei. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Num sábado, decorridos dois meses e meio ao encontro no bar o telefone dispara. Tudo bem, aguardava uma ligação do
“Semanário News” um jornal de tiragem semanal que abrangia à parte
oeste da cidade, já que se mostraram interessados em minhas crônicas. Sobre elas, talvez o interesse se deva a algum editor saudosista que conheceu as crônicas que escrevera com relativo sucesso para um semanário de outra região da cidade, isso há coisa de 10 anos. Bem, quanto à proposta, não que
fosse uma boa bolada, não, não era, mas ajudaria nas despesas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Alô, pois não? – Atendo. Do outro lado a voz de uma mulher,
e parece amistosa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Por favor, aí é da residência do Sr. Dru Cavani?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Sim, ele mesmo – Confirmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Olha Sr. Dru, está intimado à comparecer com sua Palio
Weekend verde, placas AEP0353 à Av. Moema 578 apto 71 às 20 horas para
acompanhar-me ainda hoje num show que os Rolling Stones darão em Sampa, precisamente no Credicard Hall. Não se preocupe com os ingressos. Tenho um par de camarotes!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Como assim? – Estou incrédulo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Sim, e por favor, anote o endereço e não se atrase, pois o
show começará por volta das 22,30! Estarei à porta do edifício trajando calça jeans e uma camiseta branca.
Os cabelos agora estão ruivos e levarão um leve arranjo floral.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Estou atônito. Em todo caso também tinha os meus truques,
mesmo que por vezes blefasse.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Tudo bem doutora Carolina Ferraz Albuquerque, passarei sem
falta no horário determinado! À propósito, a tua Mercedes negra, 2014 está acamada? –
Devolvo e largo-me numa boa gargalhada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Ela também ri, e repentinamente tudo me parece bem, pois eu
simplesmente falava com a procuradora geral do Estado de São Paulo, já que dias
após o encontro no bar e ao acaso reconheço a sua imagem na reportagem de um grande jornal de São Paulo. Outra vez a sua voz anuncia algo, e o tom é amistoso, carinhoso até. Ela diz:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Ah, estou me esquecendo que tenho um recado do Sr. Dylan e Madame Janis - Depois da breve pausa, continua - Você não sabe, mas, nesse intervalo andei visitando as celebridades, não só eu, mas também embalagens
vermelhas de Baconzitos. Mas, vamos ao recado; Eles pediram pra que
te dissesse que eu e você somos o casal mais bacana que eles conheceram. E também
estão exigindo a nossa presença – Carolina concluiu divertida, enquanto para mim só restou outro riso e a saudade.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Antes que desligássemos conversamos mais um
pouco, e foi quando soube que andou procurando alguns exemplares dos meus livros, porém não os encontrou nas livrarias, talvez até pelos mais de 25 ano foram publicados. No entanto a persistência recorreu aos sebos e num deles encontrou os dois volumes;
“Entrevistando um grande escritor” e “Uma trepada num elevador de bairro judeu” os quais leu e disse ter impressionado. Não contente levou meus livros para uns amigos editores
(dos grandes, segundo ela) e disse que eles também se entusiasmaram, e que em breve farão contato para agendarmos uma reunião. Enfim, ótimas notícias é que não faltaram e talvez ver os jurássicos
Rolling Stones com os septuagenários Mick Jagger, Keith Richards e ainda
pulsando rock não fosse a grande ou o mais importante acontecimento da noite. E sobre isso era bem provável que Dru Cavani e Carolina Albuquerque
tivessem a mais absoluta certeza.</div>
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<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Em resumo, tinha que correr para não me atrasar, pois
daria um pulo na Galeria do Rock à procura duma bela estampa do Led Zeppelin
numa camiseta de tamanho GG, afinal a última vez que me colocara uma daquelas fora no início dos anos 80 quando vestia as de tamanho "M" e tinha os cabelos longos além de curtir o movimento. Prevenido passaria também nas “ Lojas Pernambucanas” pois a ocasião requeria uma “Zorba” boxer, negra. Claro, não que contasse que algo fosse ou
pudesse acontecer, mas a vida é suficientemente sábia e te alertar que,
se aqui está é para que possa manter-se atento e esperto, pois às vezes ela te levará à encruzilhadas, e lá poderá existir a guerra silenciosa entre a vida e a morte, portanto matar ou morrer será apenas uma questão de tua escolha, e eu precisava me manter mais vivo que nunca, antes e depois do tal concerto.</div>
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<o:p></o:p></div>
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Antes de sair à procura da juventude perdida abro o
refrigerador e retiro a garrafa e me sirvo duma ótima vodca polonesa que ganhara de presente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
- A tua saúde, Dru! Eu digo para mim mesmo e sorrio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Ao terminar o drinque passo pela sala faço um carinho na cabeça de Hemingway, o
meu gato persa. Não que ele tenha sorrido de volta, isso não, mas o conheço o
suficiente, e ele é meio mágico, adivinho, e às vezes acho que ele sabe sobre todas as coisas, principalmente o passado e futuro. Sim, eu e Hem somos grandes amigos, cúmplices até, sei o que pensa, como age, sei das suas manias e trapaças. Ele soergue a cabeça e gosta da carícia dos meus dedos entre seus pelos, depois olha bem em mim e mia, não uma, diversas vezes. Sei que que há espantos naqueles longos miados, e ele está ansioso, e eu posso compreender o que me diz - "Ah patrão, pelo jeito tu andou conhecendo uma das boas" -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Volto a sorrir, e antes que feche a porta da sala e ganhe o hall dos elevadores olho para o Hem e ele boceja, irônico, preguiçoso, previsível como sempre. Ainda pude ouvi-lo uma última vez antes de abrir a porta do elevador:<br />
<o:p></o:p><br />
<br />
-Vai lá patrão, com calma! Mas dessa vez pague a conta, por favor!</div>
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<br /></div>
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<br />
<br />
Copirraiti 16Jan2014<o:p></o:p></div>
Véio China©<br />
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Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-9751976638497489172014-06-05T17:07:00.002-03:002014-08-03T18:29:36.938-03:00Entrevistando um grande escritor... ( Uma história forrada de nostalgias, críticas, e garrafetas de vodca)<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdaJ9Gxvz4ylLpaWDKk-JKax4RgZt83_2i20BCvde8FOm9KqBmD8SofjKsTiTAODKSF8_mkXHEYKtNk_fMCpUCAYqYVbeQyTcHO0G84Ut-E3nsI6vTfquvUHKD9AB1XvqlPGZZLBk5mCg/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdaJ9Gxvz4ylLpaWDKk-JKax4RgZt83_2i20BCvde8FOm9KqBmD8SofjKsTiTAODKSF8_mkXHEYKtNk_fMCpUCAYqYVbeQyTcHO0G84Ut-E3nsI6vTfquvUHKD9AB1XvqlPGZZLBk5mCg/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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Tudo aconteceu muito rápido, e penas chegou e me flagrou num banco de jardim, precisamente no Parque da Luz. Mas não foi somente este o fato, e evidente, surpreendia-me as vigorosas estocadas do seu indicador no lado esquerdo do meu ombro. Incomodado, remexi-me de um lado para outro e ele me pareceu perplexo, talvez até
por ter-me surpreender-me (antes do susto) num diálogo absurdo com a árvore cravada atrás de mim. Provavelmente o sujeito não soubesse ou, quem sabe, achara que eu enlouquecera por completo. Mas não era nada disso e apenas criava cenas e as falas das minhas novas personagens, estudando meticulosamente cada um dos movimentos, já que fariam parte do meu próximo livro.<br />
E em se falando do romance, o mais provável é que contasse com o ovo no cu da galinha, pois nem mesmo me dera ao trabalho de sair à caça de algum maldito editor que tivesse a suficiente coragem de publicá-lo. Bem, deixando os editores de lado, o que importa é que o garoto aportava ali no momento que minha mente produzia frases tórridas para um imaginário casal de meia idade que se bolinava, escorados na árvore em questão.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E me sentia bem, pois a imaginação voava como há muito não fazia. E eu gostava daquilo, e colocando mais lenha à fogueira vislumbrei ações em alta temperatura, as mãos do homem deslizando pelas costas da mulher, repousando sorrateiras num bumbum bem formado e generoso. Sim, sobre a dona dos glúteos avantajados, Sophia, poderíamos considerar que ela é muito bonita, e não só ela, e assim também o elegante tailleur cinza que vestia.<br />
Logo, insistindo nas cenas fiz todos perceberem que ali estava uma dona de classe, fato escancarado no sofisticado e estiloso echarpe de seda chinesa que contornava delicadamente o seu rosado pescoço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Entretanto o seu rosto de querubim somado as outras tantas evidências dum requinte social, não escondia dos transeuntes a sua escassez de recato. E a carência dos bons modos se contrapunha aos poucos minutos anteriores, onde ela e o namorado, caminhando pelas pequenas ruas arborizadas não se desgrudavam das mãos e nem dos sorrisos.<br />
<br />
Portanto não seria de admirar que as pessoas que zanzassem pelo local apostassem suas fichas na compostura daquela mulher de fino trato, e que o atrevimento do namorado seria passível duma descompostura em regra. Mas assim não ocorreu, pois não se percebeu nela a inocência dos amantes incautas, já que as mãos do homem pareciam estimula-la, fato cristalizado diante os gemidos da mulher e de suas mãos de unhas encarnadas acariciando as nádegas do homem, excitadas.<br />
<br />
E assim fiz as cenas persistirem, e eles se sussurravam obscenidades, beijando-se, tocando a crueza de suas línguas sem se importarem com os protestos de um grupo de quatro velhotas que há poucos metros dali tagarelavam suas fofocas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Senhor Oldman! Senhor. Oldman! O zelador do seu prédio disse que eu o encontraria aqui – O rapaz insiste e interrompe o exercício de minha imaginação. O tom de sua voz é jovial e entusiasmado. Claro, sua interrupção me irrita.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Sim, ele disse, mas, o que posso a ter com isso, rapaz? – Devolvo com feição de poucos amigos. Evidente, não me ocorriam os motivos de estar me cutucando daquele modo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah sim, desculpe-me senhor Oldman! Falha minha em não apresentar-me! - Ele exclama.<br />
<br />
-Sim, e quem você é? - Questiono<br />
<br />
-Ah, o meu nome é Arlindo
Augusto, e estou aqui para um trabalho do meu grupo de Universidade - Ele devolve<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Hã? Universidade? Sim! Mas.. o que tem a ver comigo? – Insisto contrariado enquanto o garoto retira o dedo do meu ombro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Bem, é que o trabalho vale uma ótima nota. Inclusive a ideia de entrevistá-lo foi minha. Sabe senhor Oldman, sou seu fã número um, e ficaremos felizes ao nos concedesse a entrevista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ai meu Deus! Universitários não! – Gemo para ele. Se havia coisa que me deixava acabrunhado eram esses fanfarrões universitários. Porém eu não podia simplesmente desaparecer com a sua imagem assim como fazia com as personagens. Retorno à carga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Tá bom meu rapaz! Mas..já que tinham que enviar alguém, porque não mandaram uma daquelas gostosas que certamente há em seu grupo ? - Ele pensa por instantes e sorri sem graça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Bem senhor Oldman...a culpa não foi minha, juro! Até que
tentei trazer uma delas, pois sei das suas facilidades quando estás diante dum bom par de pernas! - Ele se justifica, e completa: -Sei de tudo, pois tudo está nos seus livros.<o:p></o:p><br />
<br />
-Nos meus livros, é? Sim...Mas..por que eu? - Replico - De fato eu estava curioso para saber como chegaram até mim.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Bem, senhor Oldman, foi assim que aconteceu...Numa lista prévia de escritores sobraram três, e o senhor entre eles. E o seu nome foi à votação, e... - Ele explica, reticente, talvez acreditando que devesse me sentir feliz com a escolha. Acho o fato engraçado e resolvo
fazer parte da brincadeira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Nossa que ótimo! Olha...Eu lhes fico muito grato pela unanimidade, e pelo reconhecimento! - Dissimulo com certo orgulho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Bem senhor Oldman, também não foi bem assim - Ele devolve timidamente e conclui: É que um deles morava em Recife, o outro em Maceió, e ambos afirmaram que só concederiam a entrevista se estivéssemos lá, pessoalmente.<br />
<br />
-Uai! E por que não foram? - Replico desencantado e já sem o orgulho.<br />
<br />
-Bem.. Sabe como é, né senhor Oldman...A vida de estudante é dura... mal sobra grana pros cineminhas de domingo, imagine então para as viagens... - Arlindo divaga. Merda! Sei que não deveria, mas a justificativa me irrita profundamente</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Puta que pariu, odeio universitário! - Obviamente eu fora eleito por exclusão.<br />
<br />
Arlindo percebe a minha irritação, talvez preocupado que a entrevista terminasse antes mesmo de iniciar. Ele me olha constrangido, e sei lá por qual cargas dágua resolve reportar os bastidores da votação do Prêmio Nobel de Literatura
Universitária.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Sabe senhor Oldman, nós os homens, éramos a maioria dos votantes, e só foi fecharmos com o seu nome e as garotas tirarem o corpo fora da escolha. Elas disseram assim "Já que querem esse sujeito...Então o problema é totalmente de vocês!" – Arlindo relata impregnado dum risinho imbecil. Aquilo me deixa curioso.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Mas...Por que tiraram o corpo fora? <o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ora, senhor Oldman, convenhamos... Há nas tuas histórias muitas marcas de escândalos, fofocas, assim como em suas andanças os rastros de mulheres se pegando à tapa,
entre outras coisas piores. Portanto... para os que leem a sua obra é como ter aceso à xerox autenticada dos seus procedimentos... -<br />
<br />
-Ah..entendi. E sendo assim elas... - Ele não me deixa terminar<br />
<br />
-Fugiram deste encontro da mesma forma que o vampiro foge dos raios de sol – Arlindo conclui amorfanhado, levantando e deixando deixar cair os ombros.<br />
<br />
Seu pensamnto me deixa perplexo. Não o que avalia a minha moral ou conduta, mas, a outro, aquele que fala do vampiro e raios de sol.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Uauuu, garoto! Será que te ouvi direito? Assim como o vampiro foge dos raios de sol? Que frase magnífica! - Exclamo enquanto me olha surpreso.<br />
<br />
Claro, a exclamação era puro sarcasmo, e mesmo que levasse em conta o fato do garoto ser meu fã, tudo me pareceu cristalino, um tremendo mala.</div>
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<o:p></o:p></div>
Permaneço com o olhar cravado nele e na apatia de sua feição que, a cada frase dita insistia em repetir o meu nome. E ele era atípico, pois quem detalhasse a sua aparência logo veria um desses
rapazes como tantos outros que se metem a cursar o Jornalismo. Na sua fisionomia raquítica e cheirada à indolência sobressaia suas longas pernas que mais se assemelhavam a tacos de bilhares que se metem numa calça jeans. Acima do rosto, os fartos e encaracolados cabelos destoavam do ralo cavanhaque aloirado que ostentava no rosto afunilado. Seus lábios eram largos e finos, mas havia alguma expressão em seu olhar, pois procurava nele coisas que o identificassem com o público leitor. Também analisei seu tórax e braços, e mesmo que fosse desprovido de músculos questionei se ele não seria uma boa personagem para a minha história. Sim, e por que não? Talvez eu pudesse colocá-lo numa das cenas do “ménage à trois” com o desespero daquele duo de amantes quarentões.<br />
<br />
Ah, sim, falemos sobre os meus amantes. Bem...Sobre eles poderíamos concluir que são fruto dum casamento igual a tantos outros que, em certa fase convive com o conformismo dos beijos e trepadas que não mais carregam ranços de paixão. Logo, não há as bolhas provenientes de fervura, pois estão atolados à mediocridade da rotina destrutiva e do "nada eu faço, nada tu fazes, e nada faremos nós". E é justamente o que se dá com meu casal. Entretanto há alguma luz, e os faço perceber o que se ocorre á volta e os faço empreender mudanças. Claro, algumas delas são drásticas, radicais até, aliás, como ocorre com eles ao tratarem dum limoeiro doente, no entanto, esperançosos que, mesmos caídos, os limões debilitados ainda resultem na limonada que amaina a sede.<br />
Certamente, tais fatores são aflorados à minha percepção de vida, principalmente aqueles que dizem sobre os sentimentos, pois para mim o amor se assemelha a um bólido que desaparece das vistas numa auto-estrada sem fiscalização. E penso assim, já que experiência não me torna ignorante, e nem me obriga a desconhecer que é preciso muita perícia para que o amor alcance o seu destino, isento de acidentes.<br />
Assim reputo, pois agora sei que o amor requerer calma e muita prudência, desafeto que é do grotesco das nossas falhas e desacertos que, dependendo da conjuntura poderá nos inviabilizar outra oportunidade.<br />
<br />
E essa era parte da trama, e eles mereciam outra chance. E um deles é Marcos, talvez 43, um advogado criminalista que jamais enfrentou o tribunal do júri, quer fosse defendendo os milionários do narcotráfico ou os apelos dramáticos dos crimes passionais. Não, com ele tais defensorias jamais ocorreram, pois logo após a formatura e num raro golpe de sorte assumiu por bagatela e por prazo estendido uma pequena loja no ramo das peças. Agora, passados 15 anos seus negócios prosperaram e há um imóvel de sua propriedade que ocupa meio quarteirão numa caríssima avenida comercial, um dos campeões nacionais no segmento das autopeças.<br />
Com a esposa as coisas não foram muito diferentes. Ela é dois anos mais nova, psicóloga, uma dessas que jamais clinicaram ou mantiveram consultório próprio. Sim, é a verdade, pois igualmente saiu dos bancos da universidade para uma noite de núpcias numa humilde pousada do interior de Minas Gerais. Não, não estranhem a situação, já que à época não tinha um gato para puxar pelo rabo. Entretanto, inteligentes e com ótimo aproveitamento diplomaram-se às custas da União. Agora pasmem, ela, Sofia, casou na plenitude da virgindade.</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
- Senhor Oldman, senhor Oldman.. Pode ou não pode nos conceder a entrevista? – Outra vez suplica ao enfiar (de novo) o dedo no meu ombro. Outra vez me vejo extraído do surto criativo. Obviamente, tinha que ficar puto da vida.</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
-Moleque do cacete, por que tu não abaixa essas calças e enfia a ponta desse teu dedo no rabo? – Esbravejo retirando bruscamente seu dedo da minha pele.</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
-Oh senhor Oldman, por favor, me perdoe! Não tive a intenção de machuca-lo – Ele justifica desapontado. E desta vez me pareceu tão desalentado que levou o seu olhar para o desgastado par de coturnos.</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Depois da bronca me arrependi, e assim abrandei a raiva nas linhas do meu rosto. Subitamente Arlindo levanta o olhar e ele parece ser frágil como a alma artista, igual a esses que brincam com malabares de fogo nas noites frias de inverno. Repenso em sua participação em meu livro e definitivamente concluo que tanto seu biotipo como o espírito não condizem com o erotismo das cenas, portando, decido descarto-lo da cena que ocorreria num lugar próximo e por mim conhecido. Bem, talvez Arlindo Augusto nem quisesse estar naquele quarto miserável de um hotel vagabundo e destinado às prostitutas. Talvez fosse essa a forma encontrada encontrada por mim para punir o abastado casal. E já decido pronuncio:</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br />
-Bom, paciência, Arlindo! Não será desta vez que você atuará em meu romance – Sentencio antes que retorne ao meu juízo perfeito. O garoto me olha surpreso e eu peço que inicie a entrevista. Entretanto parece que minhas falas o deixei bolado.</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
-Incluir-me no romance? Como assim senhor Oldman? – Ele pergunta. </div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
-Ai meu Deus, tinha que arrumar sarna pra me coçar? - Recrimino a mim mesmo.<br />
<br />
-Diga, diga senhor Oldman! O que o senhor pensou para mim? - Ele insiste<br />
<br />
-Ai Jesus! Nada não, Arlindo Augusto, deixemos essa conversa para lá! - Ele parece compreender meu tom decisivo, mesmo que não saiba o por que.</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
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Ainda surpreso, solicita a permissão para sentar ao meu lado, e damos início ao seu trabalho. Permito que sente e escorrego para a beirada do banco no aguardo das perguntas. Arlindo assenta as nádegas na porosidade do concreto e abre a sua mochila retirando do interior o aparelho celular. Em seguida aperta algumas teclas de comando e num gesto brusco e desajeitado o coloca bem rente minha boca, quase tocando-me os lábios. Faltou-me pouco para manda-lo à merda, entretanto relembro a bronca e refreio minha intenção. Repentinamente retira o aparelho de minha boca e o move para a sua e exclama algumas palavras. Para mim foi demais; Ele esquecera de testar o nível da gravação</div>
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-Um, dois, três, testando! Som, som, som! – É o que ele fala para um minúsculo orifício no celular. Meu Deus! “Um dois três testando..som..som..som” Repito comigo e continuo a rir. Definitivamente, Arlindo Augusto era mais que mala, talvez, babaca fosse pouco. Bem, depois de verificar que estava tudo em ordem deu a partida para a sua entrevista.</div>
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-Senhor Oldman, são passados cinco anos de sua última publicação. O que o faz tão ausente do mercado literário?</div>
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-Bem meu jovem...acho que a cabeça não está produzindo o suficiente</div>
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-Faltam ideias, senhor Oldman?</div>
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- Não, talvez esteja transbordando. Porém o volume de ideias é tanto que me confunde, e o meu comum é misturar as coisas ao coloca-las no papel. E o problema reside aí, pois percebo na confusão que meto as minhas idéias, um verdadeiro balaio de gatos pardos.<br />
<br />
-Não coordena suas ideias coerentemente, senhor Oldman? - Ele pergunta, surpreso.<br />
<br />
-Olha...não que eu seja um descoordenado, não é isso. E o mais que provável é que idade esteja pesando e eu numa estrada onde o inexorável é a velhice. De uns tempos para cá ando demasiadamente preocupado comigo, com as doenças, o alzheimer, e esse maldito o meio que nos cerca. </div>
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-Mas...e quais seriam esse preocupações, senhor Oldman?</div>
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-Bem, ando preocupado com tantas coisas. Com os preços nos supermercados, com o desabastecimento de água. Sabe, Arlindo, estou apreensivo e inconformado com o valor das aposentadorias, com a conta do restaurante por quilo, a falta de crédito, as orgias esparramadas pelo país, com drogas e drogados, repressores, com os bêbados e cirroses.. - Nesse ponto faço uma pausa.<br />
<br />
-Caraca! O senhor é mesmo preocupado com as coisas, eim senhor Oldman?<br />
<br />
-Ah, isso eu sou! Hum...E com as balas perdidas, e com sujeitos que possam me "acertar" nos cruzamentos do país - Replico num tom alarmista, dramático até.<br />
<br />
-Poxa! como o senhor é pessimista, senhor Oldman! - Ele diz recolhendo os ombros e arregalando os olhos. Entretanto era bom que ele soubesse que minhas lamúrias ainda não tinham terminado. Continuei.<br />
<br />
-E agora há o pior, Arlindo Augusto...Você sabia que o Viagra parece não ser eficaz tanto quanto antes? </div>
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- Hã! Com assim, senhor Oldman... O Viagra deixou de ser eficaz! Ora! Mas qual é a correlação que existe entre o medicamento e a literatura, ou mesmo com com o processo criativo? Não entendi, senhor Oldman! - Ele devolve, perplexo.</div>
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-Ora, meu jovem! Em minha opinião tem tudo a ver, meu rapaz! A pílula azul já foi mais eficiente ao manter elevada a autoestima de sujeitos como eu. Logo, o que me preocupa é a eficiência do medicamento, pois se de fato nada mudou em sua fórmula, significa que a droga sou eu! - Depois de ter soltado essa preciosidade, óbvio, me arrependi, pois não existia qualquer necessidade de deixá-lo a par do meu problema eréctil. E isso foi um erro, já que não deixou passar em branco:</div>
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-Hahaha! A droga é o senhor! Essa foi muito boa, senhor Oldaman! - Ele ri divertido, enquanto curva o dedo polegar para baixo. Depois assume a feição séria e diz: - Olha, não encuca com isso senhor Oldman. Talvez seja apenas fase, passageiro, e tudo voltará ao normal. Provavelmente é algo que esteja prejudicando a absorção medicamentosa – Ele ameniza com algumas reticências. Porém percebo nele o incentivo. </div>
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- Bem, Augusto, obrigado. Mas carrego as minhas culpas, pois aos 65 continuo fumando mais de duas carteiras de cigarros por dia, e isso há mais de meio século. Sabe...talvez eu esteja no fim da validade, ou coisa assim. Entretanto ouça com a máxima atenção aquilo que vou dizer; Entre a Terra e o espaço sideral sempre haverá mais mistérios que a nossa inútil filosofia possa decifrar.. - </div>
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-Opa! Já conheço esse bordão, senhor Oldman, aliás, não exatamente com essas palavras. Porém não compreendi essa coisa dos “planetas e as estrelas e nem a sua desistência em produzir algo relevante nesses anos de ostracismos – Ele devolve numa tonalidade abafada. Olho para ele, e ele está entretido com alguns pombos apressados, pezinhos lépidos, daqui pra lá, de lá pra cá à procura de algum alimento. Talvez fosse esse o momento dele saber o real motivo de me distanciar da literatura:</div>
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- Bem, senhor universitário, vou explicitar para que a ficha te caia melhor; Quando uma cabeça não funciona dizem que o corpo padece. Quando ambas cabeças não funcionam, bem, ou estão em pane, ou refém de outra possibilidade. Logo, no meu caso, ou escrevo um monte de asneiras, ou limpo as lentes bifocais com detergentes poderosos para me esbaldar em filmes de putaria na internet. E pelo jeito tenho optado pelas duas... - Depois de soltas as palavras fiquei pensando porque dissera aquilo. Novamente ele não me poupa:</div>
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-Hahaha... O senhor ainda assiste a esse tipo de filme, senhor Oldman? Por acaso é carência?</div>
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-Quer saber garoto? Carentes todos somos e seremos sempre, pois a carência é implícita à natureza humana! Poderia até estar mais se não me fosse a pródiga memória. Sabe, não sou sambista, aliás, detesto o samba, mas há uma letra de um desses sujeitos que é espetacularmente sábia.</div>
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-E u também não gosto de samba, mas, o senhor se lembra do título ou quem canta?</div>
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-Não, não me lembro, só de parte da música, principalmente o trecho que diz “Recordar é viver, eu ontem sonhei com você” E é assim que funciona a vida, garoto, logo, vivemos mais para as recordações que para as realidades, talvez até porque poucos de nós aceitem envelhecer sem um olhar sedutor no passado.</div>
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-Opa! Será que o seu pensamento anda largado em alguma de suas mulheres daquele tempo Sr. Oldman? E digo isso pelo fato de todos sabermos o quanto o senhor foi mulherengo...</div>
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-Mulherengo? Ô garoto, acredito que esteja me confundindo com o falecido Jesse Valadão! Então...Mas não há nada de abandonos em mulheres do passado, mas apenas no status quo de outrora. Há a saudade dos meus cabelos negros e fartos. Há a saudade das calças “Levis” boca-de-pito. Há saudade até do tênis “Bamba”, branco, assim como toda lembrança das minhas camisas rendadas e coloridas, que combinavam perfeitamente como os meus sapatos Cougar. Lembro que tinha três pares de cores diferentes; verde, vermelho e amarelo.</div>
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- Nossa senhor Oldman! Sapatos verdes, vermelhos e amarelos, e ainda por cima camisas rendadas? Isso que é ser antigo, eim? As suas lembranças devem fazer parte dum antiquário! – Ele devolve com chacota.</div>
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-Sim, eu sou o antiquário em pessoa! E isso porque ainda não falei dos Beatles e nem de “Let it Be”. Não te segredei o que era subir a Rua Augusta grudado na cintura de uma garota de peitos GG. Você já assobiou “Its too late” da Carole King ou “Atlantis” do Donavan? Não, né? Então... e também sinto saudades dos “cremes rinses” daquela época. É sim, pois eles nada tem a ver com essas porcarias de condicionadores de cabelos que são fabricados nos dias de hoje. Eles sim conferiam um look todo especial . </div>
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-Nossa, creme rinse? Nunca ouvi falar - Ele tripudia - Bom..apesar que acho que o seu passado deve ter sido um lance bacanérrimo, né senhor Oldman?</div>
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-Sim, foi....e outra... - Novamente me interrompe já engatado numa nova pergunta<br />
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-Senhor Oldman, poderia nos dizer quais eram as curtições daquele tempo, inclusive, as mais quentes? - Ele pergunta e olha pra mim com certa malícia. Óbvio, percebo o que ele quer, mas decido deixá-lo ansioso e relato fatos mais amenos.</div>
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-É assim meu rapaz, muitas foram as curtições. Uma delas era que a minha geração adorava tomar café no Aeroporto de Congonhas durante as madrugadas. A outra, degustar uma boa sopa de cebola num restaurante simples e próximo ao Ceasa. Entretanto os lances mais badaladas eram os bailes de bairro. Neles predominavam os efeitos das luzes. Eram bailes cobrados, alguns com conjuntos tocando ao vivo. Mas a diferença estava mesmo naquelas lampadas mágicas, luzes negras e estroboscópicas causando efeitos que deixavam nossas roupas brancas e os dentes com uma aparência fosforescente, algo quase azul neon, assim como os letreiros dos Pubs de hoje.</div>
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- Nossa senhor Oldman, acho que o senhor foi um arraso! Imaginando aqui o senhor dançando com uma ninfeta da época, colando o rosto, pernas, seios... - La vinha ele novamente.</div>
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- Ah meu rapaz, nem tanto... – Respondo demonstrando a humildade que não possuo. </div>
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- E o senhor se recorda de algumas passagens pitorescas? – Os olhos dele brilham. Foi então que notei que ele pretendia que entrássemos diretamente ao assunto.</div>
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-Ta certo, entendi, garoto! Bem...Lembro de uma ou outra. Certa vez dei uma trepada rapidinha com uma garota que conhecera dentro do ônibus da Breda Turismo. Era uma viação que fazia a linha no litoral sul do estado de São Paulo e tinha por destino a cidade de Peruíbe</div>
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-Nossa! E como foi isso de fazer amor dentro de um ônibus? Deu certo?</div>
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-Para nós deu. Talvez nos assentos do carro houvesse meia dúzia de pessoas. Logo após a partida uns rocavam aqui, outros ressonavam acolá, pois é comum às linhas noturnas partirem com poucos lugares ocupados. Como de hábito comprei o último assento, solitário. Ao entrar no ônibus vejo uma garota sentada na terceira ou quarta fila. Ela era bem bonita e tinha em sua cabeça uma dessas faixas que trazem frases do mundo do rock, coisa bem comum nos anos 70. Era uma com frase de Jim Morrison, tipo assim - “Alguns nascem para o suave deleite; outros para os confins da noite”. Conclusão; Eu adorava Morrison, portanto me amarrei nela e no seu adorno... </div>
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-Ah, certamente ela também deveria ser fã do Jimi Hendrix e da Janis Joplin! – Ele me interrompe, brilhantemente, diga-se.</div>
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-Cara, estou perplexo! Você deve ser um gênio! Que dedução magnífica! – Replico entusiasmado. Ele sorri sem jeito, talvez levando ao pé da letra a falsa lisonja. Porém não me senti um crítico solitário, pois naquele instante os pombos arrulharam em grupo, espalhafatosos.</div>
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-Sim, e o que aconteceu, senhor Oldman? – Ele me parecia frenético ao esfregar a mão com rapidez no tecido da perna direita.</div>
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-Calma rapaz, já te conto. Bem, não sei se sabe, mas sempre fui um cara de pau, logo, sentei-me ao seu lado e puxei conversa. Foi mágico! O papo fluiu como nos conhecêssemos há anos. Estávamos falando há uns 10 ou 15 minutos e passava um pouco da uma da manhã quando a convidei para sentarmos onde tinha o assento comprado. Ela me olhou e me ofertou um sorriso incógnito e prontamente se levantou...</div>
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-Conta...conta...conta logo senhor Oldman! – Ele pediu eufórico, agora batendo o punho direito contra a perna.</div>
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-Fique tranquilo meu jovem – Acalmei-o e continuei; Bem...já sentados nos últimos bancos e após conversamos por 10 minutos reclinamos os bancos e começamos a nos acariciar. Ela era uma delícia e sussurrava baixinho e seus gemidos se fizeram tão sensuais que lembrei dos filmes estrelados por Brigite Bardot. Ah, o biquinho que ela fazia quando dizia "Mon amour" me matava! Bom, não demorou muito e pulei para o banco ao lado e me deitei sobre ela. Daí ficamos num rala e roça insano, até que, com alguma dificuldade arriei a calça jeans. Para ela foi mais fácil, já que estava de mini-saia, e ela só teve o trabalho de desabotoar a blusa floral e para os seios saltarem ansiosos, escondidos que estavam num sutiã meia-taça. Sim, os peitos dela eram lindos! Um pouco mais de excitação e foi inevitável deixarmos de dar uma trepada das boas. Evidente que tomamos alguns cuidados, como o de gemermos baixinho para não acordarmos o pessoal dos bancos da frente. </div>
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-Uauuuu! Que bárbaro senhor Oldman! Ah como gostaria de estar sentando no banco ao lado, incógnito, invisível. Ah, como gostaria de ter assistido tudo! – Ele exclama excitado. </div>
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-Bom, foi isso, meu jovem. Depois nos limpamos com alguns lenços umedecidos que ela trouxera na bolsa. Agora...o estranho mesmo ficou por conta do meu rabo, de fora, indo de um lado para o outro conforme as curvas efetuadas, pois a Serra do Mar é um festival delas, fechadas...Ah, e isso sem falar na maldita pressão nos ouvidos, algo que tem relação com o nível do mar.</div>
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-Poxa vida senhor Oldman! Acredito que foi uma aventura e tanto! – Ele concorda extasiado. Depois emenda outra pergunta: Ah, assim, Já que estamos falando em “fazer amor” recorda de algum outro caso inusitado?</div>
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-Garoto, vamos parar com esse papinho frouxo de “fazer amor”? Use uma linguagem menos coloquial, porra!</div>
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-Epa! Desculpe senhor Oldman. Tentarei me adequar! – Ele assente num risinho safado.</div>
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-Isso! Assim que se fala, garoto! </div>
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-Então vamos lá senhor Oldman! Existiram outras trepadas tão incomuns quanto essa?</div>
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- Sim existiram algumas. Tô lembrando aqui de algumas. Teve a da escada de incêndio, na sala do arquivo morto duma firma que trabalhei, algumas me aproveitando do "vai-e-vem" das ondas do mar. Você não vai acreditar, mas trepei até em sala de cinema!<br />
<br />
-Caraca! Em sala de cinema, senhor Oldman?<br />
<br />
-Sim, bum cine-teatro bem fuleirão. Pra falar a verdade eu era bem garotão e foi numa sessão das 3 da tarde ao dar o meu maço de cigarro praticamente cheio para uma strepper balzaqueana que fazia show no local.<br />
<br />
-Nossa! Que barra eim, senhor Oldman!<br />
<br />
-Pois é, foi barra. E, ah, teve uma ocasião muito esquisita. Só que nessa entrou areia! Acredita?.</div>
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-Hã? Como assim? O senhor foi flagrado com a boca na botija? Foi pego pelo pai, mãe, ou pelo irmão da garota?</div>
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-Não, não! Não foi nada disso! O problema não foi esse! Nessa entrou areia, mesmo, literalmente falando. Era também madrugada e transamos num areal de Copacabana, num terreno desocupado, logo atrás do parquinho de diversões em que ficamos boa parte da noite. Apagadas as luzes do parquinho, ficamos por ali e nos ocultamos em alguns arbustos e nos misturados às embalagens de sorvetes e de amendoins torrados demos cabo ao serviço. Naquela época eu curtia uma de ser mochileiro, e estava ali com a namorada para ver as escolas de samba no carnaval carioca. Porém a grana era curta, e a decisão era a de; Ou comprávamos os ingressos, ou dormíamos naquelas espeluncas do centro. Claro, optamos por ver as escolas, além, óbvio, de tomarmos banho de gato naqueles famosos chuveirinhos de praia.</div>
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-Caraca! Não imagina como seus fãs ficarão felizes por lerem essas preciosidades...</div>
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-Ah sim! Posso imaginar o riso estampado no rosto de meia dúzia de sujeito que perde tempo em me ler!- Devolvo com sorriso cretino e conformado. Eu também era filho de Deus.</div>
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-Poxa vida, senhor Oldman! Que relatos canas! Podemos finalizar a nossa entrevista com um bate pronto?</div>
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-Claro garoto! Mas vamos inverter a ordem; Agora sou eu que respondo enquanto você pergunta! Ok?</div>
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-Hahaha! O senhor é mesmo um grande gozador, senhor Oldman – Ele riu farto e inocente. Pra falar a verdade, começava a ir com a cara daquele garoto.</div>
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-Ok, ok! Você venceu baby! E para os vencedores batatas fritas! Manda ver, guri! – Ele sorriu novamente, encostou o celular próximo dos lábios e sapecou:</div>
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-Uma bunda!</div>
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-Ah sim, a bunda de Carla Perez - Rebato</div>
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-A bunda das bundas? – Ele pergunta, agora mais desinibido</div>
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-Bem garoto, olha que já vi muita bunda bonita, mas a de Da Rita Cadillac era imbatível!</div>
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-Puta que pariu! A de Rita Cadillac? Por acaso é uma velhota que há uns 8 anos atrás fez um filme pornô deitada sobre o capô dum cadillac vermelho?</div>
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-Sim! Ela mesmo!</div>
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-Hum..entendi. Bem, e a sua maior decepção, senhor Oldman?</div>
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-Hum... talvez a minha maior decepção foi jamais ter visto os peitos de Grace Kelly</div>
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-Quem? Grace o que? Quem é, senhor Oldman<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>?</div>
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-Ah foi uma atriz dos anos...Ah, deixa pra lá garoto!</div>
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-Ok, não vou insistir. Ah, agora me diga; Há muitos enganadores nesse país?</div>
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-Ih meu rapaz! Esse país está abarrotado de enganadores. Mas, o maior deles é o governo! – Ele me olha assustado. Aquilo me preocupa, pois talvez eu estivesse na presença de um desses esquerdistas alienados e que não enxergam um elefante à frente do próprio nariz. Se fosse o caso a entrevista corria o risco de interrupção.</div>
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-É... nessa vou ter que concordar com o senhor, senhor Oldman! – Eu o ouvi quieto e com um certo alivio. E ele continuou:</div>
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-Deduzindo, senhor Oldman. Se existe enganador, existe quem se deixa enganar. Por acaso seria a tal "Elite branca" o grande bobo desta nação?</div>
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-Elite branca? Bah, guri! Isso é conversa pra boi dormir! O grande otário é o povo brasileiro como um todo, principalmente os mais humildes que se deixam seduzir por alguns míseros trocados – Devolvo convicto.</div>
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-Hum, certo, certo – Ele assente. Depois me desafia; Senhor Oldman, vale um bloodmary a sua convicção política mais contundente.</div>
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-Ah garoto... Essa é muito é a mais fácil de todas!</div>
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-É? – Ele questiona</div>
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-É! - Confirmo </div>
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-Então diga senhor Oldman!</div>
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-Fora Petralhas! – Exalto-me. Talvez a tonalidade da voz tenha sido tão contundente que todas as árvores do parque me ouviram. E não só elas, pois as pessoas que passavam nos olharam, até os pombos nos olharam, e arrulharam ainda mais alto, não sei se a pró ou contra a minha convicção política.</div>
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Ele me olha e sorri. Eu olho pra ele e devolvo o sorriso. Depois o convido para um drink. Ele parece não entender. Então tiro do bolso do paletó de lãzinha cinza duas pequenas miniaturas de vodca. Ele aceita de pronto.</div>
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-A nós – Eu digo</div>
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-A nós – Ele Retribue</div>
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Terminadas, repetimos os goles com outro par de garrafetas. Repentinamente ele dá um tapa na própria testa e diz "Que cabeça essa minha" Eu apenas olho sem nada compreender. Ele me comunica "Senhor Oldman, tenho um presente para o senhor" Agora quem é pego de surpresa sou eu. Pego mais duas miniaturas e outra vez consumimos o conteúdo. Apalpo um dos bolsos e noto que ainda sobrara um par delas no paletó-adega. Então ouço o barulho do zíper de sua mochila, e ele saca do interior um estojo embrulhado num bonito papel laminado. Estou ansioso e ele me faz a entrega. Assim que me desfaço da embalagem os meus olhos brilham diante dum belo par de lentes negras. Olho o estojo com atenção e nele há a marca Ray Ban. Talvez os óculos fossem legítimos, talvez não, e isso não me importou. Retiro da caixa e me desfaço da velha armação que estava em meu rosto e a substituo pelo novo presente.</div>
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-Demais, senhor Oldman! Ficou muito bom, bom mesmo! O Senhor ficou parecendo com Charles Bukowski! Ta igualzinho a uma foto dele nos anos 80 em Los Angeles – Ele exclama<br />
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-Quem é Charles Bukowski? - Brinco com ele.</div>
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Ele sorri e eu devolvo. Depois levanta-se para ir embora. Já em pé me dá um forte abraço, caloroso, cheio de afeto, e aquilo me fez sentir importante, pois há muito tempo não me afagavam daquela forma. Talvez achem que sou piegas, mas repentinamente tudo à minha volta pareceu ganhar vida, pois há um dia ou um momento na vida da gente que as coisas, por mais pequenas que sejam, tornam-se imensuráveis.<br />
E aquele era o dia e o momento. As flores pareciam adquirir um novo colorido, e no rosto das pessoas mais alegria, e até os pombos e seus incontroláveis apetites pareciam outros, diferentes, arrulhos inquietos, mas que sugeriam paz. <br />
Surpreendentemente sinto algo aguar os meus olhos,. Era como tivessem pingado gotas de colírio, que ameaçavam desabar. Entretanto eu era duro, portanto arregalei bem os olhos e as consegui reter, não possibilitando ao rapaz ver o quanto havia de humano em mim. E com as lágrimas dominadas assim como os velhos e cansados leões, enfio a mão no bolso do paletó-adega e resgato as derradeiras miniaturas. Ele acolhe a sua com galhardia e a entorna numa outra única golada, enquanto consumo a minhas em goles mais comedidos. Terminadas, civilizadamente ele recolhe todos os frascos vazios que deixamos sobre o banco e os leva até a lixeira mais próxima. Depois volta e pega a sua mochila e verifica se não está deixando algo para trás. Com tudo em ordem enfia o celular no interior e me dá um “Até breve” e eu devolvo num “Até a próxima” . E ele toma o seu caminho e segue em linha reta. </div>
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Eu o acompanhei por uma daquelas ruazinhas até onde meus olhos puderam distingui-lo. E no caminho ele brinca no cocuruto de algumas crianças, e ajuda um senhor de severa idade a se erguer do banco. Porém eu notava nele algo não sincronizado. E conforme ele segue pela alameda eu sorrio prazeroso, pois Arlindo Augusto dava evidentes sinas de confusão motora. Eu sabia que não demoraria para que tropeçasse nas próprias pernas num inequívoco estado de embriaguez, mesmo que, por sorte, ainda em estágio inicial.</div>
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<br />
Sim! Não existia qualquer dúvida agora; Arlindo Augusto era um garoto legal.</div>
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Copirraiti26Jun2014</div>
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Véio China©</div>
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Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-43687765815823887912014-04-13T19:40:00.002-03:002014-04-14T13:48:53.435-03:00Nunca antes na história deste país... (Avô & Neto em simplismos políticos)<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCBkXxfvF25B_uwRA6sIDy3EJb0cl-VGXLN-wHdLJOGP3Jmhug9p01j1S2zM8tx84jEvzRb2MVvHZ-yClWTQ9id37fB7ZZ_2UK4t47NR681bUSS2tqf9tVnx1GKJOSbX8CqygnSWaA38-i/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCBkXxfvF25B_uwRA6sIDy3EJb0cl-VGXLN-wHdLJOGP3Jmhug9p01j1S2zM8tx84jEvzRb2MVvHZ-yClWTQ9id37fB7ZZ_2UK4t47NR681bUSS2tqf9tVnx1GKJOSbX8CqygnSWaA38-i/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
-Vô, sabe, ouvi dizer lá na escola que a presidente foi terrorista. Se foi terrorista, como pode ser nossa presidente? – Pergunta o garoto, talvez uns 13 ou 14 anos.<br />
<br />
Sobre o menino podemos considerar que é um desses como muitos que andam por aí, e que estão numa fase de desinteresse pelo futebol, entretanto antenados e de olhos bem abertos para as garotas na escola, o Facebook, e surpreendentemente, no universo político tupiniquim, talvez até pelo fator "Black Blocs" o qual, sem discernimentos diz achar "movimento firmeza”<br />
<br />
-Inácio, leve a mal não, mas não acha que és muito garoto para tanto interesse político? – Questiona o avô ao olhá-lo firmemente nos olhos.<br />
<br />
-Assim, sabe vô, lá na nossa classe a dona Izilda estava falando sobre a vida de Che Guevara, e a professora disse que o PT e a presidente tem tudo tem a ver com ele, pois todos militaram na esquerda. Perguntei a ela o que era ser de esquerda, direita, e ela explicou, portanto me interessei.<br />
<br />
-Eita! E por que esse interesse repentino por esquerda, direita, e ainda mais pela dona Vilma? – O avô insiste, surpreso.<br />
<br />
-Ah vô, nem é tanto o interesse por ela, pois do jeito que o pessoal mete o pau nela no Face, acho que deve ser por não estar fazendo grande coisa pelas pessoas....<br />
<br />
-Hum, entendi...então vocês acham que ela não está lá fazendo aquelas coisas...sei. Mas, me diga Inácio, lá na tua escola estudam a política nacional?<br />
<br />
-Ah vô, não! Não há aula falando de política não. É que a dona Izilda parece ser plugada nesses lances e gosta de descer o pau no governo. Sabe, gosto dela!<br />
<br />
-Hum, e é bonita a sua professora de história?<br />
<br />
-Eee vô! Tu sempre querendo saber se as mulheres são bonitas! Certo, o que posso dizer é que ela é de geografia, e que também é meio barrilzinho, mas tem uns olhos azuis maravilhosos!<br />
<br />
-Eita! Dos olhos azuis, além de ser gordinha até que entendi, mas, como assim... professora de geografia? – Surpreende-se o velho.<br />
<br />
-Uai, como assim....ora! geografia, vô...Ge o gra fi a! - O fedelho responde separando as sílabas<br />
<br />
-Nossa, que coisa! Imagino então que nas aulas de história vocês aprenderão sobre o curso do Rio Amazonas, o quanto é pitoresco o Sena, e ainda as rotas das pirâmides no Egito. Pelo amor de Deus, o ensino neste país tá de brincadeira! O que pode ter a ver o cu com as calças? – O velho resmunga demonstrando seu descontentamento com a qualidade dos professores do país.<br />
<br />
-Ô vô, vê se não me enrola! Para com esse papo sobre rios e rotas e me diga; A presidente Vilma foi ou não foi terrorista? – O garoto insistiu na pergunta. O velho o olha aturdido; Que assunto chato fui me meter! – Ruminou em pensamento. Depois muniu-se de alguma coragem e seguiu adiante.<br />
<br />
-Assim meu filho, vamos por parte. Primeiro, a presidente não foi terrorista, mas, revolucionária, guerrilheira, apesar de muitos verem terrorismo nas atitudes tomadas por aqueles grupos. Claro, naquele tempo ela jamais se imaginou detentora de algum poder, afinal as esquerdas não tinham voz e nem vez no país... – O velho relata. Entretanto, antes mesmo de terminar as suas falas é bruscamente interrompido pelo neto.<br />
<br />
-Uai, como é que pode isso, vô? Uma esquerda ser fraca e eleger um presidente? – O menino questiona de olhos arregalados –<br />
<br />
O avô o olha e coça a cabeça e murmura entre dentes. “E agora José, como explicar isso pra esse fedelho curioso que o curso da história mudou?” – Depois decide; “Já que entrei no jogo não é justo deixa-lo na metade. Decide antes de disparar suas costumeiras metáforas.<br />
<br />
-Bom...é que no meio do caminho surgiu um barbudinho que encantou a mídia e os intelectuais desse país. Já ouviu falar sobre uma poesia de Drummond, chamada “No meio do caminho?”<br />
<br />
-Ah, já sim, vô! Aquela que diz " E agora José/A festa acabou/A luz apagou" A professora de matemática vive recitando essa daí e muitos outros poemas.<br />
<br />
-Hum...professora de matemática recitando "José"? – Outra vez o velho se surpreende, primeiro, pela confusão do garoto ao vê-lo referir-se a outro poema do imortal Drummond. Segundo, porque também não entendia a mestra de matemática ministrando aulas de literatura no lugar daqueles, para ele, incompreensíveis cálculos.<br />
<br />
-É sim, vô! Ela é a nossa professora de matemática! - O garoto confirma<br />
<br />
-Tá certo, Inácio. Apesar de você não estar se referindo ao poema que mencionei, confesso, o efeito é praticamente o mesmo. Portanto pegue a "No meio do caminho tinha uma pedra/Tinha uma pedra no meio do caminho" e substitua a palavra pedra e no seu lugar coloque“barbudinho” e aí sim terá uma poesia política afeita ao nosso tempo.<br />
<br />
-Ta bom vô, vamos ver como fica; "No meio do caminha tinha um barbudinho/Tinha um barbudinho no meio do caminho" – O garoto ouve o som da própria frase. Porém, repentinamente o sobressalta: Mas...epa! O que pode ter a ver entre o barbudinho, o poder e a pedra? – Protesta o garoto num espanto que se fez cristalino.<br />
<br />
- A princípio, nada, Inácio. É apenas brincadeira minha. Já reparou como um dos seus nomes é idêntico ao do barbudo? De diferente só o Ruis e o Nilva? – O velho compartilha num tom professoral.<br />
<br />
-Ah é mesmo vô! Quem ainda não ouviu falar no nome de Ruis Inácio da Nilva? – O menino consente.<br />
<br />
-Sim, mas voltando ao assunto o fato é que esse barbudinho se tornou conhecido nacionalmente por Tula. Ele foi um obstinado, e mesmo semi analfabeto já lhe sentíamos o dom da esperteza, pois sabia estar na mídia como ninguém, inclusive, evidência que se deu na conta dos levantes da classe metalurgica, isso no ABC, e em plena década de 70.<br />
<br />
-Mas, o que ele pretendia, vô? – Evidente, o garoto se mostrava interessadíssimo pelo assunto.<br />
<br />
- O que posso dizer Inácio, é que à época ele brigava por melhores salários, direitos e melhores condições de trabalho.<br />
<br />
-Nossa vô, então podemos concluir que ele foi um sujeito corajoso?<br />
<br />
-Podemos sim Inácio! Pra falar a verdade, esse barbudinho foi um osso duro de roer, um grevista de mão cheia que lotava os estádios com as assembleias que promovia com a sua classe.<br />
<br />
-Ah, que legal! O vô, é verdade que Tula não tem um dos dedos?<br />
<br />
-É verdade sim Inácio. Inclusive sobre ele contam algumas línguas que ele decepou propositadamente o dedo numa prensa da fábrica onde trabalhava.<br />
<br />
-Como assim vô, quem seria louco de cortar o próprio dedo? Mas... por que ele faria isso? – O garoto questiona intrigado.<br />
<br />
-Bem, nem eu sei, pois com ele parece que tudo sempre foi e será possível – O velho devolveu num tom tão sarcástico que acabou por gerar dúvidas no guri.<br />
<br />
-Ô vô, te conheço, né! Para de esconder o ouro de mim! – Ele olhava firmemente para o avô, e como esse nada respondeu, continuou -<br />
<br />
-Sabe, a minha professora revelou que admirava muito esse tal de Tula, mas que agora não admira mais. Ela diz que ele traiu diversas promessas e princípios que fizeram ele chegar no poder. Ela disse ainda mais... Disse que hoje ele posa dando tapinhas nas costas de parceiros políticos, pessoas que no passado sempre alcunhou de corruptas e que lesavam o Brasil.<br />
<br />
-Pois é Inácio. Assim como a tua professora há milhões de brasileiros que tem a mesma impressão sobre ele, e não são poucos os que não suportam nem que lhes digam o nome.<br />
<br />
-Tô sabendo vô! – O guri respondeu divertido – Sabe, tenho um colega de classe que disse que o vô dele contou que à época muita gente tinha medo do barbudinho, e que os militares pregavam que ele seria capaz de comer criancinhas vivas, se essas dessem moleza! Cada louco, né vô? – O menino finalizou num riso divertido.<br />
<br />
-Então, Inácio, foi mais ou menos isso. É que à época tanto a direita como o centro morriam de medo dele. Bem, mas isso não importa, e o que a história conta é que que ele acabou se elegendo e se tornou o nosso presidente.<br />
<br />
-Caraca vô, então esse tal de Lula era um sujeito porreta, mesmo!<br />
<br />
-Era sim, Inácio. E me lembro do dia da sua posse, e foi uma tarde de muitas festas, e o povo saiu à rua, pois pela primeira vez um homem do povo, miserável, se tornava o presidente do Brasil.<br />
<br />
- E o senhor, vô? Acha que ele foi um bom presidente? –<br />
<br />
-O que posso responder? Assim, diria que fez alguma coisa pelas pessoas mais carentes. Entretanto, a partir do 2º ano do seu governo começou a mostrar suas verdadeiras intenções ao lutar tenazmente contra tudo que defendeu. Inclusive contra o plano vigente das aposentadorias. Sobre isso ele modificou prazos, estendeu contribuições, faixas etárias.<br />
<br />
-Nossa vô! Fale numa língua que eu possa entender, né! Mas, em todo o caso, e se foi o que entendi, é muito doido isso de ser trabalhador e lutar contra os interesses do próprio trabalhador? – O garoto raciocinou alarmado<br />
<br />
-Então Inácio, foi assim mesmo. Ah, ele também sempre foi fã de aviões e viagens, inclusive fez a União comprar aviãozinho que nos custou os olhos da cara! - O velho respondeu indignado.<br />
<br />
- Epa, espera, to me esquecendo de contar algo bobo...O Tula adorava entornar umas branquinhas.<br />
Dizem que foi sob o efeito do álcool que pretendeu expulsar do país um jornalista estrangeiro que o taxou de alcoólatra. Entretanto, fora as cachaças procedeu algumas medidas no âmbito social, estendendo bolsas esmolas para uma legião de miseráveis, aliás, ideia que nem do seu governo partiu, mas do anterior.<br />
Mas foi aí que demonstrou o quanto era sabichão ao perceber que seria ali onde se concentraria o poder de barganha com um povo sofrido. E essa barganha é que os mantém no poder até hoje, já que ganham as eleições às custas da miséria e das esmolas dadas aos miseráveis.<br />
<br />
-Puxa vô! É verdade isso?<br />
<br />
-É sim. Quem olha de fora seria capaz de imaginar que isso traz felicidade e bem estar para esse povo. É mentira, não traz, pois não há planos para a educação e nem oportunidades pera eles, infelizmente! Claro, é de pura demagogia, pois ele sempre soube que jamais resolveria a questão da pobreza, assim como a educação, saúde e moradia. Portanto criou esses auxílios esmolas e os distribuiu aos milhões para essas pessoas. E todos sabemos que foi golpe eleitoreiro para se perpetuar no poder, pois para os miseráveis qualquer quantia é uma benção.<br />
<br />
-Poxa, que sujeito esperto, eim vô? – O garoto sorri.<br />
<br />
-Sim, espertíssimo! Entretanto ele decepcionou as pessoas que detém algum grau de conhecimento, brasileiros que, como eu acreditaram piamente em suas promessas dum governo comprometido com moralidade, e à caça de corruptos e corruptores. E a maior das verdades é que, lamentavelmente o barbudo não combateu aqueles que assaltaram o povo, ao contrário, parece ter se aliado a eles, cerrando os olhos para isso e pra quilo, para depois, mesmo que descobertos os golpes implantados por seu guru político, ter a coragem de vir a nação e confessar que foi traído e de que nada sabia. Foi lamentável o fato.<br />
<br />
-Uauu, que bacana! Gostei do esquemão! Um presidente que nada sabe deve ser um cara fantástico! Bem que poderia ser assim na escola, né?<br />
<br />
-Como assim Inácio, não entendi! Explique melhor. –<br />
<br />
-Assim vô; Quando há prova oral e fico com cara de besta ao não ter a resposta para certas perguntas. E assim sou obrigado a ouvir o riso dos que se julgam mais inteligentes,e eles me chamam de burro na cara dura, de toupeira, e essas coisas assim. Portanto seria bacana logo ir dizendo; Professora, eu nada sei! E todos me olhariam compreensivos diante a manifestação da professora, numa coisa tipo assim; Nossa, que bom, Inácio! Parabéns, você nunca sabe de nada, estamos orgulhosos de você! – O menino respondeu de forma matreira, e ambos se olhando, sorriram e depois gargalharam. Amainado os risos o velho prosseguiu:<br />
<br />
-Pois é Inácio, esse foi o mandatário que se julgou traído, aliás, traição e traidores que trabalhavam na sala ao lado da sua, ali bem diante de sua barba grisalha! E foi esse o pessoal que implantou pagamentos, uma espécie de“mensalão” para os políticos que votassem na Câmara de acordo com os interesses do governo petista.<br />
<br />
-Nossa vô, que trama incrível - Novamente interrompe o garoto. Depois continua: -Merecia um filme isso! – Mas, o que acabou acontecendo com esse pessoal, vô? – Intrigado o garoto questionou.<br />
<br />
-Bem...o esquema foi descoberto porque um desses políticos parece não ter recebido o que lhe prometeram, e então ele botou a boca no trombone. Depois que o escândalo estourou, o traidor da sala ao lado, junto de muitos outros pegos com a boca na botija foram julgados e condenados pela mais alta corte da justiça nacional. Entretanto, com uma nova composição de ministros os quadrilheiros conseguiram um novo julgamento e O STF absolveu alguns da acusação de formação de quadrilha. Entendeu?<br />
<br />
-Eu não, vô! Não entendi muito bem esse negócio de “quadrilha” ser absolvida pelo crime de “formação de quadrilha” Isso não me pareceu nada lógico. E outra, nem sei o que quer dizer esse ST e mais alguma coisa, esse que o senhor acabou de se referir.<br />
<br />
-Ah, é a sigla do Supremo Tribunal Federal. Como eu disse, é um colegiado que reúne diversos juízes, e eles se tornam ministros e são nomeados pelo presidente da república. No caso do novo julgamento, e sobre a sentença absolvendo os apontados por “formação de quadrilha” aconteceu o fato dos dois novos juízes serem recentemente nomeados pela presidente Vilma. Muitos afirmam que houve "mutreta" neste novo julgamento, inclusive apontando que um dos novos empossados recebeu uma nota preta por assessoria prestada a União. Portanto, os novos membros votaram à favor da absolvição, tornando sem efeito o julgamento anterior, e no qual haviam sido condenados.<br />
<br />
-Nossa vô! Que rolo é esse negócio de Poder! –<br />
<br />
-Pois é, Inácio. Pois é! – O velho solta os braços em sinal de desânimo.<br />
<br />
-Poxa vida vô, agora to percebendo como parte das coisas andam nesse país. Acho que eu também ficaria decepcionado.<br />
<br />
-Exatamente Inácio, Eu fiquei e muitos outros ficaram! Porém coisas estranhas acontecem diariamente nesse Brasil. Não te espantes, ainda verás muito disso na tua jornada e nesta terra onde canta o sabiá. Ah,e por falar em coisas estranhas...por acaso você não pretende montar uma pequena empresa, sem capital, talvez até na área da informática? E por que não uma empresa onde nada se cria, nada fabrica? Empresa onde não há empregados, escritório, endereço fixo e clientes. Empresa onde verdadeiramente não haverá nada, mas que poderemos vender por milhões e milhões de reais para uma eventual compradora, quem sabe uma concessionária do setor das telecomunicações. Sabe, Inácio, uma coisa te garanto; Ficaremos milionários do dia pra noite! Topas?<br />
<br />
-Uauuu! Claro que topo vô! Mas... é possível uma barbada dessa? – O garoto pergunta entusiasmado.<br />
<br />
-Aqui é totalmente possível! Sabe, Inácio, pressinto coisas boas para você. Acho que você ainda nem sabe, mas ainda serás o bambambã nos negócios de nossa família.<br />
E não te impressiones se um dia tiveres que limpar merda de girafa num zoológico qualquer. Não te impressiones mesmo! Tudo, tudo, tudo será transitório, acredite em mim! - O velho se entusiasma, antes mesmo de desferir o bordão fatal.<br />
<br />
-Tu Inácio, tu és um gênio, Inácio e serás o nosso "Neymar" nos negócios!<br />
<br />
<br />
Copirraiti12Mar2014<br />
Véio China©<br />
<br />
,Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-51178856002911297772014-02-19T17:17:00.001-03:002014-02-26T21:11:26.224-03:00Reminiscências Contemporâneas (Hippies, Black Blocs & Iphones e muito mais)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdJPHaONdbF6R3H-m94cvSiTtgYHY0NaR5ZRHm4qKDSrXR4m508fY9SDBoQKfVrIuhaw1EzMpjgMXf0SoFUNr3lIay97vPblwe5639rsJJXSPFtmnk7WQ6x3fhsNQ4MU-215oSMQ39I4S1/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdJPHaONdbF6R3H-m94cvSiTtgYHY0NaR5ZRHm4qKDSrXR4m508fY9SDBoQKfVrIuhaw1EzMpjgMXf0SoFUNr3lIay97vPblwe5639rsJJXSPFtmnk7WQ6x3fhsNQ4MU-215oSMQ39I4S1/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 115%;">Olhando em seus olhos logo percebi que seria um desses garotos que jamais saberão o que é o mar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 115%;">Talvez estivesse lembrando do mar por estar vindo dum domingo de praia e de um ótimo quarto
de pousada. Como todo bom paulistano procurei esquecer o solado dos sapatos sociais raspando no concreto e fiquei os pés nas areias macias e cravei a vista tão distante quanto a idade
podia me permitir, já que sempre me causou inveja essas lanchas de rico ancoradas próximas á praia. Entretanto como jamais fui um comandante ou lobo domar retornei a São Paulo na segunda de manha e cá estou eu numa estação de metrô às seis e meia da tarde, hora de rush, instante que o deixei junto de suas parafernálias urbanas. </span><br />
<span style="line-height: 115%;">Logo, </span><span style="line-height: 115%;"> </span><span style="line-height: 115%;">ele e eu e outros milhões de usuários s</span><span style="line-height: 115%;">omos trens de metrô e estamos na estação Estação Sé
apinhada de gente, enfim, uma raça humana que, plagiando o gado retorna para os seus lares.Talvez
o garoto não soubesse, mas eu fora tão jovem quanto ele, desses sujeitos normais que se flagram nas feiras livres consumindo porções de yakisoba e pastéis de palmito. E como não sabia dos pastéis, não haveria de saber que eu fora um sujeito posto à prova pela vida, apesar de minha inequívoca
vontade de progredir. Porém, mesmo que houvesse a vontade, a verdade é que nunca dei muita sorte
com qualquer coisa, inclusive com os empregos, pois raras foram as respostas dos curriculum vitae
que enviei pela existência toda. E o fato não me espanta, pois talvez à época os engomadinhos daqueles escritórios de poltronas confortáveis acreditassem que eu fosse meramente um preenchedor de formulários.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
E por falarmos em fichas para emprego lembro uma daquelas ocasiões que levantei ainda de madrugada e peguei dois ônibus lotados para tentar uma boa vaga numa multinacional. Bem, ao fim de duas horas e meia espremido como laranja prestes a se tornar suco, desci próximo da empresa, mas acabei me dando mal, já que não conhecendo o lugar adentrei por numa viela com casas desocupadas, talvez até pelo fato de algum grande empreendimento estivesse sendo planejado para o local.<br />
Então continuei seguindo pela viela com os passos apertados, e era mais que certo que alguns dos meus concorrentes já andavam pelos corredores da empresa entregando suas qualificações. Lembro que ao passar pelas casas eu as olhava rapidamente, porém não tardou e vigorosos passos de dois sujeitos logo se aproximaram. Assim que me alcançaram alinharam-se um de cada lado - "Devagar irmãzinho!" Um deles disse ao surgir com um calibre 22 na mão direita e retirado às pressas por debaixo do seu enorme camisão de flanela. Bom, exposto à arma de bandido, que poderia ser até plástica, não me surgiu outra ideia que não a de me ajoelhar na tentativa de salvar a minha pele. "Por favor, não me mate" - Roguei com os mesmos olhos piedosos dos mendigos -<br />
<br />
Claro, nós os comuns sempre tivemos medo, muito medo, portanto nada mais previsível que nos subjugamos à ousadia dos marginais, ou às suas eventuais armas de PVC ou de ferro pintado.<br />
Sem saída e naquela circunstância só me restou venerar o marginal como se fosse ele o Jesus Cristo, afinal, eu jamais acreditaria que e o filho de Deus atirasse contra um dos seus irmãos.<br />
O que se postava à esquerda e que parecia ser o mais calmo olhou para mim e me mandou levantar do chão com uma frase que nunca mais esquecerei. Ele disse - "Calma irmãozinho, não matamos ninguém antes da hora do almoço. Apenas me passe o que tem nos bolsos e estará tudo bem" - Depois ainda enfiou no meu bolso o dinheiro da passagem e me mandou andar. E eu andei, andando, trêmulo, passo após passo até novamente sentir as pernas firmes e me dirigi à empresa que, até hoje não me convocou para uma segunda entrevista ( E olha que lá se vão mais de 32 anos) </div>
<br />
Sim, são coisas como estas que me deixam farto da vida. A impaciência se torna fúria, não só com a bandidagem estabelecida, das armas ou da política, mas também com aquele garoto que destilava ódio em sua expressão, a qual respondi com uma fisionomia acabrunhada, dessas que dizem o quanto andamos de saco com todos. Talvez alguns me julguem ranzinza, mas se há coisa que não suporto são esses olhares que te olham como estivessem vendo um monte de estrume E era essa a impressão que ele me causava, e eu o achava imbecil, e odiava o fato tanto quanto os gatunos que nos rouba, lesam, e agem como se fôssemos uns otários, e que estão fazendo um grande favor ao nos assaltar.<br />
Sobre isso, e apesar de ser revoltante engolir sapos, é bom que saibamos da necessidade de, vez ou outra nos munirmos de paciências, pois há ocasiões que as esperas são sábias ao apontarem que a existência não se sublima no valor das posses, no calor do sol, ou nas fases da lua. Não, definitivamente não, pois a vida é muito mais que palavras bonitas ou os mimos num rosto de mulher, pois também resplandecemos nas dificuldades, nos patamares difíceis e nos degraus mais altos, já que existirão coisas que poderão nos marcar, assim como o amor bem feito com a mulher que se quer, mesmo que no derradeiro murmúrio da madrugada.<br />
<br />
E assim é a vida e o exercício continua, e não será fácil para quem quer que seja, pois às vezes ela nos maltrata e coloca-nos para fora da cama ás 5,30 da manhã através do despertador que tocará irritantemente, e fazendo lembrar que há trabalho lá fora. Portanto você se levantará e irá ao banheiro e constatará que a sua respiração embaçou o espelho, e isso significa que há batimentos em seu coração, apesar duma aparência horrível. Depois é só tomar a ducha, escovar os dentes, pentear os cabelos e sair para a rua sabendo que a vida está de olho em você, mesmo que não sejam aquelas as sua últimas horas, assim por dizer; o dia da tua paz definitiva.<br />
Todavia é esta isenção de paz que não me deixa acomodar para as coisas que não fazem sentido, assim como a prostituição e um bando de garotas com o rabo de fora congestionando as esquinas com michês de 50 pratas.<br />
Evidente, há outras tantas aberrações, e uma delas é este desprezível quebra-quebra generalizado que vivemos, assim como a abundante bandalheira praticada, e tão comum às pessoas poderosas. E a maior das verdades seja dita, pois a sociedade pensante está anestesiada, prostrada diante da anarquia que reina absoluta, estupefata com governantes que afundam um país à custas das esmolas clientelistas.<br />
Sim, por outro lado também estou perplexo com os atos desses garotos mascarados, e eles poderiam estar produzindo, estudando, amando, ou sei lá o que nais, porém, tempo perdido, já que não se despem da violência ou do vandalismo, pois lhes deve parecer "um negócio da China" depredar não só o patrimônio privado, mas igualmente o público, um evidente “foda-se” às instituições.<br />
E isso me deixa puto da vida, pois talvez os black blocks tenham nascido numa época imprópria, pois a minha era foi duma geração submissa, mas que acabou herdando o mundo, e tudo num piscar de olhos. E essa herança não nos veio de graça, foi com luta, com protestos, mas sem que promovêssemos destruições ou aniquilássemos pessoas. Todavia isso é uma outra história, coisas do meu tempo e duma velha guarda fascinada pela retórica dos grandes pacifistas, e que fazem lembrar do mundo jovem dizendo NÂO à guerra do Vietnã, além do repudiar o preconceito e as questões racistas.<br />
Logo, o garoto do metrô jamais imaginaria que esse foi o quadro pintado na minha geração, e que daquele ponto em diante foi um juntar de forças, inclusive com os imensos dinossauros da mídia, gente assim como os Beatles, Rolling Stones, Morrison, Dylan, e tantos outros, para enfim chegarmos onde chegamos, praticamente a lugar algum. Enfim, algo de errado aconteceu lá atras, e mesmo ansiando por mundo melhor e mais justo os jovens da época se perderam pelo caminho, dispersaram santificando e consumindo drogas que mataram não só a eles, mas também muitos de nossos ídolos.<br />
Finalizando o resumo diria que fomos o estardalhaço jovem que pouco ou quase nada soube fazer com o poder da própria voz.<br />
<br />
Ah, e já que estou passeando pelo passado volto aos pequenos detalhes daquela época e relembro a Praça da República e as feiras hippies, e à um domingo especial, onde ao percorrer as curtas alamedas ouvi e pela primeira vez o inacreditável Jimi Hendrix. Ainda me era um tempo intermediário, dividido entre o garoto que saia da infância para ganhar a juventude, e eu à época no cargo de office boy e junto do meu tênis Rainha percorria que nem louco as ruas de São Paulo enfrentando filas, encarando ônibus lotados, desafiando enchentes que, por vezes me tinham-me pela cintura. Ah, e como esquecer dos almoços à preços módicos num imenso salão no centro da cidade, lugar mais conhecido como o "Bandejão da Juventude Católica". E tudo me parecia tão claro e justo, e no fim do mês havia aquilo que eu julgava a recompensa, então corria à Galeria Pajé, e meus olhos se mantinham frenéticos, era como procurassem uma miss, talvez até a de São Paulo, mas não era uma garota de corpo escultural o motim do meu desejo, mas sim uma calça de um jeans diferenciado e de sucesso global; Levi Strauss era a marca. E ela me deixava feliz, e com ela dobrada no interior duma sacola plástica é que deixava no bolso do comerciante todo o meu salário do mês, pois usar uma daquelas era sinal de status, e as garotas amavam os garotos enturmados.<br />
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Sim, é verdade, e uma coisa levando à outra relembro o romantismo do tempo e a excitação ao tocar a mão da namorada, a ansiedade nos dedos umedecidos de suor, depois o rubor corando meu rosto ao toque mais ousado, sem esquecer do coração que batia afoito, afinal era tão fácil se apaixonar naquela época. Talvez nem acreditem, mas essa coisa da ansiedade sexual me foi cobrada pouco antes das calças favoritas. Sim, surgiu na frequência das missas dominicais celebradas pelo Padre Damião. Talvez eu estivesse na casa dos 12 ou 13, o que não apaga de minha memória as pernas jovens no interior das recentes minissaias, um mundo de hábitos novos, e essas pernas ali na presença de Cristo me deixavam agitado. Entretanto nem nesses momentos escapei impune, já que persistiam em mim os resquícios duma severa educação cristã, ensinamentos que foram ministrados num colégio de padres que estudei até os 10 anos. E sendo eu o pecador carregava tantas culpas, e elas precisavam ser redimidas, portanto me aproveitava de estar na casa do Senhor e caminhava até ao confessionário, e lá acertava as minhas contas com um daqueles que me diziam ser o representante do Pai aqui na terra. E assim eu saia de lá leve e carregando na consciência a obrigação de rezar não sei quantas Aves-Maria e Padres-Nosso, e agora eu podia tocar as asas dos anjos, pois quase nada devia a Deus.<br />
E quando divago sobre o fim da infância e o início da fase jovem faço-me as mesmas perguntas de sempre: A minha alma já estava perdida? E por onde andariam os meus amigos da "divisão dos menores" do Liceu Salesiano de Campinas, junto das lembrança de tudo que vivenciei por lá?<br />
Eu nunca mais soube, mas deduzo que muitos estão por aí com suas famílias, avôs em situações estáveis, instáveis, talvez em asilos, ou mortos, nem eu mesmo sei.<br />
<br />
Bem, depois do colégio interno e já em Sampa adentrei a fase musical e só pensava em canções e nos cabelos iguais aos dos rapazes de Liverpool. E sobre as canções muitas delas me marcaram (Poucos devem lembrar de Vandré e a Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores) Não há como negar, e já naquela época demonstrava algum inconformismo, e isso se percebia nos meus gostos musicais, nas revistas em quadrinhos que devorava, principalmente aquela produzida por gente que tirava um barato do autoritarismo, portanto, do Regime Militar, já que esses jamais excluirei da lembrança (beijos, Fradim, Bode Orelana, Graúna, Henfil, Jaguar e Ziraldo)<br />
E estando em tempos difíceis o normal era aceitar que o pior andava à espreita, assim como nos dias<br />
de hoje, pois o o mal destrói como traição entre marido ou mulher. Todavia o tempo foi caminhando, e ao fim daquela década o Regime jogou pesado coibindo manifestações, principalmente as estudantis. Mas elas persistiram e foi um festival de borrachadas, e a polícia, sem dó ou piedade desceu o cassetete na juventude. Com o movimento de rebeldia (principalmente dentro das faculdades) vieram grupos e foi formada a célula guerrilheira e um projeto que supomos clamar por liberdades e direitos civis.<br />
Convenientemente se anota que as camadas mais esclarecidas apoiaram irrestrita tais movimentos (mesmo estando longe da militância) e fomos muitos os que acreditaram em seus ideais, e eu, mesmo sendo jovem e inexperiente apoiei, pois jamais acreditei em liberdade tendo os militares e os atos de força no comando do país.<br />
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A guerrilha desenvolveu e em que pese as patentes militares envolvidas, mas la estava o anonimato dos nossos heróis perdido entre as matas, lutando por algo que nem mais sabia o que era. Evidente, houve o rastro da morte, e alguns se foram até pelo próprio e desconhecido habitat que enfrentavam. Passou-se pouco tempo e os militares dizimaram a guerrilha, afinal, a maioria daqueles garotos jamais tinha tocado numa arma de fogo.<br />
Depois de vencidos muitos dos guerrilheiros se exilaram por aí, e é neste ponto que reside a triste ironia dos fatos; Alguns desses sobreviventes estão hoje por cima da carne seca. E a decepção fica por conta de agora sabermos que foi a guerrilha mentirosa, combatentes acoitando entre si um bando de falsos revolucionários.<br />
E agora tudo me parece tão claro apesar da ficha ter demorado para cair, pois a mentira é tão contundente, e os pseudos guerrilheiros tinham por único objetivo a tomada do poder e se dar bem na vida, um poder que, diga-se, hoje se mostra quase tão totalitário quanto o dos tempos militares..<br />
Logo, muitos de nós nos dias atuais têm a consciência que pagamos demasiadamente caro por termos acreditado e colocado no poder a ignorância demagógica de um semi analfabeto. Assim é que nos sentimos, impotentes, e eles se multiplicam e dividem o produto das falcatruas entre si num vilipêndio do erário público que mal deixa as digitais dos dedos inescrupulosas, mas que sabemos; transferem boa parte dos seus golpes milionários para seletas carteiras abarrotadas de testas de ferro.<br />
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Bem, como política é algo que me causa nojo, a deixo de lado e retorno ao garoto de olhar duro, e ele continua me olhando, empinado, e seu nariz parece ter alcançado o mesmo status das nuvens no céu.<br />
E esses olhares atravessados aconteceram pelo nosso resvalo acidental à porta da saída do metrô. Evidente, velhos carregam guarda-chuvas nas mãos, e não Ipods ou Iphones. E o estrago se fez no instante do choque, porém meu guarda-chuva escapou ileso. Ainda na intenção de ajudá-lo me agachei e peguei o seu aparelho, sem não antes notar que o vidro frontal do Aplle havia se espatifado, e duas ou três peças juntas da bateria se esparramaram pelo piso. Olhei atentamente para os pequenos pedaços e se eu fosse alguém confiável na área de assistência técnica de celulares lhe diria sem constrangimento que talvez o caso fosse o da perda total. Entretanto o momento e as circunstâncias não me pareceram apropriadas para alertá-lo, portanto silenciei.<br />
<br />
-E aí tio! Tu vai ressarcir o meu aparelho? – Ele perguntou aproximando o rosto, resvalando seu tórax em meu peito.<br />
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-Como assim? Você está ficando louco, guri? – Respondo. O que mais podia dizer?<br />
<br />
Logo o bonitão percebeu que do meu mato não sairia coelho<br />
<br />
-Tio, quer mesmo saber? – Ele me fulminou. Eu sinto sua ira<br />
<br />
-Quero! É justo que digas! – Devolvi, afinal é assim que nos fortalecemos para a democracia.<br />
<br />
-Tu é um babaca reacionário – Ele devolveu com todas as letras. É estranho, mas os jovens de hoje sempre acham que os sujeitos com mais de 60 anos são reacionários, de direita, fascistas, ou do TFP e outras barbaridades. Eu apenas sorri para ele.<br />
<br />
-E tu, sabes o que acho? Tu és nada mais que um filho de camundongo! – Replico com um risinho de desdem impregnado nos lábios.<br />
<br />
O garoto apenas me olhou, e agora o seu ódio era mortal. Talvez estivesse lá pelos 20 ou 21 anos, um touro de academia, a montanha de músculos talvez adquirida nos anabolizantes, "ou não", como sempre dirá o sábio Caetano.<br />
Seu olhar continuava desafiador, porém eu sabia que se tratava de reles pressão psicológica, pois poderia me trucidar se assim o quisesse.<br />
Mas não o fez, talvez porque seus músculos pensassem, talvez pelo Estatuto do Idoso, ou por ter desconfiança que acabaria se metendo em mais complicações das que provavelmente estava.<br />
<br />
-Garoto, escute! Vamos colher lagostas e mergulhar com as sereias? – Propus para ele num tom amistoso, fornecendo um sorriso mais que aceitável<br />
<br />
-Hããã? Você está louco, velhote? – Foi a sua resposta-pergunta. Tudo bem, inclusive eu a previa.<br />
<br />
Antes de desistirmos olhamos um para o outro pela última vez.<br />
Ele, talvez pensando na reposição do aparelho, e de como chegaria no pai com a melindrosa conversa que um bando de “reacionários" quebrou o seu Ipod" intencionalmente ao darem conta da vermelha estrela petista cravada no peito da negra camiseta (à esquerda,bem próxima ao coração)<br />
Eu, por meu lado apenas abandonei as dependências do metrô e olhei para o firmamento à procura de tempestade.<br />
Como o céu estava repleto de nuvens negras que não desaguavam suas lágrimas, pensei nas lagostas e nas tais sereias que, por aquela hora poderiam estar me aguardando nas profundezas do mar.<br />
Eu apenas sorri quando voltei com o corpo e o vi recolhendo os pedaços do aparelho para guardá-los em sua mochila de grife.<br />
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De fato! Aquele Mister Qualquer Coisa jamais saberia o que era o mar.<br />
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Copirraiti16Fav2014<br />
Véio China©Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-68337681767085366892013-12-16T23:04:00.001-02:002014-01-06T14:16:56.094-02:00Porfírio - Um detetive dos diabos <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj8Zu2vZtEuvA6TUXTTFKKJ4PWpWaJk4QAnJ8wRn7B-PoWV4hkvNO6ac45gAKxAR_JGFUj8upcvpuRav5q8mUPkYRJWuj3B7XwEwAiRo_i3yRBuKyaJrMlsTJPhK2WdaXl1bE4J-kdPBKo/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj8Zu2vZtEuvA6TUXTTFKKJ4PWpWaJk4QAnJ8wRn7B-PoWV4hkvNO6ac45gAKxAR_JGFUj8upcvpuRav5q8mUPkYRJWuj3B7XwEwAiRo_i3yRBuKyaJrMlsTJPhK2WdaXl1bE4J-kdPBKo/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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Eram precisamente vinte e duas horas e trinta minutos quando parei debaixo de um poste. Estávamos em pleno inverno e a luz ofuscada por um ainda discreto nevoeiro dava certa notoriedade ao meu terno de corte panamenho. Certamente para mim a noite é e sempre será uma linda mulher que adormece e se acordada com um beijo, e eu estava ali priorizando trabalho que me fazia mergulhar em seus seios, e eu e os meus olhos de lince permanecíamos atentos e.à disposição de causas boas ou ruins, não importava, desde que resultasse em algum dinheiro. E após cada serviço executado o comum era verme-me num bar e encostar o umbigo no balcão e beber. Depois e de cara cheia tentava apenas não morrer espatifado num poste ao deslizar os pneus do carro nas esburacadas ruas de Sampa. </div>
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Enfim, eu gostava dos odores da madrugada.e de sentir o cheiro do asfalto molhado numa cidade que necessitava ser limpa, enquanto, na mesma hora a maioria dos mortais aguardava em seus leitos a alarme dos despertadores nas primeiras horas da manhã. E agora, ali plantado com a minha garota de vapores gélidos e olhar desestrelado jogava a bituca do meu cigarro na calçada quando repentinamente surgem três ou quatro prostitutas que, provavelmente faziam ponto nas imediações. Elas tagarelavam e riam alto quando uma de voz estridente me propõe:<br />
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-E aê, tiozinho, tas afim dum programinha legal?<o:p></o:p></div>
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Olhei para a criatura e ela não era de se jogar fora, porém eu não estava ali para trepar, mas sim para dar cabo às minhas responsabilidades, apesar do tesão que me causou aquelas pernas otimamente torneadas. Pigarrei, olhei-a com alguma simpatia, mas acenei negativamente a cabeça, porém sem perder do olhar a janela do 3° andar do prédio em frente.<br />
E sobre estar ali às vezes me
perguntava meus motivos para abraçar aquela profissão, ainda mais porque ser detetive é prostituir-se diariamente tanto quanto a puta de coxas grossas. Sobre essa questão digo apenas que jamais desprezei a profissão de qualquer pessoa, mas nunca me dobrei à falsidade, já que muitos não se dão aquilo me que dou, a
mão à palmatória, afinal entendia que poderiam sentir repugnância pelo que eu era; um safado alcaguete. E quando você se torna um dedo duro profissional perde um pouco do amor
próprio e somatiza para si a antipatia da maioria das pessoas, pois qual de nós gostaria de ter sua privacidade vasculhada?<br />
<br />
Bem, gostassem ou não era essa a minha profissão, e se detetive sou a culpa cabe a mim, pois sempre viverá em minha memória os meus tempos de juventude e os insistentes apelos dos meus velhos; “Filho, estude! - Eles rogavam. Entretanto jamais dei ouvidos a eles, e eles queriam apenas que eu fosse um bom advogado. E talvez essa urgência fosse a do meu pai, hoje um humilde octogenário aposentado. Certamente ele pretendeu realizar em mim aquilo que não conseguiu ao cursar até o 2° do Direito, abandonando os estudos para sustentar irmãos em fase escolar e a mãe que acabara de enviuvar, isso quando era noivo de mamãe. Lógico, tal qual ele no começo tentei saciar suas vontades ao concluir os dois primeiros semestres numa faculdade privada. E sobre ela recordo-me do correr daquele ano, e lá estando aos poucos fui percebendo que não era a minha intenção tornar-me um homem das leis, ser o justo da balança, pois as aptidões para um bom advogado jamais tive. E assim concluí ao notar que o que me prendia naqueles bancos eram aquelas garotas com sorrisos malandros e toda a viabilidade de algumas trepadas gratuitas.<br />
<br />
Bem, e já que estou aqui num jogo da verdade e de confessar a mea-culpa é bom que eu seja mais íntegro e revele duas das principais verdades; A primeira é que à época o meu grande sonho foi o de ser motorista de caminhão. Claro, podem achar engraçado, mas eu me imaginava na boleia daqueles brutamontes como os Mercedes ou os FNM. E a segunda é que os dois semestres na faculdade trazem-me ótimas lembranças, notadamente as festas patrocinadas pelos filhinhos de papai que lá estudavam. Festas que sempre contavam com a presença das garotas do curso e outras levadas dos inferninhos que frequentavam. Festas celebradas em bairros nobres e em mansões de jardins suntuosos. E ali, entre brados da mocidade rolava whisky do bom, 25 anos, além de farta putaria. E uma coisa sempre levava a outra, então nos embebedávamos e semi desnudos nadávamos em suas piscinas de 10 por 15, para ao fim ser as mesmas sacanagens de sempre, inclusive algumas trepadas relâmpago que, sem qualquer cerimônia se expunham nos gramados, banheiros de empregados, ou, no melhor das hipóteses nos bancos traseiros dos carrões estacionados em suas garagens.</div>
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<br /></div>
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Porém este universo de devassidão não foi o bastante para segurar-me lá, e
eu, obrigado a trabalhar para manter os estudos, e o pior, ganhando pouco, acabei por me estressar e mandar tudo e a todos à puta que pariu. E ao abandonar a faculdade, jovem e inexperiente, houve a certeza que me livrara de toda futilidade, além do massacre psicológico que me era imposto por aqueles presunçosos professores. <br />
Enfim, o que não faço é chorar o leite derramado, e eu exerço apenas a minha profissão, e com ela me defendendo de unhas e dentes, pois sempre haverá gente melhor em serviços piores que o meu. Bem, deixando as lembranças de lado aguardo por mais 40 minutos com os olhos grudados na janela do 3° andar sem que surja qualquer novidade. Eu estava cansado, as putas também pareciam exaustas, e as minhas pernas doíam e estavam num estágio de dormência, enquanto elas, coitadas, arrastavam seus saltos no asfalto, acenando ou correndo atrás de cada todo carro que passava. Não demorou muito, e elas acabaram por sentar-se numa mureta do terreno da esquina.<br />
Pelo meu lado as pernas formigavam causando-me incômodo, portanto bati vigorosamente as solas dos sapatos na calçada, e tão logo as penas se sentiram donas de si próprias caminhei uns 30 metros até o boteco mais próximo. Entrando pude sentir o cheiro a coisa podre vindo pelo corredor, certamente do banheiro que nele se findava. Olhei bem para as dependências do boteco, e ali numa das três mesas existentes uma negra bebia algo de uma forte coloração ferrugem, talvez “Fogo Paulista” uma bebida rampeira e de absurdo teor alcoólico. Aliás, não só a negra bebia, mas também os dois sujeitos que e sentavam ao seu lado. Acomodei-me no balcão da frente sem descuidar-me da janela do apartamento, pois a visão dali era excelente.</div>
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Fiquei sambando os dedos no tampo do balcão imitativo dum o mármore italiano enquanto espantava o pouco que sobrara da dormência das pernas. Eu olhava para o sujeito atrás do balcão.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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-Por favor meu chapa, quero um conhaque, e meia cerveja quente e
outra meia da gelada – Pedi - O dono do bar me olha de forma estranha. Firmo os olhos em sua figura e ele parece carregar nos
traços algo da herança portuguesa, fato que confirmo ao seu comentário
inoportuno.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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-Ai Jesus! Será que é mais um gajo para encher o rabo de
pinga e me torrar as paciências? – Ele reclamou justificando a sua
preocupação apontando o indicador para a crioula e para os dois sujeitos, assim como me dissesse: "Olhe a merda aí". Evidente, mesmo que bêbada a mulher se ligava nas atitudes do português, e claramente se sentiu ofendida.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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-Porra! Do que você tá falando portuga? Por acaso num to pagando a despesa? – Retruca aborrecida e escandalosa. E o seu protesto foi o suficiente para um dos sujeitos também se sentir golpeado.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Isso mesmo, Lustosa! A dama está pagando a conta, e a sua obrigação é
servir a gente, e não ficar aí com esse papo furado! Um deles devolve. Foi o necessário para que o outro companheiro de copo criasse coragem e também se manifestasse:<br />
<br />
-É isso mesmo, Lutosa! Está tudo lá no Código do Consumidor!
– Apelou o segundo, inclusive o que estava em piores condições. que me obrigou a apurar os ouvidos para entender as suas falas embaralhadas. <o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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A fala enrolada do sujeito me obrigou a apurar ou ouvidos. Pensei por segundos sobre a veemência bêbada e me questionei; Será que o ouvi direito? Foi mesmo o Código de Defesa do Consumidor que o bebum alardeou? – Puta que pariu! Era, não havia dúvida, pois mesmo com a dificuldade fora exatamente o que ele dissera.<br />
<br />
-Código do consumidor é a puta que te pariu! - Vociferou o português. Ele estava irado, pois senti no timbre da sua voz.<br />
<br />
Fiquei olhando para a cena e tive vontade de gargalhar; o bebum só podia estar doido, ainda mais ao enfrentar aquele português, nada mais e nada menos que fera de seus 120 quilos distribuídos em provável metro e oitenta e cinco de estatura –
Entretanto eu nada tinha com aquilo, e assim segurei a minha onda. Todavia, o portuga que de bobo nada tinha,
afinal, e aliado à sua experiente de balcão sabia e muito bem dos levantes e das malandragens dos
bêbados, e tanto que sumiu das minhas vistas ao procurar algo
debaixo do balcão.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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-Ó aqui o bebunzada do carálios! Vocês vão querer
encarar? – Berrou para eles surgindo com um daqueles cassetetes de borracha maciça,
provavelmente auferido da Guarda Municipal, afinal, esses malacos arrumam tudo e por todos os preço.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Os bebuns, assustados olharam para ele e nada mais protestaram. Também
olhei e achei a sua ameaça física algo desproporcional, mas nada comentei, pois a minha vida já era demasiadamente problemática para
arrumar novas aporrinhações. Com as bebidas servidas matei o conhaque numa
tragada só. Depois o homem abriu ambas as cervejas e eu intercalava os goles
entre a quente e a fria. Na extensão do balcão outras três ou quatro pessoas tragavam suas bebidas e me olhavam
curiosos. Eu sabia que o meu jeito de beber chamava a atenção das pessoas, já que era um estranho ritual aquele que eu praticava. Óbvio, e isso não era ferramenta do meu
ofício, pois o que menos um detetive necessita é que prestem atenção em sua estampa. Não, não foi essa a minha intenção, contrário, pois seria eu a me ater deveria aos mínimos detalhes de um flagrante, e nisso podia garantir, era bom e nada escapava aos meus olhos de lince.<o:p></o:p></div>
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Logo, fiquei por ali terminando as minha as bebidas enquanto ouvia as conversas fiadas daqueles três bebuns. E lá vinham eles, o que parecia estar em situação melhor:<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Hei, sabiam que noutro dia fui no enterro dum amigo meu? - Ele pergunta para a negra e o outro, e eles olham perplexo para ele. E o bêbado continua: - Sim, fui eu e um amigo meu, bebum também.Aliás, éramos todos bebuns, até o morto era, e eu nem sabia que ele tinha morrido, e assim que chegamos lá, olhei pra ele no
caixão, e a mulher dele chorava muito. Perguntei para ela de que ele tinha morrido e a
mulher dele apenas chorava, chorava, e aí respondeu “ Olha moço, ele morreu como um passarinho” - A crioula e o amigo ouviam a narrativa espantados, até que ela, curiosa, perguntou num atropelo de palavras - "Como assim; o seu amigo morreu como passarinho? – Sim, definitivamente a negra mergulhara de cabeça naquela louca história de velório, tanto que deixou escapar da mesa o cotovelo direito que lhe sustentava o rosto. O narrador da história cinematograficamente exprimia um ar condoído quando lhe respondeu: - Bem, nem eu e nem meu amigo entendemos muito bem aquela história de se morrer como passarinho, portanto ficamos por lá olhando pro defunto até que surgiu do nada um outro amigo nosso, bebum também, e nos reconhecendo perguntou para o amigo que estava ao meu lado:
“Sebastião, que coisa, que notícia horrível! Por acaso você sabe de que morreu o Odorico?” – Bem, como a pergunta não foi feita para mim achei melhor ficar quietinho, e meu amigo ficou lá matutando o que responder para o outro, até que se saiu com algo que lhe pareceu lógico; "Morreu duma estilingada!" – Sim! acreditem amigos, foi isso mesmo o que ele respondeu. – A negra o olhava perplexa, o outro também, foi então que o narrador da história caiu na mais profunda gargalhada. E assim eles perceberam que estavam sendo sacaneados</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Duma estilingada é, seu filho da puta? Duma estilingada vai
morrer tu, tá saben.... – A negra foi interrompida por um grave barulho de algo que se chocava contra uma superfície lisa.<o:p></o:p><br />
<br />
-Cês vão encarar? - Era o portuga ressurgindo com o cassetete em punho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Foi o
suficiente para os três voltarem para as suas bebidas, e em silêncio. Depois
olharam uns para os outros, e seus olhares eram tão marotos que não impossível conterem o riso, risos que logo após se transformaram em gargalhada, e para desespero do português:.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ai carálios, acho que devo merecer! – Reclamou devolvendo o cassetete para o lugar de origem.<br />
<br />
Eu ri,
discretamente, era uma piada manjada, de bêbado, mas foi engraçado a naturalidade de ver uma piada de bêbado ser contada para outros bêbados. Peço mais uma cerveja e percebo as luzes da janela do
terceiro andar se acenderem. Pouco adiantou a safada ter saído de casa com sua naturalidade morena e seus cabelos acastanhados, ter trocado de carro no estacionamento, e agora estar loira e
fodendo com um zé mané num prédio de apartamentos de classe média
baixa, e que nem elevador possuía. Eu não era aquilo que poderiam rotular dum Zé Arruela qualquer, e ela que
fosse enganar outros otários, mas não eu, portanto corro para o prédio e subo
os degraus pulando-os de dois em dois, e me escondo atrás de uma das pequenas coluna
que dividiam todos os oito apartamentos de cada andar andar. Permaneci atento, e um pouco mais ouço
vozes que brincam com a outra, e barulhos de saltos de sapatos que descem do pavimento superior.
Uau! Foi então que a pude ver direito, carne e osso, aliás, pecaminosamente mais carne que osso. Pessoalmente o deslumbramento loiro da mulher resplandeceu mesmo que falsificado, porém o fato de estar tingida parecia deixar suas pernas mais apetitosas, ainda mais na posse daquele rabo que faria qualquer demônio gemer. Sem que me vissem, e antes que alcançassem o primeiro pavimento eu
registrei o fato na minha ótima Polaroid comprada numa feira de segunda mão, isso no ano de 1975.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Assim que saíram pelo andar térreo desci e rumei diretamente para o bar. Já estava postado na porta do boteco quando os vi se separarem com um beijo e eles se dividiram e ela rumou para o seu automóvel estacionado um pouco
mais adiante do cruzamento. Postada à frente dele a mulher abriu a porta e fez menção de entrar, no entanto não
entrou. Em seguida fechou a porta, acionou o alarme e atravessou a rua vindo na direção do bar. Por questões da segurança do caso dei as costas para a rua, pois o que mais preza no verdadeiro detetive
é o seu rosto jamais ser conhecido pelo objeto da investigação, já que obrigatoriamente ela
teria que passar por mim. Repentinamente uma fragrância de um suave perfume
feminino ganha o espaço em que estava, e sinto alguém tocar os meus ombros.
Olho e lá está ela; a mágica loira dona do rabo descomunal<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Porfírio, que porra de detetive é você? - Ela me ri zombeteira<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu nada disse. Os bêbados nos olham assustados, o portuga
cola os cotovelos no tampo do balcão, e todos prestam atenção em nós. Não havia qualquer saída, e ela me fez sentir constrangido. Novamente os seus olhos faiscavam como os curtos circuitos que incendiam residências e
estabelecimentos comerciais. Ela continua me olhando, e então joga os seus cabelos para trás e seus lábios carnudos e tingidos num batom grená se abrem devoradores:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Porfírio, toma lá. É isso é para você! Ah...e mande um beijo para a Aurélia!
– Diz numa expressão de quem sabe das coisas do mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um beijo para Aurélia? - Pergunto-me incrédulo. Caracoles! Eu
estava amasiado com Aurélia há menos de três dias! Como ela poderia ter sabido? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Bem...depois abriu a sua bolsa de couro de crocodilo
australiano e dentro dela retirou 8.000 pratas, as quais colocou em minhas mãos. Aliás, o valor que ela me dava correspondia à quase duas vezes e meia o preço que o seu marido me contratara.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Entendeu tudo mesmo, Senhor Porfírio? – Questionou num induzido sorriso biscate –
E agora ouça-me com atenção – Ela continuou ao chamar-me mais próximo. Então sussurrou para que os curiosos da mesa não a ouvissem;
-Agora nós vamos inverter o jogo e o meu marido será a caça, e você o seu caçador. Há
coisas importantes que quero que descubra sobre ele, e te aviso; essas coisas valem uma boa grana. Portanto senhor Porfírio, considere-se contratado, já que jamais levantaria suspeita. -
Finalizou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Sim, entendi tudo e muito bem minha senhora! Conte comigo, um criado ao seu dispor– Respondi da mesma forma que Humprey Bogart faria, algo no estilo e olhares dos anos 50, truque que sempre causou algum efeito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah...E por favor, a Polaroid de 1975 agora é minha e fica comigo. Ah, claro, as fotos também,
pois estão inclusas no preço – Disse-me ao retirar a mochila das minhas costas,
lugar onde eu guardava a máquina Porém ela ainda não tinha terminado - E
outra coisa Porfírio...Pare de me olhar desse jeito, já que não há nada mais cafona que este seu olhar! Modernize-se, homem! Há tantos caras interessantes por aí, Tarantino, Brad Pitt, Banderas,
Pacino, De Niro, pô! Mas..Humprey Bogart não, pelo amor de Deus! – Disse-me num tom de gozação. Caracas! Aquela mulher
devia ter parte com o diabo - Imaginei.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-E agora...finalizando... Aguarde minhas instruções, pois em hora apropriada farei contato
com você - Sentenciou num sorriso que não mostrava a perfeição dos seus dentes. Em seguida me
passou seu cartão de visita e lá constava o celular.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poxa, nada mal! Eu acabara de arrumar uma nova patroa, e se os espiões mais competentes desse planeta f fizeram jogo
duplo, triplo, quádruplo, por que um mero detetive não faria? Olhamo-nos por mais alguns instantes, e ela chamou-me mais
intimamente ainda como se quisesse dizer-me algo no ouvido. Talvez o meu olhar de
Humprey Bogart estivesse surtindo efeitos retardados.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Porfírio, sinceramente, o melhor para você teria sido o motorista de caminhão, pois seria um péssimo advogado tanto quanto o sofrível detetive que é. O diabo é que tu está acima de qualquer suspeita, logo, você é imprescindível –<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Como? Motorista de caminhão? - Por Jesus Cristo! - Sim, foi o que ela falou. Definitivamente,
aquela mulher só podia ser coisa do mal, pois jamais confessei a alguém que meu
sonho foi o de estar na boleia dum colossal FNM. </div>
<div class="MsoNormal">
Bem, ela falava e a sua
voz soava como veludo, e após escancarar a minha fantasia sorriu dum jeito ordinário, desses de quem sabe que está com dois pássaros voadores na mão.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Em seguida deu-me as costas e eu a vi rebolar aquelas nádegas de
outra galáxia, e elas teriam enfeitiçado o próprio John Kennedy, sem dúvida. Pouco mais
adiante ela parou em frente da porta do seu Chevrolet Ômega importado, acenou-me com a mão, entrou
e partiu.<br />
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Copirraiti16Dez2013</div>
<div class="MsoNormal">
Véio China©</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-75698415766529989402013-11-27T01:40:00.001-02:002013-11-30T12:05:55.246-02:00Olhos de Vidro.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPxVF327B_nPyONWH9TnCP-Ra5pHl11a0Wz84Ncju1dq-EbWslRhag94yX4YyLapiGuhoJd8muQCZm3Jm2Dv4isgfqWaYyTT4pDfhoZ7Uic8o-YytbLEXk0I-TjScNnj9spL57PgtDxzt3/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPxVF327B_nPyONWH9TnCP-Ra5pHl11a0Wz84Ncju1dq-EbWslRhag94yX4YyLapiGuhoJd8muQCZm3Jm2Dv4isgfqWaYyTT4pDfhoZ7Uic8o-YytbLEXk0I-TjScNnj9spL57PgtDxzt3/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Eu tive tudo para ser feliz, aliás, em termos até que fui, entretanto, não mais estou aqui. Lembro-me daquele tempo e do apartamento, e de que nele havia um grande quarto, e na
sala o conforto dum desgastado sofá de couro, e atrás dele uma ensolarada janela de vidros
largos, onde em alguns dias do mês eu aproveitava os raios e banhava os meus pelos. O edifício em que morávamos deveria ter, talvez, uns 30 anos de vida, e dentro daquele dormitório com as pinturas descascadas jamais me foi dado o castigo da solidão, pois ao meu lado tinha amigos como o Pateta e o manso Leão da Montanha, personas inseparáveis e que sempre me foram gratas. Provavelmente estejam pensando a confusão que deveria existir entre
tão distintas figuras, porém garanto; jamais ocorreram problemas de ordem física entre o Leão e eu, assim como nunca me favoreci das garras afiadas, mesmo que plásticas, para cravá-las nos fundilhos das calças do risonho Pateta, mesmo que eu o estivesse incomodando. Assim posto, é verdadeiro o quanto vivianos pacificamente e numa camaradagem respeitosa, e acima de tudo, engraçada. Contudo é bom frisar que não estávamos ali gratuitamente, arrematados que fôramos numa loja de brinquedos usados, ali na rua 25 de Março, em pleno pulmão de São
Paulo.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E hoje, passados pouco mais de 10 anos ainda se mantém em meu espírito a lembrança do dia
que aquele senhor de óculos escuros nos comprou. Talvez à época ele já estivesse beirando a casa dos 50, e ele entrou na loja e nos viu sentados numa empoeirada prateleira de uma das vitrinas internas.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Garota, quanto estão pedindo por esse botafoguense? – Ele perguntou
para a vendedora apontando o dedo para mim.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Talvez não se apercebera, mas eu
era um Urso Panda, e não um jogador de futebol, e só um tempo mais tarde é que fui a saber que o termo "botafoguense" motivou-se na alva estrela solitária que trazia estampada no meio do meu .peito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Este urso está saindo por 20 reais, meu senhor! – Foi a gentil resposta da moça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Que merda! 20 reais por um bicho de pelúcia amorfanhado e
de segunda-mão? – Grosseiramente o sujeito devolveu. Ela o olhou surpresa, pois algo dizia que poderia estar à frente dum legítimo chato de galochas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os seus maus modos e o achincalhe com a minha aparência contribuíram para me deixar pensativo, pois não há nada pior
para um urso de pelos mofados saber por boca de outra pessoa que se está a caminho do velho e
amorfanhado. Olhei para o sujeito com certa revolta, e meu senso de auto-preservação passou a estudá-lo, minucioso, linha por linha do seu corpo; Estava lá e era evidente o enrugamento da pele, alguns pés de galinha, os cabelos em franco processo grisalho, além da baixa estatura e um indisfarçável grau de obesidade. Claro, a inspeção me confortou, pois seria do meu direito e faria justiça se lhe devolvesse, não os mesmos, mas predicados piores. No entanto sabia que seria perda de tempo, afinal, os ursos
de pelúcias não falam, apenas pensam. Em seguida ele olhou para outros bichos de pelúcia que me ladeavam, e meneou negativamente a cabeça. Os seus passos iam e vinham, ansiosos; talvez ainda não tivesse achado aquilo procurava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah! E esse Leão? E o Pateta. Qual é o preço? – Perguntou lacônico ao notá-los na prateleira abaixo.
Antes de responder a moça ainda tentou cativá-lo:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Por favor senhor, poderia me dizer seu nome? – Óbvio, a
sua intenção era de quebrar o gelo, suavizar as riscas daquela testa franzida.
O sujeito a olhou de baixo à cima, e sisudamente respondeu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Mocinha, não estou aqui para que saiba o meu nome, mas apenas para
comprar essa coisa! – Protestou numa tonalidade moderada batendo a ponta do indicador no vidro, e em minha direção. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Definitivamente olhei para o homem, e ele
não me parecia uma dessas pessoas que envelhecem à bordo das frases compreensíveis ou gentis. Diante da sua rudeza a moça apenas desviou-se do seu olhar furtando o sorriso que instantes antes impregnava os seus lábios. Assim, deu-lhe apenas a ciência dos valores:</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-O leão está por 25 reais, e o Pateta, 30. – Ele ouviu calado e
persistiu com o olhar no par de pelúcias. Após alguma avaliação cravou os olhos em
mim e decidiu:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Levarei os três. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sim! Não havia como negar, o fato de ter nos comprado me
feriu em particular, pois me senti discriminado, já que não coube ao Leão e o Pateta qualquer fator de depreciação, inclusive nenhuma pechincha no preço. Refleti sobre aquilo por instantes e percebi algo novo em minha natureza; a vaidade.Talvez
Freud explicasse, o que não impediu que durante algum tempo eu sentisse um
certo grau de inferioridade com referência a eles, entretanto, pouco mais tarde o fato foi esquecido. Mas, retomando o momento da compra recordo que o homem pegou a sua nota de compra, e
dirigindo-se ao caixa quitou os 85 reais por três vidas de pelúcia. A
vendedora ainda pareceu preocupada quando o sujeito disse que gostaria de dar uma palavra
com o gerente. Receosa ela apontou para o fundo da loja onde um
senhor de aparência severa conferia algumas mercadorias. Lembro também de ter ouvido o
lamento da vendedora ao confidenciar para a colega de serviço tão logo o homem ter se distanciado:<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Poxa vida, Antonieta, hoje não é mesmo o meu dia de sorte. Fiz tudo
para atendê-lo com delicadeza, e lá está o homem falando com o chefe.
Certamente deve estar se queixando do meu atendimento. – Balbuciou para a outra
num tom de desânimo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Evidente, talvez estivesse certa, pois ela olhava para eles
e percebia que o sujeito gesticulava ostensivamente para o seu superior. Depois, e
ainda com os mesmos olhos ansiosos viu o cliente retornar e passar por ela meneando discretamente a cabeça. Assim, e com os passos apressados foi que o homem saiu
da loja levando numa grande sacola plástica todos nós, seus futuros amigos do nada. E tão logo desapareceu pela porta o gerente chamou a funcionária, e ela foi ter com ele esperando o pior, talvez a demissão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Marta, o senhor que acabou de sair veio falar sobre você, e
disse que ficou satisfeito com o seu atendimento. Parabéns, continue assim! –
Disse a ela num tom de comemoração. A garota abriu um sorriso de surpresa e feliz voltou para a sua função.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Foi ali naquele momento que reparei também que o sujeito surfava a vida nos mares dos enfrentamentos e contradições. E esta era a sua marca, nada mais que linha mestra do seu perfil, pois há anos convivi com ele, e assim sempre foi, e
assim sempre seria assim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Agora, deixemos o passado atrás das velhas linhas do horizonte e passemos a falar das contemporaneidades que vivenciei ao lado dele. E começando vou
contar-lhes algo que ainda não sabem; O meu verdadeiro nome foi dado por ele - “Doutor Panda” - E assim me batizou por sempre me carregar pelos braços e levar-me ao seu quarto afim que eu
escutasse as suas histórias. Por motivos que jamais poderia elucidar, ele se apegou a mim, deixando de lado os meus amigos. Talvez fosse carência, essa carência dependente de atenções, essa que faz algumas pessoas, principalmente as solitárias, a agarrarem-se a algo. Portanto será comum vermos muitas dessas pessoas tratando os seus cães, gatos, e outros animais menos domesticáveis como se fossem membros do seu clã. Não que a comparação me seja pertinente,
mas o meu dono houve por bem eleger-me como o seu bichinho de estimação, afinal, eu era o seu bom psicanalista, o analista que ele precisa, um urso de pelúcia isento de voz, mas com um bom par de peludas orelhas para escutá-lo.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ele estava muito dependente de mim quanto tivemos a nossa última conversa, aliás, a mais
importante delas. E por ironia ela ocorreu numa noite onde me foi concedido e retirado o dom da vida. Ah vida...e por falar nela sempre a vida se reverenciará às pinceladas do tempo, para alguns, muito longa, para outros, essencialmente breve. Sim, não a concebo assim como vocês; carne, pele, ossos e deslocamentos, já que a vida nada mais é que movimento e decisão. E decisão foi o que esteve presentes naquela noite em que chegou chapado
de bebida e pegou-me pelo braço e fomos para o seu quarto. Ali, deitou-se colocando-me sentado em sua barriga. Ele estava muito mal, nunca o vi tão devastado.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Porra! Por que você não fala comigo, Doutor Panda? Estava irritado
e se embaralhava com as palavras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Óbvio, no momento eu entraria numa fria ao reafirmar, e talvez
pela centésima vez que, ursos de pelúcias jamais falam, mas, apenas pensam.
Portanto fiquei olhando para ele, assim como também fizeram o da Montanha e o
Pateta, ambos sentados à estante bem defronte da sua cama.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Porque você está me olhando com essa cara de idiota? –
Inquiriu ao olhar para a mobília e dar de cara com o amigo do Mickey. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pateta persistiu com aquela sua cara de bobo e divertido.
Depois olhou para mim com os olhares que só os brinquedos entendem, pois mesmo
a resignação em seu olhar não evitava que eu captasse a bondade em sua alma,
apesar de vocês jamais suporem que bichos de pelúcia possam levar uma. Sem
respostas e ainda irritado, tirou-me de sua barriga, e colocando-me de lado
levantou-se. De pé a sua coordenação era quase nula, mas mesmo assim pousou os
olhos no Leão da Montanha e fez algumas micagens para ele. A relação desses dois
sempre foi estranha, assim, como se um não confiasse no outro. Então para
finalizar o show apenas rodopiou o corpo ébrio e obeso para o lado direito na
direção onde estava o Leão, e exclamou:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Saída pela esquerda! – <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O tombo foi inevitável, e foi muito engraçado ver o velhote
perder o equilíbrio e estatelar-se ao chão, arremessando o par de lentes escuras
para debaixo da estante. Constrangido pelo tombo a lamúria foi inevitável:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Que merda! Esse leão não serve pra porra nenhuma -Após, e
com algum esforço levantou-se apoiando a mão direita na estante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lá da cama fiquei olhando para ele, e sinceramente nem sempre
foi assim. Porém, com o passar dos anos algo foi se quebrando dentro dele,
talvez a esperança, ou mesmo, o encanto. Recordo que logo que viemos morar aqui
era comum ver algumas garotas zanzando pela casa. Muitas vezes eu as ouvi insistes,
dedo na campainha, querendo ter com o escritor. Sim, não também não lhes
contei; Ele era um escritor, autor de quase nenhum sucesso, é verdade, um
desses sujeitos que escrevem sobre histórias sórdidas, coisas dos subterrâneos existenciais,
e lido, principalmente, por alguns garotos desajustados, geralmente,
universitários. Entretanto, por vezes a sua escrita tentava ser divertida, sarcástica,
e isso chamava a atenção das pessoas, principalmente das garotas que o
imaginavam um Che Guevara das letras. Todavia, muitas vieram e transitaram por
sua vida, porém, nenhuma ficou. E foi no intervalo dessas carências que ele se
apegou a mim. Talvez porque eu fosse o único a olhá-lo de forma única,
penetrante, como se eu pudesse ler as entrelinhas dos seus pensamentos. Foi
exatamente naquela noite de muito álcool que insistiu o seu olhar nos meus
olhos de vidro:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Seu filho da puta, ainda espero a tua resposta – E eu não
pude fazer a não ser saber das suas angústias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois de algum tempo, desistiu de mim e foi para a cozinha
e voltou com um enorme copo de vodca.
Evidente, e o que já não estava bom, tinha tudo para piorar
miseravelmente. Por meu lado, fazia de tudo para conter o riso, pois mesmo que
não me ouvisse rir, a minha consciência me incriminaria, pois os bêbados não merecem
zombarias, mas, comiseração. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E esse eu risse, certamente o meu riso estaria concentrado nos
contrastes de suas pernas, onde algumas veias em alto relevo e duma coloração
azul esmaecida lembravam as rotas de assalto entre o México e a terra do Tio
Sam. Porém o mais engraçado não ficava por conta das pernas azuladas e
flácidas, mas sim objetivava a sua cueca samba-canção verde-limão com bolinhas
vermelhas. Aliás, ele tinha outras cuecas divertidas, como uma num tom
azul-bebê com triângulos alaranjados, e outra num vermelho vivo, onde
sobressaiam algumas nuvens brancas e um abrasador sol num tom amarelado. Todavia ele não abria mão das suas campeãs, e elas me divertiam a valer; uma, estampava
o rosto e os seios de Brigitte Bardot. Para quem não sabe, ela era francesa,
deusa nas telas dos cinemas nos anos 60. E a outra? Bem, a outra era ridícula,
pois em azul pavão levava na frente a gravura dum peru, onde acima líamos “Glu
Glu Glu” </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Enfim...para mim sempre foi normal aquele festival de aberrações,
portanto olhei-o ao chegar no quarto com o copo de bebida na mão. Ele sorveu um
longo gole, descansou o copo na mesinha de cabeceira e novamente ele se deitou
e me colocou em sua barriga. Definitivamente, naquela noite algo o
incomodava terrivelmente:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Vamos, Doutor Panda! Não desista de mim. Aqui estamos apenas
eu e você, e talvez por ser inexperiente não saiba que na vida tudo é possível.
A vida é repleta de mentiras, verdades. Há o feio e o bonito, sem esquecermos a
água e o fogo. Mas...será que posso ser sincero com você? – Ele inquiriu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Olhei pare ele, e dessa vez o sentia conflitante. Não era
apenas o seu estado alcoólico, pois com aquele eu estava acostumado. Eu o
percebia oposto a ele mesmo, assim como se no seu olhar nada existisse, como se
a esperança estivesse a nado e contrária a correnteza. E as minhas impressões se
confirmaram diante da sua quase súplica:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Vamos Doutor Panda. Diga para mim por onde anda essa tal
felicidade? Por acaso ela gosta de nos pregar peças? Será que ela se sente
menos infeliz ao esconder-se de nós? – Ele insistia. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sua aparência estava péssima,
e ele transpirava muito, e a melancolia era tanta que, se o escritor não
houvesse morrido há séculos seria capaz de jurar que estava diante do próprio
Shakespeare.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Bem, tanto quanto o “Ser ou não Ser” aquela questão sobre a
felicidade me era difícil, pois para mim ela se resumia pouca, pois aprendi a
me contentar com quase nada, com coisas tolas, mas que significavam muito para
mim, assim como poder sentar ao sofá e jogar conversa fora com aqueles dois.
Não, minha conclusão não era queixa, mesmo que, pouco ou quase nada tivesse
aprendido com eles, mas levava a gratidão nos sorrisos límpidos do Pateta, desses
calmos, serenos, e que jamais verão o lado ruim das coisas, ou mesmo que, vendo,
jamais o admitirão. Quanto ao velho Leão da Montanha, era apenas zero, não havia
as garras e nem os rugidos, mas apenas a melancólica nostalgia, a saudades dos
tempos tenros, duma era que lhe foi dado a majestade, um cravar de garras e o
fincar dos dentes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E pensando nesses fatos por alguns instantes fiquei
imaginando que talvez ocorria ao velho algo muito próximo da sina do Leão.
Porém sempre é bom dividir responsabilidades, e também era necessário que meu
dono assumisse as suas culpas, já que existiram boas mulheres na sua
trajetória. Obviamente não estou me referindo aquelas garotas que chegavam
chapadas de maconha ou bebidas, e que estavam ali simplesmente para serem
fodidas por um escritor “underground”. Assim como também não levo em conta as
cosias que inflavam o seu ego, suas alegrias transitórias ao se postar ao lado
duma bela garota que lhe fizesse carinho na barba ou mordiscasse suas orelhas.
Não, não são essas as referências; Falo do amor, dos sentimentos, assim como
lhe foi doado por uma dona, talvez uns quinze anos mais jovem, e que esteve
tantas vezes nesse quarto, num caso que durou pouco mais de seis meses.
Lembro-me do início e que, entusiasmado por ela os olhos se iluminavam ao simples
toque da campainha. Geralmente ela e o seu perfume de mulher vinham nas
sextas-feiras á noite, deixando um rastro de beleza e do cheiro bom. E eles
sorriam, pois se gostavam, e assim que ela chegava o velho pedia uma suculenta pizza
e uma garrafa do vinho do bom, ou mesmo, se não comessem em casa saiam abraçados
e na direção de algum restaurante próximo. Naquela época eu gostava do brilho
impregnado em eu olhar, e ele era feliz, principalmente ao fim da noite, quando
em lençóis limpos os gemidos e palavras de amor penetravam nos descascados das
paredes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No entanto, com ele o bom jamais perdurou, e Silvia também não, e
tudo terminou numa noite que ela veio aqui e não o encontrou, pois ele tinha
ido à farmácia à procura de medicamentos para uma daquelas meninas. E Silvia,
encontrando a porta entreaberta ganhou a sala e deu de cara com três jovens alcoolizadas,
todas aparentando um quê de vulgaridade. Claro, eram as fãs do escritor que
surgiam do nada e nas horas mais impróprias, inclusive testemunhei ocasiões em
que elas apareciam por lá e levavam bebidas para ele, algumas ofereciam-lhe drogas, mas esse lance
de entorpecentes jamais foi com ele, portanto as coloca para correr quando o lance
redundava em maconha ou em papelote da cocaína. Entretanto, Silvia, jamais
imaginaria tais fatos, e assim, instintivamente se dirigiu para o quarto, e ao se
deparar com a jovem esparramada na sua cama acabou por ter um acesso de fúria,
atirando ao chão os enfeites da estante. Sim, os meus amigos a olharam-na
assustados, e sabiam tanto quanto eu que não houve qualquer traição do velho
que, já que a garota e as amigas chegaram em estado de embriaguez, e ele foi
até cuidadoso ao ceder o quarto e ir a farmácia. E foi assim que Silvia se foi,
bateu a porta e jamais voltou. Depois do abandono eu o vi sofrer e sofrer, mas
jamais a procurou para elucidar os fatos, pois o orgulho sempre foi o seu
defeito maior.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E eram esses os fatos que recordava quando fui interrompido
por sua voz pastosa. Dessa vez havia ódio em suas palavras:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Foi essa merda que você pensou aí Doutor Panda! Não houve
culpa minha, mas sim daquela desnaturada. Eu apenas tinha ido à farmácia... E
agora é com você, já que isso te diz respeito; Orgulhoso é a puta que pariu! Ta?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fitei- o com os olhos do inacreditável! Seria possível que
estivesse acontecendo aquilo? Por acaso
ele estaria me ouvindo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ouço sim, seu porra! E você pensa num tom exageradamente
elevado, em alta frequência de pensamentos – Resmungou tão embolado que tive
que me esforçar para compreender o fim da frase.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Deus do céu! Aquilo só poderia ser Delirium Tremens! Só não
sabia se dele ou meu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-E outra seu urso ignorante! Aprenda! Ursos não deliram e
nem desenham nas aquarelas surreais.... Ursos, bem...ursos apenas hibernam! –
Devolveu com a fala amolecida Mesmo perplexo diante do fato fui obrigado a rir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ursos apenas hibernam! – Eu repeti e ri comigo por diversas
vezes. Talvez eu tivesse rido alto demais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Que merda Doutor Panda! Quer interagir em baixa frequência! É isso, ou a estante! O que me diz? – Ameaçou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Desculpe! Na próxima tentarei melhorar – respondi sem graça, afinal, eu não
queria ir para a estante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Vai melhorar uma porra, urso imbecil! – Ele berrou – Jamais
imaginei que você me olhasse com olhos tão críticos – Ele disse. Era estranho,
pois suas palavras agora eram de puro ódio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Desculpe, eu não pensei que.... – Não me deixou
terminar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Se arrependimento matasse, há essas horas eu estaria numa
cova profunda – Deveria ter deixado vocês mofarem naquela maldita vitrina
empoeirada. Mas não...eu tinha que ter compaixão...Ele ruminou chacoalhando os meus
braços violentamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Desculpe, desculpe, eu jamais imaginei que pudesse ler os
meus pensamentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Leio sim, leio agora, e não somente os teus, mas também os daqueles dois idiotas que cochicham na estante por acharem que não posso escutá-los. EU ESTOU OUVINDO VOCÊS – Berrou. Olhei para ele e agora os seus
olhos me causavam pavor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Hey, não xinga meu amigo não! Não xinga a gente não! O imbecil é você! – Surpreendentemente
Pateta reagiu em nossa defesa., e mesmo que ele estivesse bravo, ninguém exporia a sua raiva de forma tão divertida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-É, isso mesmo! Penso exatamente como o Pateta! Se há algum idiota aqui,
esse idiota é você! – Juntou-se a nós o Leão da Montanha - E quer mesmo saber seu escritor de meia pataca?
– O Leão continuava a desafiá-lo– Você é tão imbecil que nem conseguiu cair para o
lado certo quando disse: Saída pela esquerda! Aprenda seu ignorante; quando sair pela esquerda, jamais tombe para a direita! – Finalizou o montanhês com um sorriso vitorioso..<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah, é assim que me agradecem cambada de viados? Ao acaso é um lavante, é a revolução dos bichos de pelúcia? - Que medo! - Devolveu ao gargalhar zombeteiramente. Repentinamente sua expressão reassumiu o ódio.<br />
<br />
- Todos verão do que o
imbecil é capaz - Gritou atirando-me ao chão. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em seguida
ergueu-se, trôpego, se equilibrava nas pernas, mas mesmo assim ainda conseguiu desferir um chute nas minhas costas. Eu pude sentir a
dor. Depois, com a parte interna do pé direito empurrou-me para próximo da parede, e dirigiu-se à estante e recolheu os meus amigos com inequívoca rudeza. Por fim e com a dupla nos braços catou-me no canto, e num grande abraço acolheu-nos no peito e nos levou à janela.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Então vejam o que esse imbecil é capaz de fazer! – Sua voz
soou como um estouro de canhão ao atirar-nos por através dela. Estávamos no 13o andar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nada mais poderia ser feito, e ao sentirmos no corpo o vento da noite percebemos
que seri o fim, caminho sem volta, rota da morte. E mesmo despencando sorríamos uns para os outros enquanto a brisa gélida acariciava as felpas dos nossos corpos, resvalando suavemente nos olhos de vidro. E foi diante dessa cumplicidade que nos demos as mãos, velhos companheiros unidos até o ato derradeiro e diante da insensibilidade do asfalto que nos aguardava. Seríamos destroçados pelas rodas dos automóveis, ônibus, caminhões? Não sabíamos, e só gostaríamos que tudo fosse tão rápido quanto as pernas de Usain Bolt, a bala humana.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Saída pela esquerda! O Leão urrou e sorriu resignado.<br />
<br />
E o Pateta, aquele que jamais deixou de sorrir persistiu gargalhando, provavelmente sem saber dos motivos, mas achando ótima a sensação do vento lhe tocando as faces.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
As horas sempre se acometem rápidas, e a manhã logo chegaria, e ao acordar como se fosse dum pesadelo, o velho traria na boca o amargo sabor da bebida e solidão, e seríamos por ele procurados e ele nem se lembraria daquilo que fez e o porque fez, pois assassinamos a consciência não uma, mas muitas vezes, e a partir da segunda, todas nos parecem iguais.</div>
<div class="MsoNormal">
Foi assim que tudo aconteceu, e mesmo morrendo ainda me houve tempo para sorrir e perdoar.</div>
Era um ciclo que chegara ao fim.<br />
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Copirraiti27Nov2013</div>
<div class="MsoNormal">
Véio China<span style="background-color: black; color: #eeeeee; font-family: Cantarell; font-size: 14px; line-height: 19px;">©</span><br />
<span style="background-color: black; color: #eeeeee; font-family: Cantarell; font-size: 14px; line-height: 19px;"><br /></span>
<span style="background-color: black; color: #eeeeee; font-family: Cantarell; font-size: 14px; line-height: 19px;"><br /></span>
<span style="background-color: black; color: #eeeeee; font-family: Cantarell; font-size: 14px; line-height: 19px;"><br /></span></div>
Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-2549051296780565552013-11-17T14:02:00.000-02:002013-11-20T11:45:59.733-02:00O velho e o Mar (By Véio China)<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp_SpYn4NilCmBvnxn9Mz0FRtG9QHmx-oxGDMXXh3cVu0TyK_Z49HEo4SgdQ2cmCyszBxt1bwjnV-QMXU_jRGUIy8nOov9TOByJgKWJsoS3a1xElFInyWq9LUPOrz4RH7ANmNIU3rMjS00/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp_SpYn4NilCmBvnxn9Mz0FRtG9QHmx-oxGDMXXh3cVu0TyK_Z49HEo4SgdQ2cmCyszBxt1bwjnV-QMXU_jRGUIy8nOov9TOByJgKWJsoS3a1xElFInyWq9LUPOrz4RH7ANmNIU3rMjS00/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
Os sentimentos do pescador, um verdadeiro lobo do mar, naquele dia se concentravam nas tormentas e no infinito das águas azuis, que faziam dançar o seu barco como se fosse dum papel pouco encorpado. Sim, fora avisado pela guarda costeira dos perigos, porém não deu atenção, pois perdidos dentro de si havia o cheiro das tripas dos peixe que, tal qual a natureza humana se misturavam em suas entranhas. Ele navegava solitário, já que e aprendera compactuar com as levezas dos mares calmos, assim como agora defendia-se das poderosas ondas que, bravias e sucessivas pareciam pretender partir ao meio o "Gladiator" seu velho barco de pesca.<br />
Naquela tarde de mar revolto ninguém saíra para pescar, afinal, bom pescador é aquele que respeita o mar, pois sabe que as águas não aceitam desafios. E havia nele toda a compreensão para todos esses ensinamentos, porém, ele sorria. Sorria para o instante, sorria das suas peripécias e maestria ao desafiar o oceano que aguardava por um só por um dos seus deslizes para sepultá-lo de vez naquele cemitério de vagas. Mas também o fato não o impressionava, pois ele não estava ali para pescar, mas sim para morrer, já que lhe parecia romântica a ideia de ir-se tragado pelas águas, pois para ele seria como estar sendo velado no quintal de casa.<br />
<br />
Claro, poderia ser tudo mais simples e mais rápido; a bala nos miolos tornaria tudo tão definitivo, mas, o pavor de causar algum transtornos para Helga, a sua boa vizinha de trailer, deixava-o incomodado. Ah Helga! Uma pessoa de coração imenso, e que, apesar da cegueira, ainda encontrava alegrias para viver. Sempre se perguntara por que Helga descobria os infindáveis motivos que permitissem sua batalha perdurar, mesmo que sozinha, aliás, não somente só, mas junto duma modesta pensão deixada pelo falecido marido ferroviário. Lembra de tudo que ocorreu há cinco anos; do rapaz que deu naquela praia dirigindo um trailer e o estacionou ao lado do seu. Lembra ainda que a mulher desceu pela porta tateando as paredes do veículo, e que depois de algum confabulo com o jovem motorista veio até si e pediu autorização para cravar vida ali. "Eu não sou dono da areia, dona! Nem do mar" - Respondeu a ela. Ela sorriu, sim, mesmo que estivesse com óculos escuros pode perceber o sorriso denunciado nos cantos dos lábios. E assim ele pediu para conhece-lo, e contornando seu rosto com as pontas dos dedos foi que travaram o primeiro conhecimento. E de lá para cá nasceram dois irmãos, e ele gostava de voltar do mar e dar a ela um b om peixe, e sentar-se na soleira do trailer para ouvir as boas histórias da velha Alemanha, país natal de Helga.<br />
<br />
Fora isso não havia muitas lembranças, salvo a da visita do seu único filho e de quando se viram pela última vez, talvez há uns três anos e meio.<br />
Foi num fim de tarde de domingo quando emborcava o último quarto da sua garrafa de vodca, e foi acordado pelas palavras ditas por alguém de rosto jovial:<br />
“Oi pai, tudo bem com você?” – Assustou-se, e entre encantado e surpreso conseguiu apenas responder um “Tudo bem!”. Porém não houve nem tempo de apresentá-lo a Helga, e Dustin não ficou mais que 30 minutos e se foi tal qual como chegara; sem deixar qualquer endereço ou um número de telefone. Agora ele pensava naquilo; Talvez a culpa tenha sido sua. Talvez não tivesse demonstrado a necessária alegria em vê-lo, talvez a história teria sido diferente e ele tivesse ficado para jantar o melhor dos peixes que um pescador conseguisse preparar.<br />
Então, praticamente com quase nada a se falarem foi que viu a silhueta do filho descer os degraus do trailer e se tornar apenas um ponto caminhante nas areias e desaparecer no horizonte ao fim daquela mesma tarde.<br />
<br />
E fora assim naquele mesmo dia que ele decidira da um basta em tudo, portanto estava aqui. Era doído recordar-se da mãe de Dustin e de quanto era bonito o seu sorriso. Dilacerava reviver aquela noite que, voltando do mar não encontrou ninguém no trailer. Depois disso sua vida não buscou realizações, e ele se deixou levar por uns poucos amigos (alguns deles falecidos) e de algumas rameiras de beira de cais Por fim, recordou-se dos homens e da natureza humana e de quanto algumas dessas pessoas possuem o dom de desintegrar qualquer tentativa duma existência pacífica e feliz.<br />
<br />
Vivia nesse conjunto de lembranças quando foi acordado pelo surgimento de raios que chicotearam o ar e um vento gélido o fez tremer nos ossos; Seria possível ver o que via? Sim! Não havia a menor dúvida, pois vinda do horizonte ele divisou a formação de uma descomunal onda, talvez a maior da sua vida.<br />
Novamente sorriu, já que sabia que era a onda da sua vida. Repentinamente o céu se acalma e não há mais raios e nem os ventos da tormenta, mas apenas o vagalhão que se aproxima calmo e colossal, e vai ganhando corpo até formar um paredão como se fosse um edifício de alguns andares. E ela veio e “Gladiator” surfou na sua crista, porém o leme já não respondia a qualquer manobra dos seus braços. Evidente, quem seria ele pra enfrentar a imposição do oceano? Não, era pouco, quase nada, mas não se entregaria assim, sem qualquer luta, dignidade, pois o que pouco houvera em vida não ia lhe faltar na morte. E foi então que onda quebrou-se em cima e o barco despencou e desgovernado num mergulho que beirou ao desespero, foi à pique. Livrando-se do barco os seu braços tentaram se debater junto às outras ondas, agora menores, mas já não havia mais qualquer resistência no corpo exaurido, portanto, submergiu.<br />
<br />
E o seu corpo afundava e o ar se rareava nos pulmões enquanto percebia a beleza em algumas das exóticas criaturas marinhas. Podia notar a beleza e o bailado dos peixes das tantas espécies, e de como tudo que estava sob a água se movimentava de forma exata e disciplinada. E a cada instante o corpo ganhava as profundezas, pois o soube ao golfar o último ar. No seu rosto insistia o sorriso sereno, e um desejo moribundo. Sim! Estava á porta da morte, e para um moribundo nada se nega, pois foi o que lhe ensinaram em sua existência.<br />
Ainda restava alguma vida em seus olhos quando ela veio; linda, maravilhosa, seios fartos e mamilos generosos. Ao fim do estonteante corpo da criatura não se viam pés, mas a graciosa nadadeira que fazia aquele ser quase humano flutuar com a mesma leveza de um balão à gás. E então ele a admirou, e ela sorriu para ele e estendeu-lhe as mãos alvas e delicadas. Ele, encantado as pegou e ambos sorriam docilmente ao iniciaram o bailado do adeus. Sutilmente, percebendo que não mais havia ar em seus pulmões ternamente se desvencilhou das mãos sedosas e cerrou os olhos, colocou posicionou a mão direita junto ao coração e disse um adeus para Helga.<br />
Ao tocarem o fundo do oceano havia nele um sorriso agradecido.<br />
Era um belo e meigo sorriso preenchido de paz.<br />
<br />
<br />
<br />Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-55072458872298571272013-09-24T17:36:00.002-03:002015-02-10T17:52:32.653-02:00Amor...aí vou eu! (4000 km para um boi de cara sonsa)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm-wc48GKdk6-eivrErE_mfbo_5Vfr8EHZxRJGQtAx6wQ81tqzuDuAlARNF3Rya8szfswgUhRnjRxWTPJ0VA_Sy932UwHFQz9H0eLKgqhUZKTMru8Iy-O_N4D_SBScntxWAUZqT4Yce4Lr/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm-wc48GKdk6-eivrErE_mfbo_5Vfr8EHZxRJGQtAx6wQ81tqzuDuAlARNF3Rya8szfswgUhRnjRxWTPJ0VA_Sy932UwHFQz9H0eLKgqhUZKTMru8Iy-O_N4D_SBScntxWAUZqT4Yce4Lr/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Era uma dessas noites mormacentas do verão de fevereiro, essas que fazem o suor do rosto gotejar e o lenço ser mantido no bolso traseiro da calça. A noite tinha lá os seus encantos e eu estava com amigos numa mesa de bar, aliás, na última delas. As fortes luzes do lugar apinhado de gente elevavam a temperatura, inclusive a sensação de estar mais quente dentro que fora do bar. Eu e os camaradas continuávamos conversando e cercavam-nos meninos e meninas bonitas, jovens que pareciam estar de bem com a vida vestidos em perfumes importados e roupas de grife. Evidente, não era só, além das flagrâncias e visuais os acompanhavam os gestos espalhafatosos e vozes entusiasmadas, e eles alegravam o ambiente. Claro, o boteco nada tinha de espetacular ou sofisticado como esses que funcionam nas avenidas dos bairros mais nobres, porém em nada se assemelhava aos milhares de pés-de-porcos espalhados pela cidade. Gosto de falar sobre o bar, pois curiosamente ali é o lugar onde retroajo no tempo, algo assim que talvez lembre o filme “De Volta para o Futuro”. Geralmente essas viagens me fazem recordar uma época distante e de algum romantismo, é verdade, mas que também me devolve muitas durezas.<br />
Porém, hoje, quando olho para as suas acomodações deduzo que tanto o estabelecimento quanto eu fomos mais simples, ou menos complexos, assim como eram os bêbados que ali entorpeciam suas almas de aguardente barato. Agora o local foi amplamente reformado nas alvenarias, e a fachada com tijolos aparentes e telhas coloniais emprestaram a casa um certo tom campestre, onde o atraente letreiro em neon vermelho e letras brancas pisca o nome do "Planeta Chico" num indiscutível estilo country.<br />
<br />
Sim, são os novos tempos, logo, dispersando das cores do passado juntaram-se às inovações seis modernos freezers com portas de vidro, desses que são cedidos pelas cervejarias. Claro, a brutal concorrência entre essas companhias as obriga esmerar em produtos de alta tecnologia e qualidade, assim como no caso dos freezers, aparelhos com designer futurista, onde no topo notamos pequenos painéis de Led divulgando cada qual a sua marca. Certamente é um aparato visual dos mais interessantes, letras piscando, te chamando "Ei, estou aqui, esperando, sou sua deliciosa loira gelada" - E isso...bem, isso funciona.<br />
Entretanto para o Chico foi pouco, e outras novidades foram incorporadas ao bar além das reformas e dum novo cozinheiro e suas mágicas introduções ao cardápio. Refiro-me a um enorme telão em LCD que, para nossa infelicidade (dos velhos amigos) porém para o delírio geral exibia clipes musicais da MPB assim como outros tantos do enfadonho circuito sertanejo universitário. Diga-se, tais exibições se tinham primordiais para o Chico e para o filho mais novo, já que o velho truque do "popular à qualquer custo" sempre trouxe ótimos dividendos.<br />
E sobre o tal gênero musical é bom destacar que, no telão, as constantes presenças de Luan Santa, Michel Teló, Paula Fernandes e do tomateiro Leonardo, e outros sofríveis, somados a fatores ainda não declinados contribuíram para impregnar no local um ar pretensamente pop e casual, ingredientes insossos sim, mas que fizeram o bar decolar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Porém nem tudo é, foi ou será surpresa no Chico. Bem, quero me referir a velha-guarda do lugar, indivíduos como nós de prazo de validade à míngua, cinquentões irrecuperáveis e desbotados dos ares da vanguarda recente. Nós os veteranos sempre fomos os preteridos, assim como no caso dos vídeos, pois se impostas as nossas certezas, deuses como o Zeppelin, Floyd, Purple teriam o lugar cativo nas lista dos mais vistos . Entrementes e mesmo que gostassem de nós sabíamos que nos tinham por um jogo de cartas vencido, sem votos, trolhas mofadas como a "Voz do Brasil", coisa que hoje ninguém sabe o que é ou pra que serve. Portanto minoria absoluta (cinco ou seis votos entre duzentos ou trezentos possíveis) cabia-nos apenas tamborilar na mesa os dedos descompassados nas vãs tentativas de acompanhar os ritmos dos sujeitos mencionados.<br />
No entanto é bom que se diga; éramos tão autênticos quanto nossas barbas e rostos marcados pelas noites mal dormidas, o que por si só não permitia que minorar nossas importâncias, já que empunhávamos o brasão da remanescência, concedendo ao bar um certo resquício de tradição. Contudo e apesar das carteiras remidas jamais super valorizamos o legado que deixávamos, assim como não fechávamos os olhos para o processo de reciclagem com a qual a juventude nos brindava.<br />
<br />
E o importante reporta-se à mútua camaradagem, o fato desses garotos interagirem conosco de jeito pródigo e respeitoso, mesmo que não abrindo mão de suas piadas ou gozações - “O
tiozinho vai tirar água do joelho?” geralmente perguntavam quando me viam na fila do mictório, ou, -
“Uauu tio! Cê tá gostosão hoje” – ao flagrarem-me bem
trajado e no uso do inseparável cheiro do meu Paco Rabanne. Porém não poupavam-me em situações mais amargas onde a nostalgia acometida pelo vício etílico não me era impune - “Hey tiozinho, cê ta carentão hoje? Tu ta precisando é dum bom rabo, uma dona tudo de bom. Sacou cara?” - Eu ouvia seus conselhos e críticas, já que provavelmente não gostavam de me ver bebendo solitário e macambúzio, acariciando o rótulo da minha cerveja como se fosse o rosto de Catherine Deneuve. E eu apenas sorria e eles devolviam em dentes alvos numa cena que sacramentava a cumplicidade havida entre os bons companheiros, assim como no filme Goodfellas, do Scorsese.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Também não me seria impróprio confessar que as garotas mais novas gostavam de interagir comigo, e vez ou outra, algumas delas ao me notarem sozinho e introspectivo traziam uma cerveja e sentavam em minha mesa para desabarem suas agruras. Quando não, trocávamos ideias e elas falavam de suas famílias, namorados, estudos, e sobre mais coisas do cotidiano. Enfim, não há exagero ao afirmar que sempre me foi fácil cativá-las, não porque me percebessem na pele de algum Don Juan tupiniquim, não, longe disso, mas talvez porque o meu jeito calado e observador induzisse-lhes algum tipo de proteção, ou que o a minha suposta experiência tivesse muito a lhes ensinar, não sei ao certo.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Todavia nada disso importava naquele momento, pois há duas horas eu e os três dinossauros estávamos na mesa de sempre, um local pouco distante das outras pessoas, gozando assim de um certo grau de
privacidade. E ali sentados consumíamos cervejas e cu-de-burro (suco de limão com sal) E as Serra Malte se denunciavam na fila indiana de vasilhames vazios que se acumulavam no canto da parede. Olhando os cascos perfilados, talvez alcançássemos a marca dos 22 ou 23, número que por si apontava que trafegávamos inexoravelmente na estrada da embriaguez, e ela se evidenciava nas vozes de tons altos, papos de temas imprecisos, alguns sem qualquer nexo, porém isentos de censura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Ô Fred, por que tu andas como essa cara de boi sonso? – <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Claro, a pergunta tinha certa pertinência, afinal eu estava
apaixonado e com compromisso. Cecília era o nome da garota morena e de talvez uns 28 anos, pernas roliças e bem torneadas. Eu a
conhecera na internet, numa comunidade que versava sobre literatura, e onde percebi a sua sensibilidade não só para os livros, mas para com a vida. Dali revezamos mensagens, trocamos telefones e cá estávamos nós. Era bom ser atingido por aquele sentimento que nos deixa abobados, onde nada interessa, mas somente a mulher amada. E o amor pode chegar de repente, e você deixar de dar a mínima para o que acontece ao redor, e o mundo continua girando e você jamais nota, aliás. Sim, sei que pode estar pensando; Nossa! que papo bobo esse do mundo! Sim, talvez eu até concorde, porém faço uso do movimento de rotação para explanar o emblemático sentimento do amor, pois às vezes ele te pega e você não sabe. Todavia, antes mesmo
que lhe dê a resposta toca o meu celular. Atendo mesmo que diante do
bestial alarido dos frequentadores. Olho no visor o número que me chama, e para
evitar a dispersão coloco meus discretos fones de ouvido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Amor, cadê você? – Ela pergunta com a voz arrastada –
Também ouço vozes do outro lado da linha, e são vozes femininas, entretanto a
surpresa da ligação não me faz perguntar onde ou com quem estava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Oi amor! .Estou aqui no bar com os amigos, petiscando um
bom filé e tomando umas brejas – Respondo carinhosamente com a voz ébria. Os
amigos me encaram e entreolham entre si.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ih, não falei? Olha
o Fred outra vez com aquela cara de boi lambido – Insiste o Lélio. Estar
apaixonado tinha desses inconvenientes; todos percebem e querem tirar uma
lasca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Quero te ver agora! – Cecília ordena com voz semelhante à
de alguém que acabou de acordar. A tonalidade de sua voz é incerta e as frases persistem enroladas, porém, mesmo ébria ela fala dum jeito todo
especial, e aquilo me faz imaginar o esturro carinhoso duma onça para um parceiro que chegou com a caça nos dentes.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah é? Então é pra já, vamos dar um jeito nisso – Exclamo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Bem... vocês devem estar imaginando; o sujeito irá largar os
amigos e as bebidas, pegar o carro e sair voando para a casa da gata. Errado! Apesar de concordar que numa
situação normal assim também suporia, porém temos que dar mão à
palmatória e aderir às modernidades que pulverizam distâncias. Então abro a mochila e coloco o notebook sobre
a mesa, sem não antes solicitar ao garçom que passe o pano seco pelo local. Julinho
o garçom também sorri, o que me leva deduzir que estar apaixonado nos dias de hoje é nada
mais que representar no palco o papel de palhaço para uma platéia entendiada.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Amor, estou desligando agora. Já nos vemos. Beijos, saiba
que te amo! – Confirmo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Bye, estou esperando por você amor meu – Ela devolve,
antecipa-se e desliga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ligo o notebook e conecto nele os plugs dum eficiente headphone
que me custou os olhos da cara. Olho para o canto direito do monitor e procuro
por conexões de rede e um leque de 12 possibilidades surge. Parece ser meu dia de sorte e no segundo nome
da lista a conexão se estabelece, provavelmente o sujeito deve ter esquecido de configurar a senha.
Entro no Skype e lá está Cecília no aguardo. Repentinamente surge a solicitação
para o webcam e eu aceito. - Puta que pariu! - Ao abrir a imagem Cecília está
cercada por seis ou sete garotas. Elas olham diretamente para o webcam e riem à
beça com taças rubras nas mãos. Vinhos, sim, certamente consumiam vinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Nossa Cê, como ele é bonitão! – Ouço uma falar. Firmo a
vista e percebo que foi a mais baixinha do grupo que, encoberta que estava pelas
estaturas das que estavam à sua frente, propiciando a ela apenas a
possibilidade do frenético agitar de braços para que a notássemos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Obrigado, moça! - Agradeço num sorriso tímido, meio sem
graça. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Hey, hey! Não é com você não. É com esse loirinho que está à
direita logo atrás de você! – Ela protesta, estridente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Claro, se ouvisse aquela voz num telefone juraria que estava
falando com uma guriazinha dos seus 12 aninhos. - Puta que pariu de novo! - Ela silencia e olhos para trás e os amigos estão às minhas costas, aliás, eles e os copos de cerveja. Que merda!- Rumino - Tiro os fones dos
ouvidos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Que zorra é essa?! Sumam daqui! Não posso nem namorar
sossegado? – Bronqueio. Como resposta sou saudado com sonora vaia - “Uuuuuuu” -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Do outro lado as garotas persistem falando alto e gargalham,
e elas me lembravam dum bando de hienas excitadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Amor, que porra que é essa? Que está acontecendo? –
Pergunto invocado ao sentir certa pressão em minhas costas. Novamente olho para
trás e era a barriga de Cesar que, curvado sobre mim pretendia ver algo mais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Sabe amor, é a despedida de solteira da minha amiga
Lucinha. Essa aqui ó! – Ela diz puxando para si a garota que se estava do seu
lado direito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Oi Fred! – Lucinha se apresenta com voz mais enrolada que a
de Cecília. Por Deus, estavam todas embriagadas!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah Fred, não liga para a Denise não! Ela é a mascote da
turma e nem sabe o que fala. Tenha certeza, ela te achou bonitão sim. E saiba...
você é bonito mesmo – Cecília finaliza e
sorri ao abaixar a cabeça na direção do foco da webcam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Oba! Obrigado! Você está sendo generosa! – Agradeço outra
vez, agora ainda mais sem graça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Fred, fica sem graça não amor, tu não és de se jogar fora,
porém convenhamos, o loiro é um espetáculo! Um Deus nórdico! – Lucinha exclama divertida e sorri.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sim, Lucinha era uma boneca e aparentava uns 24. Nela o
vestido justo e vermelho e de decote generoso prenunciava aquilo que eu poderia
denominar como uma possível grande trepada. Lucinha está ébria e se curva ainda
mais na direção do olho do webcam e isso me possibilita uma visão estupenda dos
seios amassados pelo talho do vestido. Eles davam toda a pinta de saltarem
dali, rogavam por liberdade incondicional, nem eu sei ao certo. A cena
desencadeou um frenesi de sensações despudoradas, e o suficiente para ouvirmos a voz do
Junior, aliás, não só a dele, mas da quadrilha que se
mantinha às minhas costas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Tira! Tira! Tira!<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lucinha percebeu o frisson que causou. Eu olhava para
Cecília e a via impassível, feição ébria, sem se dar conta das coisas do
momento. Lucinha queria show, atuar, portanto puxou minha namorada pelo braço a
fazendo levantar-se, apossando-se do assento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Tira! Tira! Tira! – Persistia a ladainha da matilha de
lobos carentes, atrás de mim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lucinha ria, colocava o dedinho na boca e brindava-nos
com um olhar de donzela travessa . Era o sinal, para a largada, luz
verde para o bólido de Formula 1 queimar o asfalto. E assim se inicia o grand-prix da sensualidade, e ela desliza o indicador pelo meio do
decote e acaricia suavemente a tez entre os seios. Sim, era apenas um jogo excitante,
e as garotas riem diante a reação da corja, até que uma delas grita –“ei
Gostosãoooo”- e a corrida continua louca e desenfreada, a bebida que embebeda
lá, embebeda aqui, e Lucinha, o bólido, enfia os três dedos da mão direita no bustier e lentamente o força para baixo. “Uhuuuuu”
delira a cambada de canalhas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
– “Tira! Tira! Tira!” - Eles pedem aos berros. E ela persiste queimando o asfalto nas ruas de algum principado, estreitas, perigosas, sensuais, enquanto os dedos agem para que o pano ceda aos poucos como as esmolas que regulamos para os mendigos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi o bastante para as garotas participarem da insanidade da corrida, e logo imitam Lucinha e fazem bocas e caretas, e aos trejeitos alisam os
seios por cima de suas roupas. Os peitos de Lucinha, agora estão quase descobertos, e eles são
magníficos, e ela insiste em fazer o pano ceder até que se torne visível o início da aureola do seio. Porém, surpreendentemente sobe o pano do tecido e nos fulmina com uma gargalhada de gente à-toa– “Uuuuuuu” os meus amigos deliram
e vaiam desencantados, eles querem mais – Evidente, eu não podia vaiar, mas um “Uuuuuu”
anônimo e silencioso reverbera no peito, afinal eu me excitara tal qual a primeira vez que beijei a boca de uma mulher. Lá, do outro lado da tela
as garotas continuam rindo e persistem nas cenas de um cabaré de terceira. Era óbvio, sabia que estavam gozando de nossas caras,
justo nós uns carentes pobres diabos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No breve momento que a libido cedeu à razão penso naquilo
tudo e suponho que se fôssemos nós nos lugares delas, a essa altura estaríamos
desfilando de samba-canção colorida, afinal todo macho que se preza é
altamente exibicionista. Lucinha queria mais, muito mais, então se levanta, da
cadeira, distancia-se metro e meio do webcam e remexe os quadris como se fosse
uma passista da Portela. Depois executa meia volta e de perfil soergue o
vestido palmo e meio acima dos joelhos e exibe suas torneadas pernas. Mas
ainda não se satisfaz, portanto gira o corpo até ficar de costas e o
seu vestido está lá no alto próximo à calcinha, e ela chacoalha as estupendas nádegas como cansou de fazer num passado próximo a ex-
bunda número um do Brasil, Carla Perez nos programas do Faustão. Olho para tudo
e me pergunto como terminará aquilo, entretanto as meninas não compartilham da minha apreensão e continuam rebolando, e agora viram as costas e sobem seus
vestidos, e sinais daquilo que sugeriam ser as cores de suas calcinhas surgem e elas insistem e
gargalham enquanto os tais "Uhuuuus” da corja persiste, alto, algazarra que chama a atenção dos clientes e causa certa apreensão ao velho Chico que preocupado nos olha lá do caixa.
Tudo está fora de controle, e elas continuam plagiando Lucinha, e rebolam e os “Uhuuus” persistem
indomáveis até que repentinamente decretam o fim da corrida. Ninguém gargalha e nem remexe os quadris
ou mostra os seios, e Lucinha abandona a cadeira e as garotas somem da cena e Cecilia reassume o posto recolocando seus fones de ouvido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Amor, peça para esses vândalos saírem das tuas costas, por
favor? Quero ter um particular com você.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Cambada, vocês ouviram o que a dona do time ordenou? Portanto...
Fora todo mundo! – Exclamo, ao virar o corpo e dar de cara com os sacanas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eles parecem desalentados e abandonam as minhas costas, exceto
o Cesar que, idiotamente persiste num “Uhuuu” solitário, talvez de protesto. Será que o pobre infeliz imaginasse que aquilo ia findar num strip-tease completo e gratuito?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Cai fora sujeito problemático! - Apresso-o. Cesar me olha e o “Uhuuu”
silencia em sua boca e então ele sai de onde estava e retorna para a sua
cadeira logo à minha frente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ajeito-me na minha enquanto os devassos retomando a tagarelice
voltam a mencionar os fantásticos peitos de Lucinha. Evidente, Cecília não fez parte
daquilo. Olho para ela, e ela está meio constrangida, porém sinto que há fogo
em seu olhar. Ela meneia os ombros, pressiona os lábios um no outro e diz:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Amor, você eu não quero que passe vontade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Dito, seus olhos escorrem para o meu lado da tela e ela se
certifica que estamos a sós. E vem o momento da surpresa, pois delicadamente
pega o fim da malha do top que deixa os braços e parte do colo nu e o levanta.
A cena me deixa perplexo, pois Cecília não vestia sutiã. Depois me olhou com lascívia e eu não
desgrudei os olhos do seu maravilhoso par de seios. Cecília tinha peitos lindos
e fartos. Suavemente ela toca um dos mamilos e ele desabrocha como se fosse flor
brindando a vida. Ao longe ouço vozes e os risos das garotas, o que significa que
elas estão retornando. Tão de repente quanto mostra Cecília oculta seus seios
ao deixar cair a malha, cobrindo o peito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Amor, eu quero você hoje e sempre! Você não faz ideia de
quanto te amo. Estarei em casa por volta da uma da manhã, quando acabar aqui. –
Ela diz daquele jeito que me deixa louco<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Aí sorri para mim, diz “boa noite” e um “te amo”. As vozes
das garotas estão agora se fazem mais próximas e eu consigo distinguir algumas
delas quando Cecília comunica:<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Meninas, estou me despedindo dos rapazes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi o decisivo para que as meninas saíssem em desabala e colocando-se diante do webcam. Depois uma delas gargalhou e voltou a bolinar o
corpo. As outras também riram e a imitaram. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Chame os meninos! Chame os meninos, elas pediam em coro,
algumas delas até assobiavam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Porém de palhaçadas estava farto, portanto não chamei
ninguém e apenas me despedi delas tocando os lábios com a ponta dos dedos, atirando um beijo coletivo. Por fim desliguei a webcam e pensei sobre
aquilo e olhei para meus amigos, e eles, mesmo embriagados persistem falando
dos peitos de Lucinha. E fico lá, parado, inerte, apenas os olho e suas bocas
falam, não se calam, cães vadios tendo sonhos eróticos com filé mignon. E
aquilo me faz retornar para dentro de mim e admitir o fato de não transar na
real por um bom tempo um bom tempo, não que não houvesse a oportunidades ou
pessoas disponíveis, mas sim porque agora as relações amorosas agora não me
pareciam tão urgentes. Obvio, eu tinha prazer e fornecia prazer, e era assim
era entre eu e Cecília, mesmo que virtualmente, já usávamos do possível . Claro, fazer amor e à cor é e sempre magnífico,
entretanto nesta vida eu fizera amor tantas vezes e saíra de algumas relações tão ou mais vazio de quando entrara. Agora o que eu precisava era alguém que me
inteirasse e que me fizesse sentir que entre nós não haveria interregnos
existenciais. O que ansiava era ter a oportunidade de viver a mulher e a delicadeza que se desfruta em cada folha do seu ser. E essa hoje era a minha maior verdade, talvez procurada com o desespero de alguém que necessita o mais íntegro prazer
de estar com alguém, e sorrir, e beijar, e fazer amor compactuando cumplicidades. Enfim,
alguém que me fizesse compreender que é possível uma excepcional noite de amor ser sucedida
por outra ainda melhor. Logo, Cecília poderia ser essa criatura, apesar dos
mais de 4.000 km que nos separavam. Havia entre nós muitos traços comuns, e ela
simplesmente me deixava louco na hora H, apesar de vingar ao terminar, um gosto amargo de monitor LCD. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Saímos de lá algo além da meia noite. Despedimos na porta do bar e cada qual seguiu o seu destino. Rodo por ruas desertas enquanto em outras alguns poucos automóveis trafegam. Depois de bons 30 minutos estaciono o Palio Weekend numa vaga descoberta garage ao lado da porta de entrada da casa. Saio do carro e abro o capô e retiro um dos cabos de vela, afinal nem todos os ladrões da cidade andam com cabos de velas sobressalentes. Entro na residência e desfaço-me da camisa e calça social e conecto o notebook sem necessitar dessa vez a senha ou a conexão de alguém. Sei o que procuro, portanto abro a página do site e passo os olhos pelas promoções. Achada, retorno ao lugar onde despejei a calça e a camisa e volto com um cartão magnético em mãos. Forço a visão, pois as letras do site são miúdas. Forneço o número e código segurança do meu cartão e efetuo a transação - Era um negócio com uma companhia de peso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Manaus, já me sinto pelo caminho! – Exclamo e sorrio para a aranha indolente que no teto praticava algo parecido com bungee jumping<span style="font-family: sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 19.18402862548828px;"><b>.</b></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora em meu poder havia uma passagem aérea de ida e sem volta
para o Amazonas. E isso me conforta, pois agora quero viver para o óbvio, ver apenas o que pretendo ver, gozar a vida do jeito e forma que deveria ter vivido e não vivi até aqui. E é justo, pois suponho que também sou filho de Deus.<br />
Penso pouco mais sobre as questões das relações virtuais enquanto a multifuncional emite o localizador da minha passagem. Foi
ali que consenti que a distância maior de 4.000 km jamais deveria ultrapassar o tamanho das minhas indefinições.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Continuei no notebook e espionei o meu e outros perfis no Facebook até me sentir entediado.<br />
Entretanto a pergunta não se calava, e eu olhava para a tela e para o jogo de xadrez que acabara de buscar numa das pastas do Windows. Sim, um jogo de xadrez. Permaneci olhando para o monitor até que decidi colocar o dedo sobre a peça branca para dar o inicio ao Match. Sorrio idiotamente ao acreditar que pudesse ganhar da máquina, mas nunca ganhei, e isso me irritava, não que me considerasse alguma sumidade ou dotado de inteligência privilegiada, não, mas tinha sim um bom raciocínio, embora muito pouco para digladiar com aquele programa. Sim, um software abastecido por um campeão. dizem, Bobby Fischer, divindade no universo enxadrístico dos anos 80, um computador humano dotado de fantástica massa cinzenta á municiar os engenheiros de Bil Gates com milhares de combinações vencedoras.<br />
Enfim, verdade ou mentira, com Bobby ou sem Bobby adianto meu peão duas casas pelo centro do tabuleiro e o maldito PC responde abrindo o cavalo da sua dama. Levo outro peão perpendicularmente ao meu na intenção de defendê-lo do hipomorfo, e em resposta campeão adianta o seu peão à frente da torre do Rei. -"Que raios de jogada seria aquela?" - Surpreendo-me. Eu não sabia, e o que sabia era que mais uma vez poderia estar entrando pelo cano; Tudo bem! - Resignei-me, estava pra lá de acostumado.<br />
A casa onde foi parar o peão adversário piscou nervosamente; era o sinal para que eu fizesse o meu movimento. Fico olhando para as frenéticas piscadelas e elas me lembram os incandescentes letreiros de alguns inferninhos da boca do lixo.<br />
<br />
-Vá te foder, Bobby! Espere! - Resmungo para o computador<br />
<br />
Sem que me haja qualquer motivo olho para o alto e uma aranha solitária parece surpresa com minha bravata. Levanto da cadeira e olho para o teto e ela parece desconfiada, pois talvez tenha o bom senso de jamais confundir moscas e abelhas. Enfim, esperta e até com receio que um desavisado pé do meu sapato involuntariamente seja atirado para o alto acaba por dar o fora dali escalando um pequeno espaço da teia, e esconde-se no interior do globo da luz. Penso na cena e na fuga malandra e outra vez sorrio.<br />
Momentaneamente desvio minha atenção da aranha, do tabuleiro e questiono-me à meia voz:<br />
<br />
-Meu Deus, serei o azul do Caprichoso? Cecilia será o oposto, vermelho, do Garantido? -<br />
<br />
-Não sei... - Murmuro introspectivo, assim como concluo também não saber se ela ficará feliz com a surpresa, pois não há garantia para nada nesse mundo, excetuando a morte. Penso na morte por mais alguns segundos e me recordo do Azul e a minha predileção pelo Caprichoso. Evidente, concordo, tudo é uma questão de cor, azul, vermelho, um ganhará e o outro perderá. Porém não quero arriscar, vou no campeão, vou no perdedor, serei aquilo que Cecília for, ela é a bola da vez e eu estou cansado da voluntária escolha de jamais colocar a pele em jogo e abrir mão da grande bolada.<br />
<br />
-Amor...aí vou eu! - Exclamo para uma aranha sonolenta. Peço desculpas a Bobby e desligo o computador. Procuro uma toalha de banho, e saindo do quarto carrego também um dos meu inseparáveis pijamas curtos. Eu gostava deles, coisa de macho, sem dúvida. Ele era em azul marinho e a blusa com gola em V estampava bolinhas brancas num tecido que nitidamente imitava a seda.<br />
<br />
-Sim! Nada mais elementar... pobre, limpo e Caprichoso -<br />
<br />
Concluo comigo ao abrir o registro e sentir os efeitos duma ducha Lorenzetti com mais de 10 anos de uso. Os furos por onde sairiam os jatos estão entupidos, já que há mais de meses não os desentupo. A água que se arrisca sair pelo furinhos goteja fervendo e me machuca a pele.<br />
<br />
-Merda! Merda! Merda! -<br />
<br />
Xingo três quando poderia ter xingado apenas uma. Talvez fosse frescura ao extremo.<br />
Sorrio novamente. - "Será que haverá antropófagos nas florestas do Amazonas?" - pergunto-me. "Vá a merda!" Respondo para o imbecil que se fez a pergunta.<br />
Talvez fosse nada mais que pura ansiedade.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Coporraiti24Set2013</div>
<div class="MsoNormal">
Véio China©</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
</div>
Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-42992714948511121162013-08-24T12:26:00.000-03:002013-09-20T12:13:48.159-03:00A Balconista<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdaJ9Gxvz4ylLpaWDKk-JKax4RgZt83_2i20BCvde8FOm9KqBmD8SofjKsTiTAODKSF8_mkXHEYKtNk_fMCpUCAYqYVbeQyTcHO0G84Ut-E3nsI6vTfquvUHKD9AB1XvqlPGZZLBk5mCg/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdaJ9Gxvz4ylLpaWDKk-JKax4RgZt83_2i20BCvde8FOm9KqBmD8SofjKsTiTAODKSF8_mkXHEYKtNk_fMCpUCAYqYVbeQyTcHO0G84Ut-E3nsI6vTfquvUHKD9AB1XvqlPGZZLBk5mCg/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Era um ótimo dia de
céu azul e nuvens brancas. Eu estava no parque e aproveitava o sol da manhã
para zanzar pelas alamedas e observar os pombos. Vez ou outra marcava ponto por lá e eles me entretinham, e eu olhava os seus pézinhos lépidos e bicos frenéticos ciscando o chão nervosamente à cata
de miolos de pão e outras bobagens que lhes atiravam. Eu achava engraçado a avidez na qual se entregavam aos alimentos, pois provavelmente deveriam supor que tudo lhes seria comida, inclusive as embalagens plástica vazias deixadas por todos os cantos do parque. O fato me causava certa inveja, não daquele amontado de lixo deixado por um povo sem a mínima civilidade, mas do sistema digestivo daquelas aves que, metabolizavam tudo. Fiquei por lá mais alguns minutos observando seus trejeitos e a forma como interagiam, e não percebia qualquer hierarquia entre eles, mas sim a predominância da lei do mais
forte, inclusive a de um deles em especial que, estufando o peito e movendo
abruptamente as asas se apossava dos nacos maiores dos famintos companheiros.
Evidente, nós os humanos também vivíamos numa sociedade parecida apesar de existir entre nós certa preposição hierárquica. Óbvio, oficialmente há o ordenamento, mas a evidência não é o estado da ordem de fato, mas sim a predominância da lei do gatuno, da coisa espúria, do poder que
corrompe e é corrompido, mesmo que os partícipes das milionárias negociatas jamais as admitam. Portanto, se assim ocorresse com as aves seria de questionar se haveria entre elas alguma forma de
constituição, e em existindo não seria espanto rezar em suas cartilhas o
maldito blá blá blá de sempre, a teoria do "somos todos iguais perante a lei", claro, coisa que só inglês consegue ver. <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Bem, perdido na
estupidez desses pensamentos passaram-se mais de 15 minutos, e eu me sentia enfadado, portanto resolvi me mandar dali antes que mandasse tudo e todos a puta que pariu. Ao abandonar o parque me lembrei de algo
importante, logo, rumei para a drogaria mais próxima. Eram dez horas em ponto
quando encosto o umbigo no balcão.</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">-Moça, por favor, duas Jontex lubrificadas – Peço para alguém na posse dum sorriso comercial.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Evidente, eu estava constrangido, pois nunca havia visto naquela farmácia a figura feminina atrás
dum balcão. A resposta veio com outra pergunta, fulminante, descabida. Novamente cravo os olhos na garota, e ela não deveria ter mais que 16 anos, a mais linda querubim num corpo do demônio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Pe..Eme ou Ge? – Fulmina-me com expressão maliciosa. Eu a olho desconsertado enquanto a garota dedilha
os malditos envelopinhos de preservativos colocados num expositor atrás de si e na parte interna do
balcão. Seus tons e olhares me incomodam, e não sei bem o que fazer. Tento a saída clássica<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Por favor, pode me chamar o farmacêutico? – <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Sim, solicitei a presença do dono, já que fatos como aqueles traziam à tona a minha convicção que homens de negócio deveriam fornecer cursos prévios aos seus
funcionários, elucidando dúvidas dos clientes sobre os produtos. Todavia hoje em dia ninguém quem investir em nada, imaginam que tudo é custo, mesmo que o investimento em treinamento evitasse acontecimentos absurdos como aquele. Talvez ela nem fosse a culpada pela chacota sobre a questão do tamanho, afinal, quem poderia afirmar que seu último</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;"> emprego não fora no balcão duma loja de confecções? Para a nossa sorte o dono da farmácia acabava de
sair por uma porta lateral ao balcão, dessas, estilo vai-e-vem, que comumente vemos nos filmes do velho oeste.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Por favor,
Adamastor, estou envolto numa pequena questão. Pode me dar um minuto da sua atenção? –
Solicito-lhe<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Adamastor, o farmacêutico do bairro, sujeito sacana e irremediavelmente mulherengo me olha surpreso.</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">E já que Adamastor é o foco da vez não é impróprio comentar que ele, segundo as más línguas da vizinhança, vivia cercado de problemas, inclusive com o fardo de três pensões alimentícias
pagas para suas ex-mulheres. </span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">E isso me deixava admirado com a sua resistência
e fôlego financeiro, pois não é surpresa que grandes
redes de drogarias esmagam os pequenos comerciantes ao dominarem o
mercado de medicamentos e congêneres, portanto era um milagre que ainda estivesse de portas abertas. Adamastor persistiu me olhando e se manifestou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Claro, um minutinho, por favor! – Foi a resposta. Então se locomove lentamente, entra pelo corredor do balcão e ao passar por detrás do bumbum da garota estaciona o corpo, adianta o quadril mirrado e se encaixa no traseiro da menina num movimento amplamente canalha.</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Ao presenciar a cena concluí que poderia estar nascendo ali mais um grande prejuízo financeiro e moral para Adamastor, apesar do fato não constituir novidade diante seus eternos problemas com o universo feminino. Olhei para ambos, Chapeuzinho e Lobo Mau, e nele os mais de 60 gritavam desconexos diante daquele rostinho de anjo e corpo do mal. Balancei discretamente a cabeça, pois talvez a idade estivesse prejudicando seu discernimento à ponto de não perceber que entrava numa fria. E o pior; as coisas poderiam ficar piores, pois a pedofilia, aliciamento ou prostituição de menores eram encaradas com certa rudeza pela legislação.<o:p></o:p></span><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Qual é o seu
problema, Juvenal? – Ele pergunta ao se livrar da maciez do jovial traseiro. A mocinha meneia levemente as pernas e o bumbum e mostra seus dentes alvos, brindando-nos com um sorriso vagabundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Bem..não há problema
algum comigo, Adamastor! Apenas queria dois malditos pares de preservativos Jontex - Respondo para ele - Ah sim...lubrificados, antes que me esqueça – Concluo ainda constrangido. Ele olha para mim, indiferente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Ora Juvenal! Para
isso poderia ter perguntado à Moniquinha, e ela o atenderia com toda
presteza – Devolveu com perceptível má vontade. Depois emendou: - Ah, não estranhe a brincadeira, pois a instruí
para perguntar ao cliente sobre o tamanho do seu preservativo – Pequeno, médio, ou grande. P.M ou G, captou? - Completou num risinho sacana. </span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Não, eu não havia captado, portanto olho para ele, incompreensível, expressão que deveria estar lhe questionando algo do tipo: "Você ficou doido, homem?". Ele continuava me olhando, e eu podia notar o ar zombeteiro. Por fim, talvez incomodado pela minha sisuda fisionomia achou por bem explicar o porque daquilo tudo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Sabe, Juvenal, é
apenas uma toque de bom humor junto ao cliente. Foi a forma mais light que encontrei para quebrar o clima da timidez costumeiramente estabelecido entre os homens e atendentes mulheres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Ah... agora captei!– Exclamo idiotamente enquanto Moniquinha insiste no sorriso cretino. Olho
para ela , para a sua boca de lábios grossos tingidos por um batom
provocante, vermelho, quase sangue, e parece que ela quer me engolir numa só bocada. Ainda demonstrando impaciência, Adamastor solicita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Moniquinha, por
favor, continue atendendo o meu amigo Juvenal – <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Daí,
ainda de má vontade me faz um sinal de até breve batendo na testa os dedos da
mão direita em continência. Daí da dois ou três passos, estaciona novamente no rabo da garota e a encoxa. Feito, some pela porta de cowboy.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">A moça outra vez se posta à minha frente e retira dois pares de camisinhas lubrificadas do expositor. Sem desgrudar dos meus olhos coloca-os num envelope, faz a nota e me entrega.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Pode pagar pra mim,
Juvenal – Diz num tom forçado, assim como dessas atrizes em início de carreira que se imaginam no mesmo status duma Fernanda Montenegro ou Marília Pera. Depois se dirige
para o caixa. Penso naquilo por segundos e estranho o seu tratamento e a falta da palavra “senhor”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Vou ao guichê e tiro algumas notas da carteira e as empurro pela fresta do vidro. Ele confere e me dá o meu troco. Agradeço com um movimento de cabeça e preparo-me para sair da
quando novamente sou interpelado por ela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Sabe Juvenal, acho
que deveriam mesmo implantar esse negócio de P.M.G.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Hã, como assim? –
Questiono. A garota não esquecera daquela bobagem toda. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Ela segue adiante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Ah, assim,
veja...Certa vez sai com um japonês, e pra minha surpresa ele tinha um treco
imenso, deveria ser o jegue de Pequim. Num outro lance saí com um cara super musculoso, de academia, bonitão, saradão, e ele me deu um porre de caipirinha de vodka e
me levou prum Motel. Nossa! Fiquei ansiosa, excitada, mas foi fria; Ele
tinha um pingulinho que, mesmo estando duro coube na palma da minha mão – Exclamou com os dedos polegar e indicador paralelos e com pequena distância entre si. Aí riu debochada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Realmente a garota era surpreendente. Olhei para a mocinha que fez de Pequim a capital do
Japão, e murmurei um “hum rum”. Antes de dar-lhe as costas ainda ouvi a sua
última questão<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Juvenal, desculpe,
mas estou muito curiosa a seu respeito – Confessou num tom estranho, intimista
assim como o dos amantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-E que curiosidade seria essa, moça? – Questionei, desconfiado e surpreso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Bem...bem.. – Depois de algum embaraço ela arranha a garganta, e assim que percebe que nada atrapalhará a
tonalidade da voz, pergunta: O seu é... P...M ou G? </span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Pequeno, médio ou grande....pequeno, médio ou grande - Desconsertado balbucio as palavras, e continuo olhando
para ela, e ela, mais que nunca me parece ser uma trepada inexperiente, mas das boas.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Sem que lhe forneça detalhes Moniquinha persiste com o sorriso devasso, e ele macula a santidade do seu rosto. Foi meu momento de lamentação, assim como também o de Adamastor há 20 anos num buffet próximo dali ao receber os clientes do bairro para a comemoração dos 15 anos de sua farmácia. </span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">E o seu lamento naquela noite não deve reviver em sua memória, como deve ter esquecido das dolorosas porradas que ganhou do pai duma ninfeta de saia justa e pernas grossas que se encontrava na festa. Claro, a culpa coube aos seus atos desastrados e à mão boba que insistiu em aliciar o rabo da jovenzinha que, de era à-toa só tinha a pinta. Foi a hora do "deixa disso", de braços apartando os valentões, e só restou a Adamastor aproveitar os cubos de gelo do uísque vagabundo para consolar o enorme hematoma que se formou no olho esquerdo. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px;">Terminado o fuzuê,</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">ouvíamos o farmacêutico murmurar "Eu não tive culpa, não tive culpa". Sim, não tinha culpa o safado, e definitivamente ele era um grande cara de pau, pois o mais provável foi o bumbum ter se locomovido por livre arbítrio até a sua mão espalmada.</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Pois é! Agora eu também lamentava, um lamento que não era só meu, mas também do meu amigo Sidenafil religiosamente carregado comigo num dos bolsos da calça. Aquela tentação juvenil estava
brincando com fogo, e eu, com meus 55 e barbas grisalhas jamais seríamos tão
otários quanto o Adamastor. Pigarreio e olho atentamente nos olhos que se borram duma maquiagem azul e lilás que, combinam com os cabelos tingidos fortemente de ruivo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">-Olha moça... Espero
ansiosamente por essa mesma pergunta daqui dois ou três anos. Tudo bem? – E
pela primeira vez abro-me num sorriso franco e honesto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Como minha resposta ela
gargalha estridente e requebra um samba como se fosse a passista campeã do
carnaval carioca. Não há música, mas há as pernas dela e um sapato de salto 8, réplica ded marca famosa. E Moniquinha persiste requebrando...requebrando,
até cessar a dança e o sorriso desaparecer dos seus lábios grossos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Definitivamente
aquela garota era louca, além duma descomunal porta de cadeia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Claro, gora não havia qualquer dúvida; Adamastor estava ferrado!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">Copirraiti23Ago2013<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Véio China©</span></div>
Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-64509159763339599032013-04-12T00:44:00.001-03:002013-06-24T17:04:38.311-03:00- 2182 - Odisseia sobre terroristas, putas e o país do futebol<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSZw-d1vbVbYuox3ktJkI0W0ZMfpqtIZC-bwx4jRGPqWStKjpCKMbs-h7HJe8wXAepJWwYQ7yLW1tTKNezTFzJOAQ9YNghrNf2hV36xuxfq9BPzvRtRqKG6oYKHCBAxHSDxyniHaAiTXRn/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSZw-d1vbVbYuox3ktJkI0W0ZMfpqtIZC-bwx4jRGPqWStKjpCKMbs-h7HJe8wXAepJWwYQ7yLW1tTKNezTFzJOAQ9YNghrNf2hV36xuxfq9BPzvRtRqKG6oYKHCBAxHSDxyniHaAiTXRn/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
<br />
Part. I - 2182 – O caos e a última geração humana<br />
<br />
Estamos no ano de 2182, e eu com 82 ao nascer cem anos após a virada do segundo milênio. Todavia algo de muito incomum acontece, pois desde os primeiros meses de 2122 não se teve notícia da geração de vida humana. É situação complicada, e ao não criarmos vida tornamos este mundo num ser velho onde a população decresce a cada ano e em ritmo assustador. Outro fator de preocupação são os inexistentes locais urbanos para a criação de novos cemitérios, pois os que aí estão se abarrotam de valas e corpos, mesmo que, inexplicavelmente a expectativa de vida tenha aumentado, pois mesmo doentes tem muita gente vivendo próxima dos 100 anos de idade. Sobre a falta de ofertas e a exiguidade dos espaços nas grandes cidades especulam que o Poder Central estaria tramando projeto de lei onde a cremação de corpos passe a ser obrigatória, e esta sim, mesmo que desumana por ser ato de arbítrio, reduzirá substancialmente o consumo de velas, o trafego caótico, assim como os exorbitantes preços das flores, principalmente nos dias das mães e finados.<br />
Agora e a bem verdade o fato de não mais concebermos a vida tornou-se mistério e me deixa incomodado ante a indiferença da maioria, quase num esquecimento global. Todavia é assunto que sempre que vem à tona gera controvérsia, pois a própria ciência calou-se à época dos fatos, permitindo que a raça humana criasse histórias e lendas sobre a desgraça, principalmente a de que ela estaria ligada à três possíveis fatos que, de forma ou de outra se interligam por questões religiosas.<br />
<br />
<br />
Part. II – Católicos & Fundamentalistas contam suas histórias<br />
<br />
Sim! As mentes ainda permanecem criativas e fervorosas apesar de nossas idade, e assim há aqueles que abraçam a tese de que o Deus do catolicismo seria o gestor da improdutividade dos nossos pobres óvulos e espermatozoides. E dizem mais ainda; que o castigo foi obra do seu aborrecimento diante dos nossos caminhos de pecados, devassidões e o fruto do desamor que nos fez afastar dos seus 10 intransigentes mandamentos.<br />
Em contrapartida há a versão dos fundamentalista islâmica, e ela afirma que o plano foi arquitetado por vingança ao assassinato de Osama Bin Laden, dado em 2011,executado pelas mãos dum soldado americano, mesmo que 110 anos distanciassem da data da contaminação de 2121. E sobre ela os Fundamentalistas afirmam que foi executada por cientistas europeus recrutados à preço de ouro pela Al Qaeda, criando nos laboratórios clandestinos o vírus anticonceptivo. E o curioso da versão fica por conta de que a disseminação viral deveria abranger unicamente os reservatórios de águas potáveis das cidades norte-americana, o grande Satã. Porém por descuidos de observância a fórmula acabou por cair em mãos dum grupo Xiita ultra radical radical através de um dos mercenários daquela equipe científica, cobrando um valor três vezes maior que o ouro recebido que na primeira vez. Saliente-se que esses grupos xiitas não mais acreditavam na existência dum mundo como era concebido, pois além de seus próprios povos estarem contaminados pela filosofia libertina e consumista do ocidente, havia dolorosa realidade do seu povo não mais acatar os preceitos de Maomé. Portanto não só os Estados Unidos, mas também a própria existência deveria ser punida e exterminada, mesmo que à longo prazo. E desta forma e em nome de Maomé enviaram extremistas para todas as partes do mundo que, inseminaram o vírus nos leitos dos rios de todo o planeta<br />
<br />
<br />
Part. III - Os Evangélicos também tem a sua versão<br />
<br />
E por fim há a versão divulgada pelo gigantismo da igreja Universo do Templo do Senhor, do Bispo Emir Macedo Stewart. Com respeito à essa história contam os bastidores que a finalidade da Universo era a de capturar para os seus templos os milhões de adeptos da arqui rival "Deus Não Suporta tanta Dor" imputando à esta última a contaminação virótica , inclusive bem assemelhada à versão contada pelos Fundamentalista. Por consequência a fofoca evangélica persiste até nos dias de hoje como o carro chefe nas pregações dos pastores da Universo, as quais dão conta que a fórmula foi conquistada pela Igreja rival através do cientista chefe da missão, já que aquele, acometido de grave depressão pelo flagelo imposto ao povo norte-americano, procurou os caminhos da paz nos braços de Deus convertendo-se à "Deus Não Suporta tanta Dor". E sobre ela é necessário esclarecer que o carisma do seu fundador Reverendo Clodomiro Santiago Jones era tanto, e o seu poder de indução e convencimento tão espetacular que, em menos de duas décadas a igreja já congregava milhões de fiéis, mantendo templos espalhados pelos quatro cantos do planeta. Logo, a "Deus Não Suporta" era uma pedra no sapato da "Universo"<br />
<br />
Afirmam ainda as fofocas da "Universo" que à princípio a conversão do cientista não fora o suficiente para dar cabo às dores de sua alma, e ele precisava falar, confessar, pois talvez a sua paz estivesse nos braços do Reverendo Clodomiro, homem de Deus,ele sim capaz de lhe trazer o conforto e o perdão divino.<br />
Daí para frente não foi difícil, e o depressivo cientista foi lobotomizado pela esquizofrenia do Reverendo, e convencido por este a recriar o vírus, logo, o sofrimento de Deus não seria perene. - " Está próximo o grande dia que a justiça de Deus se dará pelas mãos de algum humilde servo" - Rotineiramente pregava o Reverendo Clodomiro Jones, pois para ele o homem era o grande mal que afligia o universo, portanto merecedor de sofrimentos e privações até que houvesse o dia sua redenção. E foi diante deste quadro que a marionete científica, refém da psicopatia destrutiva de Clodomiro acabou por ceder aos argumentos e recriá-lo na mesma forma líquida, límpida e inodora. E o grande dia da redenção chegou, e as ações despontaram universais, concatenadas através dos abnegados obreiros que misturaram a química virótica às margens dos grandes e pequenos rios. Evidente, todos foram iludidos ao acreditarem que a água contida nas milhares de garrafas fosse ungida pelas orações do Reverendo Clodomiro Santiago Jones, e quando ingerida pelas populações sofredoras possibilitaria o alívio para os seus males, afinal, era isto o que lhes afirmavam as vozes dos fanáticos pastores, igualmente tapeados pelo fundador.<br />
<br />
Certamente e segundo todas as versões o fanatismo religioso esteve por trás da execução, e não acolho nenhuma. E o difícil em creditar está ligado ao fato dos mandantes não pleitearem a morte química de imediato, aquela que lhes tiraria a vida naquele mesmo ano de 2121 ou seja; todos pretendiam viver, e que recaísse para uma geração futura o ônus do fim da existência. Sobre a história contada pelos católicos fica mais difícil ainda, pois ao acreditar que Deus nos tivesse negado o direito à vida seria o mesmo que aceitar que houve Paraíso, Eva e a maçã, por conseguinte a excluí também. Todavia aqui não estão e nem mais a esta vida pertencem os falecidos Emir Macedo Stewart, Clodomiro Santiago Jones, e o líder terrorista da rede Al Qaeda de então, pois se aqui estivessem talvez conseguíssemos saber quem foi quem neste perfeito samba do crioulo doido. Logo o conjunto das três versões traz fantasias que impressionam, apesar de não constituir novidade a rivalidade das religiões, principalmente as ocorridas entre os igrejas evangélicas, bem como as suas manipulações com a fé e o dinheiro dos incautos. Porém seria pura quimera ou ingenuidade minha acreditar num Deus anti-vida, ou os xiitas, ou mesmo que fanáticos evangélicos estiveram derramando milhares de garrafinhas de água nos leitos dos rios do mundo<br />
Entretanto reconheço; nesse mundo tudo é e será possível, e haverá sanidade, existirá loucura e transbordarão as ideias e o direito às palavras será amplamente livre e defendido, mesmo que não acordado. Portanto é bom termos o máximo de certezas quando os pensamentos abandonam nossas mentes, vibram nas cordas vocais e se expelem pela boca, pois por ela jamais retornará e marcará posicionamento contundente tal qual ao cravamos a pecha de bêbado num sujeito onde o excesso de bebida produziu os transtornos da fala e da coordenação motora.<br />
Todavia, fanáticos, sonhadores, bêbados e abstêmios dizem o que querem, ouvem o que precisam, e em meio à tudo haverá realidades e fantasias, trapaceiros e trapaceados, aquilo que sabemos e jamais saberemos, assim como fatalmente em quem ou no que acreditarmos ou deixarmos de acreditar, pois isto é a vida.<br />
<br />
<br />
Part. IV – Arbítrios & Censuras e Retrocessos<br />
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Agora, afora as celeumas com a infertilidade há de se destacar que estamos num mundo difícil, lento, atolado em idéias estacionárias, e isso nos transforma dia a dia numa Cuba do passado. Logo, estamos país retrógrado, obsoleto, e onde só há relativa evolução em segmentos que atendam os interesses do governo, como os setores da informatização. Exceto estes, o nosso parque industrial é arcaico, ultrapassado, como por exemplo, das indústrias dos fármacos e automóveis, já que usamos as mesmas drogas e carros há mais de 60 anos. Porém o segmento que mais nos pune é o automobilístico, pois falidas, as grandes montadoras foram fechadas, legando às pequenas fábricas a produção de poucas peças de reposição, o que nos obriga a vasculharmos o mercado negro, pagando os olhos da cara por acessórios e equipamentos que há muito estão fora de linha.<br />
E essa é a realidade desalentadora, e estamos assim estagnados, à deriva, afogados em retrocessos, pois não há no Poder alguém de competência e que vislumbre a retomada do progresso, pois a temos como nave-mãe, Vilma Dirceu Inácio, a “Dama de Lata” a quarta "Presidenta" da nossa história, mandatária que naufraga nos fracassos da sua política e administração.<br />
A guisa de mero comentário e sobre o termo "Presidente" é bom não perdermos de vista o quanto se perde tempo com tolices improdutivas, pois ainda nos dias de hoje o termo confronta inteligências e gramáticos, lançando-os em acirradas e cansativas discussões quanto à propriedade ou não do uso, mesmo que a palavra marque lugar em centenários dicionários como o do Aurélio e Houaiss.<br />
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Retornando à questão da anticoncepção e em se levando em conta que os evangélicos, os xiitas e o pessoal do Bin Laden nada possam a ter com o peixe, é importante conjecturar a participação de outras potências, apesar de parecer insano a ideia deles mesmos decretarem a morte do homem em tão curto espaço de tempo. Porém alguns fatos corroboram, pois desde 2121 a Internet passou a ser fornecida e administrada por governos que se exacerbam em acintes moralistas. E é mais que vidente, no Brasil e com a Internet em mãos o primeiro ato foi o de ter acesso à todos os computadores e promover ações que visassem erradicar tudo que se relacionasse à sexo, exterminando assim sites de pornografias, sex shop, revistas de nus, ou outros que pretendessem (2o a visão deles) difundir material que corrompesse a moral e os bons costumes. Inclusive e a partir daquele ano os governos obrigaram as indústrias da computação a criar chips inteligentes que, uma vez instalados em PCs aniquilassem arquivos e mídias caso suspeitassem do conteúdo. Convém realçar que tal tecnologia foi desenvolvida não só para os computadores, mas igualmente para uma gama de equipamentos profissionais ou caseiros que tivessem por objetivo a gravação e reprodução em mídias, assim como são os aparelhos de DVDs.<br />
Enfim, foi refém desse e outros atos arbitrários que nos tornamos escravos do reacionarismo, expostos ao conservadorismo ideológico como os que acataram as diretrizes impostas por um movimento conservador denominado Tradição, Família e Propriedade (TFP) que atuou de forma mais incisiva em épocas distantes, algo entre os anos de 1960/70.<br />
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Part. V – A prostituta e os nossos velhos hábitos de sempre<br />
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E é neste contexto de tolhimento das liberdades, inclusive a sexual, aliado à população mundial que indica a proporção de uma mulher para cada grupo de três homens é que torna dificultoso relacionar-se com uma dona das boas. E quando surgem as que valham a pena somos capazes de nos engalfinhar por elas e por suas xotas, mesmo que estas sejam experientes e com longo tempo de estrada. E quando encontramos umas dessas mais novinhas de 60, aí sim nos deixam loucos e fazem-nos esmerar em gentilezas e desdobrarmo-nos em galanteios ao remeter-lhes buquês de flores caras e e-mails com conteúdo sensível e romântico, as vezes até com gravuras de gatinhos e ursinhos.<br />
E talvez pelos fatos narrados é que estranhem um sujeito de 82 como eu estar divagando sobre trepadas e mulheres. Entretanto há sim o motivo e ele é fundamental; O avanço da ciência médica foi tanto em épocas passadas que nos legaram poderosas drogas que nos mantém ativos sexualmente, mesmo que próximos dos 90 anos. E graças a essas maravilhas da medicina, agora não tão moderna é que posso usufruir de alguns prazeres, mesmo que em minha idade.<br />
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E como o assunto envolve sexo e prazeres não custa relembrar uma noite ocorrida no ano passado e em qual dei uma das melhores trepadas de minha vida. O seu nome era Judite e sobre ela só posso dizer que tinha 62 anos, bonita, mas que se prostituía camufladamente ao fazer ponto diante da Igreja Rosas da Vida. E a danada era esperta ao usar o disfarce de vendedora ambulante que comercializava num pequeno tabuleiro diversos artigos religiosos como medalhas, terços, fitas, crucifixos e outros amuletos, inclusive, penduricalhos que facilitavam e favoreciam o seu acobertamento.<br />
Recordo que naquela fria noite de junho Judite estava ao meu lado no banco do passageiro do automóvel ao entrarmos no estacionamento dum hotelzinho de quinta categoria. É certo que eu estivera por lá algumas vezes à custa de propinas, pois somente dessa forma é que conseguíamos um quarto, burlando assim não a lei do direito, mas a lei de fato, pois o flagrante de prostituição ou fatos que desaguassem nele constituía prisão inafiançável e eventual julgamento e pena judicial.<br />
Descendo do carro e conhecendo um antigo recepcionista do hotel me dirigi à recepção e lhe entregando os meus documentos paguei antecipadamente a diária juntamente do valor da propina. E sobre o suborno é sabido que têm o dom de deixar certos sujeitos em estado de tensão, principalmente os que estão sujeitos à fiscalização relâmpago. E foi a forma que se deu com recepcionista de olhar ansioso e preocupado, ciente que arriscava não só a sua a liberdade assim como a do hoteleiro que, provavelmente no lazer de sua casa nada devia saber. Assim que conferiu os valores Manuel enfiou a quantia do ágio no bolso da calça e me sorriu com dentes amarelados de nicotina, esparramando no sotaque português as suas recomendações:<br />
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-Olha gajo, cá muito me alegro por te ajudar a dares uma cacetada no bofe, mas peça à rapariga que se contenha nos delírios, pois há ouvidos espiões por todos os cantos e paredes do edifício. Gozar é bom, mas é preciso ter responsabilidade, cuides de mim para que eu possa cuidar de tu – Ao fim de suas falas professorais me liberou as chaves do quarto. Evidente, só me coube sorrir discretamente para o nosso universo de canalhices.<br />
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Certamente eu não desconhecia os motivos de sua preocupação, pois não foram poucos os hotéis tomados e seus donos e gerentes encarcerados por falta da comunicação oficial da hospedagem, ou que agissem de forma permissiva facilitando e contribuindo com os tramites da prostituição. Evidente, seria de total contra-senso não acolher os casais em hotéis, porém, a autorização só contemplava os pares amorosos que estivessem sob a égide da legalidade civil, fato possível de se averiguar após o registro e troca de informações via internet entre o estabelecimento e o órgão oficial do turismo. Sim, décadas antes qualquer mortal jamais imaginaria o arbitrário desses fatos, inda mais de ser a União a detentora de todas informações do indivíduo, mas, efetivamente era assim que funcionava.<br />
Com as chaves em mãos subimos para um quarto no segundo andar e abrimos a porta de número 21 e adentramos o aposento de três por cinco com um pequeno banheiro incluso. No ar rescendia o cheiro da naftalina, então retirei o meu paletó e o pendurei hum cabideiro próximo da porta de entrada. Estirando-me à cama procurei junto ao console da cabeceira os controles do radio FM e sintonizei uma estação que tocava exclusivamente Roberto Carlos, um dos imortais do cancioneiro popular. Sim, mesmo que não fosse do seu tempo eu me sentia sendo do dele, apesar de lá pra ter passado quase dois séculos. E outra coisa, Roberto significava para mim algo como Mozart representou para os amantes da música clássica. Bem, deixando Mozart de lado e um pouco mais descontraído aumentei o volume do rádio e ao som de “Eu sou terrível/E é bom parar” desnudei Judite.<br />
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Part. VI - Trepadas & Mentiras, Verdades e Constrangimentos<br />
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E ela, convenhamos, mostrou-se atraente apesar dos seios pequenos e flácidos, porém dona de interessantes curvas e duma tez que não trazia na região das pernas e do bumbum o inexorável estrago provocado pelo tempo e nem as visíveis estrias ou celulites tão próprias das garotas mais novas que ela. Com coisa levando à outra me despi também.<br />
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-Nossa, Mario! Como você tem varizes! – Ela disse ao reparar na parte inferior de minhas pernas. Olhei para elas, para o azulado delas e Judite tinha razão, pois minhas veias pareciam cortar a aridez dos desertos mexicanos com rios de alto relevo.<br />
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-Bem, sim, tudo bem.. mas, os seus peitinhos bem que poderiam ser mais atraentes, não é verdade? – Respondi com uma pergunta. Certamente as suas observações me deixaram chateado, afinal, aquela garota não teria relações com as varizes, mas sim com o meu membro.<br />
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Diante do questionamento Judite esboçou um sorriso amarelo, desenxabido, e eu me arrependi de ter falado sobre os seus peitos. Tentando quebrar o gelo retirei duas cervejas do frigobar e dei um gole na minha e abri uma para ela, e não foi sem espanto que a vi consumir a sua cerveja em míseros três longos goles. Peguei outra para Judite, e assim que ela se descuidou com o olhar meti para dentro da goela um “Potentus” um daqueles comprimidinhos azuis que operam maravilhas com nossas auto-estimas e veias que irrigam o pênis. Não, não seria por nada, ou algo de importante, mas a questão é que sentiria constrangido se ela me visse engolindo um daqueles, mesmo que depois houvesse nela a certeza que meu desempenho deveria creditado a uma dessas “bombas” da terceira idade. Estávamos indo pro fim da sua terceira cerveja e eu ainda no início da segunda quando deitei e abracei o seu corpo. Judite suspirou e procurou a minha boca e enfiou a língua e a espremeu na minha. Foi o suficiente para me excitar e o pênis içou enquanto ela remexia o seu sexo à procura de maior atrito. Repentinamente ele separa nossos corpos e olha para baixo e na direção do meu pau.<br />
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-Olha só, meros 17 centímetros? Que merda! – Ela exclama olhando para mim. O seu olhar parecia desencantado, pois foi extremamente fácil perceber. Ah, cadela filha da puta! - Pensei - A vendedora de araque deveria ter uma fita métrica tatuada no cérebro. Bingo, ela fechara a cartela! – Disse comigo, invocado.<br />
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Enfim, achava sacanagem constranger assim os seus clientes, e talvez ela me fizesse pagar um preço muito caro pela observação dos seus pequenos e flácidos seios. Porém aquilo não me desanimou, ao contrário, me incentivou, eu e o amigo Potentus, óbvio. E o pau latejou como nunca quando a penetrei e sorvi sua boca de todos os dentes, fossem eles falsos ou não. Dali pra frente eu a possuí como um animal, o rei da selva galgando sua Jane, de quatro, de lado, frente e verso. E Judite à princípio gemeu, suspirou, depois não mais se conteve e seus ais e uis denunciando prazeres ecoaram pelas paredes, atravessaram portas ao mesmo tempo que dispara o telefone do quarto:<br />
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-Hélou! Por favor senhor Mario! Peça à sua sirigaita que se expresse com mais moderação, pois ca ouço os gemidos da rapariga daqui donde estou na recepção! – Ele esbravejou. Ainda com o interfone no ouvido fiz um sinal para ela ao bater o indicador nos lábios. Judite sorriu, imitou o meu sinal e levantou o polegar da mão direita como dizendo; entendi, tudo bem.<br />
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Ficamos por ali enroscados e conversamos sobre algumas coisas e depois falamos de sua vida, e a dela era como as de tantas outras prostitutas que confessam miséria, culpam a separação dos pais ou a completa omissão dos familiares Ao ouvir o seu relato pensei por instantes que deveria existir cursos de prostituição, por debaixo dos panos, mas deveriam ter por objetivo convencionar a hora do "Beaba" daquilo que deveria ser dito ou não ao cliente.<br />
E ficamos ali tomando cervejas, fumando cigarros até que num momento o tesão aflorou outra vez e demos uma rapadinha, porém sem muito alarde dessa vez. Terminado, fui para o banheiro dar uma boa mijada e na volta retirei do frigobar duas pequenas garrafetas de vodca que se acomodavam ao lado das latas de refrigerantes e saquinhos de castanhas de caju. Achei estranho ver os saquinhos ali, mas talvez o português acreditasse que as castanhas se conservassem por mais tempo se mantidos em temperaturas mais baixas.<br />
Repentinamente estávamos carinhosos, e ela era divertida e eu começava a gostar do seu jeito e sorriso ao consumir a vodca. Terminadas, retornamos para as cervejas, e rimos bastante, e foi quando Judite quis saber de mais detalhes sobre a minha vida.<br />
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- E você, o que faz Mario? - Ela pergunta<br />
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-Trabalho com Van de transporte. Pessoas – Respondi.<br />
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-Deve ser muito trabalhoso, não? – Insistiu.<br />
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-Sim, muito, mas sozinho. Sou eu e o Guilherme – Respondo secamente. Bem, mesmo não gostando de falar de mim poderia ter mencionado que estava viúvo há 10 anos, e que Guilherme, de 61 anos, seria o meu filho, nascido quase um ano antes da degola dos pobres fecundadores e receptores de vida. Todavia acreditando que seria mais um motivo para especulações preferi omitir.<br />
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-Ah... com o Guilherme...sei, sei, que bom! Então vocês fazem lotação para levar as pessoas ao trabalho?<br />
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-Não, não exatamente! Fazemos ponto em agências do SUS, entradas de P.S municipais, estaduais, velório, cemitérios, principalmente em dias de finados, bailes da saudade e em igrejas que tenham missas dominicais, pois são os locais mais frequentados por pessoas acima dos 90, logo, o movimento é dos bons. Aliás, por falar em igrejas foi na Rosas da Vida que te conheci, lembras?<br />
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-É verdade, lembro sim! - Ela assentiu - Recordo que naquele dia tinha uns cinco ou seis querendo sair comigo, mas é que te achei tão simpático assim que se aproximou. Mas, espera aí! - Ela exclama num gritinho de dúvida - Como você soube que eu fazia programas? – Judite persiste me olhando com olhos de quem exige a resposta.<br />
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-Bem, há muito tempo transito naquela região e o suficiente para saber que todos que se aproximaram de você eram perfeitos garanhões. Inclusive correm boatos que muitos deles deram boas fincadas em algumas beatas do clube das Senhoras da Liga Católica. Portanto foi fácil, pois onde há fumaça há fogo, banana... macacos, putas...salafrários. A vida é enigma só para quem não sabe interpretá-la – Repliquei num tom divertido e olhar malicioso quando fomos interrompidos pelo som do celular, meu celular.<br />
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Part. VII – Odisseia sobre o país do futebol<br />
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Olho no visor e reconhecendo o número, atendo:<br />
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-Porra, menino, tu é foda mesmo! - Mesmo antes da pessoa dizer qualquer palavra, antecipo-me. Mas estava tão aborrecido que tive que continuar - Tu sabes que fico louco quando somes. Sabia que teus desaparecimentos me matam? Não faça comigo outra vez, por Deus! – Concluí num tom nervoso. Lógico que estava preocupado com ele, pois nas ruas estavam matando gente à troco de nada. Era estranho, afinal, como os velhos de hoje podiam ser tão ou mais agressivos que os jovens da minha juventude?<br />
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-Quem é? – Judite me pergunta. Ela permanece atenta à conversa e parece preocupada e me olha de um jeito estranho.<br />
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-É o Guilherme – Replico. Ela assente com a cabeça enquanto o meu filho continua, sempre tagarela.<br />
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-Desculpe pai, sei que deveria avisar, sei que não é comum dormir fora de casa, mas conheci uma loira da hora, talvez uns 67, artista plástica e olhos azuis, linda e os cambaus! Mas, tem outro lace... VELHOOOO! NÓS ESTAMOS BONITOS NA FITA! – Ele berra ao celular<br />
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-Bonitos? Com assim? – Pergunto<br />
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-Assim pai, eu recebi um e-mail da diretoria do Corinthians e eles querem assinar um contrato comigo. Pode? Eu nem sabia que o pai do Huguinho era um dos diretores e olheiro dos caras! – Ele exclamou, feliz. O meu garoto parecia um garoto como eu fora, tal o entusiasmo.<br />
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Aqui, e para que entendam m pouco da história, Huguinho, de talvez uns 62, era o companheiro do meu filho no ataque do time de várzea que jogavam. Mas o Huguinho jamais foi o craque, porém meu filho o era, tantas foram as vezes que o assisti, sempre se destacando com belos gols e jogadas inteligentes, refinadas. Entretanto desconhecíamos o fato que o pai de Hugo fosse um dos diretores do Corinthians.<br />
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-Pai? – Meu filho insiste<br />
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-O que foi Guilherme? Só falta afirmar que não vamos nos ver hoje! - Reclamo distanciando do futebol e de campos da várzea.<br />
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-Claro que vamos! Bora comemorar? Hoje é por minha conta, já que no meu aniversário de 60 no mês passado foi o senhor que pagou o churrasco. Olha...tem um lugar quentíssimo que um amigo me indicou. Ele disse que lá tem umas perrengas legais, cheias de espartilhos e perfumes. Vou te pagar a melhor delas, quer?<br />
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-Não, to fora! Estou com uma joia raríssima ao meu lado, talvez algo tão maravilhoso como você! - Replico com um orgulhoso sorriso de pai cravado no rosto. Judite me olha e parece não entender a conversa, mas sorri encabulada. Lógico que não contaria para ele e na frente dela os detalhes dos seus peitos flácidos, muito menos do tamanho do meu pau que não atingiu suas expectativas iniciais.<br />
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-Então está bem pai! Dormirei novamente na casa da loira e amanhã nos vemos lá pras nove da manhã, pois quero que o senhor vá junto negociar meu contrato. Ah... e conforme for vá pensando em se despedir de tua Van, pois o seu novo emprego será de empresário. Topas? Beijos –<br />
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-Claro que topo! Eu te amo seu filho da puta! Fica com Deus! E toma cuidado, principalmente com tuas pernas e pés! –<br />
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Em seguida desligamos e me enfiei na cueca samba canção e deitando as costas na cama acendi um cigarro e fiquei olhando para o teto, imaginando toda aquela questão. Judite se manteve distante do meu corpo enquanto eu matutava sobre Guilherme e o futebol. Está certo que o futebol de hoje era diferente ao dos nossos antepassados, pois ele é jogado em dois tempos de 20 minutos com meia hora de intervalo para o descanso. Mas mesmo assim reconhecia que o futebol era perigoso, era arma, principalmente para a faixa etária dos sujeitos que o praticavam, pois ativa a pressão arterial, sanguínea, acelerando batimentos cardíacos que, às vezes promovem infartos e AVCs, e outras causas menos devastadoras.<br />
Sim, não consigo me desligar das lembranças que dizem que não foram poucos os que pereceram dentro das quatro linhas, geralmente por fatos ligados ao coração. Também não podemos deixar de lado aqueles relegados ao esquecimento diante o acometimento das artrites reumáticas, bursites, gotas ou aqueles que prematuramente se aposentaram com sintomas das doenças que desafiam os séculos como o diabetes, Parkinson, Alzheimer, além do imbatível câncer como o da próstata e outros.<br />
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Porém não era o caso de Guilherme, não agora, pois o garoto é dotado de excepcional forma física, além de ter um coração de touro, afinal vaidoso como é jamais se descuida do corpo e dos periódicos exames essenciais.<br />
Entretanto, mesmo que haja o comprometimento médico ao prevenir e salvar vidas, há acidentes se multiplicando pelo país, principalmente nas estradas por motoristas sonados ou de reflexos lentos, ou nos ares com os aviões, comandantes, controladores de vôos com isentos de discernimentos precisos. Logo, o futebol, que é paixão mundial, também sofre com as mazelas dos transportes, das viagens, pois pra ganhar dinheiro, muito dinheiro, o jogador se vê na necessidade de atravessar oceanos e zanzar de lá pra ca e vice versa. E há sim casos onde eles ganham um bom dinheiro em nosso país, raros, diga-se, pois talvez o futebol seja o único segmento que permite alguém nascido em favela se tornar tão famoso como um dono de TV ou frequentar as festas do dono de um site milionário.<br />
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Part. VIII – A Europa reverencia o craque e a puta despreza Paris<br />
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Ah Guilherme! Que Deus te ajude e nunca desampare - Desejei comigo em pensamentos - Confio em teus pés e sei que eles no levarão à Londres, no Chelsea, ou à Madri, no Real, ou quem sabe em Barcelona, Milão, Frankfurt, até em Moscou, e por que não? Afinal a gama de milionários que mais investem no futebol é a russa, mesmo que não saibamos da onde surgiram essas incontáveis montanhas de dinheiro...<br />
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-Ah Guilherme, eu te amo, mas, por favor, quero mais, me dê mais! É justo, e quero estar com você em Paris, no Saint Germain. Quero e vou estar com você barbarizando a Europa! Sei que veremos o brilho da Cidade-Luz, a apaixonante Torre Eifell e suas milhares de lâmpadas que fazem a noite parisiense cintilar como milhões de insones vaga-lumes. Ah, eu quero poder sentar à calçada de bistrôs nas tardes de verão e degustar em cálice de cristal o mais puro vinho produzido das melhores parreiras do universo – Repentinamente sou acordado pelo som da minha própria voz juntamente ao da válvula de descarga sendo acionada. Olho para a porta do banheiro e surge Judite. Firmando as vistas reparo que está totalmente vestida e retoca a maquiagem diante do espelhos de um desses pequenos estojos maquiadores.<br />
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-O que foi meu anjo? Que aconteceu? – Pergunto, aturdido, pois no meu delírio com os times e países da Europa perdi-me dela e não dei conta dos seus movimentos pelo quarto. E ela continuava me olhando, e seus olhos eram duro e cruéis e seus lábios tremiam quando sambou um carnaval de insanidades.<br />
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-Que foi...o que foi? Ora homem, tem coragem de perguntar? Justo você, uma biba enrustida?<br />
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-Mas, como assim? - Questionei assustado com sua agressividade, e sem saber ao que se referia.<br />
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-Como assim o cacete, Mario! Eu falava com você e você nem me ouvia. De repente iniciou frases estranhas, do tipo “Ah Guilherme, eu te amo, mas, por favor, quero mais, muito mais” Ora! Isso só pode ser coisa de homossexualidade na terceira idade,! Terei que desenhar? – Dito, pegou a sua bolsa, enfiou o estojo de maquiagem dentro dela e deu duas batidas de saltos de sapatos ao chão enquanto eu tentava explicar, impressioná-la com certa dose de romantismo e fineza. Eu não a deixaria ir embora tão facilmente.<br />
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-Soyez calme putain belle ! Vous emmène à connaître Paris , la ville du monde . Vous faites une grosse erreur! - Ainda tentei<br />
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-O que? Que tem essa porra de vila do mundo? Pensa que vai me enrolar com essa conversinha cheia de mimis? Vá te catar cara! E outra coisa seu merda...não precisa pagar porra nenhuma. Saiba, tive nojo de ter transado com você! – Judite esbravejou. E foi assim que ela bateu a porta de número 21 e nunca mais a vi pelas imediações da Rosas da Vida ou de qualquer outro canto.<br />
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Depois, sozinho à cama e analisando os acontecimentos foi que percebi que gastei inutilmente com ela o assimilado em quase dois anos de estudo e nos mais de 50 DVDs recebidos do Correios, referentes ao curso de francês por vídeo correspondência. Enfim, era tão incontestável sua precipitação e eu só queria que suas agressões cessassem e que soubesse do equívoco que estava cometendo. Aliás, eu poderia querer bem mais que compreensão, pois tinha me afeiçoado a ela, e talvez num futuro próximo estaríamos em Paris, e sairíamos para compras, e depois, de mãos dadas perambularíamos pelas ruas da Cidade Luz. E havia urgência, já que a morte me que riria, e ela galopava à patas largas em minha direção, mesmo sabendo que estava concedendo algum tempo para mim. E antes que ela chegasse e me pegasse de calças curtas e num estágio bem mais avançado onde urinóis permanecem sob as camas e dentaduras amanhecem sobre as mesas de cabeceiras levantei e fui ao banheiro onde a ducha quente dum Lorenzetti me relaxou o suficiente, e eu cantarolei "C'est la vie, c'est l'amour" uma das frases de uma canção do igualmente imortal Charles Aznavour.<br />
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Todavia o imortal francês não durou muito - "Ah sua filha da puta, bicha enrustida, é?" - Relembrei no exato momento que meus olhos arderam ao serem atingidos pelas espumas do sabonete. - "Você já era! Não reclame, teve a sua oportunidade nenê" - Exclamei em alto som e injetei a língua para fora como se fosse um garoto birrento. A puta camuflada de vendedora de badulaques religiosos zombara da chance para uma vida melhor, e talvez continuar vendendo a sua xoxota lhe fosse a sina. Ainda revoavam em minha mente as suas mentiras e a grave difamação enquanto a água continuava escorrendo pelo corpo. Olho para o alto e os minúsculos furos do chuveiro ejetavam água em meus olhos, e Paris outra vez me captura os devaneios e eu penso nas mulheres, nos milhões delas espalhadas por aí, perdidas em filas de ônibus, metrôs, nos caixas de supermercados, aguardando em bancos, esperando a vez nas ante-salas dos geriatras, oftalmologistas, dentistas e outros tantos lugares. E quanto mais penso nelas mais me convenço que não preciso de todas elas, mas apenas uma, da boa, quem sabe até parisiense, uma que se entrelace em minhas pernas, me olhe com doçura e sussurre em meu ouvido um "bonne nuit mon amour". Sim! E por que não? Paris! Paris! Paris! Paris me enamora e talvez as suas mulheres me aguardem, e mesmo que não me queiram sempre haverá as prostitutas, provavelmente mais charmosas, educadas e compreensíveis.<br />
De banho tomado volto para o interior do quarto e vestido abandono a porta 21 deixando a toalha molhada sobre o ordinário edredom da cama. Desço para a recepção e acerto com o recepcionista o consumo do frigobar. Antes de sair me chama a atenção a lapela do paletó de Manuel, pois vejo nela algo que não estava ali ao chegar. Olho mais atentamente para a figura estampada no pequeno botton e não distingo o canonizado que exibia acima da cabeça uma circunferência luminosa.<br />
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-Que santo é esse, Manuel? - Pergunto para ele com o olhar fixado no pequeno broche alfinetado<br />
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-Ah, este a ca é meu santinho Padre Cícero! - Ele exclama satisfeito num mesmo momento que acaricia o botão - Ca sou eu muito devoto desta santidade, sabias que ele nasceu no Rio Grande do Sul?.<br />
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Tive vontade de gargalhar, porém me contive e apenas sorri e depois lhe disse um "Até a próxima". e ele me retribui.<br />
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Judite além de ser uma prostituta caluniadora era também dotada de ignorância e vigarice por vender gato por lebre, pois o brasileiro Cícero Romão Batista, popularmente conhecido pelas bandas do nordeste como Padim Pade Ciço, além de não ser santo, portanto não canonizado pela igreja, fatalmente jamais fora gaúcho, cearense de nascimento que era.<br />
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Copirraiti12Abr2013<br />
Véio China©<br />
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<br />Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-59941890432392117752013-02-20T04:27:00.002-03:002014-01-08T23:39:24.057-02:00Atrás de cada cavalo sem dente sempre há um bom motivo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAOI-RtFbIjoiSuyAst64dA4hY-5CxiJzNVIlowzJarjKxrcs4HOg5lpRaIb5Liz1bFxzGS8hhWv47OmIHc9NVpyUdX2A7i7Ah_XcKkanKAyFnz26jR0nhPko2HINRj7NhjaMZLXtvPZyz/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAOI-RtFbIjoiSuyAst64dA4hY-5CxiJzNVIlowzJarjKxrcs4HOg5lpRaIb5Liz1bFxzGS8hhWv47OmIHc9NVpyUdX2A7i7Ah_XcKkanKAyFnz26jR0nhPko2HINRj7NhjaMZLXtvPZyz/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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Enfim havia chegado o grande dia. Coloquei meu melhor terno, caprichei o gel nos cabelos grisalhos sem me esquecer de aparar a barba e decorar o rosto com inseparáveis óculos Ray-Ban safra 81.<br />
Saí de casa exatamente as dez pras oito da manhã e faltando 25 minutos para as nove guardava o Weekend 98 num estacionamento da Av. Paulista que me cobrou 30 pratas por duas horas, apesar de usar pouco mais da hora cheia. Saindo da garagem facilmente encontrei o edifício, próximo dali. Tomei o elevador e pedi o 33º andar. Ao descer percebi que o pavimento se ocupava totalmente pela empresa que visitava. Pontualmente as quinze pras nove adentrei a recepção e fui atendido pela secretária que me acolheu com simpatia e pediu para que me a comodasse no sofá defronte de sua mesa. Assim procedi e ela me olhou algumas vezes pelos poucos mais de 10 minutos que permaneci ali.<br />
Claro, o fato de olhar com frequência me instigou, porém fiquei mais tranquilo ao inspecionar o terno que parecia não trazer sinal de sujeira ou manchas de gordura. Pensei no motivo de suas flagradas e divaguei se a sua curiosidade deveria ser creditada à minha feição amassada e o nariz largo e achatado adquirido logo após a juventude ao meter-me nas lutas de boxe.<br />
Evidente, à época eu gostava de ouvir aquilo que me acariciava o ego, portanto, iludido pelo dono da academia e seu sócio, talvez mais interessados nas mensalidades que em mim, foi que me fizeram acreditar que eu seria um ótimo lutador. É importante lembrar que no início obtive alguns bons resultados em torneios amadores, mas a verdade surgiu nos quase cinco anos de profissionalismo e numa última luta me inutilizou para o boxe devido a um deslocamento de retina. <br />
Enfim, uma triste história em cima dos tablados que me deixou de herança socos que devastaram o meu rosto com jabs, cruzados, diretos e pontas de queixo desferidos por adversários que não desperdiçavam chances assim como um caçador sabe que não pode errar sua última bala diante do leão que se aproxima.<br />
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-Sr. Norman, por favor! – Às nove horas em ponto a secretária me rapta das lembranças e nocautes solicitando que a siga. Incontinenti iço o meu corpo de mais de 90 kg do estofado de couro e acompanho seus passos que seguem à minha frente.<br />
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Mesmo sendo pouca a distancia me era possível apreciar naquela moça a graciosidade dum corpo de cintura fina, rabo generoso e um grosso par de coxas. Talvez não fosse exatamente moça na exceção da palavra e sim uma bela mulher na faixa dos 31 ou 32 anos. E ela seguia à frente deixando atrás de si a suavidade dum perfume adocicado, desfilando sua elegância no conjunto de saia e blazer em tons de cinza combinando com a blusa branca em voil e um lenço vermelho de seda que, contornando o pescoço sacramentava nela o enigmatismo das musas do cinema dos anos 50. Eu persistia observando o seu caminhar de glúteo acima, glúteo abaixo sem poder negar-lhe o estilo e a elegância das roupas de boa marca, equilibrando suas poderosas pernas em delicados sapatos de salto agulha.<br />
Continuei seguindo a magia daquelas nádegas quando dobrando à direita atravessamos outro extenso corredor e no final dele ganhamos um luxuoso escritório de áreas parcialmente envidraçadas. E ao entrar na sala, sentado numa confortável poltrona estava um sujeito com um sorriso de Gugu Liberato. Eu seguia em sua direção observando com os cantos dos olhos o mobiliário local de arranjo quase futurístico, principalmente sua mesa de trabalho em aço escovado onde o tampo de Blindex deixava visível as pernas da calça do seu terno azul marinho. Como sempre eu fora afeito a comparar coisas e pessoas, instantaneamente os detalhes da sala me fizeram recordar o escritório de George, do seriado "Os Jetsons" personagem dum antigo desenho animado da década de 60 onde o futuro dizia estarmos no ano de 2062 ou coisa parecida.<br />
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Evidente, ainda moleque à época imaginava se o futuro seria exatamente aquele apresentado pelos criadores da série e se haveria tanto progresso que nos fizesse voar naquelas pequenas naves espaciais que lhes eram o meio de transporte. Anonimamente sorri dessas recordações ao olhar para a enorme vidraça que, às costas do executivo completava aquele lado da parede. Impressionado com amplitude da visão e os prédios mais baixos que nos cercavam procurei vestígios de naves espaciais estacionadas do lado de fora, e outra vez sorri das minhas fantasias de garoto. Sim, fato, e novamente sorri anônimo, agora para uma fase púbere onde imaginei Sandra Brea sendo a minha namorada, pois me marcou a sensualidade de sua participação na novela "O bem Amado"<br />
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-Senhor Norman... - Outra vez fui acordado por uma voz que não era da secretária.<br />
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Retornei o olhar para o interior da sala e concentrei-me no homem que pronunciava o meu nome e prestei atenção na parede ao lado da vidraça, e ela ostentava um quadro com um diploma da FGV, trazendo logo abaixo uma placa retangular contendo letras negras e em alto relevo. Firmei as vistas e li com clareza:<br />
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Jefferson Augusto Maneiro<br />
Vice diretor executivo<br />
Ficci Buk & Corporation<br />
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Agora eu sabia com quem falava, porém, para ser sincero nem supunha por que fora sondado para aquela reunião, afinal, mesmo sendo usuário eu era de fato num dos mais ferrenhos críticos do Ficci Buk e seus métodos alienantes. A princípio Gugu me estendeu a mão e eu retribuí a um mesmo tempo que nos apresentávamos. Foi estranho sentir seus dedos apertando os meus, chacoalhando-os no ar como se fossem eles uma dessas britadeiras que perfuram asfaltos. E aquilo me parecia ridículo e nossas mãos continuavam tremulando até o instante que, percebendo o descabimento soltou-se dos meus dedos.<br />
A secretaria bonitona ainda continuava às minhas costas quando o sujeito num aceno de mão me pediu que sentasse numa das poltronas defronte à sua mesa. Entrei pelo vão de uma delas e escolhi a da esquerda por natural aversão a tudo que era de direita. Acomodado, olhava para aquele seu sorriso de animador de auditório quando gentilmente pergunta:<br />
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-Bebe alguma coisa, Sr. Norman? - Acomodava-me ainda mais à poltrona e encaixando a bunda no assento, respondo:<br />
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-Sim, uma dose de uísque, por favor! – Pigarreio levemente puxando a bainha do paletó para que não entrasse Nas nádegas. Ele me olhou surpreso.<br />
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-Desculpe Sr. Norman, mas não temos bebidas alcoólicas aqui. Mas há águas e sucos naturais. Aceita um de caju, manga... – Oferece solicito.<br />
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-Não, obrigado! Teriam água mineral com gás? – Ele me olha sem surpresa e consente num meneio de cabeça. Por instantes penso sobre a isenção de bebidas alcoólicas nos escritórios, e se não seria a falta delas a responsável por boa parte das idéias tacanhas e sem criatividade dos executivos – Concentro-me pouco mais na questão, e naquele caso eu tinha a certeza que sim.<br />
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-Dona Mariana, água com gás para o senhor Norman e suco de caju para mim. Traga a senhora mesmo, pois me pareceu muito atabalhoada essa nova copeira.<br />
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-Sim senhor! - Ela responde, e se preparava para a retirada quando o sujeito lembrando-se de algo esquecido exclama se dando um leve tapa na testa<br />
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-Ah sim, por favor, nada mais que doze gotas de adoçante, certo? – Ele instrui num tom afetado, afeminado, ao qual a secretaria acusa num discreto sorriso.<br />
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Outra vez olho para ele e dessa vez com certa desconfiança. Imediatamente penso em sua afetação e conjecturo se o afrescalhamento não era causado por uma austera educação na infância, a estreita convivência com irmãs, ou demasiadamente com as pessoas do sexo oposto. Talvez não fossem esses os motivos e nem houvera irmãs e amigas, e sim apenas uma juventude enclausurada e distantes dos divertimentos, desses onde a falta de permissão se sacramentam nos decretos matriarcais ao suporem o mundo como um Lobo Mau abocanhando suas incautas e inocentes crias. Evidente, por mais que não quisesse assim tive que concluir por ter conhecido alguns casos onde o idêntico o dano foi provocado pelo exagero dos mimos caseiros, pais tratando seus fedelhos por “filhinho” mesmo que esses sujeitos já estivessem com barbas nos rostos e consultórios médicos para sustentarem. Entretanto, mesmo que se aplicasse a Jefferson nada eu tinha a ver com esse passado que, só me servia apenas para divagações. Tão logo a secretária saiu à cata das bebidas ele voltou a sorrir como um dos animadores dos programas de domingo. Ainda incomodado pelo olhar exaustivamente cravado em mim retribui com discreto sorriso enquanto ele ajeitava o nó da gravata desvendando os motivos que fizeram eu estar presente naquela sala:<br />
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-Bem, Sr. Norman chegou ao nosso conhecimento que é um dos usuários mais descontentes com o Ficci Buk. E ter cliente insatisfeito é fato que não só entristece, mas nos preocupa. Primeiro, é inquietante não estarmos atingindo o topo das nossas expectativas, já que rotineiramente o senhor escreve crônicas e pequenos contos dando conta do quanto estúpidos somos. Segundo, porque gostaríamos de saber o que pensa exatamente e naquilo que poderia oferecer de colaboração para progredirmos, melhorarmos... e...<br />
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Estrategicamente ele fez a pausa quando fomos interrompidos pela secretária carregando a bandeja inox repleta de bebidas Assim que a moça colocou a peça sobre o tampo de vidro olhei no interior e lá estava o suco de caju e a garrafa de 500ml de água, além de dois copos de cristais e um par de guardanapos dum tecido alvo e encorpado. Com gestos delicados Mariana despejou parte da água em meu copo e depois serviu o chefe.<br />
Retirei o copo e um dos lenços da bandeja e fiz careta ao sorver um profundo gole que fez arder a garganta. Jefferson Augusto sorriu da minha feição e com alguma sutileza deu o trago inicial no suco. Eu apenas o olhava e continuava bebendo a água em pequenos goles a fim de evitar novas contrações faciais quando, suavemente recolocou seu copo sobre o tampo no instante que a secretária batia em retirada a caminho da recepção. Agora foi a sua vez de pigarrear, e ele retomou o assunto interrompido:<br />
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-Sr. Norman, sejamos sinceros, não vê nada de bom em nosso Ficci Buk? – Olhei para ele com algum desinteresse e pensei no quanto aquela conversa poderia se tornar desgastante. Pigarreei arranhando a garganta numa tonalidade exagerada, digamos, até desagradável, e desembuchei:<br />
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-É, pois então, assim como estava falando Sr. Clerderson, acho que o Ficci Bu... – Mal iniciava a fala quando fui interrompido por ele. Definitivamente aquele era um sujeito insensível com as frases do próximo, porém dono de oratória obstinada:<br />
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-Não é Clederson, é Jefferson - Ele me corrige e depois continua - Sabe Norman, desculpe-me tê-lo interrompido, talvez ao ser leigo no assunto não perceba a dinâmica e a diversificação, o fátuo dos interesses que envolvem tanto a corporação como os seus usuários. É mais que certo que não tenha se derramado às questões e por consequência não sabe o que e como pensamos. Porém tenha a certeza que o Ficci Buk não é apenas um mero site de relações e entretenimentos assim como a grande maioria que existe por aí – Foi nesta parte do discurso que aspirou profundamente e continuou:<br />
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-Definitivamente Sr. Norman, não é assim que o tomamos, pois temos o Ficci Buk como o fator mais importante para a aglutinação dos internautas do mundo todo. Portanto já sendo o número um pretendemos nos tornar algo mais, um novo estilo de vida assim como foi o sonho americano, nos queremos interminável, algo que se assemelhe à revolução cultural dos nos 60, principalmente a mais fulgurante delas, a de Liverpool promovida pelos quatro Beatles - Ele disse num tom entusiasmado e eu sorri discretamente. Talvez o danado do Jefferson pretendesse ser a reencarnação tupiniquim de Brian Epstein, o lendário empresário dos quatro cabeludos. Mas pelo jeito ele não intencionava parar por ali, ah não... então continuou:<br />
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-E o por que queremos revolucionar é o que deve estar se questionando, não é mesmo Sr. Norman? - Ele insistia nos argumentos e olhava para mim crente que causava grande impacto. Depois se assentou num tom de veemência sindical: Ora bola, muito, demasiadamente simples! Porque tanto quanto hoje naquele momento o que o jovem repudiou foi o arcaísmo e a prosaica forma de viver e pensar o planeta azul... - Foi justamente nesse outro ponto que Jefferson promoveu outro intervalo. Era estranho, mas agora algo em sua voz soava à Cássia Eller:<br />
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- Veja Sr. Norman, a contemporaneidade muito deve aos Beatles, pois suas influências são inegáveis e o processo iniciado nas terras da rainha ensejou mudanças, o mundo mudou de mãos, cedeu o poder, deu voz ao novo e articulou a juventude planetária em torno de seus ritmos e idéias... - Com Jefferson era sempre assim, dava suas pausas, porém jamais esquecia entusiasmo dos seus comícios. Eu olhava para ele e desta feita ele me pareceu impaciente ao perguntar:<br />
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-Sr. Norman assistiu a um filme dos Beatles chamado “Os reis do iê, iê, iê”?<br />
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-Não, não assisti - Devolvi de forma lacônica. Óbvio, eu tinha visto o filme, mas supondo que ele usaria os argumentos da fita com o intuito de me evangelizar, neguei.<br />
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Na verdade eu assistira o filme na televisão, e não somente esse, mas outros dos Beatles que, em minha opinião eram bem piores do que comentávamos. Certamente Jefferson jamais entenderia o fato de achar o tal do "Os Reis do iê, iê, iê" um filme pra lá de imbecil e que apenas se propunha a registrar hordas de garotas alucinadas, gritando e perseguindo os pobres diabos sem dar-lhes o tempo sequer de uma boa mijada. Mas, a impressão que tive era de que os produtores pretenderam demonstrar os excessos histéricos e o quanto eles nos tornam irracionais. E o festival de psicopatias não terminava ali, e então vinham outras cenas com as garotas ululando tal hiena, arrancando cabelos, perdendo saltos e sapatos em ruas e vielas, deixando partes de saias e vestidos em grades de ferros, só para terem a oportunidade de triscarem suas unhas vermelhas nos terninhos bem comportados dos rapazes, ou ao menos, nos vidros Ray-Ban das limusines que os transportavam... Portanto ciente que Jefferson não veria com os meus olhos, achei melhor omitir.<br />
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-Pois é Sr. Norman! - Ele prosseguiu - É pena, pois perdeu uma obra de arte e o quanto eles influenciaram gerações, já que suas canções impressionavam pelo novo estilo musical, a verve em suas composições, algumas até de pura poesia, enquanto outras, num plano contestador inquiriam o conservadorismo dos costumes e valores daquele momento. Talvez não tenha percebido à época, mas era como se dissessem a nova e casta juventude; Hey! Vocês são os novos reis do mundo! Saiam por aí, pois o planeta é todo vosso! - Está certo, poderão alegar que nem tudo foi perfeito, pois havia o muro de Berlim, Mao Tse-Tung na China, e a Rússia, através de Cuba, apontando seus mísseis para o coração dos Estados Unidos, mas...<br />
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Foi nesse instante que se deu outro habitual intervalo em sua conversa, demorado dessa vez, reflexivo até.<br />
Eu continuava olhando para ele e os olhos de Jefferson pareciam perdidos no nada - Jesus Cristo! O homem além de ser um fanático pela biografia dos Beatles, talvez estivesse louco, ou no melhor das hipóteses ainda mantido sob o efeito das ervas ingeridas nos seus tempos de FGV - Tive que concluir.<br />
Eu continuava olhando para ele e Jefferson permanecia calado, distante como um desses roteiristas que não lembram o próprio enredo. Porém eu estava enganado, e ele ressurgiu como um desses pregadores que solapam o mundo, esses que jamais desistem de abocanhar fatias que não são deles. Ele era um bravo e seguia adiante:<br />
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-Sim, Sr. Norman! Eu sei o que deve estar se passando nessa sua mente de escassa informação - Disse para mim ajeitando seu corpo à poltrona, olhando-me com imponência, assim como se fosse o mago das premonições - Provavelmente, Jefferson sofria de prepotência e ansiedade - Pensei - O que eu gostaria era dar um safanão naquele sujeito, absorvê-lo das nuvens. Porém eu estaria fadado ao fracasso, pois Jefferson era um demente, apesar de que os dementes também não desistem.<br />
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-Então é isso! Fique atento, é tão fácil perceber Sr. Norman! O que pretendemos é causar a verdadeira revolução dos hábitos e costumes do século 21. Entende a plenitude das nossas intenções? Pode perceber a abrangência cultural que estamos nos propondo? - Ele persistia nos olhos arregalados e gestos bruscos no irrequieto conjunto dos braços e mãos.<br />
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Apreensivo e receoso que Jefferson pudesse ser acometido de algum infarto, olhei para ele e para aquela situação de gesticulação estapafúrdia, mas natural, e cheguei à conclusão que se ele fosse lançado ao mar e conversasse consigo mesmo nadaria tão lépido que alcançaria o Porto Galinhas antes do horário de almoço do dia seguinte. Entretanto, mesmo que pesando a pujança da retórica, suas colocações me pareciam confusas e incompreensíveis. Sim! Jefferson provavelmente fora lobotomizado, e agora pretendia desforrar, e aquilo me irritava profundamente. Claro, deveria ter me calado, ficado quieto, porém quando dei por mim as palavras já não pertenciam à minha boca:<br />
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- Bla bla bla! Que diabo você está falando, Jackson? Quanta perda de tempo com esses fatos nostálgicos, inclusive porque nem os vivenciou! – Ruminei - Só está te faltando me dar a ciência com voz de Heron Domingues do assassinato de John Kennedy ou das mirabolantes jogadas do melhor time que o Harlem Globe-Trotters montou, e isso no Ginásio Ibirapuera em fins de 65.<br />
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Verdade! Aquele sujeito era mala e me dava nos nervos. E sei lá, mas os fatos dum passado morto e enterrado me eram o chute dum sapato 48 nas bolas do saco. Absurdos também eram seus bordões cheios das nove horas e uma linguagem executiva lastreada em argumentos que, funcionariam espetacularmente com os caras da sua tribo, porém, não comigo. Para ser bem realista, ele nem percebeu o quanto a minha resposta trazia de inconformismo, mas não se esquivou à minha nova confusão com o seu nome.<br />
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-Jackson, não. Espere aí! Jackson, não!... Jefferson Augusto, já lhe disse tantas vezes Sr. Norman, tantas vezes! – Respondeu com a feição fechada. Depois chacoalhou os dedos da mão direita no ar como num passar de mãos nas nádegas do vento, incentivando minhas observações. Foi o suficiente para entender o seu recado, e fui franco e honesto:<br />
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- Muito bem meu jovem! Já que te parece tão relevante a minha opinião, então aqui vai; Acho o Ficci Buk o maior incentivador e veiculador das boçalidades que boa parte dos homos-sapiens são capazes de produzir.<br />
Sim, entendo que há e haverá exceções, pois também há vida inteligente, apesar de muitas delas se renderem à futilidade, mas também há sujeitos de fantástica criatividade, e tenha a mais absoluta certeza; estes jamais darão a face aos bofetes e nem farão marcha atlética à beira de precipícios.<br />
Entretanto a vida inteligente não é regra, é exceção, pois ao criarem esse monstrengo foi como se abertas fossem as porteiras do absurdo para uma carente manada humana, ávida por espaços e meios onde possa sobressair e transbordar inteligências, além, óbvio, os dotes artísticos...<br />
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Como assim? Não estou entendendo onde quer chegar - Ele me interrompe. Olho para ele friamente e reinicio:<br />
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-Calma rapaz, já saberá, já que no frigir dos ovos a tua empresa deu luz a um descomedido teatro de horrores, e somos nós os seus melhores atores, e trabalhamos para vocês gratuitamente e fazemos do fantástico Ficci Buk algo onde se vive alguma verdade, mas há uma imensa parte de desajustados e enganadores, e o que vejo sim são poucas e boas ideias, mas o que vinga são as boçalidades, e o todo se une e digladia entre si. Para mim o espaço que dão a cada um de nós, usuários, é a possibilidade de escrevermos um livro que qualquer editor jamais publicaria, e então temos que escrever, escrever, pois não nos reconhecem, e aí nos vingamos, e não importa se sujemos as linhas com nossas merdas ou as deixemos incólumes ou perfumadas duma fragrância francesa...<br />
<br />
-Ah, então o senhor é contrário à criatividade individual? - Novamente ele interrompe abortando meus pensamentos. Minha irritação se torna previsível.<br />
<br />
-Hã? criatividade individual? - Devolvo. Provavelmente meus olhos devem tê-lo fulminado. Então continuo: Criatividade individual é o cacete! E vocês nada mais são que a parte diabólica de tudo isto,! Então esmeram no layout e nas novidades tecnológicas, e nos hipnotizam e nos dão espaço para colocarmos fotos, nossas e de nossos parentes, carros, gatos, cachorros, carros, fotos de nossos filhos isentos dos dentes de leite belezas, e todas outras que a criatividade individual consegue imaginar! Sim, talvez até haja alguma validade em preenchermo nossa ociosidade com sentimentalismos e singelezas, porém não paramos aí, e extrapolamos e preenchemos novos vãos com imagens estapafúrdias e tantas outras aberrações, e ainda insatisfeitos forramos nossas linhas do tempo com babaquices, as quais muitos julgam o top da criatividade, como dissessem para quem os leria: Hey, veja como impressiono! Puderam alcançar a jogada? Conseguiram captar a genialidade do meu sarcasmo, e como posso ser mais descolado que vocês?<br />
Sim meu ami....<br />
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-Mas, mas - Novamente ele aborta as minhas falas. - Foi demais para mim.<br />
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-Mas, mas...é o cacete! - Ele se assustou com minha reação e se calou. Continuei: E para mim são essas as fatias maiores deste bolo chamado Ficci Buk, e vocês estão furtando a vida das pessoas, já que navegam pelo teu site por horas a fio, sem almoço, janta ou mesmo um tempo para o namoro ou uma boa trepada. Uns até deixam de trabalhar e outros até perdem o emprego, e é isso que lhes devemos, pois ao criarem esse troglodita infame devem ter pensado em nossas carências e nas porções do ego que também nos compõem. Entretanto meu jovem, vacina de graça só é dada em posto de saúde, portanto o Ficci Buk foi criado com a finalidade de ser um negócio rentável, hoje aliás, mega milhardário. Portanto moço...não me venha com essa história de que para vocês o que importa é a interação. pois é mentira deslavada, é balela da grossa, é poesia de anjo que faz o demônio gargalhar.<br />
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-Como assim Sr. Norman? Outra vez não estou compreendendo onde o senhor está pretendendo chegar. Não nos consideramos um.. negócio - Ele justificou-se, mas não com tanta firmeza. Evidente, o Ficci Buk tinha as suas espertezas, e aquele era o momento de espetá-lo<br />
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-Como assim.. eu vou dizer. Ao iniciarem o site vocês bancavam gratuitamente a totalidade das publicações dos usuários nas páginas dos amigos. E agora? Agora simplesmente não bancam mais, já que os meios de comunicação dão conta que estão restringindo o acesso às informações, propondo valores para aqueles que, não vivendo longe dos holofotes queiram ter suas patacoadas lidas por maior número de pessoas. E se assim o fazem é na suposição que este planeta caótico e absurdo está cheio de otários e a carência da raça humana é tanta que não prescinde da atenção, nem que seja necessário pagar por ela. Enfim, vocês são uns belos aproveitadores...<br />
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Neste momento a pausa foi minha, pois realmente não tinha a intenção de continuar aquela conversa inócua. Claro, talvez eu tivesse sido ranzinza e inflamado como são esses sujeitos que discutem o time do peito nos botecos das esquinas - Paciência - Porém, Jefferson não desgrudava os olhos de mim numa expressão aturdida, talvez estivesse arrependido de propor a entrevista, e a qual pensei que pudesse declinar algum convite de emprego. Sim, e por que não? Talvez a análise detalhada do meu perfil ensejasse o envio do e-mail onde dizia que, em aceitando, deveria agendar dia e horário para a reunião. Ali, ainda constava o nome e o telefone da pessoa que deveria ser procurada. E foi o que fiz, e falei com dona Mariana, apesar de não me fornecer qualquer informação sobre os motivos do convite.<br />
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E assim ficamos lá olhando um para o outro sem saber a razão de comparar aquele sujeito dos seus trinta e tantos anos ao Fernando Collor de Melo, além das mencionadas semelhanças com Liberato e Cássia Eller. Talvez tenha sido a sua compleição atlética adquirida em academias, ou o mesmo penteado de cabelos repartidos ao meio. Sim, talvez tenham sido aqueles os fatores. E com Jefferson me levando a Collor foi impossível não relembrar a delirante atuação do ex-presidente “daquilo roxo” e de quanto o brasileiro sofreu humilhações provocadas por ele e seus asseclas. Evidente, se há palhaços no Poder Central, no Senado, nas Câmaras, e por aí afora, por que não estender a estupidez para um plano mais globalizado? Então deixe vir esses sites de relacionamentos como o H5, Badoo, Orkut, Ficci Buk, certamente os dois últimos os gigantes do ramo. É óbvio, o Orkut está em baixa, pois talvez tenha estagnado no tempo, algo comparável a hoje como se Hitler e seu bigodinho mofado estivessem zanzando pelas dependências do McDonald á procura de alguma McOferta.<br />
Já o Ficci Buk não, o Ficci é moderno, jovem, interface gráfica avançada e, de tal forma que, resguardadas as devidas proporções mais lembram os efeitos especiais de George Lucas para os filmes de Steven Spielberg. Sim, não discordarei dos fatos, porém o Ficci não desmotiva e jamais desmotivará a idiotia que pode haver nas pessoas, pois opostamente ela incita e muitos de nós adoramos parecer imbecis, se agarrando uns aos outros como as criaturas siamesas.<br />
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E deixando o Ficci de lado e retornando às vacas gordas da política nacional, creio que a grande massa se cansou de parecer “politicamente correta” num tempo que ser “politicamente correto” traduzia algo aceitável e compreensível. E não me venham falar em partidos conservadores, progressistas ou radicais. Muito menos em agremiações de direita, esquerda, centro, pois ao que me lembro jamais vivi de moderações, e fui um esquerdista ferrenho num tempo onde a jingle “Olê olê olê ola, Lula, Lula” e aquilo me emocionava e arrepiava os pelos do meu saco. Sim, na primeira eleição o barbudo perdeu para Collor e as vergonhosas montagens da emissora do Marinho. E eram verdadeiras as aspirações do povo e os anseios por ética e decência na política, tanto que não nos perdemos numa nova oportunidade e elegemos o “companheiro”. E naquele momento o país havia sido entregue para um homem do povo, operário, um líder carismático e aglutinador das massas, ele sim talvez o prometido Messias, o cirurgião a extrair os nódulos malignos da nação, impondo ética, ceifando a canalhice e a corrupção. Sim, foi isso, pois estávamos cansados dos erros, das roubalheiras e dos falsos milagres brasileiros como aquele fabricado à década de 70 por Delfim Neto sob o mando dos generais da ditadura que, praticamente levaram o país ao estado de insolvência. Entretanto e mesmo com o que parecia novo e esperançoso não extirpamos os problemas, ao contrário, logo, o governo da estrela solitária se assemelhou a todos os outros apesar dos favoráveis números populares à aceitação do alto mandatário. Portanto hoje não tenho qualquer ilusão política, nem por nomes, nem partidos, e acredito que possa haver exceção aqui ou acolá, todavia o todo é asqueroso, o meio é canceroso. E agora não me bastassem todas as mentiras ainda vêm esses sites de entretenimentos, alienadores e que mais se assemelham ao um espetáculo de circo montado para uma tarde de domingo, e excretam óticas anarquistas sobre aquilo que imaginam o que é e como é relacionar-se, entreter-se, divertir-se, enfim...<br />
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-Psiuuuu, psiuuuu! Sr. Norman, em que galáxia o senhor está? – Ele estala os dedos - Há mais de dois minutos o senhor está aí sem falar nada e apenas fitando o lado externo das vidraças– Concluiu num olhar que parecia dizer; Hey velhinho... venha para o pátio tomar o recomendável sol das dezessete horas! - Eu olhei pra ele e sorri, pois provavelmente também deveria me achar um boçal.<br />
<br />
-Oh, queira me desculpar, Anderson! Perdi-me em algum lugar do passado - Justifiquei-me num sorriso que tentava ser infantil, mas que o sabia cretino.<br />
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-Anderson não, é... Jefferson, por favor, Sr. Norman, é simplesmente... Jefferson - Mais uma vez me chamou a atenção, irritado, óbvio. Depois amansou a raiva e continuou: Mas... em que pese essa sua visão severa quanto a nós, eventualmente não encontra em nosso site matérias que lhe despertam interesse? Não tem por hábito usar o “curtir” para coisas postadas por seus amigos, em suas comunidades. Por acaso o senhor "curtiu" algo no dia de ontem, por exemplo?<br />
<br />
-Não, nenhum! –<br />
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-Bem... e na última semana?<br />
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-Também não. Quase, mas também não!<br />
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-Pelo amor de Deus, Sr. Norman, e no último mês?<br />
<br />
-Never! Ai nóti moli nóti! Contudo a fase pior foi a do mês retrasado.<br />
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-O que houve no mês retrasado, Sr. Norman? - Ele perguntou num ar de surpresa.<br />
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-Bom... É que fui obrigado a ler um monte de mensagens de Natal, algumas delas acompanhadas de fotos de Papai Noel. Deve saber como são essas imagens fabricadas em estúdios que usam o Photoshop. Havia sim uma ou outra interessante tal qual a do sujeito que com as rédeas nas mãos se postava dentro do trenó guiando quatro grotescas renas de isopor. Evidente, apesar do ridículo havia algo de positivo na barba do sujeito, já que parecia ser natural...<br />
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-E o senhor acha desestimulante receber votos de feliz Natal ou Ano Novo através do Ficci Buk? – Ele interrompeu outra vez, drasticamente. Eu percebia a raiva em sua voz.<br />
<br />
-Bem, Wellington, pra te falar a verdade... acho sim! Mandaram aos montes, assim, como se fossemos um bando de alienados, como se a felicidade e as realizações estivessem batendo á nossa porta, e que seria apenas necessário pedirmos para que entrassem e as servíssemos com um bom café passado na hora, para aí sim concretizarmos o negócio! – Retorqui impaciente – E outra... antes que o senhor me inquira sobre o que “curti” nas semestralidades passadas, antecipo; No último ano, cinco vezes. Apenas vinte vezes devo ter clicado no maldito “curtir” inclusive mais da metade desses cliques foram em coisas postadas por meus sobrinhos.<br />
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-Poxa Sr. Norman! Além de o senhor ser... como dizem? Ah, sim, um osso duro de roer, o senhor insiste em chamar-me por um nome que não é meu; Não é Wellington, é... Jeffer... Ah, deixa pra lá!<br />
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-Desculpe Jonathan, ops, quer dizer, Jefferson – Dessa vez eu o sacaneei só para vê-lo irado. E irritado ele foi grosso e mal educado<br />
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-Sabe Sr. Norman... Por acaso o senhor tem feito periodicamente exames em sua próstata? – Fulminou à queima roupa com aqueles seus braços de nadador.<br />
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-Não, por quê? Seriam importantes estes exames? - Inquiri surpreso. Ele apenas me olhou e riu.<br />
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Percebi o tom de galhofa na pergunta, e honestamente, aquilo me deixou emputecido. Ainda mais porque houve falta de respeito para minha pessoa. E aquilo me abalou e tanto que, após alguns instantes eu procurava traduzir as entrelinhas da questão colocada. Seria alguma metáfora?<br />
Sim, sendo ou não, não consegui ir muito longe à análise, porém duas alternativas me pareceram inevitáveis;<br />
a) acho que o fedelho engomadinho acreditasse que me tornasse mais receptivo à estupidez após uma boa enfiada de dedão no rabo, ou;<br />
b) que meu estado prostático tinha alguma coisa a ver com o senso de humor<br />
<br />
Ele olhava para mim e eu podia sentir o regozijo estampado nos olhos e nos cantos sorridentes de sua boca de lábios finos. Evidente, ele se tornou para mim a zombaria e agora eu podia ver-lhe a fileira de dentes alvos escancarando numa gargalhada cheia de viadagens, diga-se de passagem.<br />
<br />
-Me perdoe Sr. Norman, foi apenas uma brincadeira com o senhor, um ato de relaxamento de espírito – Concluiu sem perder o sorriso cretino no rosto. Definitivamente ele tinha procurado, e como dizem; Quem procura... acha.<br />
<br />
-Puta que pariu seo moleque afrescalhado e sem educação. Se há alguém aqui que tem cara de gostar dum grosso dedo urológico és tu e não eu! – Vociferei ao me levantar da poltrona.<br />
<br />
De imediato ele pegou o interfone e ligou para a secretária:<br />
<br />
-Dona Mariana, por favor, peça para a segurança vir à minha sala!<br />
<br />
-Ops! Não precisa de segurança não paspalho! Sei o caminho da saída – Disse-lhe ao me dirigir para a porta de sua sala.<br />
<br />
-Cancele a segurança, dona Mariana. O Sr. Norman já está de saída.<br />
<br />
Novamente atravessei o corredor e ao final dele encontrei a recepção. A secretária me aguardava, e parecia preocupada.<br />
<br />
-Desculpe Sr. Norman. Sei o que deve ter passado lá dentro com aquele sujeito petulante. Mas... ele é assim mesmo, é metido à gênio.<br />
<br />
-Não... não se preocupe com isso dona Mariana. Está tudo bem! – Disse a ela já me dirigindo para a porta de saída do conjunto.<br />
<br />
-Sr. Norman, Sr. Norman! - Fui chamado por ela. A voz era bonita, afinal, ela era toda bonita.<br />
<br />
-Sim dona Mariana? – Respondi olhando para os seus olhos. Repentinamente eles me pareceram tímidos assim com ela.<br />
<br />
-Então, depois que o pessoal da análise de clientes selecionou o seu perfil e nos passou, tomei conhecimento do senhor e daquilo que escreve. E vou ser sincera; Estou fascinada! Escrevo alguma coisa, poesias, porém não tenho coragem de postá-las. Criei um blog, mas lá só há citações de Fernando Pessoa e Clarice Lispector. O senhor se importaria se marcássemos algum dia para tomarmos alguma coisa e discutirmos um pouco de literatura e desse seu mundo literário? – Perguntou-me num sorriso apaixonante. Olhei para ela com simpatia, Mariana poderia ser minha filha, mas o fato dizia que não era.<br />
<br />
-Claro! Vamos sair um dia desses e falaremos sobre – Devolvi solícito. Foi o momento que ela retirou algo do porta-cartão acima de sua mesa e me passou. Era seu telefone residencial e o número do celular.<br />
<br />
-Feito, dona Mariana! Ah, posso dispensar o “dona”? – Perguntei num galanteio. Sim, eu era velho, 59 pra ser exato, mas não imprestável.<br />
<br />
-Claro, Norman! Fique à vontade. Como vê, já aboli o “senhor” por minha conta –<br />
Respondeu com um sorriso que continuou me fascinando. Concretamente, Mariana era um doce, uma joia.<br />
<br />
Despedimos-nos com um “Até” num caloroso aperto de mãos. Estava mais que na cara que algo iria rolar.<br />
Ao descer pelo elevador pensando em Jefferson deixei escapar o pensamento em sussurradas palavras.<br />
<br />
-Não falei que no Ficci Buk só da louco? – Expressei.<br />
<br />
Claro, era a minha reação ao pouco entender o interesse daquela mulher por um sujeito tão limitado como eu. O ascensorista de talvez 27 ou 28 anos ao ouvir o meu murmúrio olhou-me desconfiado, pois deve ter pensado que estava interagindo com ele ou com um dos faxineiros do edifício que limpava o espelho ao fim da cabine, afinal, havíamos os três em seu interior<br />
<br />
-É sim sinhô - Me respondeu o faxineiro diante o silêncio do colega que comandava os botões. Sorri para ele e o funcionário continuou: -Óia...outro dia mesmo o ofsbói da constutrora do séutimo andar me falou que esse tal de feicibuqui é o fiofó do capeta! – Concluiu à queima roupa aquele sujeito de uma simplicidade cativante e num sotaque norte do país. O ascensorista riu veladamente, talvez para ele não fosse novidade do seu colega de trabalho.<br />
<br />
Chegamos ao andar térreo somente os três e meu estômago doía em virtude das contrações provocadas pelo surto de gargalhadas que enfrentei por quase quatro andares enquanto descíamos.<br />
<br />
-É isso aí garoto! – Confirmei ao me despedir do faxineiro com tapinhas nas costas. Ao que prontamente respondeu:<br />
<br />
-É isso aí gêntis boa! Estamos às órdis! O criente tá sempre ca razão! - Ele também se despediu com um sorriso e a demonstração inequívoca de já assimilar parte dos hábitos e maneirismos dos paulistanos.<br />
<br />
Eu ainda sorria ao entrar em meu carro.<br />
<br />
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Copirraiti20Fev2013<br />
Véio China©<br />
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<br />Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-41305429268851757912013-02-07T07:00:00.000-02:002013-02-24T19:03:34.115-03:00Tecnologias & Carnavais e o cu do Diabo <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyZgBB_dh9oj8jKxe4a30HgBo2PK7ElqOSU-KMEL2DSpVNjTjdMVG4AUrdjJdx-49nBIN2wCghfrJTBaUCX2Cs0Qkcx5-78_RL9VdrlrKll-jXc5U7u4NGPB4DYhd03pEFZHTBwldp4-yc/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyZgBB_dh9oj8jKxe4a30HgBo2PK7ElqOSU-KMEL2DSpVNjTjdMVG4AUrdjJdx-49nBIN2wCghfrJTBaUCX2Cs0Qkcx5-78_RL9VdrlrKll-jXc5U7u4NGPB4DYhd03pEFZHTBwldp4-yc/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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Sim, estou bêbado e quero falar sem me importar sobre o que. Posso dissertar mulheres, futebol, religião ou mesmo relembrar coisas minhas antigas bandas progressivas. Presumo porém que seria um papo dos mais chatos, logo, vou poupá-los.<br />
Bem... e que tal se falássemos de carnaval? E por que não? Afinal neste momento os foliões de Rei Momo enchem o saco à porta de casa, assim como o fizeram no ano passado, retrasado, ado, ado. Isso! Falemos então do carnaval desse ano, 2013, onde tivemos Vila Isabel e Mocidade Alegre como campeãs no Rio e em São Paulo!<br />
Lembro do carnaval do ano retrasado e eu estava mal ou pior que estou agora. Não há como esconder que minha vida se parece com uma dessas bolhas de sabão levitando no ar, graciosas, mas que nos desafiam. Logo, há um prazer em ser menino e apontar o dedo, dar uma cutucada, e "ploc", acabar com a festa. <br />
E é assim que me sinto, algo in, meio acabado como terminaram com o carnaval, este inclusive que achavam estar curtindo lá fora, numa cantoria desenfreada. E eles não me são surpresa, fazem parte do "Bloco da Cachaça" e são mais ou menos uns 400 ou 500 integrantes. E eles não são só vozes, são outras coisas que fazem a música se assemelhar ao trem bala em movimento, repiques de baterias, batidas de surdos e tamborins, acompanhados por sonoros trombones, cornetas, pistões e tubas. "Olha olha olha a água mineral, água mineral.." - É o que eles cantam. E o que me incomoda não é o fato da zorra provocada pela histeria popular e nem de estar bêbado como estou. Não, não é isso, pois para mim tais fatos me são clichês, aliás, assim como sou o clichê em pessoa. O que na verdade me deixa puto da vida é a mesmice de todos os anos, pois à tempos deixou de existir o verdadeiro carnaval, restando apenas coisas que pretendem ser interessantes, presas a uma tecnologia imprevisível e inovadora.<br />
<br />
Para mim a festa deixou de ser a festa do povo e para o povo, pois o carnaval de Momo se tornou um hipermercado globalizado que expõe em suas vitrines ilustres figuras da sociedade, artistas de TV, jogadores de futebol, top models, políticos, além de astros e pessoas proeminentes do Jet Set internacional. E aquilo que unicamente era para ser alegria e música se tornou um show de transformações ao expor aos meios de comunicação todas as novidades da medicina estética. Verdade, outro dos nossos clichês, já que renomados cirurgiões cobram os olhos da cara para despejarem nos salões e nas avenidas televisivas mulheres esculpidas à dedos e bisturis, ludibrioso festival de peitos, bundas, culotes e abdomens, tudo milimetricamente reformado como se fosse um veículo saído da mecânica, funilaria e pintura.<br />
E não vejo exageros ao reafirmar, pois é só apreciarmos as beldades na Sapucaí para percebermos os tantos ml dos seios siliconados. E a isso se aglutinam outras benesses estéticas como as lipoesculturas, preenchimentos dos glúteos e em tantas partes. Convém frisar que para essas reformas se utilizam fartamente de materiais importados, e por quê? Porque as mulheres, além de suas vaidades, dinheiro e glamour levam em conta aquilo que acreditam ser os cuidados para a saúde, e muitas descartam a matéria prima nacional como se fosse de péssima qualidade, afinal estamos um pouquinho aquém do terceiro mundo, óbvio. E sobre tais questões até que são fáceis de compreendê-las, já que tudo se resume em tentar manter o padrão, o status quo, a aparências subjugando o espírito, alvo de escolhas, assim como pedir a qualquer socialite à escolha entre Erasmo Carlos ou Bono Vox para tietar numa foto. Evidente, para ela não haveria qualquer dúvida, e todos sabemos a resposta.<br />
<br />
Pois é! E assim de tecnologia em tecnologia o meu tempo está se esvaindo assim como rareiam as tradições que se dobram ao avanço do tempo. E o progresso está por todos os cantos, todos os lados onde há e se respira um pouco de vida. E a evolução deixa marcas por onde quer que passe, são maiôs e seus tecidos criados em laboratório quebrando os recordes das piscinas mundias. É um simples frango à passarinho preparado por eletrodomésticos de última geração em menos de cinco minutos, e sem necessitar uma única gota de óleo. Qual é o segredo neste caso? Sim, eu conto; são 200 graus hermeticamente fechados, gerando vapores circulantes, quadruplicando a pressão e cozendo. Depois é só abrir as cervejas e eis aí o galináceo pronto para ser degustado. Sim, juro, não é mentira, eu vi a propaganda na televisão. E essa e outras maravilhas apontam para um fator preocupante, pois num futuro bem próximo poderemos dando um bye bye para as substâncias gordurosas, principalmente ao óleo de soja, e o que também não seria de todo mal, afinal, até transgênicos andam empurrando por nossa goela abaixo.<br />
<br />
Sim, sei que deverão estar deduzindo "Porra, ouvir papo mala e de de bêbado é foda". Verdade, eu disse que estava bêbado, ébrio, invocado com essa merda toda de tecnologia. E já que estou pra lá de Bagdá, e já que estamos falando em progresso, há a questão da segurança, essa mesma que falta ao cidadão comum e que se estampa em manchetes diárias. Me questiono; Será possível nos tornamos insensíveis ante as barbáries e crimes hediondos? Pois é, acredito que não, mas, até nisso a tecnologia expandiu seus tentáculos. Hoje quase não há a necessidade do velho e bom policial com faro de justiça, aquele como Peter Falk do "Columbo", um popular seriado de TV da década de 70. Não, hoje não há Columbos, pois combatem o crime com fartas doses de ciência onde a necessidade de pistas ou testemunhas passou a ser circunstancial, afinal, ínfimos fragmentos de DNA colhidos no local do crime poderão apontar os culpados.<br />
E esta realidade me faz revoar o romantismo do passado e imaginar coisas absurdas como um Sherlock Holmes sentado numa poltrona de tecido imundo num conjunto de 20 m2 na Barão de Itapeteninga. Sou capaz de vê-lo com olheiras profundas, alguma desnutrição e os olhos pregados ao telefone no aguardo de um único cliente. Óbvio, Holmes seria obsoleto à moderna ciência investigativa. <br />
Evidente, e o com o carnaval não é diferente, e ele cede espaço ao progresso e a finalidade se perde e tudo se torna tão sem graça. Sim, concordo, algumas coisas não mudam e jamais mudarão, como a sede dos foliões que, agora e com bebidas ás mãos cantam neste sábado de carnaval coisas desconexas como - Olha olha olha a água mineral.. - Sim, sei que tenho a minha parcela de culpa; quem mandou morar no festivo e boêmio bairro do Bixiga?<br />
<br />
Aliás, além das ébrias cantorias que desfilam diante das vistas do meu portão, o que não falta em época de samba na avenida é hipocrisia. E ela.é farta e começa com governo distribuindo camisinhas à custo zero, como se a contaminação do HIV fosse exclusividade dos foliões. E se assim considerássemos, deveríamos dar um par de camisinhas a cada um dos participantes dos bailes funks por esse Brasil fora, princialmente na cidade e nos morros do Rio de Janeiro. Acredito que talvez não saibam, mas ás vezes gostaria de estar na pele dum desses jovens de hoje, estar cantando la fora, ser o número um do Ita, fazer parte e compreender toda essa tecnologia, a qual por vezes gera desemprego. E não seria só isso, talvez aí então eu conseguisse entender parte de suas realidades e utopias - Sim, sei que vão dizer que sou amargo e que sinto inveja, ao que respondo; Sou amargo, confuso e sinto inveja, e daí? <br />
Portando, pensando em todos esses fatores é que levanto da mesa e espreguiço corpo e vou ao refrigerador e consumo dois copos de água gelada. Fecho a garrafa de Coca-Cola de 2 litros onde acondiciono a água e volto para a minha cadeira de estimação e sorvo parte duma dose da Sputnik.<br />
Num olhar vago repouso o copo à mesa e dedilho três dos meus cinco dedos da mão direita no casco até fazê-lo gemer um som oco e de vidro. Óbvio, é o indicador que a bebida já era. Depois persisto o olhar no nada, absoluto, quando flashes da esplendorosa Leila Diniz pipocaram em minha memória. Não me contenho; Leila sempre foi a minha ideia de perfeição.<br />
<br />
-Ah, que merda - Exclamei -! Leila sim era o sinônimo de festa e alegria. Leila era vida. Leila era o próprio carnaval! - Lamento ao olhar o pinguim, um pequeno bibelô que reside há anos no alto da minha geladeira. Ele apenas me olha e pude ver o sorriso cretino estampado em seu rosto de louça. E apesar de não tirar os olhos de mim ele nada fala, apenas me olha e olha.<br />
<br />
- Ah, quer saber? Foda-se o carnaval! Foda-se a toda essa tecnologia! - Digo para ele ao sacolejar meus ombros. Definitivamente acho que jamais vou me libertar dessas besteiras que me acompanham e nem do seu olhar que nada diz.<br />
<br />
Carnaval..carnaval...Mas também pouco ou nada eu perco, de fato. Para falar a verdade tenho pena desse pessoal aloprado curtindo carnavais pelo Brasil afora e ao som de trios elétricos. São guitarras, baterias e contrabaixos plugados a potentes amplificadores, substituindo a genuinidade dos sons das cuícas, pandeiros e reco-recos. Já não é surpresa o show de pirotecnia no alto desses carros, principalmente na Bahia, onde fogos de artifícios espocam colorindo os céus num espetáculo visual que sufoca a simplicidade e o romantismo dos velhos tempos. Sim, há toda a saudade duma época onde quem sambava eram passistas e não efeitos especias. Sou da velha guarda, daqueles que, juntamente das escolas de samba da década de 60 jamais sonharia com engenharia eletrônica incorporada ao desfiles, George Lucas na Sapucaí. Quem em sã consciência e à partir daquela década poderia supor homens carregando às costas coisas parecidos com extintores de incêndio que, os fariam sobrevoar a avenida?. Não, jamais, era totalmente louco imaginar tais incorporações naqueles tempos. Logo, não sabíamos de nada, assim com essa juventude nada sabe sobre o passado, nem mesmo faz ideia que a melhor marchinha do carnaval de todos os tempos foi aquela que sempre fez o Brasil cantar...."A Estrela Dalva, no céu desponta e a lua ... - Sim, sei que sou nostálgico, melancólico, e..estou bêbado, porém jamais serei falho em lucidez e memórias, pois a mais louca sandice deixei para lhes contar agora ao fim.<br />
<br />
Sim, e a loucura ocorreu no domingo de carnaval do ano retrasado, exatamente de 2011. Tanto quanto nesse momento o Bloco da Cachaça cantava lá fora, e eu estava alcoolizado e num estado mais miserável se comparado ao desse e do último ano. Como seria de se esperar questionava nesta mesma cadeira coisas parecidas com as quais questiono agora ( por isso disse que sou clichê)<br />
E as dúvidas prosseguiam até o ponto que uma voz de tonalidade grave me subtraiu das importantes reflexões, sugando meus pensamentos como se fosse um aspirador de pó.<br />
<br />
<br />
-Calma..calma, Carlos Quaresma - Dizia ela. Olho para um lado, para outro e, nada. Talvez estivesse sentindo na própria carne os distúrbios da bebida - Pensei naquele instante - Descompassado tamborilei os dedos no tampo da mesa, quando novamente....<br />
<br />
-Calma, muita calma nessa hora! - A voz insistiu num tom mais ameno. Desconfiado fui à janela e abri as cortinas e olhei pelos vidros e não havia ninguém lá fora. Receoso me dirigi à porta e pé ante pé inspecionei o olho mágico e não vi qualquer criatura postada atrás dele.<br />
<br />
-Quem é que ta falando? - Perguntei ao vento. Claro, estava assustado, afinal nesses tempos nos sentimos inseguros dentro das próprias casas. Procurei não fazer qualquer ruído e apurei os ouvidos e a voz soou ainda mais nítida ao parecer próxima:<br />
<br />
-Calma, devagar que o santo é de barro! - Ela disse e me fez lembrar frases de vovó - Fique tranquilo homem, não tenha medo. sou eu, o teu subconsciente... - Concluiu. Desconfiado, pensei que ja tinha passado da hora parar de beber. Ainda olhava ressabiado para os lados quando o tom volta à carga:<br />
<br />
-Quaresma, estou te vendo tão macambuzio e apático, que resolvi vir aqui e te dar uma força. Cara, o carnaval e o mundo não são tão pavorosos como está pintando.. - Concluiu num tom professoral. A voz soava pretensiosa e talvez pretendesse me catequizar um pouco mais, porém, assustado o interrompi numa única pergunta que cabia ante o estapafúrdio da situação:<br />
<br />
-Comasim? Não estou te entendendo! Você é meu subconsciente? - Mal acabei de perguntar e veio a resposta<br />
<br />
-Mas que merda! Tu é surdo veinho? E que coisa mais babaca esse negócio de ..comasim...comasim!<br />
<br />
-Comasim? - Persisti. Eu estava perplexo demais. Dessa vez ela pareceu mais austera, realmente estava brava ao responder<br />
<br />
- Acorde pra vida homem! Estamos na era da coletivismo insano, a Babilônia dos tempos modernos. Para ser mais coerente com seu raciocínio retrógrado resumirei tudo numa linguagem que está afeito - Estamos em tempos do sem pés e nem cabeça - Finalizou. Bem, além da veemência, a voz me tratou como se eu fosse um ser pré histórico, descoberta arqueológica, assim, um Tiranossauro Rex. Certamente aquilo me irritou e eu não engoliria o seu despautério e nem permitiria os seus desaforos, não ali na cozinha da minha casa<br />
<br />
-Sim, seu monte de excremento! E qual o grande problema da vida estar sem pés e cabeça? - Indaguei ao não entender bulhufas do estrambótico raciocínio. Talvez o meu subconsciente estivesse sofrendo de distúrbios equizotípicos ou coisa assim.<br />
<br />
-Bem..e daí...e daí! E daí veinho, é que você tem que sair por aí, se enturmar. Esqueça o Word e essas coisas pavorosas que você escreve, não vai ganhar dinheiro com isso e nem faturar o Jabuti. Saia homem! Saia e vá viver, curta uns baseados, alcoolize-se com uma daquelas belas garrafetas do Absinthium 1792 tcheco, legítimo. Você sabia que os Rolling Stonnes voltando à moda? Então... tem mais é que curtir a vida, velhote, é isso! Saia, tome uma boa ducha e encharque sua camisa negra de Paco Rabanne comprado há dez anos e vá dar uma bandas por aí, olhar os rabos de algumas rampeiras da Rua Augusta. Se não dar certo, procure uma boa cinquentona nos bailes da saudade da vida. Ó...ali na Alameda Barros tem um da hora!<br />
<br />
Estupefato eu ouvi as suas grotescas sugestões e propostas. Uma cinquentona de baile da saudade? Era só o que ma faltava! Ele só podia estar louco, apesar que o mais provável era o fato de ser ver perdido do conceito "politicamente correto". Enfim, meu subconsciente estava pior que imaginei. Ao fim, foi tanta asneira que, inevitável foi resistir à minha indignação. Explodi:<br />
<br />
-Vá à merda seu subconsciente pervertido! - E após a agressão o estapeei fisicamente, aliás, estapeei a minha própria fronte<br />
<br />
-Ai..ui..ai. Para! - Queixou-se, dolorido. Depois se saiu com uns "Tsc..tsc..tsc" - numa clara intenção de zombar de mim<br />
<br />
E aquilo me deixou mais irado que estava, pois, não há nada pior que um subconsciente gozador, desses que se escarnecem às custas do próprio senhorio - Tive que admitir com certa frustração. Todavia ele era o rei da persistência.<br />
<br />
-Quaresma, aqui vai a minha derradeira sugestão, talvez seja tua última chance de ser feliz. Topas? -<br />
<br />
Olhei para ele. Ele me parecia sincero dessa vez. E outra...eu estava muito carente.<br />
<br />
- Claro, tô dentro! Pra ser feliz faço qualquer merda - Devolvi com alguma esperança tirada não sei de onde, talvez do poço seco de mim.<br />
<br />
Assim que as palavras abandonaram a minha boca me arrependi, afinal, aquilo era loucura, insanidade, talvez o efeito da bebida ordinária. Mas pensei no ditado; Deus escreve certo por linhas tortas. Sim, eu estava longe da religião e isso não vem ao caso, mas.. por que não dar ao meus subconsciente a chance da remissão? E outra, o estado democrático sempre defendeu que deve ser livre toda forma de expressão, portanto a palavra é o mais contundente jeito de se exprimir. E por fim, talvez o subconsciente estivesse me chacoalhando, ensinando-me a ser mais otimista e condescendente. Claro, tudo me parecia tão nítido agora, e outra, talvez o pessimismo de sempre me fizesse negar que o subconsciente é como uma moeda e tem dois lados, cara e coroa, ganhador e perdedor, talvez quisesse me presentear com o lado da vitorioso, cara ou coroa, tanto faria, desde que eu não perdesse. E outra; e ele me parecia tão cúmplice e acolhedor....<br />
<br />
Ainda pensava em suas propostas quando sua voz soou autoritária, marcial, fazendo-me recordar dos tempos autoritários, AI5, General Costa e Silva. E eu estava ansioso, queria me livrar da vida miserável em que me metera.<br />
<br />
-Hã rã - Ele pigarreou. Depois continuou: Carlinhos, é o seguinte! Aqui está o remédio para todos os seus males; CRIE UM PERFIL NO FICCI BUK...O MUNDO ESTÁ LÁ! - Ele proferiu a queima roupa.<br />
<br />
-Hã, como assim..como assim...criar um perfil no Ficci Buk? - Repliquei estarrecido. Aquele sujeito provavelmente era um irresponsável ao indicar o Ficci Buk para um sociopata como eu. Evidente, não poderia deixá-lo sair dessa impune. Eu estava colérico:<br />
<br />
-Comasim...seu grande filho duma puta! - Contestei - Em vez de tu me indicar uma boa e saudável cagada, me avia um receituário que acelera evacuações freqüentes e abundantes? O que você quer é me ver morto com diarreia mental - Vociferei. Partes dos meus gritos provavelmente foram ouvidos pelos foliões que berravam lá fora a cretina "Doutor eu não me engano, meu coração é corintiano". A princípio a voz se mostrou surpresa, porém, insensível Alguns instantes dum silêncio constrangedor e o meu subconsciente se abriu no mais amplo dos seus sorrisos. Ele não se calava nunca!<br />
<br />
-Carlos Quaresma, você é um recluso da contemporaneidade .. Saiba homem....o FICCI BUK É O CU DO DIABO! - Bradou. Depois completou;- Provavelmente o teu computador é um 386, usa o Windows 95 e ainda com drive de disket 1.44 Mb - Caçoou. Após a imbecilidade de sua chacota seus risos à princípio intermitente, tornaram-se sucessivos.<br />
<br />
Suas gargalhadas ainda reverberavam em minha mente quando numa corrida trôpega fui à direção do banheiro para vomitar. Ao retornar a náusea cedera e não havia mais a voz, entretanto sei que suas gargalhadas jamais me abandonariam, logo não é falso afirmar que o histérico dos seus risos me remetiam às gargalhadas de Satã nesses filmes classe B.<br />
<br />
Sim meus amigos, foi uma loucura o que ocorreu. Por conseguinte deixa-me voltar à geladeira e me servir de mais dois copos de água naquela mesma garrafa de Coca-Cola e retornar à minha cadeira de estimação e recordar outros detalhes. Sei que naquele domingo e ao fim da tarde esteve sobre a mesa a garrafa da vodca Sputnik, nacional, meia boca , consumida em menos de cinco horas após tê-la comprado no mercadinho da esquina um mercado de propriedade de japoneses que, tanto quanto eu querem que o carnaval se foda.<br />
Recordo também que com as pernas bambas chutava a vassoura à porta da sala, e num impeto de raiva quase atirei o pobre do pinguim quintal afora. Porém ao pegá-lo à mão contornei a sua silhueta de louça e voltei com ele para o alto da geladeira. Olhei novamente e lá estava ele e o seu sorriso impassível, nem de feliz, nem triste, apenas impassível e misterioso. Retornei para a mesa, sentei á minha cadeira de estimação e emborquei o último gole da garrafa de vodca. Em seguida, trêmulo, fui para o quarto de dormir, afinal, precisava ferrar no sono sem dar chances para que outras mirabolantes demências me fizessem pirar de vez.<br />
<br />
Certamente vocês devem estar me achando um sujeito louco, batendo bielas, um carburador entupido. Claro, e é compreensível, e eu também me acharia. Porém, talvez eu não seja louco, apesar de sempre me sentir como um.<br />
Entretanto mesmo com toda essa parafernália tecnológica sabemos que vivemos na era das meias palavras, meias verdades, meio tudo. Enfim...mas mesmo assim sei que seriam poucos os que teriam a coragem de admitir a própria insanidade.<br />
Que venha o carnaval do ano que vem.<br />
<br />
Copirraiti06Fav2013<br />
Véio China©<br />
<br />Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-46307818150709727352012-12-20T05:37:00.002-02:002013-01-15T03:08:26.419-02:00Insights do China - A infância de Erico Zambini num colégio de padres - <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDQzsc7dWhblQVDN99ow5seCweKZW9-oBv1qZhFEuZCHTH4tp_KP3eEB2mIjOekUYOZ2HfjgaGws2DmuUZO1aBnfDqdz4kzl8AGoxCOj5l8DMR498fOMuyZdEwQP3ziloa48Z_XQqvEpOl/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDQzsc7dWhblQVDN99ow5seCweKZW9-oBv1qZhFEuZCHTH4tp_KP3eEB2mIjOekUYOZ2HfjgaGws2DmuUZO1aBnfDqdz4kzl8AGoxCOj5l8DMR498fOMuyZdEwQP3ziloa48Z_XQqvEpOl/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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Estava com oito anos e a separação de papai e mamãe resultou num grande pequeno problema: o garoto Erico Zambini.<br />
Sim, inegável, o pequeno Erico era terrível, destruidor nato, desses que deixam marcas dos pés no teto e que quebram todos enfeites e duas camas num único dia ao se imaginar o Gilmar dos Santos Neves, goleiro da seleção numa partida decisiva. E para ele não havia coisa mais fácil que quebrar camas, e para isso atirava a borracha escolar contra a parede do quarto e no retorno atirava-se à cama na tentativa de agarrá-la, evitando assim o gol dos adversários. Evidente,com isso o remetemos a 1962 e um dia de euforia – Brasil x Espanha - Naquele início de tarde e com a radio-vitrola ligada no último volume e com a narração de Pedro Luis, muitas vezes o pequeno Zambini evitou os gols da "Fúria" às custas das camas que quebrou, sua e de sua mãe. Evidente, pés e estrados arreados procurou se esconder da outra fúria, a da sua mãe. Sim, correu para o quintal ao ouvir o ranger do portão de entrada, anúncio que a genitora retornava de mais um dia de árduo trabalho. Ufa, alívio, ela inspecionou a casa, viu as camas destroçadas e ele não apanhou, e nada aconteceu! Simplesmente gritou o seu nome, mas pela tonalidade da voz já sabia que não apanharia Com ela sempre fora assim; ou batia na hora ou não batia, e se não batia exercia o jogo das pressões psicológicas, além é claro do habitual e ameaçador chinelo na mão; Ah garoto se te pego....Ah se te pego, garoto.. - Ela sempre ameaçava.<br />
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Óbvio, mesmo diante da destruição e do seu aborrecimento com o filho se viu nela um certo alívio, enfim, não só dela mas da nação brasileira, pois tanto ela como o povo deve ter feito as mesmas defesas que o malandro na vitória suada e de virada por 2 x 1 contra os espanhóis E talvez ela também se recorde que voltando para casa presenciou a branda comemoração e os discretos gritos dos torcedores que, com seus pequenos rádios de pilha vibraram com o triunfo canarinho (Era uma época de manifestações discretas, literalmente diferentes aos dias de hoje) Contudo e alguns jogos depois e aí com algum estardalhaço o Brasil se tornaria o bicampeão mundial nas terras de Pablo Neruda. E foi um título festejado e às custas principalmente de Amarildo e Garrincha, este último aclamado como o deus da copa (Pelé esteve ausente ao se machucar no segundo jogo da fase inicial).<br />
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Depois disso a vida caminhou num mesmo patamar até que no início do ano de 1963 veio a surpresa: Liceu Nossa Senhora Auxiliadora - Mais conhecido por Liceu Salesiano de Campinas – Um colégio com sistema interno e dirigido por padres.<br />
E para lá ele foi enviado para cursar o 3o ano primário e o o seu tempo naquele internato durou até o início de 1965 quando definitivamente se despediu dos padres, os quais aprendeu a gostar e respeitar.<br />
Porém o pequeno Erico não estava acostumado à excelência e nem às austeridades dum sistema rígido e assemelhado ao dos quartéis onde talvez a exceção fosse a negra batina assumindo o lugar das insígnias e do uniforme verde oliva..<br />
Entretanto ali ele aprendeu muitas coisas e um pouco de tudo, assim como o latim (o rezado nas missas)<br />
E a sonoridade desta língua tão curiosa e principalmente acentuada aos finais "um e ium" - lhe trazia problema tanto quanto aos seus infantis joelhos que se condoídos às 7 horas de todas as manhãs ao enfrentarem uma missa jamais inferior aos 80 minutos.<br />
Consequentemente suas rótulas se tornavam doloridas e queimavam, pois mais de 3/4 da missa eram consumidos com os alunos ajoelhados, inclusive à hora do sermão. Um pouco mais tarde a Igreja Católica percebeu que o ato mais sugeria imolação, e assim determinou para todos um maior tempo sentado, o que fatalmente alegrou as nádegas de milhões de fiéis.<br />
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Ali também ele se tornou coroinha num processo seletivo; os melhores alunos se tornavam os escolhidos, e o quê para os padres se traduzia merecimento, para os alunos, evidente, um alívio, pois era a certeza de ouvirem o sermão sentados, mesmo que num desconfortável banco de madeira de três lugares.<br />
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Foi lá também que pela primeira vez sentiu vontade de roubar. Sim, leram corretamente; Roubar. Não, não se tratava de surrupiar dinheiro, o tênis do armário do vizinho ou lesar algum amigo na contagem dos pontos numa partida de ping pong ou de pebolim. Não, definitivamente não eram essas as questões e o que corroía o pequeno Zambini era a obsessiva intenção de profanar o vinho do padre, talvez induzido pelas tentações dum demônio que vez ou outra dava as caras apesar de todas as rezas.<br />
E o vinho esteve em suas mãos assim como o jarro de vidro imitando o cristal, líquido que os padres guardavam como quem esconde diamantes pois o óbvio; havia outros pequenos e ávidos olhares. E a verdade é que fascinado pela a peça o líquido encarnado esteve em suas mãos e a intenção de emborcar um longo gole se manifestou, porém, repentinamente se sentiu vigiado como se olhos pudessem estar vendo além de sua alma. Assustado olhou para todos os lados e não havia a presença humana, portanto aqueles olhos só poderiam ser de Deus, a quem nada escapava. Hoje e bem mais velho e experiente o Erico Zambini confessa sem medo de retaliações religiosas que, se aquele vinho fosse na Universal do Reino de Deus teria bebido e se embriagado, e não teria medo do inferno, do diabo e muito menos de estar lesando a propriedade privada de Deus.<br />
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Porém o mesmo do abatimento moral à frustrada intenção de profanar o vinho jamais ocorreu com as sagradas hóstias. E talvez assim tenha sido pela descoberta que elas eram fabricadas por uma grande panificadora local. Sim, estava ali no rótulo das embalagens. A princípio foi choque para os seus olhos cristãos, não havia nada de sagrado ali, e o o apropriar-se de algumas unidades provavelmente não constituiria sacrilégio, afinal não se tratava de manah ofertado pelos céus, mas sim apenas mercadorias como outras quaisquer, tais quais as latas de sardinhas ou os pacotes de salsichas que eram fervidas e servidas com pãezinhos no café da manhã. E relembra das tantas vezes que foi incumbido de buscar as hóstias e à bordo de uma sacola de lona com algumas frases em latim e uma enorme cruz. Nessas ocasiões ia tratar do resgate das hóstias com o cozinheiro chefe ( sim, somente o chefe tinha autorização de entregá-las) Por vezes Erico não o achava tão facilmente e o procurava pela imensidão duma cozinha industrial e o encontrava por entre fogões enormes e panelas tão altas que certamente teriam mais da metade da sua estatura. E ele acomodava as hóstias na sacola santa e era tão excitante vê-las adormecidas em sacos plásticos transparentes, onde talvez coubessem 300 ou 400 unidades. E a excitação dava lugar à compulsão e ao sair da cozinha o furto se manifestava diante a fragilidade do lacre das embalagens. E de olhos vivos como se fosse um agente secreto procurava por cantos ermos e retirava de uma das embalagens 10 ou 15 unidades e ainda mais porque sabia que o Padre Conselheiro jamais daria pela falta. Contravenção confirmada ele as escondia num lenço e as colocava dentro do armário, afinal era muito bom comê-las com uma margarina Claybom, que não por coincidência também se encontrava dentro (Sim, aqui duas confissões; a margarina sempre foi objeto dos seus lépidos dedos, assim como jamais serviram a verdadeira manteiga à mesa do café). Entretanto todo delito deixa vestígio e cobra um preço, e foi assim que se viu obrigado a dividir com o vizinho de dormitório o lucro das suas pequenas trapaças, já que Valtinho o pegara com a boca na botija, melhor dizendo, com a boca nas hóstias. Ele jamais vai se esquecer que a chantagem ocorreu numa tarde de violenta tempestade e de obrigatório confinamento nos dormitórios.<br />
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É bom que se diga; Nesse colégio Erico Zambini aprendeu coisas fantásticas além do latim, a educação e o gosto por estudar com afinco. Sim, ali ele aprendeu a jamais ser um dedo-duro e entregar um amigo, fosse o preço que fosse. E tanto que recorda das ocasiões em que ficou de castigo e com os braços voltados para trás tocando as colunas do pátio por não ter dedurado a arte de um colega. Claro, os padres jamais acreditariam em evasivas do tipo "não sei, não vi, não estava aqui" respostas que invariavelmente indicavam lealdade com os amigos. Hoje ele se recorda do fato e sorri. Sim, havia ali um código de honra mantido entre os bons garotos da divisão dos MENORES ( entre 7 e 10 anos) e os que assim não procediam não tinham o respeito e a consideração dos demais. E novamente ele sorri, pois era bem provável que Deus não visse os alcaguetas com olhos da benevolência.<br />
Ali o garoto também tomou ciência de outras coisas importantes , mas que uma fulminante paixão aos 17 (nove anos mais tarde) o fez abortar; O seu sonho em ser um famoso jogador de futebol. Sim! No Liceu ele aprendeu a ser um ótimo centroavante, o dono absoluto da camisa nove (dum tempo onde o 7 era ponta direita e o 11 esquerda)<br />
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E a maior parte dos créditos por ser um bom rompedor de área se deve ao Padre Catequista, já que, sábio ensinava a ele: “Garoto, jamais abandone a marca do pênalti. Jamais!” O pequeno Zambini, aliás, o "Toureiro" (apelido dado pelos garotos pelo fato de tourear os beques adversários com dribles) aprendeu a lição ministrada pelo religioso técnico, e apesar dos seus excessivos off sides (impedimentos) foi artilheiro de sua divisão por dois anos consecutivos. “Olé, olé, dá-lhe Toureiro!” Incentivam os "menores" e eles vibravam com seus gols diante dos times visitantes. Sim, relembra que o Externato São José e times de outros colégios vez ou outra apareciam para a disputa de algum jogo ou torneio.<br />
Bem...aconteceram muitas coisas nesse Liceu, mas que provavelmente poderão ser contadas mais tarde. O importante é que aos 11 anos o garoto saiu do Salesiano (numa difícil fase monetária dos pais) e ganhou o mundo e um quarto só pra si no apartamento alugado por sua mãe. Sim! Agora havia a intimidade para ser ele, aliás, haveria a privacidade e não somente ele mas também para seus dois ou três discos duns jovens cabeludos que, ganhando o mundo estouravam no Brasil; os Beatles. Já ouviram falar deles? Porém o seu universo não era restrito aos quatro cabeludos de Liverpool, mas também às pernas de Vanderleia e às tardes de domingo na Jovem Guarda. Ali no seu quarto e atrás da porta havia um dos presentes que ganhara do tio e pelo qual nutria adoração; Um enorme pôster do seu Santos Futebol Clube com Pelé em feição de realeza ( Sim! Ele podia...ele era o Rei)<br />
E foi nesse ano de 1965 que o garoto da sacristia cursou o “Admissão” no Colégio São Paulo - O que era "Admissão? - Admissão era um período intermediário e obrigatório entre o fim do curso primário e a primeira série do ginásio.<br />
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E o jovenzinho estando em São Paulo fincou base e cursou o ginasial nesse mesmo colégio privado e num<br />
bairro chamado Belém. Além dos mais era uma outra escola católica e a paróquia levava o mesmo nome. Inclusive à época havia por lá um grêmio recreativo para os alunos que se sobressaíssem no futebol (O Brasil de então era unicamente o país do futebol. Havia o basquete, mas poucos se importavam com ele) Bem, o fato é que o menino acabou por se tornar um dos bambambãs da sua classe, e não por ser metido ou gostoso, não, mas simplesmente por ser bom no futebol e ótimo aproveitamento no aproveitamento escolar, já que a bagagem trazida do Liceu era tão infinitamente superior que, até à 2ª série do ginásio se deparou com matérias que anteriormente passara os olhos.<br />
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Mas não era pelo estudo que ansiava, não, não era, queria ir mais além, queria aquilo que pouco lhe legaram; a liberdade. Agora nada queria com as missas, cabelos de corte americano, bermudas escolares ou os ensinamentos religiosos. E sua mudança era tão incontestável que mais nada pedia em seus orações para o antigo ídolo São João Batista. E com o afastamento da religião, inerente foi distanciar-se da fé e agora era outro e se excitava com as mundanices dos garotos de rua e não sentiu qualquer culpa ao folhear num certo dia uma pequena revista tratada por "catecismo". O catecismo referenciado aqui não abordava assuntos religiosos ou os ditames da fé, mas sim de desenhos em quadrinhos que narravam histórias chulas e pornográficas.<br />
Sim! Estava ali a evidência da força de Satã, e ele trinfou ao usar um colega de classe para levar a imoralidade para a sua vida e para de outros incautos colegas de classe.<br />
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Uau! Aquilo sim que era liberdade! Aliás, mais que liberdade, libertinagem! E ele queria voar, ser também o dono de uma fração do mundo, e deixou o cabelo crescer e a franja cair sobre os olhos assim como faziam os garotos europeus. Ele era outro agora, descolado, mesmo que ainda continuasse a curtir pernas femininas no Jovem Guarda, principalmente as coxas loiras e os verdes olhos de Valdirene (aquela do... Sou a garota papo firme que o Roberto falou) Porém o perfil do Jovem Guarda começava lhe parecer algo produzido para garotinhas histéricas e ele se irritava com os gritinhos de "Aii Roberto ou, Erasmo, você é um pão!" e então se esqueceu do programa e à medida que seus cabelos cresciam queria e cada vez mais que o tivessem por um "beatlemaníaco" uma espécie de Paul McCartney tupiniquim. Personalidade assumida, agora não podia voltar atrás e atormentou a sua mãe até ganhar ganhar as botas negras semelhantes às de George Harrison. E era com elas que ele sentava às escadarias da paróquia numa tentativa de impressionar às meninas à saída do turno da manhã. E se munia de pose e chacoalhava a cabeça até a franja incomodar os seus olhos e insistia ao seu jeito na canção"A hard Days Night" um estrondoso sucesso dos novos reis do iêiêiê cantado nos quatro cantos do planeta. Algumas simplesmente não se davam conta da sua existência , outras, se mostravam tão curiosas que passavam rente a ele para escutarem os seus estralos de dedos marcando o compasso e a sua voz absurdamente desafinada "Itis bim â rard dêis náite" ele cantava num idioma que nem mesmo sabia o qual.<br />
E elas apenas riam e ele sorria e a existência se mostrava cada vez mais interessante e cheia de coisas por conquistar. E agora ele, Zambini, era o máximo ao negociar a sua bicicleta Monark em pandarecos por uma jaqueta de couro negro com um dos amigos de rua, uma quase igual a que Marlon Brando usou no filme " O Selvagem"<br />
E Erico sentia que parte do mundo lhe cabia e andava pelas ruas, liberto, cão sem coleira, e não mais como um boi a caminho do matadouro, como nos passos que lhe eram ditados dentro dos muros do Salesiano.<br />
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E essa nova atmosfera o excitava e os garotos do colégio São Paulo o estimulavam e por lá as coisas aconteciam e estavam acontecendo sempre, inexplicáveis e até explicáveis como as belas pernas e o estupendo bumbum curvilíneo de dona Eunice, sua professora de religião. Quanta ironia, Zambini! Justamente uma criatura temente a Deus teria que ter uma bunda daquela? E o par de nádegas colocou Erico à prova e foi por culpa dele (apesar dela jamais saber) que aprendeu a se masturbar. Lembra-se de como foi e que aquilo se iniciou com o amigo Desidério, dois anos mais velho que ele. Parece que ainda consegue ouvi lo: “Faça assim com o teu pau; Pra frente, pra trás, pra frente, pra trás e bastante rápido que vai te dar um treco gostoso e logo a coisa vem” - Ele explicara. Recorda também de ter perguntado ao Desidério: “A coisa que vem é aquela coisa branca?” - Lógico, mais que nunca ele tinha que dar a impressão que sabia mais ou menos das coisas, que era um cara entendido, afinal, ele conhecia até catecismo. O amigo o olhou aturdido e respondeu: na lata “Que coisinha branca, xará? Aquilo é porra! Ta me entendendo, cara? Aquilo tem o nome de porra, seo bosta!”<br />
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Bem, com a explicações na cabeça e o tesão nas pontas dos dedos lá se foi o Zambini para uma nova experiência, já que antes da descoberta acreditava que a curtição fosse apenas a ficar folheando as tais revistinhas para ficar de pênsis ereto, assim como ficava nas noites que revivia os justos vestidos e a região glútea da professora de religião. Porém foram necessárias algumas sessões para aperfeiçoar-se nos macetes da masturbação, pois nas primeiras vezes o Junior (assim denominou o seu pênis) ficara ereto e dolorido e nada mais. Recorda-se em que nada acontecendo voltou ao amigo Desidério e esse persistiu incentivando - “Tem que insistir, cara! Pressão na mão e pra frente, pra trás, sem parar” – Por fim e por sua feição de quem não estava compreendendo como o amigo não assimilara algo tão simples perguntou se estava fazendo de forma que ensinara, ao que Zambini respondeu - “Claro, Dério! Pra frente e pra trás, tipo iô iô, vai e vem” – O amigo Desidério olhou e riu - “É isso aí cara, tipo iô iô! Pressão nos dedos e jeito na munheca e tu vai ver que o lance é mais fácil que saber cantar "A hard Days Night" acredite! - Ele ouviu atentamente o amigo e naquele dia daria tudo o que tinha para se chamar Desidério, afinal, o amigo além de ser um bom de punheta, ainda sabia cantar "Itis bim â rard dêis náite" corretamente.<br />
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O certo é que as nádegas da professora Eunice continuavam mexendo com o forasteiro, e o "Pra frente, pra trás" ainda não vingara até que pela 7ª ou 8ª vez aconteceu e subiu pelo seu corpo um calor tão intenso e inexplicável que ele pensou que aquilo era melhor que ouvir os discos dos Beatles e dos Stones. Depois da sensação de quentura algo espirrou tão prazeroso que acabou por se viciar naquilo. Aliás, vícios estavam se tornando a sua especialidade, e não raras vezes pedia dinheiro á sua mãe, mas não eram os sonhos ou tortinhas de morango (sua alegação) que comprava na padaria, ao contrário, atravessava a rua para adquirir no Bar do Joaquim unidades isoladas de cigarros da marca Consul, mentolado. Recorda que certa vez quase que dona Eunice o flagrou fumando um daqueles, ocasião que se rapidamente se escondeu ao se abaixar atrás de um Jeep numa rua próxima da escola. Ah se dona Eunice soubesse dos cigarros e das suas "tocadas"... estaria perdido. Porém hoje, decorrido um pouco menos de meio século Erico Zambini presta loas e se recorda perfeitamente de cada detalhe da feição de dona Eunice, além do seu glorioso traseiro, óbvio. E ele sorri, afinal Eunice foi a mulher das primeiras sensações, e como sempre dizem; A primeira mulher jamais se esquece.<br />
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Enfim, retornando àquele tempo, e no decorrer daquele ano o jovem Zambini acabou por se tornar um bróder, enturmado e cheio das nove horas. E como era bom de bola foi arregimentado para a Cruzada do Colégio São Paulo, o grêmio esportivo que funcionava no subsolo da própria Paróquia. Ele relembra que na sede havia jogos como o de pebolim, ping pong, botões, dominó, mini bilhar e até o Banco Imobiliário, e tudo para manter unidos os melhores jogadores das duas classes de Admissão existentes no colégio. Claro, eles jogaram muitas partidas, pois oficialmente havia um único time que representava o colégio no Salão da Criança (Pavilhão do Ibirapuera)E esse time era justamente o dele, já que o torneio era disputado por garotos na fixa etária dos 11 aos 12 anos. Antes de iniciar o torneio o time treinou muito e participou de algumas disputas e foi bem em alguns, apesar de não ganhar qualquer delas. E ele se perguntava: “Será que Deus não está do nosso lado?” – Nunca obteve a resposta, pois provavelmente Deus estava muito ocupado para tão pequenas desimportâncias. E a falta da resposta fez criar nele a sensação que estava sendo punido pelos seus pecados, principalmente àqueles que homenageavam a querida mestra. E tanto acreditou que poderia ser desagravo de Deus que jamais se permitiu comentar o fato com os garotos do time, ´principalmente à época do Salão da Criança, afinal, nos dois anos que participou do torneio o Cruzada São Paulo fora desclassificados próximos às quartas de finais, portanto e se houvesse confessado achariam o culpado, aquele que não permitiu o avanço.<br />
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À época ele pensou muito em toda aquela situação e pretendia voltar a ter fé em Deus, pois sentia que aos poucos ela fugia de sua alma. E as outras das suas questões eram o futebol, os Beatles, Stones e às saias cada vez mais curtas no período matinal. Logo e por conseguinte se existisse algum Deus sabia que ele lhe dava a liberdade de atos e o de ser o seu próprio advogado, e jamais seria injusto e não o fora à época do torneio, pois a maior das realidades era que o melhor vencia o Salão da Criança. Justo ou não o fato é que vez por outra a culpa retornava e ele se sentia o peso dos seus crimes e tinha pesadelos e neles os dedos esquerdo e direito pareciam cruéis e apontavam acusadores, como lhe dissessem; Seu devasso, deixe a rabo da dona Eunice em paz - E ele acordava sobressaltado do maldito pesadelo que permitia que dedos falassem. E eles se repetiram duas, três e uma infinidade de vezes e novamente Erico voltava a se preocupar com a opinião de Deus, talvez o Todo Poderoso se aborrecesse com o profano dos seu atos, ainda mais com uma de suas servas. Não! Definitivamente não! Era preciso deixar as nádegas de dona Eunice em paz, então centrou-se em outras professoras, bonitas até, mas não surtia o mesmo efeito, e ele virava para o outro lado da cama e acaba adormecendo. Enfim, pois por mais que quisesse transferir a sua devassidão, sabia, dona Eunice seria insubstituível.<br />
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E assim foi por todo tempo que permaneceu no Colégio São Paulo onde cursou até o quarto ano ginasial e sem jamais se livrar do estupendo traseiro da professora de religião. E quem sabe se ela não o esperasse para se casarem num futuro não tão distante? Sim, afinal dona Eunice era solteira.<br />
Que Deus o perdoasse!<br />
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Copirraiti20Dez2012<br />
Véio China©<br />
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Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-691738888632073142012-12-08T09:36:00.001-02:002013-07-01T23:02:16.227-03:00Os esquisitos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjdI_go_uUl5s_NGkUDe6_-f_UOS28VNrA2zthRIiTM3cnBynMuDl94VYL3cTrXw7LNU7zmzAO9SQGy3YrM-LAJdw-QCixDx0AlWwo9-nb1o6sPXI5SHrFBZB_otxwPC7ZjfQ9X8moXA_B/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjdI_go_uUl5s_NGkUDe6_-f_UOS28VNrA2zthRIiTM3cnBynMuDl94VYL3cTrXw7LNU7zmzAO9SQGy3YrM-LAJdw-QCixDx0AlWwo9-nb1o6sPXI5SHrFBZB_otxwPC7ZjfQ9X8moXA_B/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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<div class="MsoNormal">
Desligo o aparelho.<br />
Tinha terminado uma longa ligação quando o celular toca novamente. Sob os acordes de "My Way" na voz de Frank Sinatra olho para o visor e reconheço o número de Cecília. Aliás, era a sua quarta ou quinta ligação enquanto eu estivera no aparelho. Atendo.</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Que saco, Adriano! Faz uma hora que estou tentando falar
com você e o seu celular só dá ocupado. Ah sim, não me tem a menor importância com quem esteve falando - Ela diz secamente.<br />
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-Sim, e? - Respondi lacônico. Jamais gostei de pessoas que se saem com a pergunta dum "Sim" para te fazerem vomitar quer o que seja. Porém, não sabia se funcionária com ela.<br />
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-Bem... É sobre a máquina e as fotos, e como te conheço melhor que ninguém, sei que deve tê-las copiado para o teu notebook. Portanto quero que as delete, uma por uma. Entendeu
bem, entendeu? E por favor, deixe a minha Sony na portaria do seu prédio que amanhã quando você estiver no trabalho passo para retirar – Ela
disse num tom aborrecido.<br />
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Nessa ligação quem ficou atônito e engasgado nas palavras fui eu, e nem foi pelo fato de ter sido a cobrar,
pois deveria estar sem crédito, mas sim com os desaforos despejados. Óbvio, ouvi calado todas as últimas frases, merecidas e que justificavam as suas mágoas de uma mulher:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Cafajeste, mulherengo, safado, pervertido! E saiba seu
idiota! Rasguei todas as suas cartas de amor, uma a uma. Piquei todas e depois joguei
na lata do lixo! – Por fim um derradeiro suspiro, desligou e saiu da minha vida para sempre.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Talvez achem esquisito o fato de Cecília ter dito “rasguei
todas as suas cartas”. Sim, e ela rasgou mesmo, em papel e tinta! E o por que disso? Bem..sou daqueles que acreditam nas coisas de próprio punho, de deixar fluir a emoção sem a necessidade de softwares revisores de textos. Portanto, não sou do tipo
de sujeito que usa o e-mail para certas coisas entre as quais o amor, que envolve a paixão, afinal, os e-mails me parecem frios demais,
eletrônicos demais, sem sensibilidade demais. Portanto todas as minhas
cartas para Cecília foram enviadas pelos Correios e com o AR (aviso de recebimento) e mantenho comigo os recibos de entrega, apesar de nada valerem nesse momento.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Claro que cabe análise mais apurada quanto às fotos que ela se refere. Na verdade eram alguns instantâneos com ela no lombo dum jumento, no banco de uma Lambreta 61 reformada, e por último, dando
um tchauzinho no interior duma Romiseta 1960, vermelha, também recuperada. E
pra quem jamais ouviu falar em Romiseta explico; foi um dos “charmes” dos
anos 60, um veículo de motor de mínima potência e com a aparência de um ovo
deformado onde somente duas pessoas tomavam o assento. Sim, talvez estranhem, mas
também é importante salientar que essas fotos foram tiradas num condomínio de
milionários. Como assim? estarão se perguntando. B em...vou contar essa história de episódios tristes e estranhos e que nos levaram naquele mesmo dia ao rompimento definitivo dum relacionamento de quase dois anos. Aliás, não fomos "nós" que rompemos e sim ela, que fique bem claro. Talvez descubram também que Cecília, apesar de geniosa e impulsiva fosse exceção ao não compartilhar os mesmos traços esquizofrênicos de alguns membros da sua família, sabe-se lá se até por questões hereditárias.
Bem, o que sei é que todo esse conjunto de desacertos acorreu no mesmo dia da comemoração do
aniversário da sua tia Luiza, irmã de sua mãe. </div>
<div class="MsoNormal">
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E os fatos foram protagonizados num sítio próximo de São Paulo e no interior daquele condomínio há coisa de duas semanas. Sobre o sítio só posso dizer que é um lugar espetacular e raro de encontrar, afinal, conseguem imaginar uma mini fazenda dentro dum condomínio imóveis suntuosos? E o tal sítio conta muito da excentricidade dos milionários, no caso um primo de Cecília que, adquirindo 12 lotes do empreendimento imobiliário contratou uma empreiteira e depois de algum tempo viu aqueles <st1:metricconverter productid="10.000 metros quadrados" w:st="on"><st1:metricconverter productid="10.000 metros" w:st="on">12.000 metros</st1:metricconverter>
</st1:metricconverter> transformados numa cinematográfica sede de campo com jardins, piscinas, cachoeiras e lagos artificiais, além de inusitados estábulos. E como ricos são essencialmente extravagantes as ruas internas do empreendimento ganharam os nomes dos grandes atores de Hollywood das décadas de 50/60.</div>
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Consequentemente naquela manhã a primeira das minhas sensações de perplexidade ocorreu logo após chegarmos ao lugar. Assim que chegamos fomos barrados à portaria e confirmada a nossa integridade fomos autorizados a entrar sem não antes nos fincarem no peito um crachá de identificação. Adentrando ao condomínio procurávamos pela Humphrey Bogart, 777, quando numa rua próxima a ela ( a James Dean) avistamos uma garota montada num imponente cavalo. Sorri discretamente ao me cientificar que estava diante de algo incomum enquanto o negro animal vinha calmamente pela rua arborizada num fantástico contraste com os Mercedes Benz, BMW, Jaguar e outras marcas estacionados às portas de casas maravilhosas -"Olha, é a minha prima!" - Exclamou Cecília ao identificar a garota do cavalo. Como também íamos à direção da garota Cecília pediu para que eu parasse o carro. Estacionei o veículo e aguardávamos que a garota passasse para pudéssemos cumprimentá-la. Assim que ladeou o nosso carro notei o quanto era linda aquela garota de talvez uns 22 ou 23 anos. E o seu ar ganhava uma certa fidalguia no traje de amazonas que vestia, além das longas e refinadas botas negras. E o óbvio, reconhecendo Cecília a garota abriu um largo sorriso e e puxou as rédeas do seu animal. </div>
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<div class="MsoNormal">
-Oah Elvis! - Ela bradou obrigando o cavalo a parar:<br />
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-Oi prima, há quanto tempo! - Cecília exclamou para ela saindo pela porta e se escorando no alto dela.<br />
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-Nossa prima, verdade! Quanto tempo mesmo! Acho que mais de quatro anos, não? - Respondeu a moça num sorriso que faria Audrey Hepburn enciumar-se. </div>
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Bem, me senti sem jeito ao olhar para a jovem e inspecionar o Elvis. Realmente a espalhafatosa crina do cavalo lembrava em muito o topete de Elvis Presley. Fora isso havia alguma coisa em Elvis que me remetia ao ídolo, talvez fosse a vestimenta em seda chinesa que cobria o seu peitoral, algo brilhante, encorpado, branco, adornado nas extremidades com lantejoulas
douradas em forma de estrelas Antes que minha namorada nos apresente, a prima se antecipa</div>
<div class="MsoNormal">
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<div class="MsoNormal">
-Elvis, essa é Cecília! Cecília, esse é Elvis! : Muito
prazer, Elvis – Foi a resposta de Cecília num tom de quem estava adulando um menino arteiro.<br />
<br />
Fiquei aguardando que Cecilia fizesse a gentileza de fazer as apresentações, porém como ás vezes ela se desligava do mundo nada fez, obrigando assim a dona do cavalo tomar a iniciativa.<br />
<br />
-Muito prazer, moço! Eu sou a Magali! – Apresentou-se ao me encarar firmemente. Depois falou para o seu cavalo: Elvis,
esse aqui é o...o...o - A garota dicou engasgada naqueles "o" como agulha no risco do disco de vinil. Óbvio, era a deixa para que dissesse o meu nome.</div>
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<br /></div>
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-Adriano – Respondi num discreto sorriso ao olhar com desconfiança para o animal. Preocupei-me; Será que teria que me apresentar ao cavalo? Ai meu Deus, pensei naquilo e me senti profundamente ridículo. Portanto eu aguardava e Cecilia sorria, a prima sorria, e eu disfarçava ao levar o meu olhar pra o revestimento de courvim do volante numa tentativa desesperada de fugir ao confronto do quadrúpede. Passam-se poucos segundos e uma nova exclamação de Magali me faz levantar os olhos; novamente ela tagarelava com seu cavalo</div>
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<br /></div>
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-Então Elvis, como eu estava dizendo esse aqui é o Adriano, o namorado da minha prima Cecília! Olhe bem para ele e não vá confundi- lo, tá? - Ela recomendava ao cavalo como se ele fosse um garotinho das escolinhas da pré infância que fez xixi no banheiro das meninas. Pensei naquilo e talvez o cavalo ao assimilar conseguia distinguir as pessoas, porém, talvez fosse necessário que lhe dessem algum tempo para que isso acontecesse. Ainda persistiam minhas desconfianças com Elvis quando Magali saiu-se com outra loucura, e nessa, juro, tive vontade de rir, mas me segurei.<br />
<br />
- Diga alô
para o moço, Elvis! Vamos, cumprimente o moço para que veja como você é educado! - A jovem pedia docilmente ao cavalo com meigos tapinhas junto ao pescoço do animal. </div>
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<br /></div>
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Foi estranho ouvir um discreto e breve relincho enquanto bem próximo à minha janela a sua cabeça subia e descia agitadamente. Eu estava admirado; Será que ele havia compreendido? Evidente, mesmo que fosse possível entender as falas da garota eu me julgaria um alienígena se me apresentasse para um cavalo. Enfim, não sabia se Elvis entendia as dificuldades da minha limitação humana, portanto só lhe dei um "Ok" ao fazer um sinal com o polegar voltado para cima. Elvis pareceu-me compreensivo diante o meu constrangimento e apenas se manifestou num relincho menos entusiasta e agitou a enorme cabeça por duas vezes e depois lacrou-se no silêncio. Elvis era um bom garoto! Compreendidos, Elvis se manteve quieto, imóvel, majestade cintilando suas estrelas sob um sol de verão, apenas me olhando, olhando, olhando. Despertado daquele transe por novas ordens que Magali imprimia ao animal, nos despedimos. E novamente la se foi o quadrúpede:</div>
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<br /></div>
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- Acelera Elvis! – E Elvis partiu numa
desabalada corrida para um pouco mais à frente se firmar num trote calmo até
sumirem das nossas vistas ao dobrarem à esquerda ao fim da rua.</div>
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<br /></div>
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Talvez o fato de vê-la montada na sela de um belo hipomorfo, para mim e naquele momento o fato se constituiu alívio, colírio, afinal eu e meu
Golzinho 2007 nos sentíamos hiper acanhados em meio à ostentação de tantos
carros importados às portas dos casarões; Ao menos eu e meu Gol estávamos num patamar de superioridade se comparados a um animal. Porém aquilo que me servia de consolo foi tão provisório que, eu o meu Gol ficamos mais
putos ainda diante das desnecessárias informações de Cecília:</div>
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<br /></div>
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-Sabe Dri, minha tia ligou para a minha mãe e ela soube do cavalo nesta semana. E como eu não sabia, além de me contar, me perguntou: Sabe
quanto o teu primo Alfredo pagou por um Manga Larga? - Eu respondi, não mãe, quanto? - Minha mãe
esbugalhou os olhos e despachou-me sem só e nem piedade com todos dentes que tem: Cento e cinquenta mil reais! - Ao se referir ao valor, Cecília me pareceu bem irritada.</div>
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<br /></div>
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Olhei para ela com surpresa e pensei naqueles números por instantes e antes que razão me espetasse com as adagas do absurdo ouvi de Cecília a conclusão da infame história -</div>
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<br /></div>
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-Puta que pariu! Cento e cinquenta mil reais! Pode um negócio desses, Dri? Cento e cinquenta mil reais!<br />
A gente passando por dificuldades, pagando aluguel, e aquele perdulário gastando uma fortuna com um cavalo! – Finalizou irada, socando a coxa direita com o punho cerrado.</div>
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<br /></div>
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-Me abstenho dos comentários! – Respondi para ela. Estava perplexo</div>
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<br /></div>
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Porém a razão fazia um toc toc no alto da minha cabeça, tipo " Alôouu posso entrar?" - Então fiz os cálculos e eles indicavam que com aquele dinheiro eu adquiriria 12 automóveis da mesma marca e ano do meu. Sim! ou seja, eu receberia a grana pra comprar 12 carros e daria em troca para o excêntrico comprador o topetudo animal. Era isso? Sim, era, e estava bem claro, e outra... evidente que nessas condições e se o cavalo fosse meu o sujeito ainda levaria de quebra e gratuitamente a glamurosa roupa - Concluí, perplexo, deixando escapulir o cigarro da boca , aceso, e lançado entre as minhas pernas. Jesus
Cristo! Nervosamente bati as mãos no
assento, e depois com a brasa jogada para longe acelerei o Gol e rezei para que ele não engasgasse e nem punisse do desgosto no primeiro poste que aparecesse.<br />
Entrando na propriedade levei o
meu veículo até ao estacionamento dos visitantes e o meu Gol parecia querer
sumir dali, pois os colegas que o ladeavam eram carros potentes e de luxuosos.
Olhei para os carros, para os olhos de Cecília e pensei – “Maldição, Ce! Você tinha que fazer
parte da banda pobre da família?” – Inexplicavelmente, Cecília sorria, e eu não sabia por que.<br />
<br />
Esqueci o assunto e caminhávamos de mãos dadas já bem próximos da casa-sede quando os meus estupefatos olhos puderam testemunhar alguns carros no estacionamento
privativo do tal primo. Sim, a garagem imensa e anexa à casa estava com a porta automática levantada e isso permitiu observar que, além da Lambreta e da Romiseta, havia por lá outros carros como uma legítima Ferrari F40 ano 90, um Van Mercedes-Benz, e por último um Corvette do ano. Pensei por mais alguns instantes e concluí que foi bom
o Golzinho estar distante dali, afinal não seria de se duvidar que se sentisse um"bolsa família" diante tanta extravagância.</div>
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Chegando à porta da suntuosa mansão construída num estilo mediterrâneo fomos recepcionados por um sujeito magérrimo, loiro e de olhos claros. Algo me incomodava naquele loirinho sorridente de talvez uns 30 anos ou pouco mais. Logo descobri o motivo que me fizera sentir desconfortável à sua presença:</div>
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<br /></div>
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-Sintam-se bienvenidos, hermanos! Entrem y diviértete! – Ele nos saúda e recepciona num misto de castelhano e português. Não me faltava mais nada; eu odiava argentinos!<br />
<br />
Provavelmente aquele sujeito, além de mordomo deveria ser o “cacho” do parente afrescalhado de Cecília. E a desconfiança se explicitou na clara a afetação do primo que, ao se juntar à porta e nos cumprimentar fez um carinho no rosto do seu pequeno Gardel:</div>
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<br /></div>
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-Oh! Que bom que vieram! - Saudou-nos numa expressão que remetido ao falecido Clodovil. - Quem é o bonitão, Cecília? – Ele
perguntou embrenhando alguns dedos nos longos cabelos de mechas platinadas para depois jogá-los ao lado direito, assim como fazia Ronnie Von. Eu apenas o olhei, perplexo e desconfiado de tanta frescura, ou vice-versa, não sei.<br />
<br />
Depois de oficialmente apresentados
me senti desnudo tal a voracidade do olhar do primo Alfredo para a minha pessoa,
melhor dizendo, para o meu corpo, aliás, complete-se; Alfredo Ronaldo. Além dos mais, raramente as pessoas demasiadamente ricas se deixam escapar da empáfia, daquele ar de superioridade, como se nós os pobres fôssemos apenas passageiros de classe turística, fato que ficou demonstrado na galhofa de sua observação:</div>
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<br /></div>
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-Que gracinha ele, Cecília! – Onde você conheceu o seu bebê...
num jogo do Corinthians? – Perguntou com empáfia. Sim, só podia ser gozação, talvez um desdém à minha aparência que se vestida numa calça Levi's desbotada, par de tênis Nike de 2ª linha, e uma camisa social branca e de mangas longas que nem de grife era. Porém para a ingênua Cecília tudo era maravilha e seus olhos pareciam saltar para fora das órbitas oculares.</div>
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-Pela Virgem de Caropita, primo. Você é demais! Como foi que descobriu? – Olhei para ela e o meu olhar a fuzilou. PQP! Será que aquele puto tinha bola de cristal, parte com o demônio? Sim, Cecilia e eu desgraçadamente éramos corintianos, fanáticos, e foi no Pacaembu que nos conhecemos, para ser mais
exato, na fila do hot dog. </div>
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<br /></div>
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Parecia-me tão evidente e não me seria surpresa que Alfredo Ronaldo fosse sãopaulino. Em verdade tive vontade de mandá-lo se ferrar, mas me pareceu impróprio. Enfim, depois do requinte de sua humilhação ele passou a me
acompanhar seguidamente com olhares e aquilo me dava nos nervos à ponto de pegar na mão de Cecília e convidá-la para que me levasse para conhecer o lugar. E foi daquela forma que demos no estábulo e com a ajuda dum funcionário da manutenção e
da bela máquina Sony de Cecília que tiramos a foto com ela no alto do jumento. Ainda perguntei pro rapaz de olhos verdes o por que daquele pequeno animal entre os dois ou três cavalos de raça, ao que respondeu:<br />
<br />
-Moço, ali atrás daquela cerca tem jumentinha... - Assim que me viu olhando para o lado onde apontou, continou. -Pois é! O doutor Alfredo de vez em quando vem aqui e pede pra ajuntar os dois. Depois fica com um olhar muito esquisito olhando a "cobertura" - Concluiu. Olhei pros olhos dele e percebi a malícia<br />
<br />
-Ah, entendi... - Balbuciei. Definitivamente o tal Alfredo Ronaldo era um pervertido.</div>
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<br /></div>
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E foi conhecendo aquele rapaz e boa parte do sítio que pude perceber que havia sim a questão da segregação, da discriminação racial, pois não vi um único serviçal negro vagando
pelas dependências daquele paraíso. A começar pelo casal de caseiros, descendentes
duma segunda geração da Alemanha do pós guerra, e que segundo a sua informação foram trazidos de Santa Catarina.
Nem mesmo a cozinheira era negra, nem as copeiras, nem os funcionários
que cuidavam do resto do sítio, enfim, o que via era um pequeno exército de pessoas brancas, loiras e de olhos claros</div>
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<br /></div>
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Porém coisas mais ridículas e menos importantes aconteciam por
ali, como por exemplo nas dependências da imensa piscina em formato de
coração. Foi lá que Cecília me levou e encontrei e conheci pessoalmente a aniversariante, tia Luzia, mãe de
Alfredo Ronaldo. Sim, digo pessoalmente por que até então soubera dela o que me fora dito por Cecília à caminho do sítio. Segundo a sua mãe lhe contou, a irmã Luíza, mãe de Ronaldo Alfredo, quando jovem trabalhara numa casa de tolerância numa pequena cidade do interior de São Paulo. E foi lá que ela conheceu um milionário uruguaio. E mais, o homem era casado e se apaixonou tão perdidamente por ela que, retornou ao Uruguai, separou-se da mulher e voltou a para o Brasil de mala e cuia trazendo para cá grande parte da sua fortuna. Todavia, se tornaram uma família de pessoas mesquinhas, satisfeitas com o próprio bem estar e que jamais se preocuparam com ela e a mãe, especialmente aquela senhora com mais de 90 quilos, distribuídos talvez em um metro e sessenta e que agora me abraçava tão efusiva como se fosse eu o aniversariante. E o pior, ao me abraçar tia Luiza ensopou a minha camisa branca a bordo dum ridículo biquíni fio dental que ruborizaria até a Bruna Surfistinha.<br />
<br />
Deus do céu! Consegui me desvencilhar dela com algum custo, e mesmo não querendo encará-la a indignação dos meus olhos estava ali cravada naquele festival de banhas, pelancas, celulites, varizes, estrias e tudo mais que com facilidade se desprendia dela, assim como as folhas no outono. Não, jamais fui discriminador, portanto não tenho contra a obesidade e os obesos, afinal os meus pais são e eu posso me tornar um. Mas o que não aceitava era o fato de tentarem chamar a atenção com coisas e atitudes que os expõe ao ridículo. Contudo tia Luiza parecia ser daquelas que não se dão conta da aberração, além sugerir um certo orgulho ao trajar aqueles minúsculos tecidos em tons mesclados entre o verde-escuro e verde-limão. E
tudo era tão assustadoramente surreal que provavelmente ela deveria se sentir na leveza da garça ao dar uns oito passos para trás e impulsionar o corpo numa desconjuntada corrida e atirar-se na de pernas abertas à água na tentativa de cair em pé. Óbvio! Não conseguiu uma única vez, e não seria exagero considerar
que o ato da explosão do seu corpo junto à água mais parecia um evento nuclear aquático ao formar um cogumelo que espirrava água para todos os lados. O pior foi relembrar, não o abraço da apresentação, mas o momento após dar-lhe a parabenização. Disse tia Luiza para a minha namorada:</div>
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<br /></div>
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-Nossa, que gato que ele é, Cecília! Ele tem a cara do Roberto Carlos! – Disse num sorrisinho sacana.Hã, cara de Roberto Carlos? - Pensei comigo - PQP! Aquela mulher só poderia estar maluca. Roberto e eu éramos como a água e vinho, ele era feio, eu, bonito, ele milionário, eu, quase à linha da pobreza.. Ainda se ela dissesse um Antonio Banderas...vá lá.</div>
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<br /></div>
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Bem, com tia Luiza retornando para os seus novos e espetaculares
saltos ornamentais foi que sumimos dali. As coisas pareciam correr bem quando
atrás de nós ouvimos um “psiu” Olhamos e era Alfredo Ronaldo e seus estranhos olhares.</div>
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<br /></div>
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-Afê, Cecília, estava procurando por vocês! Aposto que seu
gatinho deve estar ansioso pra dar umas voltas naquela Ferrari vermelha que está na
garage! – Exclamou de forma afetadíssima e meneando a cabeça e jogando suas
madeixas novamente para o lado direito. Olhei pra ele, pros cabe los dele e, por São Tomé das Letras, só havia loucos
naquela casa.</div>
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<br /></div>
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-Não é mesmo, Flalviano? – Ele me pergunta num olhar à Rock Hudson. PQP de novo... Flaviano? Não me faltava mais nada! Claro, ele queria que eu confirmasse, porém fiz que não ouvi.</div>
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<br /></div>
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Foi aturdido e num estado patético que o vi apoderar-e do meu braço e me levar de braços dados á direção da sede. E ele falava e exclamava considerações e fatos e Cecília nos seguia rindo, literalmente rindo, tudo lhe parecia lindo, e o sujeito pretendendo algum envolvimento homossexual com o seu namorado, e ela rindo, rindo, rindo. Passando pela porta da mansão e o pequeno Gardel nos olhava atentamente, e então chegamos à garagem ele me fez entrar na Ferrari e se apressou ao travar o meu cinto de
segurança, instante em que propositalmente roçou a mão no meu peito. Que grande sacana! – Pensei
comigo – Bem, se parasse por ali até que valeria a pena das umas voltas naquela
Ferrari, enfim, quem em sã consciência não gostaria de dar uma volta numa F40
vermelha? Quando ele ligou e acelerou, o
motor esturrou como uma dúzia de famintos tigres siberianos. Uau! Aquilo era demais. E
assim partimos diante de Cecília que ainda nos dava “tchauzinhos” e a recomendação para que não corrêssemos muito. Daí partimos e não seria impróprio confessar que durante os vinte ou trinta minutos que rodamos para fora do condomínio, Alfredo Ronaldo por umas quatro ou cinco vezes insinuou
coisas de cunho sexual, porém eu me fazia de desentendido e mostrava estar mais
preocupado com as reações daquela máquina mortífera. Claro! Foi
mágico quando Alfredo pegou um atalho para a estrada e percorreu uns <st1:metricconverter productid="10 quilômetros" w:st="on">10 quilômetros</st1:metricconverter> numa
velocidade próxima aos 300 por hora; Foi fantasticamente estarrecedor.</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Voltamos para o condomínio e o coração parecia me saltar da boca. E lá estava o sorriso tolo de Cecília nos esperando; Ah se aquele sujeito de mechas platinadas fosse a
Mulher Samambaia... ah se fosse! - Pensei ai descer da Ferrari. De lá fomos para a confraternização de almoço e a fartura era de
impressionar; uísque 25 anos, camarões, bacalhau em postas grelhadas e de vários tipos de feitura, alcachofras, carnes nobres e grelhadas, exóticas como a carne carneiro e javali, e outras tantas variedades que nem saberia como identificá-las. Depois de me fartar e ainda sob o insistente
olhar de Alfredo Ronaldo me dirigi ao jarro em porcelana e me servi de um
café quente, passado na hora. Pensei por alguns instantes e olhando
pra fina louçaria chinesa perguntei-me: “Será que vale mais que meu Gol?”. Sem querer saber da resposta me encaminhei
sozinho à entrada da mansão afim de tragar um cigarro, pois Cecília odiava o fumo. Ali, relapso divaguei sobre outras coisas daquele paraíso quando
sinto a mão pousar em meu ombro. PQP – pensei. Lá vinha Alfredo Ronaldo
novamente. Dessa vez eu iria colocar os pingos nos “is”, ah se iria! Viro-me
e a surpresa; A mão era de alguém com feição severa e que intencionava soar ameaçador.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Que usted quieres com Alfredo Ronaldo, brazialino de
mierda? – Olhei estarrecido. O que? Um gringo vindo lá dos quintos dos infernos iria
falar assim comigo? Ah, não iria mesmo!</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah! vá se foder, seo Maradona afrescalhado! Não quero porra nenhuma com o teu
Alfredo Osvaldo! –</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Alfredo Oswaldo, no! Alfredo Ronaldo, habla correctamente, si? – Ele me
corrige. Olhei para ele, pro seu diamante no brinco de orelha esquerda, olhei pras mechas acastanhadas em seu cabelo loiro e perdi a paciência.</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ahh, vá te ferrar cara! Alfredo Ronaldo, Buzualdo, Agnaldo, Josivaldo,
Arnaldo, é tudo a mesma merda, entendeu seu gringo babaca? – Disse-lhe
encostando a minha testa na dele, tipo provocador, pois se fosse necessário eu cobriria aquele gringo na porrada. Momentaneamente ele retraiu a fronte. e
dando uns passos para trás, ameaçou:</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Estoy-te viendo, estoy de olho em tu! Tengas mucho cuidado comigo, hermano! – Disse ao continuar dando passos para trás à medida que insistia com o dedo em riste.</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ah...vá se catar Evita Peron! – Respondi e ameacei ir
para cima dele. Bem, ele fugiu rapidinho. Com argentino é sempre assim;
encaramos e eles dão no pé. Talvez em Buenos Ayres eles tentem fazer o mesmo com a
gente.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sei que voltei tão puto para a festa que comecei no uísque
25 anos, afinal aquilo mais parecia um manicômio de primeiro mundo isento de cordatas pessoas numa festa de aniversário duma senhora sexagenária e obesa.</div>
<div class="MsoNormal">
Talvez estivesse pela minha terceira dose quando Cecília percebendo a minha fala enrolada e olhos claudicantes me repreendeu duramente:</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Adriano, por favor, não vá começar na bebida! Quando começa
a beber sei que no fim vai dar algum vexame. Mas que merda isso! – Ela exclama numa voz tão insuportável e à madre superiora que tomei o rumo do barzinho e me servi no capricho duma dose dupla do ótimo escocês.<br />
<br />
Claro, ao se sentir contrariada Cecília
achou por bem me deixar de lado e ignorar-me para ter com seus outros parentes. Sim, claro, eu estava
um pouco ébrio, mas sabia perfeitamente o que estava se passando, portanto me
senti como se ela estivesse me abandonando. Para sorte minha, Alfredo Ronaldo não estava
por perto para vir com aquelas xaropadas e olhares, talvez até estivesse em algum namorico com o seu deus platino, talvez e quem sabe se até no interior da sua Mercedes, por que não?.</div>
<div class="MsoNormal">
Após a quinta dose senti a necessidade de um novo cigarro e
fui para fora da casa. Antes me muni da sexta e com ela no copo e na mão e com as pernas um pouco bambas rumei para a entrada e lá me escorei numa das colunas e acendi o meu cigarro. Ia dar o primeiro gole no uísque quando ouço:</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
-Ei..ei! – Era voz de mulher, uma voz que me soava algo conhecida. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Viro e dou com a linda Magali. Olho para ela e agora ela é outra, e
está num vestido vermelho de cinco ou seis dedos acima do joelho e seu corpo me parece
espetacular. Sem que lhe dissesse qualquer palavra ela me tira o copo da mão e traga o meu uísque de forma decidida. O seu olhar faísca e quando Magali diz a primeira frase eu percebo que já estava um pouco tocada.</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Caraca, primo! Esse uísque é fodaço de bom! – Me assusto com aquela expressão crua para alguém tão abastado e cheio dos fricotes.</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Dei risada e ela riu também. Depois tocando o seu dedo
indicador em meus lábios ela diz:</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Espere, my dear, espere que já volto! – Ela sorri envolvente e trepidamente se encaminha para a
sede. Olho e percebo que se a sua intenção fora um trajeto em linha reta, óbvio, não obtivera sucesso.</div>
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<br /></div>
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Menos de 5 minutos e lá estava de volta, aliás, ela e uma garrafa
lacrada de Jack Daniels e dois novos copos</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Sim, aquele uísque é muito bom, primo, mas gosto mesmo é dessa
porra! - Ela exclamou e riu com o mesmo deboche de uma prostituta. Yeah! Eu também
adorava o velho e bom Jack, além daquele seu riso de meretriz.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois me pediu para ir com ela, e eu nem sabia para onde. Antes porém deu-me os dois copos e ela seguia à frente empunhando o Jack na sua mão direita como se ele fosse algum troféu. o escalpo dum bravo guerreiro da aldeia rival. Um tanto trôpego a seguia e nos
aprofundávamos num jardim de muitas árvores e pequenas trilhas. Num
determinado ponto ela disse-me “É aqui, vem comigo!” E eu continuei seguindo e olhava para a
suas nádegas subindo e descendo, e elas me deixavam louco, e via suas grossas coxas que faziam o vestido subir à medida dos passos que dava. Eu me sentia entorpecido de desejos e por aquele corpo espetacular e bem torneado, e a bebida surtia cada o efeito, ao contrário do que causa em outros mortais, já que a bebida me atinge em cheio, me excitava, torna-me mais vigoroso para o sexo. Caminhamos por uns 1 ou 2 minutos e fomos dar num local onde as árvores, as plantas e as outras folhagens se fechavam e escondiam quem lá estivesse. E foi ali que ela pediu para que eu me deitasse. Sem
pressa alguma ela abriu o Jack Daniel com uma facilidade enorme. Depois serviu os nossos copos e propôs um brinde “Ao futuro!”
Disse ela – “Ao futuro” – Respondi. Em seguida deitou-se também e roçou o seu
corpo no meu, me tocou, me bolinou e por fim beijou a minha boca e sugou a
minha língua como se fosse onça atacando a presa. Estava fora de mim quando abri a camisa e tirei a calça e o tênis e levantei seu vestido e a olhei a maciez do seu corpo, embevecido.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Jesus Cristo, menina! Você está sem calcinha? - Lembro de ter perguntado. O meu estado de excitação exacerbava e ela rastejou pela grama, me lambeu o abdome e depois cravou a boca no meu pau e eu ou via o barulho que ela fazia ao me me sugar, um exaustor na velocidade máxima. Depois me olhou nos olhos e cuspiu no membro e ordenou:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Venha, my dear, aqui dentro! – E aquilo me estimulou e entrei duma única vez, e ele gemeu, esturrou e cravou as unhas nas minhas costas e me levava cada vez mais para as profundezas dela. Olhei nos seus olhos e ela me parecia tão furiosa como cobra que se sente em risco. </div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Era a mais animalesca das trepadas e eu a bombeava como um louco e os nossos orgasmos se aproximavam á medida que os movimentos se tornavam compassados e rápidos, e ela gemia, eu
gemia, e fomos juntos.... Porém a vida jamais foi perfeita.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ahhhhhhhhhh! – Ela explodiu a força dos pulmões ao atingir o orgasmo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Era o gozo mais escandaloso que eu presenciava. Ela não cessava os "ahhh" eu tentava
tapar a sua boca, porém ela mordia os meus dedos, impossível. E Magali persistia histérica e o som do seu prazer inundava plantas, flores, árvores e parecia não ter fim e reverberava em minha cabeça como os sinos da Catedral da Sé conclamando os fiéis, algo tão marcante quanto o berro do boi ao ser abatido com três marteladas na cabeça num desses matadouros clandestinos. Conclusão, mal tive o tempo de fechar os botões da
camisa ao surgir a família dela, em peso. E não era só isso, também estava ali
diante dos meus olhos a minha garota, aquela que eu amava, e eu só de cueca e a desesperada tentativa de fechar os botões da camisa como se aquilo pudesse me redimir, conceder-me respeitabilidade. E o ato lhes foi tão indigno que Alfredo Ronaldo ordenou aos serviçais
que me tirassem dali, que me levassem para o carro, que me sumissem da vida deles. Bêbado e trôpego eu tentava me equilibrar e pegar os meus pertences e me curvei e agarrei tudo como se fosse uma bola, o guardião da meta tentando evitar o gol do time adversário. Sim, constrangedor, e foi assim que me carregaram e o gringo desferia dolorosos socos no meu estômago, e minhas coisas ficavam pelo caminho, tênis, meias,
calça, carteira e documentos. Porém a sorte não me abandonara de todo, e Cecília vinha logo atrás recolhendo os pertences no trajeto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Chegando ao carro pretendiam me socar no assento do motorista quando Cecília protesta e pede para que me colocarem no banco traseiro. Lembro que me atiraram de encontro ao assento como se fosse saco de batatas, e então ouvi o o ronco do motor e Cecília estava ao volante. Durante uns 10
minutos em que me mantive lúcido não trocamos uma única palavra. Ainda olhei para o teto do carro e preso nele apenas apenas o acessório da luz de emergência, e ainda tentei alcançá-lá, queria acendê-la, mas com o braço e dedos esticados mas não consegui os dez centímetros que faltaram para liga-la. Talvez minha vida toda tenha se lastreado na falta, no nunca chegar em algo, no jamais alcançar os objetivos, objetivos que ás vezes nem imaginava ter..</div>
<div class="MsoNormal">
Acordei com frio e as pernas tremiam. Ao me dar por achado me pego na garagem do meu condomínio ás quase quatro da manhã. No banco do
passageiro se encontravam todos os meus pertences; calça, meias, tênis,
documentos e o dinheiro. Provavelmente a contrariedade de Cecília deve ter
sido tão intensa que ela não se deu conta que a sua Sony Digital havia ficado no piso traseiro do veículo. Saio do carro pela porta do meu lado e dou a volta e vou ao banco do
motorista. Sobre ele unicamente uma
folha do meu bloco de anotações que mantinha no porta-luvas. Dizia:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Nunca mais me procure. Por Deus! Esqueça que eu existo” Cecília pede.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Visto-me ali mesmo e subo para o apartamento e tomo uma boa
ducha. Após, tento ligar para Cecília e ela não atende. Confuso e aborrecido pelo
vexame e constrangimento nada tive vontade de fazer até que reparei na digital Sony colocada sobre a mesinha da sala. Meio que transtornado a levo até o computador e
transfiro para ele todas as fotos que ela havia tirado. Sim! Cecília me conhecia mais que eu próprio.</div>
<div class="MsoNormal">
No dia seguinte e por por quase duas semanas tentei falar e ela jamais me atendeu.
Fui diversas vezes ao seu prédio e o zelador só me dava como resposta “A dona Cecília não está”.
Fui ao seu trabalho com a máquina e além de olharem-me com feições rudes não me permitiram que fosse até à sua sala com evasivas de que Cecília estava visitando clientes. Ainda tentei aguardá-la à entrada do estacionamento à saída do expediente, mas assim e que de surpresa se viu tocada pela minha mão se pôs a gritar e pedir por socorro. Enfim, a coisa era
feia e séria.</div>
<div class="MsoNormal">
Passadas quase duas semanas do rompimento toca o meu celular
e é um número que desconheço. Porém não sou daqueles que desprezam números não conhecidos, pois eventualmente poderia ser algum amigo ou algum parente ligando dum aparelho de terceiro, talvez até por motivo de força maior.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Alô, é o Adriano? – Pergunta-me uma voz de mulher.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Sim, é ele! Quem gostaria? – Devolvo educado.</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ô my dear, aqui é a Magali! Cara, desculpe, consegui o telefone da firma que trabalha, e lá com um amigo teu, o seu celular ao contar uma triste história. Desculpe, tá? Mas...sei que meti você
na maior enrascada, pois soube através da minha mãe que vocês romperam. Talvez tenha sido a minha excitação ou o meu estado etílico, mas quando chego ao clímax fico completamente fora de mim. Inclusive
já me expulsaram de alguns motéis, pousadas, etc tc. - Ela se justificou e riu discretamente: -Uma vez até dum Camping fui expulsa, e foi o próprio gerente que foi me retirar! – Dessa vez ela não precisou rir; ri por ela.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Poxa garota, foi fria mesmo, você nem imagina. Mas deixa pra lá. Ta tudo
bem agora, o que não tem remédio remediado está. – Não há por que pedir desculpas, pois fui tão ou mais culpado que você – Tranquilizei Magali com um tom calmo de voz. <br />
<br />
-Ah...mesmo assim, perdão cara! Me desculpe mesmo! - Senti que ela estava sendo honesta.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Bem...sei que um assunto levou a outro, mais outro, outro mais, e assim
fomos conversando quando meu celular acusou a primeira chamada de Cecília. Olhei
e disse para mim mesmo: Ah, tu vai esperar, ah se vai!</div>
<div class="MsoNormal">
Claro que muitos homens sempre usaram da bebida para se sentirem verdadeiros, reais, como se a bebida vestisse o manto da verdade suprema e a qual a bebida não permite fugir. Para mim não, a bebida sempre me foi a maior das mentiras, e tudo que eu fizera sob o efeito dela, de alguma forma ou de outra virava contra mim. Há outros que em nome do álcool se imaginam com super poderes; Eu mesmo tive um tio que morreu ao enfrentar o trem em numa passagem de cancela, pois achava que detinha os mesmos poderes do Superman. E também ao contrário, e isso sim dizia a respeito de Cecília, há a verdade suprema nela que jamais bebeu, a "cara limpa" pois pessoas com os conceitos iguais ao dela dificilmente perdoam o que "nós" possamos fazer ao estarmos bêbados. Não que eu fosse um completo perdedor, não era, era irresponsável, a falta de compromisso com a coisas sérias, até ao ponto de uma amiga sempre observar em mim; Cara, você tem a pele de 25, aparência de 20 e a irresponsabilidade dos 15 - Ela costuma dizer.. E talvez ela esteja certa, talvez seja essa a minha sina, e mesmo não me sentindo um perdedor nos 36 que estou, dia sim, dia não sei que surgirão as ondas que pretendem me afogar. Sim, sei que terei que de enfrentar o meu oceano.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Portanto, irresponsável por irresponsável continuei conversando com a Magali e até marcamos um
encontro para um sábado próximo para vermos um show de rock duma banda que ambos gostávamos.</div>
<div class="MsoNormal">
Evidente que, desde já o fato preocupava, já que se rolasse
algum lance depois, fatalmente não poderia ser em meu apartamento, afinal eu jamais tivera qualquer
problema com os meus vizinhos de apartamento. E na mesma hora que conversávamos pensei em pesquisar na internet e tentar encontrar algum motel com suítes
á prova de som. Não sei e seria possível, se existia, porém no mundo de hoje tudo pode acontecer, absolvem corruptos, matam inocentes, santificam diabos, e assim, encontrar um motel com suíte à prova de som não me parece tão impossível. </div>
<div class="MsoNormal">
E no intervalo de tempo em que estive conversando com Magali foi que Cecília ligou aquelas quatro ou cinco vezes. Agora, na última, livre, atendo:</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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-Que saco, Adriano! Faz uma hora que estou tentando falar com você e o seu celular só dá ocupado. Ah sim, não me tem a menor importância com quem esteve falando...</div>
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<o:p> </o:p>Bem... o resto vocês já sabem...</div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sobre Cecília e eu? Sim, eu a amo e talvez amarei para sempre, e mesmo não me vendo perdedor nato torço para que também não seja super herói azarado que enfrenta oceanos bravios para morrer próximos à praia em coletes salva-vidas, misturado a bagres e baiacus nas inocentes redes de arrasto.</div>
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<br /></div>
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Copirraiti08Dez2012</div>
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Veio China<span style="font-family: Arial; font-size: 13.0pt;">©</span><span style="font-family: "MS Shell Dlg 2"; font-size: 8.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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-</div>
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Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-87382114024566075872012-12-04T13:08:00.002-02:002015-02-09T11:08:50.165-02:00A casca do ovo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5j6FPODTv7KOuOhNFlQzj2c7mhyphenhyphenomK1CSQ-sA7jZHCHDuFu1xC518YjWdclacreTOqlMfXZFcjNk3bzJmMLZ9q3HAN9aiKEomu_iQ_WOnCisWTgHuuFarMXvaFwYtdXReJA-iOnz15ACL/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5j6FPODTv7KOuOhNFlQzj2c7mhyphenhyphenomK1CSQ-sA7jZHCHDuFu1xC518YjWdclacreTOqlMfXZFcjNk3bzJmMLZ9q3HAN9aiKEomu_iQ_WOnCisWTgHuuFarMXvaFwYtdXReJA-iOnz15ACL/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
<br />
-Porra! Tu não vai me atender não? – O homem da barba grisalha reclama ao barman. Óbvio, queria mais uma dose da bebida predileta.<br />
<br />
Era estranho e mesmo após a sétima dose de vodca o homem parecia firme como uma rocha apesar das palavras abandonarem a sua boca num tanto de arrasto. A feição tolerante do barman, um sujeito atencioso e de talvez uns 25 anos sugeria preocupação que se confirmava no franzido da testa e na pergunta que dele não se omitia - “E se o homem morrer de overdose alcoólica bem aqui no meu balcão?” – Sim, era o seu temor, mas tinha a plena certeza que homens morressem de excesso alcoólico numa única noite. Não, ele não sabia, afinal, há menos de três meses ele estava atrás daquele balcão e próximo dos seis que completara o curso numa autarquia nacional. Contudo e mesmo no seu exíguo conhecimento dos limites humanos pressentiu que era tempo de tomar alguma atitude:<br />
<br />
-Senhor, desculpe a intromissão, mas está pedindo a oitava dose de vodca. O senhor não tem medo que possa ter um “piripaque”? – Perguntou-lhe com toda a educação. O homem ao ouvir a questão cerrou o semblante de pedra e rangeu os dentes.<br />
<br />
-Hum.. piripaque? Ta de gozação comigo? Que porra que é isso garoto? – Respondeu irritado e num tom grave e lamacento. O rapaz procurava ser o mais simpático possível.<br />
<br />
-Ah meu senhor, queira me desculpar... esse era o termo que a minha falecida avó usava para dizer que as coisas poderiam sair erradas – Ele se justificava no mesmo momento que fazendo uso da garrafa de Smirnoff serviu a a dose reclamada por aquele sujeito ríspido.<br />
<br />
-Ah! Frases e frases! Sim, frases, afinal no encontramos na era das frases de efeito. Cada qual cria a sua ou a busca no baú das antiguidades e com elas pretende sobressair-se mais que o outro. Quer saber, garoto? Eu acho o fato uma perfeita merda! – Exclamou para depois concluir reticente: Há pouco tempo me disseram que quebrei a casca de um ovo...<br />
<br />
O rapaz do balcão compenetrou-se à da lamúria do cliente, porém não sabia traduzir o sentimento. Será que aquele senhor falava do ato físico ao se quebrar um ovo? Não, não sabia, portanto a sua ansiedade voltou-se para as três da manhã, horário que retornaria para casa afim de descansar, afinal estava ali desde ás 18 horas. Porém em sua mente retumbava “casca de ovo.. casca de ovo” E aquilo o deixava curioso, e tão curioso que foi inevitável a pergunta:<br />
<br />
-Como assim meu senhor? O senhor quebrou os ovos de alguém?<br />
<br />
-Jesus Cristo! - Foi a crua resposta - :Não quebrei a porra da casca ou ovo algum! Eu usei apenas de metáfora!– Vociferou o homem a bordo duma feição mais rude ainda.<br />
<br />
-Desculpe senhor, mas não foi isso que entendi - O barman se defendeu da grosseria e persistiu: O que o senhor dexou a entender foi que havia quebrado a casca do ovo de alguém – Todavia o homem ainda não se dava por satisfeito, tinha encontrado a sua válvula de escape:<br />
<br />
- PQP garoto! Agora é que percebo que o teu negócio é unicamente servir bebidas e rebolar esse cantil com tuas mentas, anis, cerejas, cremes de morango, chantilis e todas essas frescuras que as mulheres tanto gostam! A tua compreensão é pequena, diminuta – O sujeito respondeu de forma bruta, embriagada e o pior, denotando chacota.<br />
<br />
Sim, parecia bem claro que o cantil que o homem referia seria a coqueteleira, e que o tal “rebolado” nada mais era que a frenética agitação dos braços na misturar dos ingredientes. Porém o sujeito denotava estar cada vez mais inconformado e o barman apenas mantinha atento a todos os seus movimentos – “Ai meu Deus, e se esse sujeito tem um infarto aqui na minha frente, o que eu faço?” – Enquanto o rapaz se perdia em medos o homem cravou o olhar no cedro do balção. Depois desviou o olhar do cedro e reparou no novo copo com a bebida colocado ao seu lado. Os seus olhos pareciam sombrios ao emborcar com sofreguidão a sua mais nova dose. Depois da bebida terminada simplesmente lançou seu olhar ao teto e ficou olhando alguma coisa por la, talvez o grafite desenhado por um desses artistas de rua.. Ao descer o olhar a sua voz assumiu a gravidade de sempre, mas que se vestia agora num amargor visceral<br />
<br />
-Meu Deus... como fui quebrar a casca e não perceber? . Como não notei? Por tanto tempo eu disse a ela que, nós os humanos cedemo-nos a insensibilidade, apesar de sempre estarmos á procura de alguém que nos quebre a “casca do ovo, nos fazendo retornar”. Então...como não fui me dar conta? – O homem murmurava num outro lamento.<br />
<br />
-Senhor, está tudo bem? – O barman perguntou receoso. O seu cliente parecia transtornado com aquela conversa sobre a casca do ovo.<br />
<br />
Sim, agora ele percebia que o que doía no homem era a dor do amor. E ele apesar de não ter aquela idade, talvez nem a metade, sabia algumas coisas sobre as pontiagudas paixões. E compreendia o homem e sabia que a bebida também era uma das alternativas para este tipo de ferimento. Não que ela curasse, não curava, mas funcionava como morfina, poderoso sedativo que entorpece e que engana a dor, ludibria as sensações.<br />
E assim e sem que o homem o solicitasse serviu para ele a nona e depois a décima dose. E veio a outra e o homem grisalho tentava desesperadamente dar cabo dela, porém já sem qualquer coordenação motora naquelas palavras que escapuliam da sua boca e soavam incompreensíveis, exceto a queixa Mater -“Como não fui perceber?”-<br />
<br />
Com a metade da dose restando no copo e de posse de alguma altivez ou a que dela restou o cliente pediu o valor da conta e ao tentar pagá-la derrubou ao chão todo o dinheiro que havia no bolso. O barman percebendo a sua dificuldade deu a volta no balcão e recolheu as notas pelo chão e retirou o valor necessário e retornou o restante para o bolso do homem. Era patético o olhar do homem e a sua necessidade de manter-se equilibrados. E apesar da força de vontade o que o senhor grisalho sugeria era parecer-se com um equilibrista que num domingo de circo espanta a garotada ao tentar manter-se numa corda bamba.<br />
<br />
Foi assim com alguma tristeza que o rapaz companhou a figura do homem deixando o estabelecimento. Ele prestava atenção a cada um dos seus passos e o homem mais parecia agora um coqueiro em dia de tempestade. Claro, era impossível não compadecer-se daquele sujeito acabrunhado. A esta altura o bar estava completamente vazio e faltavam 15 minutos para encarrar o expediente, e o cliente ao alcançar a porta de saída engasgou num pranto. O rapaz das bebidas se preocupou e foi até ele, então ouviu o seu lamento. Talvez tenha sido a emoção que fez o homem da barba grisalha a falar, mesmo que claudicante, ao menos, de forma audível :<br />
<br />
-Sim, garoto... foi o que ela disse... Ela me disse assim...você quebrou a minha casca e não percebeu! E depois numa mesma tristeza de ave que perde filhotes para predadores desaguou a sua decepção num choro - "Se você não percebeu é porque a sensibilidade jamais esteve com você" - Ana finalizou e foi embora para nunca mais voltar.<br />
<br />
Vomitado o sentimento ele se calou e insistiu no manter-se equilibrado. E agora livre daquilo que o matava o homem saiu pela porta enquanto o barman pensando na "casca do ovo" notou as semelhanças com algumas das suas questões com uma ex-namorada, alguem por quem ainda era apaixonado; Ela se queixava da sua falta de sensibilidade ao dizer que nele a única e fantástica suscetibilidade “trepar”.<br />
E ele, tanto quanto o homem que agora sofre pensou que enlouqueceria ao sentir-se abandonado. Porém o mundo sempre se reverencia à luz do dia, e agora ele estava ali num serviço com bebidas e salários de 1.500 pratas que, se não o deixaria rico, ao menos evitaria que passasse necessidades<br />
<br />
Terminando o seu turno e ao sair pela porta qual não foi a sua surpresa ao flagrar o cliente deitado à sarjeta há uns 10 metros distantes dali. Sensibilizado tentou ajudar o homem e notou que os forros dos bolsos da calça estavam para fora, e isso denunciava o assaltado. Apesar do roubo e das escoriações num rosto ralado pelo asfalto, o sujeito ainda tentava manter-se lúcido, porém fraquejava e ria e ria até que gemeu sua dor num novo soluço<br />
<br />
-Jesus, eu não percebi. Quebrei a casca do ovo e não percebi! Ah! Ela estava apaixonada por mim e eu não notei – Logo após voltava a voltava e socava o próprio peito e depois confessava com a fala mole: Eu era bem mais velho e tinha medo que sabendo a afastasse do meu amor - Ele gemeu<br />
<br />
Consternado, o rapaz foi á rua lado onde estacionava o seu carro e retornou com um Uno 93 de lataria avariada e motor prestes a fundir. Com alguma dificuldade conseguiu ajeitar o homem no banco do passageiro e rumou para a solidão do seu quarto/cozinha alugado. Sim, em casa que morasse, por menos que fosse sempre existiria um colchão sobrando.<br />
<br />
E no caminho de casa e atento aos semáforos vermelhos pensou em todos os ovos que jamais se quebram. Pensou na prepotência das pessoas, nas suas mentiras, meias verdades, seus egos, na idolatria da própria trapaça, e, principalmente na falta de tato do semelhante ao interagir com o seu próprio semelhante quer seja em amizades, família, local de trabalho e até mesmo nessa coisa confusa que chamamos de amor.<br />
Chegando ao destino e num novo esforço deitou o sujeito no colchão que sempre existe e o homem fazia ruídos com a garganta e repentinamente passava a silvar feito cobra para terminar num ronco grave e persistente. Sim, ele sabia; seria aquela uma noite muito difícil.<br />
<br />
Depois de algum tempo e antes de ferrar no sono pensou nas mesmices de sempre, mas se animava em seguir adiante. Ele sabia que o amanhã, chegaria e depois viria um outro, e mais outro e mais outros, e também haveria ovos e a delicadeza de suas cascas e novas oportunidades para serem quebrados por sensibilidades.<br />
E isso o fez divagar: Será que aquele homem voltaria a encontrar seus novos ovos? E ele mesmo? Também teria pelo caminho finas cascas a serem rompidas?<br />
Sim, fora essa a exata e última pergunta que se fez antes de cerrar os olhos e dormir profundamente.<br />
Não demorou muito e ambos roncavam.<br />
<br />
Copirraiti04Dez2012<br />
Véio China©<br />
<br />
<br />Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-34756007391059455812012-11-22T08:30:00.002-02:002013-06-23T23:55:16.918-03:00A culpa de Fernando Pessoa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzvUSnutt-ANPcCUAlASMWCNfgHPZTQrd7NIq0SXt0B2KrK2yaEil8ly0ybeBfkWCnLwt-fxcjYyH137koxUqbuvKqLwchX2yFT19fQz96GiVS9XrLzBIBD9GIA15VAFApF3l6JUEXW-ep/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzvUSnutt-ANPcCUAlASMWCNfgHPZTQrd7NIq0SXt0B2KrK2yaEil8ly0ybeBfkWCnLwt-fxcjYyH137koxUqbuvKqLwchX2yFT19fQz96GiVS9XrLzBIBD9GIA15VAFApF3l6JUEXW-ep/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
Bem... tudo começou com a amabilidade dessas gentilezas de sermos simpáticos uns com os outros. Claudio, meu amigo, por debaixo dos panos me deu o convite para uma festa, já que este não poderia estar presente no aniversário de 35 anos de um desses playboy da alta - "Cara, será a festa do ano! Só Whisky 25 "years" e lagostas no menu do jantar. Ah! e te empresto um terno legal"- Ele disse. Bem, na verdade as únicas coisas que tínhamos em comum eram nossas estaturas além do fato de termos passado parte da juventude num ginásio estadual e até o momento do seu pai ter faturado alto e sozinho o prêmio da Loteria Esportiva, isso lá pelo meio da década de 80. E sobre a lagosta? Bem..sobre ela posso dizer que jamais no foi traço comum, já que nunca degustei uma, sendo que minha única experiência com ela foi na TV e num programa do Ronnie Von onde um "maitre" e seus complexos talheres ensinavam a dar cabo de uma.. Portanto fiquei olhando para aquele convite personalizado e na minha mente ebulia a curiosidade sobre o mundo dos ricos. Também pensei na solidão de estar lá entre duas centenas de grã-finos, porém levei em conta que os ricos fossem solitários e necessitavam de eventos iguais aquele para denotarem a ostentação das suas fortunas ante ao testemunho da imprensa "Jet-Set" e colunas sociais.<br />
Enfim, esperando não ser barrado na porta de entrada com um pedido de "RG" lá estava eu naquele magnífico salão de festas duma cinematográfica mansão do Jardim Europa. Cheguei lá por volta das 8 da noite e apresentei o convite para um daqueles sujeitos de quase dois metros de altura e e ele me liberou a passagem. Talvez eu o tenha impressionado ao estar trajando uma estupenda gravata Dior grená e o belo terno do meu amigo, um Hugo Boss cinza e clássico. Entrando no jardim que antecedia o salão de festas fui servido pelo garçom a bordo de sua reluzente bandeja de prataria. Me servi do copo com maior quantidade e zanzava por entre as pessoas quando os nossos corpos se esbarraram acidentalmente desequilibrando o meu Whisky e o dela, um Martini com cerejas. <br />
<br />
-Desculpe-me!- Apressei-me diante o seu olhar surpreso: O meu nome é Odraude Inavap. Muito prazer senhorita... senhorita... – De imprevisto apresentava-me a ela deixando no ar um proposital intervalo de tempo entre as duas palavras finais<br />
<br />
Óbvio, eu tinha cem por cento de certeza que aquela moça jamais ouviria da boca de um relés mortal um nome como o meu. Talvez lhe fosse mais fácil entender que aquele meu intervalo entre as palavras "senhorita" nada mais fosse que a minha curiosidade em saber o seu nome. Ela, apesar de continuar surpresa, também me surpreendeu..<br />
<br />
-Muito prazer, Odraude Inavap! Te peço desculpas também! O meu nome é Gal Pernambuco de Menezes – Respondeu como uma flecha, um tom cantado, diferente, sorrisos nos olhos e aos cantos da boca. <br />
<br />
Provavelmente Gal deva ter ficado abismada com meu ar de perplexidade ao ouvi-la proferir o meu nome sem um único equívoco. Por fração se segundo pensei naquilo e concluí que aquela sua agilidade de raciocínio poderia indicar que estivesse diante duma pessoa bem dotada ou de alguém extremamente focada no ser humano. Ah sim! Sobre a questão do meu nome e a dificuldade e estranheza que ele causava às pessoas era comum me questionar os motivos de mamãe ou de papai ao me imporem uma condecoração daquela. E mais, nas minhas divagações sempre considerei a possibilidade de no dia do meu registro de nascimento papai estar sendo demitido de algum emprego importante, ou quem sabe se não somente isso mas, também a perturbação de mamãe ante das insistentes dores do pós parto. Sim, muitas vezes mamãe me disse que sofrera extraordinariamente com a recuperação do meu parto. E comigo mesmo questionava o sofrimento dela e perguntava-me se o parto "normal" e os meus mais de cinco quilos e meio tivessem contribuído. Também levava em conta o fato das cirurgias "cesáreas" não estarem ao alcance de gente simples e humilde como nós. Aliás, se perguntassem para papai alguma sobre "cesarianas" ele seria bem capaz de imaginar que houvesse ligação com as voluptuosas mulheres de Cesar, à época o fanfarrão centroavante do Palmeiras.<br />
<br />
-Nossa! Que calor infernal está aqui, não? – Ela sorri me absorvendo das extravagâncias . Olhei para a sua mão e notei que a bebida fizera um veio que escorria pelo vão dos dedos seguia na direção do pulso.<br />
<br />
-Oh, desculpe senhorita! – Urgenciei ao retirar o lenço do bolso traseiro da calça. Rapidamente surgiu em minhas mãos um de marca Presidente, alvo, perfumado e que eu havia comprado uma semana antes, portanto um marinheiro de primeira viagem.<br />
<br />
-Não é necessário te incomodares com isso, Odraude! - Ela continuava sorrindo, não sei se pelo fato de alguém ser tão antiquado ao ainda carregar o lenço ou, por eventuais cócegas que o tecido pudesse estar causando em sua pele.<br />
<br />
-Odra! – Repentinamente ouço uma voz de mulher e sinto dedos pousando em meu ombro. A voz me soa familiar. Viro o corpo e la estava ela; Carmem, aliás, melhor dizendo, Carminha.<br />
<br />
Olhei surpreso, enfim, há mais de 9 anos não nos víamos e ela continuava com o mesmo rosto lindo de sempre.<br />
<br />
-Que prazer! Tudo bem com você, Carminha? – Cumprimentei-a e apresentei uma a outra, pois senti o incômodo da garota do Martini – Gal, essa é Carmem, Carmen essa é Gal –<br />
<br />
O que veio a seguir foi uma cena constrangedora, ja que a Gal manteve sua mão estirada ao nada enquanto Carmem apenas se esboçou num sorriso de má vontade. Sobre Carmem também jamais seria impróprio confessar que tivera um caso com ela naquele tempo, mas não com essa que agora interferia. Carmem e eu nos conhecemos há coisa duns 11 anos, época do meu último ano duma tardia faculdade. Eu estava com 32 e Carmem cursava o segundo ano de jornalismo e era extremamente falante, comunicativa e chamava atenção pelas roupas espalhafatosas que usava, juntamente com suas insubstituíveis calças jeans rasgadas e os impreteríveis All Star na tonalidade rosa. Às vezes me questionava por que Carmem se vestia de forma tão mulamba, apesar do seu pai ser montado numa grana federal. Mas isso fazia parte da sua natureza e apesar dos indícios de uma "porra louca" qualquer Carmem jamais se viu "antenada" nas contemporaneidades do início dos anos 2000 ou nos oba-oba dos "descolados" ou daqueles que pretensamente pousavam de "cult".<br />
<br />
E recordando Carmem é impossível não relembrar daquela vez que me vi maluco para ver algumas das obras de Salvador Dali que foram temporariamente cedidas pelo Museu de Madrid ao MASP. Recordo inclusive que tive que carregá-la à força, pois nem pelo motivo ela se interessou. Sei que lá chegando foi que soube, e então passamos apreciar as obras do imortal, e ela me pareceu bem desinformada ao se sair com uma conversa tola e sem sentido: “Nossa amor... pinta muito esse boliviano, não?”. Talvez ela nem se dera por acordada tal o efeito do seu viciante Diazepan, porém o bastante para que o senhor ao nosso lado e que parecia entender daquilo olhar para nós com certa desconfiança e se afastar. Claro, deve ter imaginado que éramos malucos e gozadores. Ma mesmo assim Carminha nem se apercebeu, afinal estava demasiadamente entretida com um dos seus bombons Kopenhagen que acondicionava na sua mochila de brim cru da Ellus. Bem, também não podia culpar unicamente Carmem, afinal aquele relacionamento se quedou à época à fissura que sentia por garotas "cheinhas" e de estruturas avantajadas. Portanto foi mais que normal que me apaixonasse pelos seus mais de 85 quilos que se acondicionavam no seu metro e cinquenta e cinco, apesar do esforço sobre-humano para enfiá-los nas suas três únicas calças Lee<br />
<br />
Enfim, voltemos à mão da Gal ainda abandonada ao vento quando, Carmem, persistindo em ignorá-la dá o ar da sua graça:<br />
<br />
-Odra, olha para mim! Não nota algo diferente? – Perguntou-me num sorriso largo e olhos brilhantes<br />
<br />
Achei curiosa a sua pergunta, pois se fosse para perceber o que havia de diferente seria desnecessário o seu giro sobre o próprio eixo numa espécie de "Estou maravilhosa? Diga logo!”. Após o rodopio eu a passei em revista e Carminha que, deveria estar com uns 31 anos me pareceu espetacular naquele vestido negro e tão justo que expunha um fantástico par pernas bronzeadas, provavelmente adquirido na piscina de sua casa. Atrás, o seu bumbum proeminente se fazia acompanhar da curvatura dum tecido que não escondia o ínfimo “V” marcas de sua calcinha.<br />
Eu estava boquiaberto com as mudanças e ela aguardava o meu veredicto quando acreditei que ela tivera alguma ajuda extra na perda de tanto peso.<br />
<br />
- Poxa! Foi a bariátrica, né? – Os seus olhos me fulminaram e parecia até que eu havia cometido todos os sete pecados capitais, e eu senti as adagas da sua fúria penetrando o meu coração.<br />
<br />
- Pobre é foda, é literalmente descompensado! Foi dieta e esportes radicais,seu imbecil! - Ela se exasperou ao apontar o indicador no meu nariz.<br />
<br />
Pego de surpresa pela sua reação apenas fiquei olhando aquela longa unha vermelha a milímetros do meu nariz, aturdido demais para que esboçasse qualquer reação.<br />
Depois da tentativa de me humilhar, Carmem deu sua meia-volta e foi parar num canto oposto do enorme salão. E conforme ela ia abrindo caminho por entre as pessoas deixava atrás de si ávidos e pecaminosos olhares masculinos focados no subir e descer de cada uma de suas nádegas. Também não me seria surpresa que tivesse feito alguma lipoaspiração no bumbum, se é que isso fosse possível.<br />
<br />
-Ops! Desculpe Gal! Essa menina sempre foi assim, meio... “avoadinha” – Tentei justificar enquanto Carmem, mais adiante parecia "bater boca" com um sujeito que provavelmente lhe dirigiu algum gracejo. <br />
<br />
-Ah, não te perturbes com isso! A natureza humana sempre foi e será difícil - Gal responde num tom delicado e sorri enquanto eu recolhia o lenço no bolso -Nossa! É uma surpresa ver alguém andando com lenço nos dias de hoje! – Ela completa ao acompanhar o movimento do meu braço. Claro, me senti ridículo, porém não era o momento de me deixar abater. Contra-ataquei:<br />
<br />
-Pois é! Nunca sabemos quando uma linda mulher deixará escorrer despropositadamente a bebida em sua mão. Por isso me mantenho sempre alerta!<br />
<br />
-Hahahaha...Essa foi ótima! Te saíste bem, guri! – Gal riu prazerosa. Eureka! Parecia que eu estava no caminho certo. Ah sim, também não seria impróprio dizer que eu gostava de usar palavras, termos e gírias antigas, portanto comum ouvir em minha boca; Eureka – nos frigir dos ovos – pacas - putz – caraca – mina – boy - babado, lance, entre outras.<br />
<br />
-E tu Odraude, o que fazes? – Claro que a pergunta de Gal me incomodou. Mas estava aí uma ótima chance para saber que eu era um escritor, e dos bons.<br />
<br />
-Bem... quando não trabalho, escrevo! – Respondi na estampa dum sorriso confiante. Era o gancho, a forma dela se interessar pela minha literatura, quem sabe até perguntar se eu tinha blog.<br />
<br />
-Ah sim! Mas quando tu não escreves, trabalhas em que? – Jesus Cristo! O tiro saiu pela culatra.<br />
<br />
-Assim... pra te falar a verdade ultimamente não tenho trabalhado, só escrito – Justifiquei-me inquieto. <br />
<br />
Também não diria para ela que aos 43 anos estava aposentado por invalidez. E isso deveria ser creditado a um médico camarada do INSS que, talvez por estar numa semana de benevolência achou por bem assinar um laudo federativo onde dizia que eu sofria de doença grave e incurável. Sim, isso fora há 7 anos, quando me acometi de depressão fortíssima, inclusive, acompanhada da síndrome do pânico. Mas de lá pra á não me mutilei e nem me joguei da Ponte da Aricanduva e saio toda semana pra beber minhas cervejas com os amigos, e até para uma trepada relâmpago vez ou outra. Entretanto não seria necessário que ela soubesse destes fatos.<br />
<br />
-Bah, que legal, Odraude! Tu tens livros publicados? - Ao fazer-me a pergunta Gal cravou o olhar em mim. Bem, já escondia-lhe a depressão, a síndrome, agora, furta-me à verdade de outros detalhes seria deselegante e injusto.<br />
<br />
-Não não... apenas escrevo crônicas e pequenos contos para jornais de bairros. Inclusive no mês passado teve uma publicação minha no Shopping News – Respondi com um pouco mais de confiança. Porém eu pressentia que deveria demonstrar certa altivez, pois Gal não me parecia o tipo de mulher que se acomodava com fracassados. Então emendei: Há duas editoras interessadas em meus textos – Na verdade não era propriamente interesse, mas apenas lhes deixara os meus textos há coisa de quatro anos e sem que houvesse qualquer retorno.<br />
<br />
-E você Gal, o que faz? – Era a minha tentativa de mudar o rumo da prosa.<br />
<br />
-Sou escritora, Odraude - Foi a sua resposta acompanhada de outro dos seus doces sorriso. <br />
<br />
Olhei nos olhos dela. Eu estava perplexo e eles não me pareciam os olhos de uma escritora, aliás, a sua aparência pouco transpirava literatura e sim as passarelas de modas, tamanho era a beleza do seu rosto, corpo e dos cabelos lindamente loiros.<br />
Talvez Gal fosse uma escritora tal qual a mim, uma blogueira obcecada, afinal nos dias de hoje todos os amadores que se consideram escritores mantêm um ou mais blogs para desovarem suas criatividades. Em todo o caso tentei ser recíproco ao devolver a pergunta:<br />
<br />
-Fera, Gal! Algum livro publicado? – Inquiri com um ar de quem esperava como resposta: "Não! Apenas tenho um blog de poesias!" - Não foi a resposta, caí do cavalo.<br />
<br />
-Tenho sim,Odraude. Seis. Quatro de poesias e duas novelas. Todos pela M&LP – <br />
<br />
Gal respondeu sem qualquer afetação na voz, olhar, ou retesamento nos músculos ao se confessar uma mulher literariamente bem sucedida. Pra falar a verdade eu estava tão surpreso que nem sabia o que comentar, até que me veio á cabeça me mostrar interessado por suas obras.<br />
<br />
-Poxa, que bacana, Gal! Qual é o título da sua última novela?<br />
<br />
-Morrendo em Machu Picchu – Ela respondeu na lata. Não! Gal só podia estar de gozação comigo, afinal, era um título de muita procura. Eu mesmo tive que me deslocar e ir duas vezes à livraria para conseguir o meu exemplar, pois assim que chegavam à loja desapareciam rapidamente das prateleiras <br />
<br />
-Mas, espera... - Divaguei atônito: Este livro não foi escrito por um excepcional escritor de nome Antonio Nogueira de Seabra? E sei por que pastei pra conseguir o meu – Protestei. Gal continuava com o mesmo sorriso; Será que ela estava a fim de tirar um barato com a minha cara?<br />
<br />
-Ora! Que mesquinhez, Odraude! Somente a Fernando Pessoa foi dado direito de uso dos seus muitos pseudônimos? - Ela respondeu e eu vi os seus dentes alvo e perfeitos. Depois continuou: Então... acredito que não, e assim eu o homenageei com parte do seu nome – Devolveu com um ar de menina arteira.<br />
<br />
-PQP! É verdade! Fernando Antonio Nogueira de Seabra Pessoa é o Fernando Pessoa! - Exclamei desenxabido. <br />
<br />
Caia a ficha no telefone de mim. Que porcaria de escritor que desconhecia o nome de um dos maiores escritores da humanidade? Que raio de escritor seria um sujeito que não tinha condição de memorizar o nome dum imortal? - Só me restou sorrir desajeitado e com ela percebendo o meu constrangimento.<br />
<br />
-Odraude, gostarias de sentar no banco do jardim? Continua demasiadamente quente aqui - Ela pediu com toda delicadeza. Talvez fosse a sua tentativa de aliviar a minha barra.Respondi que sim e então saíamos pela porta envidraçada e rumamos para um imenso jardim, anexo ao salão.<br />
<br />
A festa que estávamos era de Olavinho Drummond, filho de um milhardário empresário no ramo da engenharia pesada. Conversando foi que soube que ela fora convidada pelo próprio pai de Olavinho, Dr. Olavo Drummond. Também me disse que viera do Rio Grande do Sul e estava em São Paulo para uma sessão de autógrafos de seus livros na Livraria Cultura do Conjunto Nacional na manhã daquele mesmo dia. E assim sentados num banco de jardim foi que conversamos demoradamente e eu adorava aquele seu sotaque sulino, e era como se a qualquer instante ela fosse sair com um dos tradicionais, tipo; Eu adoro leite quente! - E a sua fala sairia cantada, charmosa, irresistível.<br />
<br />
Conversamos mais ainda e entramos na pessoalidade e falamos de nossas vidas, dispusemos das nossas alegrias e de algumas desilusões. Ali eu não soube omitir e contei sobre a época da minha depressão. Em contrapartida Gal disse-me ser divorciada e ter uma filha de 12 anos e isso me dava a ideia que sua idade estivesse na casa dos 33 aos 35 apesar da sua aparência apontar para uma garota dos seus vinte e tantos. Porém eu deveria ser cuidadoso, pois sempre será bom ser discreto como uma mulher ao jamais perguntarmos da idade e nem a marca do seu absorvente . E o fato é que era mágico estar ali e ouvir cada uma daquelas palavras que soavam mansa, doces, fala pausada e sem pressa e nem atropelos. Dela se desprendia um perfume feminino e suave, algo clássico e que não impregna o ar, mas fundia-se a ele e seduzia a noite. E nós permanecíamos ali, engraçados, espirituosos, confidenciando pequenos delitos e outras coisas como a predileção por cores, carros, escritores e times de futebol. Passavam das 23,30 horas quando o Dr. Olvavo procurando por Gal veio dar até nós. Ali mesmo ele sorriu e abraçou afetuosamente Gal e ao sair me disse:<br />
<br />
-Moço, cuida bem dessa garota, pois ela é estupenda! - Talvez o velho percebesse algo. Ele não era bobo.<br />
<br />
Cumprimento dado ele se retirou, pois se mantinha no hábito de velhos generais; o de não se recolher tardiamente. Nós continuamos a conversar animadamente, e á medida que conversávamos os nossos corpos se aproximavam e resvalavam, já que estávamos lado a lado. E agora a fragrância do seu perfume não pertencia unicamente à noite, mas também a mim. Eu não desgrudava os olhos da sua figura e percebia a doçura do olhar castanho-esverdeado que me encantava a cada vez que ele pousava no meu. Pouco distante dali ouvíamos um som de violão e a bonita voz de um desses bons cantores da noite interpretando canções românticas. Repentinamente acordes conhecidos e uma outra canção.<br />
<br />
“Assim/ Que o dia amanheceu/ Lá no mar alto da paixão/ Dava pra ver o tempo ruir/ Cadê você? Que solidão!/ Esquecera de mim”<br />
<br />
Era Oceano, de Djavan. Talvez o instante tenha feito me levantar e estender a mão para ela num convite á dança. E eu achei adorável perceber no alto do meu olhar o ar de surpresa de seus olhos que pareciam reluzir com igual intensidade da lua que nos brindava. Repentinamente ela me concede a mão e se levanta e começamos a dançar, e era apenas ela, eu e o jardim. E os nossos passos cadenciados foram testemunhados por flores de muitos perfumes, jasmins, tulipas, rosas, e por outras que jamais saberia como identificar. Eu podia sentir cada tremor dos seus músculos ao ter o seu copo colado ao meu. Eu podia sentir o arfante vai-e-vem do seu peito ansioso e que denunciava o descompasso do seu coração. Lentamente nossos rostos se tocaram e eu pressionei suas costas com as mãos, enquanto os seus dedos se aninhavam em minha nuca e timidamente brincavam com meus cabelos. E Djavan persistia cantando, e eu me sentia o próprio oceano, imenso e azul e depois outra sensação me toca e me sinto vaga, bravia e sou a própria tormenta ao sentir o calor da sua pele e a maciez da tez. Mais que nunca eu distinguia o seu cheiro e o odor do seu perfume, fragrância que agora eu não dividia com os mistérios da noite, pois era unicamente minha.<br />
E era algo tão intenso e de tanto esplendor que naquele instante o universo poderia desaparecer sob os meus pés e eu nem sentiria, e continuaria dançando... dançando... dançando..,<br />
<br />
-Eiii, Odraude, a música terminou! – Ela me acordou e riu discretamente. Eu me separei do seu rosto e corpo e constrangido olhei para ela.<br />
<br />
-Ops! Foi mal! Desculpa, Gal! - Ela ainda sorria ao começar a nova canção. Era uma música de Vander Lee.<br />
<br />
“Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores/ Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores/ Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores”<br />
<br />
Dessa vez foi ela que me pegou pela mão e uniu o seu corpo ao meu e colou nossos rostos. Ao fim da música estávamos nos beijando apaixonadamente.<br />
Depois retornamos para o banco e continuamos a conversar e magia estava ali. Sim, a magia vivia ali mesmo que não houvesse mágico, cartola, bastões e coelhos. A magia respirava e se traduzia em vida mesmo não existindo papéis picados transformados em em flor e nem as moedas sendo retiradas de ouvidos. Não, não havia nada disso, era uma outra magia, a magia que persistia ali.<br />
Passavam das duas da manhã quando Gal sussurrou em meu ouvido:<br />
<br />
-Odra, se preciso, por ti irei até o inferno! – Eu olhei para ela e sorri, e depois nos retiramos dali.<br />
<br />
Estávamos na humildade da minha Pálio Weekend 2002 quando perguntei se gostaria que fôssemos a um motel.<br />
<br />
-Não, Odra! É possível irmos para a tua casa! – Era uma quase súplica.<br />
<br />
-Mas.. a minha casa é simples. Aliás, é um pequeno apartamento de quarto/sala/cozinha e um minúsculo terraço. E está numa bagunça! - Envergonhado tentei me justificar.<br />
<br />
-Bem... e nesta amplitude toda há ao menos uma cama de casal? – Ela pergunte e o seu olhar é divertido e há um tom de carinho naquele proposital deboche.<br />
<br />
-Sim, há! - Confirmo - Depois assumi um ar prepotente e comuniquei: - Mas, mocinha estou acostumado a hospedar realezas! Você é realeza?- Seus lábios grossos se alargaram no sorriso mais lindo que vi.<br />
<br />
-Sou realeza sim ! Sou a reencarnação da Lady Di! Agora vamos embora! – Ela ordenou ao acariciar os meus cabelos enquanto eu engatava a primeira marcha.<br />
<br />
Era manhã de domingo e acordamos com uma das suas pernas enfiada no meio das minhas e o seu rosto aninhado em meu peito. Fora uma noite de amor selvagem, felino, do tigre indômito e de garras enormes diante duma onça feroz e que esturrava bravia. Na madrugada fôramos tudo, caça, predador, e eu jamais fizera amor com tanta volúpia e paixão. Levantamos e ela me pediu uma camiseta. Dei-lhe uma nova, a do meu time, e ela posicionou o polegar para o alto e disse que apesar de não ser a do seu Inter, passaria a torcer pelo meu time em Sampa. Assim que vestiu a camiseta eu ri escandalosamente, pois ficou engraçado o tamanho GG naquele corpo de corpo manequim 40, aliás, algo parecido com essas guriazinhas que colocam os vestidos das mães. Por sorte eu tinha escovas novas e ela retornando do banheiro com a maciez da fragrância que agora seduzia a atmosfera da minha casa. Olhei para ela e estávamos famintos. Apontei o dedo para a direção da cozinha e rumamos pra lá, e e lá apenas uma lata de leite Ninho, Nescafé, pão de forma e uma pequena peça de salaminho ainda lacrada. Sim, foi aquele o nosso café da manhã, mesmo que delicadamente reclamasse do adoçante ao lugar do açúcar.<br />
Depois voltamos para sala e ela pediu permissão para usar o meu notebook.<br />
<br />
Com ele conectado ela verificou os seus e-mails, respondeu e deixou recados no Facebook e por fim acompanhou as últimas referências no fórum do seu site pessoal. Sim, ela criara um fórum para que os seus leitores emitissem opiniões, sugestões e até críticas aos seus livros. Segundo Gal a interação ajudara em muito a sua escrita. Após satisfeitas suas coisas perguntou-e se eu tinha comigo alguns dos meus textos e eu respondi que sim, pois sempre guardava muitas cópias. Abrindo a porta da estante peguei e dei em suas mãos uma pasta abarrotada de contos, crônica, até poemas. Com paciência e diante o calhamaço de papéis ela leu o primeiro, o que estava acima dos outros. Chamava-se – A vigarice e o efeito dominó – Era o título dum conto curto conto onde eu caçoava dum oficial de justiça metido a literato. Gal riu um bocado com o texto e depois leu outro, e mais outro e mais outro. E sempre interrompia a leitura e levantava os olhos e me dizia “Bom, muito bom” – E eu apenas sorria. Talvez ela quisesse ser generosa e fortalecer a minha moral. Estávamos às duas da tarde quando ela me pergunta:<br />
<br />
-Odra, podes emprestar este material? Preciso levar comigo.<br />
<br />
-Claro, fique à vontade, já que gostou.. – Respondi surpreso e feliz.<br />
<br />
-Se gostei, Odra? Eu A DO REI ! – Gal respondeu exatamente assim em sílabas. Havia um resplandecer estranho naquele olhar.<br />
<br />
Vestimos nossas roupas e fomos almoçar num lugar chamado "Sujinho" ali na Rua da Consolação, talvez a melhor bisteca bovina do país. Gal adorou. De lá seguimos para o seu hotel, pois o voo para a sua Porto Alegre partiria às 20 horas, e teríamos que estar com uma hora de antecedência no aeroporto de Congonhas. Diante da gentileza do porteiro que nos abriu a porta do elevador subimos para o seu quarto, e lá chegando nos atracamos e começamos a nos beijar e foi inevitável deixarmos de fazer amor. Porém dessa vez foi diferente, foi doce, romântico, carinhoso e tão puro como a prece de fiéis em altar de milagres. Não sei se seria demasiadamente cedo para concluir, mas parecia que nos apaixonáramos.<br />
Às 19 horas estávamos na ala de embarque da companhia aérea quando trocamos o último e ardente beijo. Antes, porém permutamos algo que não tínhamos feito até então como os números dos nossos números de celulares, MSN, e até Skype. Gal sorriu e eu sorri e era espantoso como a internet a cada vez mais fazia parte da vida do indivíduo. <br />
No decorrer daquela semana conversamos longamente por celular e nos vimos todos os dias pela webcam. No sábado e um pouco após acordar uma estupenda surpresa ao abrir o meu Outlook.<br />
<br />
“Prezado Senhor Odraude Inavap. Lemos os seus textos e gostamos deveras Há todo o interesse de nossa parte. Há o vosso? Se houver poderemos agendar reunião para discutirmos as bases para um acordo de publicação. Cordialmente.<br />
M&LP – Editores –<br />
<br />
Passados nem 10 minutos toca o celular – Era Gal <br />
<br />
-Amor, a M&LP adorou os teus textos. Ligaram-me agora pouco e disseram que mandaram e-mail propondo-te uma reunião. Tu recebeste?<br />
<br />
-Sim Gal, acabo de ler! - Exclamo entusiasmado Porém de imediato me bate a dúvida: Espera... Me fala... você têm algo a ver com isso? – Questiono num timbre austero<br />
<br />
-Sim, claro que tive, amor! – Ela respondeu à queima roupa<br />
<br />
-E qual? – Pergunto num tom de aborrecimento <br />
<br />
-Eu apenas fiz o trajeto em avião e entreguei a pasta dos teus textos para eles. O resto meu bem, é problema teu e deles! – E riu gostoso.<br />
<br />
-Ah bandida! Tu me paga! – Também acabei por achar graça<br />
<br />
-Amor, falas que eu posso. Falas? – Gal vestia a voz num tom pastoso, melado, tipo assim, gata prenha – miau – miau – miau<br />
<br />
-Pode o que, Gal? – Questionei. O que será que ela estaria aprontando? Repentinamente a sua tonalidade de voz denota séria maturidade<br />
<br />
-Amor, ao fim de minha rua há um edifício que é uma graça. Inclusive são as mesmas dependências que tu tens aí em Sampa, só que são bem maiores. Posso alugar pra ti?<br />
<br />
-Ah Gal, não sei. Tem o pessoal, a reunião, vá que não dê certo? – Ela me pegou desprevenido e devolvo cauteloso<br />
<br />
-Bah, Guri! Já vi que não conheces o povo gaúcho – Ela contestou. Parecia que eu fizera pouco caso d nação sulina.<br />
<br />
-Uai! Como assim meu amor? – Perguntei <br />
<br />
-Saiba sujeito de nefasta poluição! Gaucho quando gosta é porque gosta, tchê! E vai até ao fim do mundo pra alcançar o que pretende! – Respondeu num tom insinuante<br />
<br />
-Bah, guria! Se for assim eu topo! – Devolvo tentando imitar o sotaque.<br />
<br />
- E outra seu potro abobado... tenho para ti uma proposta que segundo o meu ponto de vista é plenamente irrecusável. É impossível não aceitares! - Ela me desafia<br />
<br />
-Bah! Então diga guria! – Apesar de curiosíssimo, tentava me familiarizar ao gauches<br />
<br />
-A cama de casal, o leite Ninho, Nescafé e adoçante Zero Cal serão por minha conta numa primeira rodada! Topas, amor?<br />
<br />
-Hahahaha. Negócio da China! Fechado! – Foi a minha resposta<br />
<br />
-Orra meu, sabia que te amo? Até que enfim, eim tio? - Gal exclama, aliás, grita, estranho, num tom esquisito, uma gaúcha tentando se passar por uma paulistana do bairro da Moóca, por sinal lugar onde nasci. Como ela soubera?<br />
<br />
Aquilo me foi simplesmente inacreditável e eu gargalhei até contrair os músculos abdominais e doer.<br />
Pelo jeito eu e Gal não nos livraríamos um do outro de forma tão fácil e num tempo tão curto. Talvez até jamais nos livrássemos<br />
<br />
Era simplesmente o amor.<br />
<br />
<br />
Copirraiti22Nov2012<br />
Véio China©Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-62490125730718985292012-11-14T15:04:00.001-02:002012-11-19T19:14:07.181-02:00Os amores Mortos-Vivos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPxC8XJvG9dFgdAl8ias9sglpxrKgwAFbsuhgtlK66i1Og7Ao38vZY1CKkJ33aClkosN-1CBnRsDjK1YydbVaCHvPX5l2wcAOPA4NlKkKBpnOsQV5dmC03iHE0YaA_1FDhRiLOY1PjJrLR/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPxC8XJvG9dFgdAl8ias9sglpxrKgwAFbsuhgtlK66i1Og7Ao38vZY1CKkJ33aClkosN-1CBnRsDjK1YydbVaCHvPX5l2wcAOPA4NlKkKBpnOsQV5dmC03iHE0YaA_1FDhRiLOY1PjJrLR/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
A natureza humana está sempre assassinando algo. Portando, assassinos nos tornamos ao desarraigar de nós as crenças que sempre nos foram vitais.<br />
E assim ocorrendo nos transformamos em mortos-vivos, esses que se levantam para outra vez deitarem. A morte ronda por todos os lados e ela é voraz e por vezes trama e faz com que assassinemos a nós mesmos, levando para um nosso caixão ainda em vida a pujância do fogo, ar, terra e água. Talvez muitos de nós não percebam que estes elementos são motrizes das sensações vivas, são forças geradoras que sinalizam para a existência única e na qual poderíamos estar ou tentar ser feliz. Enfim, somos nós os motivos das próprias revoluções, guerreiros digladiados entre o bem e mal, o ódio e paixão, verdade e mentira, razão e emoção<br />
<br />
E me rendo enquanto soldado a este ser racional que me devora por não mais te sentir na posse destas forças. Sim, não te sinto arrebata no jeito que te me entregas ou que me fitas, afinal o que em ti transborda é a melancolia no olhar. Não desisti e procurei rotas que nos convergessem, mas sempre me sentii num teatro de portas cerradas onde a única saída foi a de aniquilar as sandices dos teus personagens e as tramas com quais me enredaram. Claro, é doloroso esse processo de extrair mentiras nas verdades e separar o sal das turvas águas do teu oceano. Não há em ti a dimensão do quanto me dilacera agora ver-te com os olhos cerrados, pois me lembro deles ainda plenos de vida e eles sorriam dum jeito que eu tanto gostava.<br />
Não, não te mexas, permaneças assim como estás e permita-me acariciar-te a maciez dos cabelos e recordar as palavras de ordem, as quais consentias apenas verdades, como por exemplo, o eterno do teu amor por mim além das confessas paixões pelas flores e noites de lua cheia.<br />
Ah! Eu adorava te ouvir, e como um menino sapeca devolvia-me em sorrisos que se ungiam de encantos e esperanças. E quanto mais falavas mais eu continuava sorrindo, talvez até no mesmo tom esverdeado dos teus campos e pradarias.<br />
<br />
Mas era ilusão, portanto transitório. E é desiludido que me flagro no lugar onde estou. Deprimente e perturbandor é este o odor doce, este cheiro de morte que escorre como o suor da pele nestas flores que agora te afagam. Desespera-me a imininência destas pétalas aveludadas e as rosas que te ladeiam em tons avermelhados. Entendas, elas igualmente lamentam ao contornarem a tua delicada silhueta e o petreo do teu sentimento. Enfim... Não há choros e nem do que te queixares, afinal, hoje e tão somente hoje elas te serão infinitas companhias, únicas testemunhas do sentimento que, antes carne e unha se viu arrancado de ti; O amor<br />
Portanto este é o momento de celebrar o novo, de festejar a vida, não a tua, mas sim a minha, pois ainda me sopram as forças e os elementos. Não, não vou negar e te confesso que, por vezes me faltou vigor e me senti a caminho da morte. Entretanto eu era um guerreiro e lutei, me ressuscitei, e agora me sinto desperto, lúcido, logo, aquelas mortes não foram as minhas.<br />
<br />
Portanto dona, mesmo que me doa e dilacere te peço perdão por este último exalo do perfume dos teus cabelos e o beijo derradeiro: É-me impossível te relegar ao frio desta madrugada sem ao menos sepultar-te.<br />
<br />
Ah minha doce senhora... Se soubesses a dor ao enterrar um morto-vivo...<br />
<br />
Copirraiti13Nov2012<br />
Véio China ©<br />
<br />
<br />
**Sei lá...ontem amanheci com Nelson Rodrigues<br />
na cabeça...saiu isso. hehehe Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-90236367432934638192012-11-10T17:47:00.000-02:002012-11-15T17:26:51.246-02:00A fábula dos doze poetas lobos maus<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdxPELu3bYqdMKoIMO7LM2Ed2Nd2HPv-ZMFgeqggrCJLir4038SrAlJqC82o0dzvymMvxX-sAMfw9DJjbv0_XHQorHMt0g-9Lc7LRg1vOBVDiuStTaFjaqXzi-pF_Izu8aPWzpjmG91fcb/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdxPELu3bYqdMKoIMO7LM2Ed2Nd2HPv-ZMFgeqggrCJLir4038SrAlJqC82o0dzvymMvxX-sAMfw9DJjbv0_XHQorHMt0g-9Lc7LRg1vOBVDiuStTaFjaqXzi-pF_Izu8aPWzpjmG91fcb/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
Era uma vez numa floresta encantada e onde vivia Chapeuzinho Vermelho
cercada de 12 horríveis poetas lobos maus. Chapeuzinho era jovem e muito bonita e aqueles lobos queriam seduzí-la, provar da sua tenra carne, evidente, capaz de
saciar os vorazes apetites dos meninos lobos.<br />
Ora! Mas não era a
sedução que ela tinha para lhes oferecer, não era a sua carne e sim as poesias
que guardava com tantas expectativas. E ela tentou, versejou, mas eles não queriam saber
dessas coisas e muito menos das suas linhas - "isso parece feito por criança" -
"isto está muito ruim" - “aprenda a gramática” - zombavam.<br />
Porém, Chapeuzinho de boba nada tinha e assim percebendo o ardil das suas táticas contratou um advogado que
de início também se imaginou num caso com ela. Todavia sendo um homem polido e profissional desistiu do intento ao perceber que a intenção feria o juramento que celebrara junto ao direito. Sendo assim naquela mesma manhã o caso foi analisado e o advogado expondo o
leque de opções vislumbrou proposituras de ações, se não de "Assédio
Sexual", certamente por "Danos Morais" afinal, os lobos achincalharam-na com
termos e situações maliciosos. Entretanto diante das ponderações do advogado
Chapeuzinho Vermelho pensou, pensou e pensou. Não! Não era o dinheiro
deles que ela pretendia, queria sim o respeito para continuar se
dedicando à poesia, apesar terem ferido a sua alma. E foi assim entre o
contexto de argumentos viáveis que ela entregou uma pequena e perfumada
carta para que o advogado lesse. Sim, era essa a sua pretensão e ela estava ali nos odores e
letras daquilo que imaginou poema. Para Chapeuzinho Vermelho não
importava o que o juiz viesse a decidir desde que permitisse que o seu
desagravo fosse juntado aos autos.<br />
Foi aturdido, porém convencido por sua
cliente que o nobre defensor leu o manuscrito na suavidade do papel.
Depois disso os seus olhos brilharam e ele exclamou otimista:<br />
<br />
- Moça, melhor que isso só os teus saraus das terças feiras! Não há juiz para olhar com maus olhos a tua causa! - Ele disse e depois sorriu satisfeito.<br />
<br />
No dia seguinte deram entrada na petição-poesia de Chapeuzinho Vermelho:<br />
<br />
<br />
A fábula dos poetas lobos e maus<br />
<br />
<br />
Ora, ora meus nobres poetas!<br />
Por que se Idolatram e são tão presunçosos?<br />
Ao acaso a poesia se veste numa única roupa?<br />
<br />
Mas, os poetas-lobos<br />
Claro, não se abalaram<br />
Afinal não há o que iniba<br />
A ira de versadores ardilosos<br />
Porém a pior poesia é a do poeta algoz<br />
Para ele não há curva, não se vê a cura<br />
Jamais persistira numa reta<br />
<br />
<br />
-Ora, às favas esse tanto racionalismo piegas!<br />
Somos irracionais, e daí? Mas somos cultos!<br />
E nisto se consiste a nossa vaidade!<br />
Uivaram os ferozes garotos maus<br />
<br />
Evidente, supunham-se sumidades<br />
Da mais nobre e casta poesia<br />
Onde a palavra de ordem era desdenhar<br />
Da simplicidade dos versos da menina<br />
<br />
Sim! Foi o massacre da corja letrada,<br />
O nefasto desdém dos meninos mimados<br />
Que armados até os dentes, encolerizados<br />
Riam, achincalhavam, humilhavam<br />
<br />
Poetas?<br />
Poetas onde? Aonde?<br />
Poetas é o caralho! Isso sim!<br />
Ela esbravejou e continuou versando:<br />
<br />
No mais, são arremedos daquilo que aprenderam nos livros<br />
Vocês não os escreveram, então por quê tão magnânimos?<br />
Saibam que a verdade jamais será as suas ou me serão essas<br />
Pois os seus atos se assemelham aos das velhas rabugentas<br />
Dessas que sibilam “S” ao traduzir as palavras dos dicionários<br />
Encontradas nas edições do Houaiss, Michaelis e Aurélio<br />
<br />
Sim, saibam! jamais foram e ou serão mais que isso<br />
São uns nada insípidos, arrogantes, prepotentes<br />
Cambada de "poetóides" esses que vivem para humilhar<br />
São diamantes acrílicos reluzindo nas estantes dos bazares<br />
Ricos em soberba, vestidos nas troças, nas coisas sem graça<br />
São a ralé da futilidade, os pseudos-cultos caçando palavras<br />
<br />
<br />
Copirraiti março/2010<br />
Véio China®<br />
<br />
**Fábula postada numa comunidade deOrkut (BDE)por motivos óbviosVéïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-45014611160911305572012-11-06T15:54:00.001-02:002013-02-24T19:08:47.578-03:00Bem vindo ao mundo do Ficci Buk - crônica- -<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUoy1uj50aD1eRxkDLtpRJod5bkosCzAlTy43oWvemDd4b4w7m8VTtbR8mlWfSxCfnNJm3JE6tpYNdrkgeiJlWUy8_qpnBEPLJ4tcJ1YFRDKWUAdMBrfr-oDf27XJTp5KeVRVf0j8fn0YH/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUoy1uj50aD1eRxkDLtpRJod5bkosCzAlTy43oWvemDd4b4w7m8VTtbR8mlWfSxCfnNJm3JE6tpYNdrkgeiJlWUy8_qpnBEPLJ4tcJ1YFRDKWUAdMBrfr-oDf27XJTp5KeVRVf0j8fn0YH/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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<br />
<div class="MsoNormal">
Coitado do pobre senhor Orkut, ficou velho, obsoleto, ultrapassado.</div>
<div class="MsoNormal">
Veio o Ficci Buk e com ele a nova casta da cultura babaca,
chata e bocejante. Dessa que escreve mil e tolas mensagens, que posta sem pudores
fotos, imagens e vídeos que nada tem a ver ao supor
que todos serão “descolados” e "dissilábicos" quanto ela. Inclusive
há muito disso entre nós que gostamos de escrever, óbvio. Sabe, ando meio cansado de ver fotos e vídeos de cachorrinhos basset hound e gatos angorás vestidos de Barbra Streisand e de Tony Bennett. Sei lá! Conheço o sentimento e sei que animal de estimação passa a ser parte da família, pois tive quando pequeno uma irmã vira-lata chamada Diana.<br />
<br />
Todavia uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e que diga os milhões de albuns de fotos dos bichinhos fantasiados e em carreira solo (sim, muitos liberam seus albuns) ainda mais que, expostos para a comunidade mundial.</div>
<div class="MsoNormal">
E por falarmos nisso (nas coisas ridículas e abusurdas) boa parte de nós que nos conjecturmos no divino traje de "escritor" promovemos em nossas linhas do tempo o campo das batalhas navais, ops, digo, virtuais. Aí tomem xingos e levem críticas e haja esporro e sopapos cibernéticos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
E isso me faz refletir sobre os egos, ególatras e literatura. E pensando em literatura jamais poderemos esquecer os literatos contextualizados no Ficci Buk e que o usam para a autopromoção Porém até a simplicidade do fato nos leva a perceber o quanto as coisas andam avacalhadas, afinal, até
título acadêmico é concedido com festa de smoking e uísque importado (ou chá, não sei ao certo) agraciando pessoas que, da ferramenta não muito entende.<br />
<br />
Inclusive não é de se duvidar que haja "acadeirado" acentuando o "pára" por tê-lo como verbo. Não, não é impossível mesmo! E outra, se algum desses letrados soerguer a sobrancelha direita e permanecer com esquerda estacionada ao pretender-me elo de comparação, aviso, será mera estupidez. Por conseguinte me defino; Não possuo títulos ou assento numa dessas academias de letras pelo Brasil afora. Entretanto se eu fosse ou pensasse como um não incentivaria tantas modificações no samba do crioulo doido dessa enigmática e complicada língua portuguesa ( hehehe )</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Enfim, são tantos os fatores que me levam coerentemente ( ou não) a pesar o que somos e o que nos tornamos quando nos sentimos na pele do artista ao fazemos parte desse show chamado Ficci Buk.<br />
E isso novamente me faz questionar; Qual é a importante e pertinente diferença entre o
desprezado frequentador dos subterrâneos do Orkut e do acelerado
passageiro deste trem-bala chamado Facebook?<br />
<div class="MsoNormal">
<br />
Bem, a meu ver uma só: O formato do Ficci Buk ajuda na propagação da idiotia e da futilidade
e facilita o aceso do sujeito a tanta banalidade que, ele próprio acaba por perder o "ponto" da autocensura e permitindo que deixe de existir no software do seu discernimento uma função conhecida - DELETAR-</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
E você Veio China, está aqui e faz parte disso junto com
seus hehehe?</div>
<div class="MsoNormal">
Claro que faço! Tento ser discreto, mas... não posso me furtar a festa!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
hehehe</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
Copirraiti06Nov2012</div>
<div class="MsoNormal">
By Veio China© </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uma última e importante notícia para a Nação Ficci Buk</i></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O corpo humano expele a média diária de 700 G. em fezes.</div>
<div class="MsoNormal">
Se levarmos em conta que o tempo de vida do brasileiro é
estimado em 70 anos, assim como o seu peso médio em 70 Kg, teríamos o seguinte
cálculo:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
700 G.
x 365 dias =<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>255,50 Kg (de merda ao
ano)</div>
<div class="MsoNormal">
255,50 Kg<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>: 70 Kg<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>=<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quase quatro vezes o nosso peso em bosta </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
255,50 Kg
x 70 anos=<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>17.885 Kg
>>>> Total de merda em 70 anos</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pasmem senhores! Isso significa que durante a vida
produzimos quase 18 toneladas de merda! <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E o pior! Elas correspondem a quase 280 vezes
o peso de nossa massa corpórea.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sim meus senhores! Isso é incrível!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Portanto não seria de estranhar se a derradeira pergunta de um desses metabolizados ficcibukianos fosse:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-Ei tio, isso não me interessa! Só quero informação essencial; Isso traduzido em
gigabytes vai dar mais ou menos quanto?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<br />
<br />
. </div>
Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-4148514950061858912012-10-25T07:51:00.001-02:002013-08-22T16:13:29.759-03:00-Crônica - Amores, serpentes e desertos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz23WeTN9dmcgWF3maiD33UloHhbGNLFJcGWS040EqBzEjwsGVOtpc2WZj7KTxWqsQ0OAZAAm97ucsi0y1OzBRdRpEv6sFlDUU0dfhCYB0bgjZFo6OthCXTZImfF-EJAz8e-HJGhlPEGL4/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz23WeTN9dmcgWF3maiD33UloHhbGNLFJcGWS040EqBzEjwsGVOtpc2WZj7KTxWqsQ0OAZAAm97ucsi0y1OzBRdRpEv6sFlDUU0dfhCYB0bgjZFo6OthCXTZImfF-EJAz8e-HJGhlPEGL4/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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<br />
Jamais haverá surpresa na delicadeza das mentiras do amor, mesmo quando ditas dum jeito dramático, o instante que se sacramenta do essencial, de pequenas trapaças que se pretendem reais. <br />
Também não ocorrerão perplexidades dum sim ou não diante do enigmático olhar nostálgico, belo como noite de luar, metafórico como versos de poetas.<br />
E assim se dá porque o encantamento do amor está ao alcance daquilo que pretendemos ver, assim como a nossa admiração ante a fidalguia da onça, o estremecer ao esturro e a imponência do seu porte, mesmo cientes que a sedução sucumba às garras que poderão ferir com desespero e obsessão. <br />
<br />
E estas são as garras do amor, pontiagudas, que se colorem de contrastes e acabam por dar certo sentido às nossas existências, mesmo que possibilitando feridas profundas.<br />
Sim,e muitos conhecem a força desse amor, e dele o instinto predador que nos tiraniza, subjuga, que nos impõe roupas, ora de caça, ora do caçador. Decerto não há de se negar que muitas vezes fomos presas de armadilhas infames, porém, num noutro instante estivemos na pele do predador, e é justo, pois para os cinco dedos da direita haverá o mesmo tanto na mão esquerda.<br />
<br />
E falando em amor, e em muitos casos o vemos sobreviver entre o que é banal e fútil. Evidente, não se trata de fatos generalizados, porém, parte destes descasos sejam atribuídos a internet, onde as sensações se confundem no misto de realidades e fantasias, relações que se contemplam sem o calor o calor do toque, mas que se acariciam por dedos que pressionam teclas. Portanto, não havendo olhos que nos devoram poderemos estar subjugando a importância e o peso das palavras, enfim, o valor do quilate do próprio sentimento. Todavia, dentro ou fora deste planeta virtual é comum ouvirmos a shakespeariana frase "Eu te amo" E a vivência de alguns anos me fez constatar que, em algumas oportunidades a frase se assopra irresponsável e mentirosa, da boca pra fora, e com a mesma singeleza dos sorrisos que nos arranca a primeira paixão. E é diante dessa futilidade que poderão estar nascendo promessas, mesmo que não tenham conotação com a verdade, ou com a farsa das pretensões.<br />
<br />
E depois da decepção, virtual ou não, o fato deixará de ser importante, cairá no esquecimento, pois além do grotesco dos erros haverá gente para aplaudir e acariciar nossos egos e cabeças fartas em cabelos ou não – Ah o amor, começa aqui e poderá capitular ali – Muitos proclamam munidos do EU racional e estatísticas contempladoras. <br />
E depois do "inconcretizável"? Bem...depois virão outros relacionamentos, pessoas com novos rostos, matizes de som, e um jeito diferente de olhar ou sorrir. Então se dá a hora do flerte, e as palavras seduzirão as almas. Contudo nesses relacionamentos jamais saberemos qual a roupagem que o destino nos vestirá; Seremos caça ou caçador? Presa, ou do predador?<br />
<br />
Enfim, amor é o sentimento que se vivencia indiscriminadamente por gente assim como você, como eu, olhos vendados num mundo que forja a silhueta da paixão que mais convir. E assim é o amor, indomável, imprevisível e empolgado por palavras que adormecem com o orvalho das horas. Talvez, para os que nele se agarram com insensibilidades e hipocrisias haverá a possibilidade da isenção do discernimento, fato preocupante e que nos faz clamar por um planeta menos fútil e banal, um mundo onde o lastro das palavra poderá valer menos que a embalagem pet de água mineral.<br />
<br />
Então amigo, é isso, eis aí a paixão, o amor, e ele é como um filme de atores experientes e novatos, elenco que se reúne festivo para as fotos promocionais. E eu faço parte deste Set, sou também um personagem, assim faço pose e sorrio e fotografam o sujeito escolado que sou, diga-se, um cara acostumados às garras e dores. Porém não será de todo inesperado que as presas que se atrofiam na decepção, cresçam e voltem a se tornar poderosas, e elas poderão igualmente cravar e ferir. Todavia há de se dar a mão à palmatória, pois no amor o que dói é a mentira. E a mentira é aquilo que faz fenda, escava nossos sentimentos, crateras com ouvidos à mentira que é dita, calma, convincente, dessas que fazem brotar esperanças em desertos de carências. Sim, a mentira mata, avilta, e ainda se me for possível conferir outras metáforas diria que muitas delas carregam o encanto das najas, sedutoras, que se esgueiram às areias de nós adentrando entranhas, visando se divertir com desavisados corações. É mais que provável que se faça a pergunta: Existirão antídotos às serpentes que se esgueiram nestas poeiras incautas de nós? Sim, existe! Mas dependerá de cada um. Em mim, quando a emoção se dobra à razão concluo que posso estar a caminho do meu precipício. E nesse caso desfaço-me da venda e armo-me daquilo que resta de lógica tornando-me meu próprio antídoto, afinal, sou vital e necessário à preservação de mim mesmo.<br />
<br />
Portanto.... <br />
<br />
Amores sempre serão riscos, apólices de alto valor, é pegar ou largar. Entretanto e mesmo que conteste, outra vez a experiência sussurra que não resta alternativa a não ser mergulharmos nesse mundo de emoções, desafiarmos medos, ebulir a paixão deixando transbordar. E se alguém acelera as suas emoções, lute bravamente por ele, rasteje às barricadas neste planeta que também se poetiza nos desacertos, desgraças e misérias. Não se surpreenda com nada, tudo é possível, pois viver é ser como folha seca de outono ao sabor do vento que ruge sem se importar com a direção. E se a sua figurinha estiver a carimbada é possível que o amor se edifique dentro de você e o mundo lhe pareça melhor. Entretanto e apesar deste entusiasmo nem tudo recenderá o odor das melhores colônias, já que a vida mais se assemelha ao jogo do poker que ao delicado frasco do fino perfume de mulher. Além do mais, e mesmo que você se sinta vivo e no jogo, não valorize suas cartas em demasia, mesmo que te sorriam confiantes, pois blefar, é perigoso, já que a sequência máxima do jogo dificilmente estará em suas mãos, e você poderá desabar junto de suas cartas.<br />
Ah, e em em caso de derrota procure sorrir da própria sorte, e ela nunca é ou será tão má quanto possa parecer. E quando estiver ao chão pelo soco no queixo do amor duma mulher, esforce-se, levante-se rápido, afinal, a função das suas nádegas não se destina à frieza dos pisos, às poeiras dos caminhos, ou aos escarros da ilusão. <br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<br />
Copirraiti25Out2012</div>
<div class="MsoNormal">
Véio China© </div>
Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-31132047195251730692012-10-09T19:04:00.003-03:002012-11-09T17:18:01.126-02:00A Coca-Cola admite!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirDHGJHkqry8qeXHswa2ofLN8_ApudAcfu1SlVAUFssg3yFaIcO1FR450FIXlCWyt7_CfMemcp0WW7d9LakBkDjLXJQNvqUPkFI-fmCjxN0RkYkS4ipvh6NctOyYSkCjnxXFFvnKPpMTKA/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirDHGJHkqry8qeXHswa2ofLN8_ApudAcfu1SlVAUFssg3yFaIcO1FR450FIXlCWyt7_CfMemcp0WW7d9LakBkDjLXJQNvqUPkFI-fmCjxN0RkYkS4ipvh6NctOyYSkCjnxXFFvnKPpMTKA/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a><br />
Eu andava por aí. A vida não estava fácil, nada fácil, sem emprego e com dois meses de aluguel atrasado.<br />
Como quase todo cidadão comum recorri aos classificados e achei um que pareceu encaixar como uma luva<br />
<br />
-Frigorífico admite trabalhador para corte. Não se exige experiência anterior–<br />
<br />
Algo me pareceu esquisito no anúncio lido ás seis horas da manhã daquele dia, principalmente o fato de o anunciante não requisitar experiência no ramo. Pensei por alguns minutos e deduzi que seria melhor se estivessem à procura dum executivo para Coca-Cola, inclusive sem experiência, se é que isso fosse possível. Porém não era a Coca-Cola que estava à procura do sujeito num requintado terno cinza da Hugo Boss, camisa branca e gravata grená Pierre Cardin, mas sim o frigorífico à cata dum trabalhador que conseguisse dar umas machadadas em partes de vaca. Portanto, munido de coragem e da minha melhor roupa social tomei dois ônibus e antes das oito já estava na sede do frigorífico com meus documentos pessoais e duas fotos 3x4. Talvez a disposição e a disponibilidade causassem uma ótima impressão.<br />
Eram oito e vinte quando o proprietário puxou duas cadeiras e me pediu para sentar. Ele olhava para mim enquanto checava minha documentação. Eu me sentia deslocado diante um cheiro de carne crua emanado duma imensa perna de vaca que, ao lado aguardava para ser desossada. Também não compreendi o fato de estarmos falando sobre o emprego ali, e não no seu escritório de vidros espelhados no mezanino do galpão.<br />
<br />
-Qualé teu nome, gajo? - O homem do bigode esquisito me pergunta.<br />
<br />
-Patropi Floriano Peixoto- Respondi incontinente. Não entendi o motivo da pergunta, afinal ele estava passando os olhos pelos meus documentos.<br />
<br />
-Ó Patropi, tu queres aprender a desossar uma baca?- “Ó Patropi" - "baca”? - Matei na hora, não, não matei a vaca, ela já estava morta, o que quero dizer é que percebi na hora que o seu Manuel era português dos legítimos.<br />
<br />
-Bem, posso tentar, Aliás, tentar não, eu posso desencarnar sim! Ops, descarnar!- Confirmei. Depois mentalmente questionei o "desencarnar". Apesar de passar batido pelo português o engano cometido me remeteria a uma dessas sessões mediúnicas. Contudo e o que importa é que me posicionei à tempo de não perder o emprego que parecia estar conquistando<br />
<br />
-É assim que se fala é gajo! Então estás empregado. Vais lá pro “bestiário” e colocas esta roupa, mais o “abental”, este par de botas, e esta luva de “sugurança” – O Sr. Manuel me orientou com aquele seu estranho bigode grosso, estranho, coam as extremidades voltadas para cima.<br />
<br />
Eu disfarcei o riso apesar de ter conseguido a vaga. Bem, o que quero salientar é que achava engraçado o seu modo de falar, determinando cada coisa por “este” “esta” além do sotaque carregado, apesar do "sugurança" ter sido imbatível.<br />
Agradeci ao seu Manuel por ter acreditado em mim e fui para o vestiário colocar o traje de guerra. A verdade é que se ele tivesse fornecido um desses capacetes de Fórmula Um eu sairia de lá me achando um daqueles personagens de Guerra nas Estrelas. Com tudo arrumado eu me sentia na pele de um domador de almas em curtume, todo de branco e com uma estranha luva de malha metálica enfiada na mão direita. Apresentei-me a ele:<br />
<br />
-Ó Patropi, ficaste muito boa essa roupa em você! – Ele disse fazendo-me girar sobre o próprio eixo – Depois completou: Agora bamos a baca! – Por fração de segundos eu me senti na passarela do Morumbi Fashion.<br />
<br />
Pensei que fosse chegada a grande hora e eu ganharia um daqueles imensos facões reluzentes, porém não foi o que aconteceu, e ele me levou para mais adiante e entramos por uma porta enorme, talvez duns três metros de largura e o mesmo de altura. Ao adentrar o ambiente meu corpo sentiu um clima gélido enquanto eu via partes de vacas dependuradas em anzóis gigantescos. Foi então que percebi que ali era a câmara frigorífica, o local onde as peças se mantinham conservadas sob uma temperatura bem abaixo de zero, mas sem que soubesse precisar. Aliás, o que sabia com certeza absoluta era que jamais havia estado num local tão frio.<br />
<br />
-Ó Patropi, perceba agora que vou carregaire um traseiro de baca para tu beres como que é. Tens que fazer assim, tu te posiciones com as costas debaixo da peça a faça ter o máximo de aderência ao teu corpo, então firme as pernas e dê impulso às costas e subas com força erguendo o traseiro. Depois leves o braço ao alto e retires o gancho para ter a peça livre. Entendeste bem como que é?<br />
<br />
-Sim, claro, fácil! – Respondi confiante. <br />
<br />
E assim ele o fez e aquele monte de carne se ajustou às suas costas. Logo após com o corpo arcado pelo peso da carne atravessou a porta e rumou para o setor ao lado e despejou a carne acima da enorme mesa de alumínio opaco e com muitas marcas e riscos de cortes.<br />
<br />
-Agora é a tua bez! Bamos lá, Patropi! – Bem, como aquilo que fizera não me parecia tão difícil voltamos à câmara. Eu persistia otimista.<br />
<br />
Da forma como orientou, posicionei-me logo abaixo da carne fazendo a superfície das costas ter o máximo contato com ela. Depois impulsionei as pernas e as costas, estirei o braço e com a mão direita desengatei o imenso anzol:<br />
<br />
-Hum. hum.hum – Gemi três vezes. Aliás, quatro. <br />
<br />
No quarto gemido eu estava ao chão acompanhado daquele nojento traseiro. Por Deus! Aquilo deveria pesar mais de cento e trinta quilos – imaginei - Vendo aquele monte de carne desabado no piso o senhor Manuel não se conteve: <br />
<br />
-Ó que gajo mais burro e moleirão! Tu queres me levar á falência ó Patropi? Não sabes que há bactérias por todos os lados e principalmente no chão?<br />
Agora bamos ter que lavar esta peça. Tempo é dinheiro meu rapaz! – Ele berrou para mim. Depois ouvi outro do seu grito: - Ó Firmino, dá um pulinho aqui!<br />
<br />
Não demorou nem 30 segundos e lá estava ao nosso lado um negro imenso e musculoso, talvez o capataz do negócio. Olha, não seria de duvidar que o crioulo pesasse 130 quilos ou mais. <br />
O negrão agarrou a peça com as duas mãos como se levantasse dois pacotes de Açúcar União e depois volveu a parte mais encorpada da peça com seus braços e ejetando os membros para o alto como se fosse halteres enganchou o traseiro no suporte. Fiquei olhando bestificado, perplexo, talvez o crioulo tivesse força suficiente pra derrubar o campeão mundial dos pesos-pesados.<br />
Peça colocada ficaram olhando para mim talvez na intenção de fazerem-se sentir um bunda mole, coisa que eu não era.<br />
<br />
-Agora eu consigo seu Manoel. É que não estava devidamente concentrado! – Justifiquei-me com o orgulho ferido<br />
<br />
-Então bamos la e pegues a mesma peça. Se caíres do novo pelo menos é a que já está com bactérias no cu! - O seu Manuel disse num tom de zombaria<br />
<br />
Endireitei o corpo e meneei o tórax como se fosse um lutador, dei alguns “jabs” e coloquei-me debaixo da peça e impulsionei pernas e costas com revigorada determinação.<br />
<br />
-Hum..hum – Dessa vez o chão veio mais rápido e nem foi necessário o terceiro gemido. Era duro admitir, mas me sentia numa situação extremamente vexatória, pois agora a peça estava sobre o meu corpo e sem que conseguisse desvencilhar, fazê-la se mover dali.<br />
<br />
-Ó Firmino, dê um jeito nisso! – O portuga balançava a cabeça desanimadamente ao ordenar para o seu braço direito. E lá se foi o Firmino outra vez levantando a parte da vaca com a mesma facilidade que faria com malditos pacotes de açúcar. Logo após recolocou-a no gancho. Terminado, o negro olhou para mim com certo desdém.<br />
<br />
-Branquelo fracote de merda! - Exclamou num sorriso descarado antes de se retirar. Olhei para ele com raiva. Eu não poderia ter uns 60 quilos a mais?<br />
<br />
-Ó rapaz, parece que tu não levas jeito pra coisa! – Exclamou o seu Manuel ao colocar a mão em meu ombro e empurrar-me para o fundo da câmara fria.<br />
<br />
Sim, mas onde me levava? Descobri ao voltar empurrando uma poderosa lavadora de pressão Karcher. Antes porém enroscamos a mangueira à saída de água e conforme íamos voltando eu olhava para trás e a mangueira me lembrava a história de João e o pé de feijão, afinal íamos deixando aquela borracha negra pelo caminho como se fosse forma de demarcação.<br />
<br />
-Manda bala, ó gajo! Dê um banho nesta peça – Assim que nos posicionamos defronte dela o seu Manuel ordenou.<br />
<br />
Óbvio, eu jamais tinha manipulado uma lavadora tão potente como aquela, exceto no lava - rápido que trabalhei, todavia a lavadora talvez não tivesse nem a metade da potência. Mas também não faria diferença, afinal eu era suficientemente inteligente para colocar a lavadora em ação, bastando apenas saber apertar um único botão com as funções; ligar/desligar<br />
Porém o que não percebi foi que destravei o gatilho ao manipulá-la, portando ao ligar a máquina, à pressão da água foi tanta que fez o gatilho escapulir da minha mão e a mangueira serpenteou loucamente para todos os lados, jactando água como se fosse uma cascavel furiosa cuspindo veneno.<br />
<br />
-Seu filho duma puta! – O seu Manuel xingou ao se ver ensopado, enquanto tentava e sem sucesso escapar da furiosa borracha.<br />
<br />
-Desliga essa porra, ó infeliz! – Ele berrava ao sentir que o jato se dirigia à sua cabeça, inclusive tentava proteger o rosto<br />
<br />
Bem, eu tentei desligar a máquina, mas o botão repentinamente emperrou e não respondeu ao meu comando. Claro, a mangueira fazia uma confusão dos diabos, deixando-me uma última alternativa de atirar-me sobre ela como se fosse uma bola de futebol e eu um goleiro de terceira divisão. Assim que me joguei contra o gatilho o jato d’água surpreendentemente cessou. Não compreendi a situação e olhei para os lados a procura do seu Manuel, quando ouvi os seus gritos furiosos, vindos dum lugar distante:<br />
<br />
-Olha aqui ô burro! Aqui, ó toupeira! – Eu procurava o local de onde vinha a voz, até que o encontrei ao final da câmara com o fio da lavadora liberto da tomada de força. O pesadelo chegava ao fim.<br />
<br />
Enfim, passado menos de 40 minutos eu devolvia a sua roupa de Guerra nas Estrelas. Foi uma despedida sem sorrisos, sem agradecimentos, sem ao menos o pagamento do meu tempo trabalhado.<br />
Saía da empresa quando um carro importado estacionou numa das vagas do estacionamento interno que dava para frente do edifício. Olhei na direção e uma placa indicativa orientava: Proibido estacionar Diretoria –<br />
Uma garota de talvez uns 27 ou 28 que descendo do automóvel me permitia admirar aqueles deliciosos nacos de coxas. Ao passar por mim ela sorriu. Ela era linda e tinha classe, muita classe. Ela passou e eu olhei para trás e pude perceber a elegância daquela garota nuns saltos 10 e meias de seda nas pernas. Sim, ela vestia meias de seda. Meias que hoje estão em desuso, mas que dão a mulher um toque de classe, algo de sensual.<br />
<br />
E conforme andava as nádegas se movimentavam excitantemente enquanto os cabelos negros bailavam no meio das costas relembrando o estilo de Lady Di num conjunto blêizer/saia, finíssimo, expondo o belo par de coxas numa saia com cinco dedos acima dos joelhos. Afixei-me outra vez em seu traseiro e ele era mágico e em nada me remetia às malditas bundas de vacas dependurados naquela câmara frigorífica que me congelaram os ossos. E assim ela sumiu pela porta de entrada e eu a supus filha do português estressado. Não demorou mais que 30 ou 40 segundos o Sr. Manuel surgiu na porta e empurrou os cinco dedos da mão direita na minha direção, como se dissesse "Ó peste, ainda estás aí?" Por segundos pensei em seus gestos e apontei meu dedo médio para o alto e novamente ouvi a sua voz - "Ó Firmino, dê um pulinho aqui que temos um engraçadinho aqui" - Tudo bem, eu não queria confusão e além do mais seria uma luta injusta, desumana, algo tão desproporcionou como o pequeno David contra gigante Golias, apesar que David, na versão do catilicismo venceu o grandalhão com os pés nas costas. Entretanto quem acreditaria piamente em tudo o que se diz na Bíblia? - Pelo menos eu jamais acreditei em boa parte daquilo que se narra ali.<br />
<br />
Bem, antes que o Firmino apontasse seus músculos pela porta afora eu achei melhor sumir dali e me encaminhar para o ponto de ônibus mais próximo, mesmo arcando com o prejuízo das quatro passagens que o maldito emprego me causou. Antes de chegar no ponto entrei num boteco fuleiro e comi dois bolinhos de queijo e uma caçulinha da Antártica. Lembro do dono do bar ter perguntado antes: “Quer de carne meu rapaz?” – Ao que respondi “Por favor, não me diga essa palavra!”<br />
Depois peguei o ônibus e notei dentro dele outros sujeitos com feições desanimadas, mal amanhecidas, expressões do desemprego. Ao fundo, no último banco percebi três rapazes em atitudes e olhares suspeitos, mas nada de grave aconteceu salvo suas linguagens dos subterrâneos - “é isso aí mano, é o seguinte mano” - Enfim, três pontos adiante saltaram desembestados pela porta traseira sem pagarem as passagens e sumiram na esquina mais próxima. O cobrador, um sujeito franzino e provavelmente das Minas Gerais ainda deixou o seu protesto lançado ao nada - " Esses trem ruim é um causde poliça!"- Eu dei risada e ele não gostando me enquadrou - "Ocê ta rindique hómi?" - Olhei pra ele, pros meus 80 quilos e imaginei que teria uma ótima chance contra seus prováveis 55 ou 56. Mas não queria nada disso e apenas continuei olhando para ele farto das confusões - "Orra meu, to rindo de nada não cara. Na boa, paz" - Devolvi e ele me pareceu satisfeito e voltou a recontar o dinheiro de seu caixa.<br />
Eu apenas queria voltar para casa e esquecer aqueles nauseantes traseiros de vaca.<br />
<br />
- - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - <br />
<br />
Estava indo para o meu quarto mês de aluguel em atraso quando me deparei com outro anúncio.<br />
<br />
-Coca-Cola admite pessoal para o setor de distribuição - Sem experiência - <br />
<br />
Sorri um sorriso amarelo, afinal, experiência para carregar caixas de Coca-Cola? Talvez fosse questão onde predominasse a força física ao jeito. Todavia não era um anúncio para executivo sem experiências, mas sim para meros carregadores de caixas de cervejas e refrigerantes. Pensei por alguns minutos sobre o anúncio e brinquei com as mãos num - “minha mãe mandou bater nessa daqui” - Mentalmente decidi que se a última sílaba significaria o SIM para o meu alistamento desde que caísse na mão esquerda. Porém assim as forças da precaução não o permitiram e o "qui" recaiu sobre a direita. E o "qui" sendo destro e desafeto das revoluções parecía-me a mais pura das redenções. E isso sinalizava para que permanecesse do lado de fora e que a dores nas costas não compensariam o salário. Por fim só me restou sorrir; A Coca-Cola não precisava e jamais do meu esforço!<br />
Portanto, seria mais um mês de aluguel em atraso<br />
<br />
Copirraiti08Out2012<br />
Véio China©.<br />
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<br />Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-87109480199812491742012-10-03T20:53:00.005-03:002012-10-05T10:08:35.914-03:00Maglok! O herói troglodita<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXqcSKFcDbS8VtS40NCrz6ZM2LIdDwN9Xcbyg-9ba4ygMExem_6UWhCjbaypj7gvOXVzvN8bBCRvE1gkpT2uqCAp4wQtzaXnEo0TbW1WvR7xtqyVG9G88scUonQgNe1XncMnM77w1l06sX/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXqcSKFcDbS8VtS40NCrz6ZM2LIdDwN9Xcbyg-9ba4ygMExem_6UWhCjbaypj7gvOXVzvN8bBCRvE1gkpT2uqCAp4wQtzaXnEo0TbW1WvR7xtqyVG9G88scUonQgNe1XncMnM77w1l06sX/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
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</xml><![endif]-->-Mim querer dar paulada na cabeça de velho! – Exclamou Maglok, o herói troglodita ao adentrar abruptamente o ambiente. <br />
<br />
Era no mínimo estranho ver aquele sujeito dos seus trinta e poucos num corpo de academia e em longos cabelos acastanhados e com um bastão de beisebol agarrado pela mão direita. Meio inusitado ainda o linguajar afoito e proferido num misto tupi guarani com algo candango. Porém o mais extraordinário era o fato de Maglok ser literato. E pasmem; ter dois livros publicados<br />
<br />
-Que é isso rapaz? Você vai matar o pobre velho! – Gritaram os sujeitos dentro do boteco onde o idoso bebericava tranquilamente a sua cerveja.<br />
<br />
O velho, tanto assustado pelo vozerio e movimentação olhou para o sujeito que se postava na sua frente e que, mesmo que tolhido dos movimentos por duas ou três pessoas que o agarraram tentava desferir o golpe. Claro, ele reconhecia o rapaz, portanto acalmou os amigos de bar:<br />
<br />
-Ah, soltem o garoto, afinal, Maglok é um cara legal! - Orientou aos amigos.<br />
<br />
-Como legal? O sujeito quer rachar tua cabeça e você diz que ele é um cara legal? - Questionou Carlito, um mulato forte que segurava o rapaz com contundência.<br />
<br />
-Ah, ele é legal sim! Ele só é meio egocêntrico, narcisista, arrogante, ditador, prepotente, insensível, exibicionista, convencido. Todavia se subtrairmos todas essas irrelevâncias constatarão que é um sujeito ótimo – O velho disse num tom conciliador ao dar um bom gole na sua cerveja das cinco.<br />
<br />
Claro, talvez se perguntem dos motivos. Bem, o que se soube é que os problemas entre Maglok e o Sr. Nachi surgiram pelo fato do segundo utilizar o troglodita como um dos personagens no último dos seus contos. Enfim, mesmo Maglok estando la tudo não passou de uma boa brincadeira, portanto nada estampado naquele conto algo que pudesse denegrir a sua imagem e moral. Porém não foi assim que Maglok entendeu os fatos e agora vinha em busca de vingança.<br />
<br />
Bem, isso não importa, mas sim que, diante a solicitação do idoso, Maglok foi solto, exceto o bastão confiscado pelo Mané, o dono do boteco que, o guardou num compartimento abaixo do caixa registrador com o intuito de preservar as dependências físicas do estabelecimento. Livre dos braços dos amigos do Sr. Nachi, o troglodita olhava com fúria para o velho. Bem, o que fazer com aquele sujeito intempestivo senão convidá-lo para uma loira gelada? <br />
<br />
-Maglok, larga dessas frescuras e sente aí pra tomarmos umas brejas. Hoje é por minha conta! - Garantiu o Sr. Nachi ao piscar-lhe o olho<br />
<br />
-Mim não quer porcaria de líquido dourado de homem branco. Mim quer dar paulada na cabeça dura de homem velho. E mim também quer de volta o bastão! Mim pagou 5000 pilas nele! Disseram pra Maglok que bastão de beisebol foi de Di Maggio, década de 60. Veio até com selo de garantia - Maglok insistiu irado. <br />
<br />
O velho novamente se fixou no rapaz de atitude selvagem e logo percebeu que ele não estava para brincadeiras. Porém já tinha alguma experiência e gingado pra tratar com Maglok, afinal fora assim em duas outras oportunidades. Claro, ele também saíra machucado, não fisicamente, mas no espírito.<br />
<br />
-Mané, por favor, libere o bastão do Sr. Maglok. Sabe Mané...o bastão foi do Di Maggio e ele pagou 5000 pratas nele, e tem até selo de garantia – O velho novamente piscou o olho e pediu ao dono do bar, sendo prontamente atendido.<br />
<br />
-Tome Maglok, tome teu bastão. A gora ande, termine o seu serviço. É pena perder assim os meus miolos, mas...<br />
<br />
-É pena o cacete! Maglok vai fazer picadinho de cabeça dura de homem branco velho!<br />
<br />
-Poxa vida Maglok! Justo agora que eu ia te ajudar no Jabuti. Não sei se você sabe, mas... tenho alguma influência com esse pessoal todo...<br />
<br />
-O que? O velho cabeça dura falou Jabuti? – Maglok arregalou os olhos<br />
<br />
-Sim, sim! Isso mesmo que você ouviu... o Jabuti! O seu tão sonhado premio de literatura – Confirmou o velho deixando despencar os braços numa expressão de desânimo.<br />
<br />
-Obaaaa! Agora mim quer o Jabuti. E mim também quer bater com o bastão do Di Maggio e destroçar cabeça de velho homem branco gozador. Depois mim vai pregar na parede os pedaços da cabeça de velho estúpido junto do premio do Jabuti e mostrar pra toda família nas macarronadas de domingo. Mim quer Jabuti agora!<br />
<br />
-Não Maglok! Calma! Não pode ser agora e muito menos é o que você entendeu. Uma coisa é uma coisa e a outra é outra coisa. Ou cabeça de velho branco ou o Jabuti! Tem que escolher agora! E Além do mais essa parada ta no papo, e eu posso dar uma mãozinha da branca pra você. Topa?<br />
<br />
Foi o suficiente para o bastão de Maglok pousar no ar tal qual fazia o Dario o peito de aço. Sim, o Dario, aquele jogador que flutuava no ar ao fazer os seus gols de cabeça. O velho persistindo o olhar em Maglok pode pressentir o quanto fora convincente. Maglok permanecia reflexivo diante da proposta. Por fim, pensou, pensou e se pronunciou:<br />
<br />
-Velho branco, você acha mesmo que há alguma chance de Maglok levar o Jabuti? – Os seus olhos eram de quem ainda não acreditava em si, não colocava fé no próprio bastão, ops, digo, no próprio taco<br />
<br />
-Claro, claro! Você tem ótimas chances, Maglok. Ainda mais agora que a tendência mundial é totalitária e ditatorial. Os ditadores estarão de volta. E veja bem, o título da tua obra é um espetáculo! Vou lê-lo calmamente para que exale o buquê da sonoridade literária. Sinta a melodia neste título: “Justiça é uma percepção dos donos do poder” – <br />
<br />
-Ao ouvir o título do seu último livro proferido num tom tão cerimonioso e melódico os seus olhos brilharam, encheram-se de esperanças e despejaram a bravura do seu orgulho nos quatro cantos do boteco..<br />
<br />
-É! É bonito mesmo o título de livro de Maglok, né?<br />
<br />
-Sim Maglok! É lindo! Uma obra de arte! – O velho respondeu num longo bocejo<br />
<br />
-Ah, então Maglok não vai quebrar agora a cabeça dura de homem branco velho para poder esperar a chegada do premio Jabuti. Mas... se algo der errado, e se o Jabuti não estiver na parede de Maglok, eu volto e..... – Respondeu ao Sr. Nachi num tom ameaçador, riscando o dedo indicador à frente da garganta.<br />
<br />
Depois do assunto terminado, Maglok se apossou da cerveja sobre a mesa e a levantando num brinde solitário virou no gargalo até a última gota. Depois sem se despedir abandonou o bar. Ao vê-lo partir o velho levantou-se da sua cadeira e foi à porta do boteco e fincou o olhar naquela figura que se afastava lentamente pela calçada.<br />
E olhando aquele sujeito desajeitado sentiu alguma comiseração pelo indivíduo, afinal suas atitudes trogloditas somadas ao seu inequívoco autoritarismo causavam asco às pessoas. Não que não houvesse contenda, brigas, egos exacerbados no trato da relação entre os escritores, mas nada que os levassem às ameaças de agressões físicas. Porém assim não acontecia na postura de Maglok, dono duma peristente teimosia que o tornava parecido com um boneco “João Bobo” desse que é surrado pela verdade das palavras, desse que nós batemos e batemos e ele não acusa, e então retorna para novos tabefes com os mesmo sorriso sarcástico impregnado no rosto de plástico. Não foram poucos os que zombaram dos seus atos, decisões, do uso da sua força, além dos seus socos desferidos contra o próprio peito num egocêntrico “Eu sou eu. Eu sou é foda” como se aquilo alimentasse eternamente a sua vaidade. Porém o que Maglok não percebia é que só ele via o brilho e o glamour. naquilo. E a luminosidade lhe era tanta que ele continuou socando o peito num ato guerreiro, num brado de vitória. Vitória que a si mesmo brindou, porém falsa, desdenhada, entranhada no poder das guias cibernéticas e sem o referendo dos seus pares, nem mesmo o de um fausto amigo que constrangido se alinhou ao repúdio da maioria. <br />
<br />
Enfim, o velho observava Maglok se distanciar ainda mais e já sabia de antemão que a vida ainda traria algumas lições de humildade para aquele garoto de trinta e pouco, e pro seu equivocado senso entre distinguir a autoridade e o autoritarismo. Contudo e apesar dos fatos o velho sabia que ele ainda não estava pronto para todas as mudanças que fatalmente viriam no tempo certo, ainda mais porque agora havia um filho. Enfim, Maglok era apenas um caso onde se descartava a intermediação de juízes, advogados e júris, afinal a sua sentença estaria eternamente dentro de si, bastaria apenas que soubesse discernir. <br />
<br />
Bem vindo ao mundo da realidade, companheiro!!!<br />
<br />
Copirraiti03Out2012<br />
Véio China© <br />
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<br />
<br />
<br />
<br />
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Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-17671260881046127262012-10-03T08:59:00.001-03:002012-10-03T09:29:22.439-03:00Tyrannus Saurus - A metáfora assassina<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Ele estava sozinho.<br />
Pra dizer a verdade não só ele, ele e o paredão. Havia também algumas pessoas nas arquibancadas e elas pareciam torcer por aquele que seria trucidado. Todavia nada poderiam fazer, afinal eles eram apenas o povo, a parte fraca do negócio, ainda mais que diante do poder constituído e dum ditado que os ameaçava num jargão autoritário “"justiça é uma percepção dos donos do poder” Porém disposto ou não ao autoritarismo a sua hora parecia ser chegada<br />
<br />
-Apontar! – Ouviu-se o brado duma voz militar. Ele não se recorda se era a tonalidade da voz de um primeiro tenente ou do segundo sargento, pouco importava naquele momento, apenas sabia que era tonalidade militar<br />
<br />
O fuzil apontava para o seu corpo enquanto ele se questionava sobre o primeiro tiro. Poderia parecer engraçado, mas, torcia que fosse alvejado no coração. Talvez até a misericórdia viesse num tiro contra a sua cabeça, porém anonimamente suplicava para que maldito soldado não objetivasse os seus miolos, sinônimo para ele de irrestrita liberdade.<br />
<br />
Antes que a ordem de “atirar” fosse definitiva e assassina alguém se interpôs entre o condenado e a mira do soldado<br />
<br />
-Senhor, pare! – Ordenou o recém chegado: Trago ordem do imperador Giovannius "The Great Head of Pudding" para que a execução seja adiada até que o condenado tenha a ciência do pedido de clemência. Portanto caberá a ele decidir a sua sina – Concluiu o forasteiro num terno azul e gravata vermelha <br />
<br />
-Pois bem. E que clemência seria essa? - Perguntou o militar responsável pela execução ao pedir a documento comprobatório.<br />
<br />
-Bom, o chefe da nação quer que o acusado, de viva voz peça desculpas públicas por ter se insurgido contra o sistema e sua autoridade na publicação do decreto do ato institucional número cinco cinco, mais conhecido como AI 55.<br />
<br />
O acusado ouviu a tudo. Seus olhos estavam vendados, mas não o seu conceito da liberdade. Era chegado o momento de se pronunciar, sua vida dependia mais de si que da apontaria do soldado, inclusive porque não se valesse do “ato de clemência” só sairia dali com o sangue encharcando as suas roupas civis.<br />
<br />
-E então, prestou atenção às instruções do mandatário? O que têm a dizer? – Perguntou o forasteiro ao acusado<br />
<br />
-É sobre o AI 55? Aquele que fala da cassação do direito de expressão? – Perguntou acusado. <br />
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-Sim, não preciso repetir, e você sabe – Confirmou sujeito ao ajeitar a gravata bordô no colarinho da camisa<br />
<br />
Ah... - Reticente balbuciou o condenado. Ele parecia pensar <br />
Pouco após e diante do absoluto silêncio se manifestou:<br />
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- Pedir desculpa pelo autoritarismo do chefe da nação? Ora! Diga a esse ditadorzinho de meia pataca que foi ele o julgado. E mais; que injete em um dos seus orifícios as leis, afinal, ele ainda não se deu conta, mas, ele já foi assassinado por elas. <br />
<br />
-Só isso o que têm a dizer? – Perguntou o sujeito do gabinete.<br />
<br />
-Só! – Respondeu secamente. <br />
<br />
-Apontar! –<br />
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Depois disso apenas o tiro e um corpo tombado ao chão. A cabeça permanecia intacta, nos lábios um evidente e indisfarçável sorriso de alguma dor. No peito e ao lado esquerdo da alva camisa o sangue se tingiu forte, vibrante, vermelho. A certeira bala do soldado apenas destruíra o coração, aliás, parte dele, mas manteve intacta a cabeça, o intelecto, o discernimento. Era assim que ele se pensava morto.<br />
<br />
Terminado o show assassino as pessoas abandonaram as arquibancadas pulando degrau por degrau.<br />
La fora o dia ardia esplendoroso enquanto nos céus os abutres esperavam pelo descuido dos militares para se saciarem naquele corpo.Talvez varassem-lhe o cérebro com as bicadas, porém agora e sem vida não faria a menor diferença. Sim, o povo questionaria e cochicharia um levante, algo que o levasse às ruas. Porém o inconformismo com a ditadura é algo mais filosófico que a questão do enfrentamento. Geralmente o povo não quer saber disso, lutas, armas, tiros, assasinos. O povo está mais preocupado com a compra do supermercado que propriamente ao regojizo de saber que uma bala se cravou no cérebro de um ditadorzinho qualquer.<br />
<br />
À saída da arena bancas de pastel e de lanches de mortadela e linguiça calabresa faziam suas promoções. Ao lado delas, numa grande caixa de isopor abarrotada de pedras de gelo três garotos da pesada vendiam coca-colas pet e cervejas Kaiser de três reais a latinha.<br />
No sede do poder, independentemente dos problemas da nação o imperador jogava uma partida de xadrez como a sua Ministra da Cultura.<br />
Seria um longo jogo de dois péssimos jogadores.<br />
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Copirraiti03Out2012<br />
Véio China©<br />
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<br />Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/17729659509761141280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-3922865940086231322012-09-22T02:45:00.001-03:002012-09-27T12:14:43.649-03:00Sobre literatura e donos de bares<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhm9k426RvARKwq-hLfFdG5Yxn1gdSdPatCzNw2_emrZxNLix5uQypdoV1u9oAwwq_ysijL-ZwtKz6AqW9MhRvLOy8cAOpnizVcIlk3739YyrHApxxfg7eIRGwVRkw7pTITjBZxbQyeBiW/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhm9k426RvARKwq-hLfFdG5Yxn1gdSdPatCzNw2_emrZxNLix5uQypdoV1u9oAwwq_ysijL-ZwtKz6AqW9MhRvLOy8cAOpnizVcIlk3739YyrHApxxfg7eIRGwVRkw7pTITjBZxbQyeBiW/s1600/V%C3%A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
Recordo uma oacasião em que estava com a perna estirada sobre uma banqueta almofada na sala de casa, irritado naquela hibernação que me fazia perder o período das férias do trabalho. Lembro também que, ocioso e com poucas alternativas para matar o tempo me afundei em DVDs das locadoras e nos programas de TVs, principalmente os policialescos como o Cidade Alerta. Sim, ja fora agendade e eu iria para um lugar bacana, afinal como todo bom sedentário paulistano já me via no litoral com a barriga grudada num daqueles quiosques à beira de praia onde cervejas e espetinhos de camarão me fariam companhia. Óbvio, era para ter estado lá misturado àquele oceano de gente, bronzeando a pele num sol que não daria uma única mancada assim como os funcionários exemplares. Porém não foi daquela feita que meus pés se cravaram nas cristalinas areias de Boiçucanga e nem os olhos fincaram embevecidos no azul do mar ou nas curvilíneas garotas a bordo de ínfimos e coloridos biquínis.<br />
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Bem, o que poderia ser aprendido com aquela nova decepção? Nada, salvo ficar atento numa próxima vez para não destruir meu carro na traseira dum automóvel qualquer. Todavia poderia ter sido pior se evetualmente fosse um caminhão o veículo que estivesse à frente. Claro, pior, afinal era bem provável que não somente a perna e braço esquerdos estivessem fraturados, pois iria para debaixo dele. E assim de molho, a ociosidade junto dos filmes e reportagens me definhava quando tive estúpida idéia de exigindo da memória buscar nomes de pessoas que de certa forma transitaram em minha vida. Evidente, eu nem sabia porque resolvera aquilo, mas que, decido, liguei o notebook e abrindo o Word iniciei por uma ordem alfabética. Estava quase pela hora do almoço e até então com mais de 120 nomes catalogados quando me deparei com letra “G”. Digitei alguns nomes quando me surgiu Girkins<br />
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Ao relembrá-lo meu sorriso retroagiu no tempo, talvez uns cinco ou seis anos, época bacana e importante para minha vida. Era uma fase das mais produtivas onde conheci poetas e escritores, pessoas que tinham nas veias não o plasma e células, mas sim a literatura. Girkins, claro, fizera parte daquilo. Lembro-me de quando conheci aquele sujeito falante e de sorriso franco ao estar juntamente com um primo numa dessas confraternizações de comunidades literárias em sites de relacionamentos. E o acompanhava não somente por ter me convidado, mas por também gostar de literatura. Naquela noite os meus sorrisos tímidos e palavras gentis foram apresentados ao pessoal. E eles me pareciam legais, inteligentes e espirituosos, tanto que acabei por me comprometer em fazer parte da comunidade que freqüentavam. Assim lá estava eu pedindo a minha inclusão comunitária, interagindo, discutindo, discordando e até saboreando as primeiras desavenças literárias, porém nada que matasse a mim ou oponentes. Contudo foi impossível continuar nela e logo após o primeiro ano eu a abandonei ao concluir que não sobreviveria à guerra dos egos, pois mais que a literatura se fazia necessário ter nervos de titânio. Bem, retornando ao Girkins sei que após àquela reunião e intereação na comunidade voltamos a nos encontrar outras vezes e em cada uma delas eu notava que ele se perdia da parte gentil do olhar, distanciando-se das palavras justas e do incentivo. Enfim, mesmo longe eu acompanhava a sua trajetória na comunidade, e alguma coisa o transformava e não o deixava se dar conta que suas zombarias não eram o sinônimo de sinceridade. E assim persistia e aborrecia pessoas, ora se contradizendo, renegando coisas que um dia disse gostar para render-se às outras que dizia repudiar. E eu apenas percebia a sua movimentação e supunha existirem nele fatores mais relevantes que suas falácias e hesitações. Porém quais?<br />
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Claro, à época da comunidade ainda tentei compreentendê-lo já que ao procuramos o lado racional das mutações se torna corriqueiro nos atermos a quem ou no que o indivíduo possa estar envolvido. Inclusive porque o lugar comum dessas mutações geralmente sinaliza para o seu meio, o habitat em que se relaciona. Todavia eu tinha a plena certeza que poderiam existir outros fatores que perturbassem a paz dum sujeito, assim como ocorre numa situação inesperada da sucesso meteórico. batendo à sua porta. Afinal, é impossível não levar em onsideração que o oba oba do prestígio e fama são capazes de modificar e em muito os valores do ser.<br />
Portanto poderiam me questionar se o Girkins teria se tornado um dos grandes, best sellers, um novo "mago" ou no pior das hipóteses ter títulos seus publicados em um ou dois países do Cone Sul. Sim, poderiam arguir sobre tais fatos, porém, no caso de Girkins, asseguro, nada disso se materializou. Houve sim um livro, porém nada de especial, uma dessas publicações comumente financiadas pelo próprio bolso e que mais têm por finalidade a vazão da vaidade pessoal que propriamente a intenão de ser flagrar sucesso editorial. Evidente, sei que haverão exceções, contudo na maioria das vezes eles serão apenas escritores independentes sonhando com o interesse das grandes editoras. Todavia não há como alegar que esses mesmos autores desconheçam que a frieza do leitor relegará suas obras às prateleiras empoeiradas das pequenas livrarias ou empurrará seus título para as bancas promocionais dos sebos de R$1,99. Sim, sei que é uma forma rude de se analisar, porém e invariavelmente é assim que acontece. <br />
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Bem, talvez eu pudesse estar queimando a própria língua, afinal o mercado editorial é tão espantoso e imprevisível quanto o jogo do bicho e reviravoltas poderão acontecer tanto o quanto o argumento dos otimistas que diz que um dia jamais será igual ao outro, o que é absoluto. Enfim, se a negação do sucesso não se fizesse o motivo das suas questões então poderia ser qualquer outro, talvez até algum não notado pela percepção. Porém fosse o que fosse, aquilo estava incrustrado nele e parecia conturbá-lo, e isso ficou patente na noite do nosso último encontro numa festa onde travamos um diálogo insano, talvez até por culpa da bebida. E sobre a festa eu recordo que fazia um bom tempo que estava por la e tudo começou no esbarrão que casualmente nos demos na cobertura de mais de 800m2 de um grande editor. Fazia um bom tempo que não via Girkins, e assim olhamo-nos discretos e apertamos nossas mãos. Depois sorrimos com alguma simpatia num mesmo instante que Girkins interpelava o garçom que se passava ao seu lado. É bom frisar que tanto ele quanto eu éramos ótimos bebedores. Portanto também pedi o meu. Óbvio, Girkins desconhecia, mas eu ja havia tragado uns cinco ou seis copos daquele ótimo uísque 12 anos. Portanto após retirar o drink da bandeja girei as esferas de gelo no interior do copo para que se fundissem rapidamente à excelência do malte escocês.<br />
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E assim diante do nosso silênio e com uma gélida sensação nas pontas dos dedos permaneci brincando com o copo e com as pequenas bolas de gelo, supondo que a qualquer instante Girkins fosse desistir de mim. Ao contrário, e o tiro saiu pela culatra ao sentir o pousar da sua mão em meu ombro e, depois o meneio de sua cabeça num chamamento para que eu o seguisse. Ainda com a mão direita em meu ombro e um copo na outra Girkins me guiou ao meio do mar de gente até atravessarmos a sala e darmos na sacada daquele apê de oito suítes e piscina privativa.<br />
Ao ganhar a dependência aberta fui tocado no rosto por um vento frio enquanto Girkins num gesto de mão me pediu que sentasse numa daquelas seis poltronas que estavam à nossa frente. Ao me perceber acomodado sentou-se enquanto eu acendi um cigarro de filtro amarelo, démodé inclusive. Sentados, Girkins, inesperadamente me pareceu desconcentrado e os seus olhos perambularam por todos os cantos, porém sem que se afixassem em algo, ao menos que notasse. Repentinamente e talvez relembrando que me deixara ali observando suas atitudes insólitas dirigiu o olhar na minha direção. Olhamo-nos profundamente. Talvez Girkins procurasse respostas não par si, mas para o seu estado de embriaguês, apesar de também não me considerar em boas condições.<br />
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-Sabe Bradlley... - Ele começou - Tudo o que eu queria é que alguém afirmasse: Vai, Girkins, faça desse jeito e tudo vai dar certo e você será um cara feliz e realizado! – Finalizou exclamando num tom grave e pastoso, quase profético.<br />
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E conforme seus lábios se moviam detalhei a sua estampa e percebi algo diferente na sua compleição. Parecia que Girkins havia ganhado massa muscular, fato tão comum aos usuários das academias. E digo por que os músculos dos seus braços se sobressaiam naquela camiseta negra e de mangas curtas com um “Simple Plan” estampado ao centro. Realmente Girkins estava em grande forma, e a sua aparência nos remetia a Maglok, um herói troglodita, já que seus cabelos acastanhados, antes curtos e agora longos e ao meio das costas davam esta impressão. Enfim, super-herói ou não ele parecia aguardar minha resposta. Pensei e não sabia o que responder, e talvez a sinceridade fosse meu melhor caminho.<br />
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-Bem meu caro Girkins, não me sinto capaz decifrar o enigma colocado. Sabe, igualmente à você acometo-me de fragilidades existenciais, talvez não as mesmas que as suas,mas...fragilidades – Ponderei reticente. Ele me olhou popr uns bons 20 segundos antes de responder.<br />
<br />
-Ah sim, posso deduzir a sua conclusão – Foi a sua resposta num tom de certo desânimo. Depois me chamou para si e curvando o peito sussurrou como segredasse tese conspiratória.<br />
<br />
- Sabe Bradlley... depois de tantas procuras descobri que não mais acredito na ordem estabelecida e nem nos valores impostos pelas classes dominantes. Quero e preciso manter distância dos juízes, padres, conselheiros, e toda essa corja. São uns farsantes que se supõem os donos da verdade - Divagou com a mão tremula enquanto a bebida dançava em seu copo. <br />
<br />
Pensei sobre as suas colocações e elas me pareceram preconceituosas, afinal se fosse para protestar ou deixar de crer em algo deveríamos questionar a humanidade como um todo, e não somente as autarquias ou as igrejas, ou mesmo os pastores evangélicos. Afinal, pelo que sacramentara era mais que provável que Girkins os tivesse na conta de nefastos formadores de opinião e opressores da pobre e incauta humanidade. E outra; Era estranho sentir um Girkins fragilizado daquele jeito, aliás, um anarquista fragilizado, ainda mais pelo fato de passar a imagem de um sujeito durão, debochado e irreverente. Bem, ele fazía-me pensar apesar de continuar sem respostas para as suas questões. Entretanto lá estava o seu olhar tenso, inquiridor, buscando-me como se eu fosse um transgressor.<br />
E ele apenas aguardava, aguardava. Sem saber o que dizer tentei sair-me com uma besteira qualquer.<br />
<br />
-Bom, Girkins, talvez a sua salvação fosse o Jim Jones. Mas o cara tá longe, muto longe – Repliquei com um sorriso nos lábios; eu tentava suavizar a relação. Ele apenas ficou me olhando enquanto eu me perguntava qual fora o diabo que colocara a idiotice em minha boca. Depois dos seus olhos se desfazerem da surpresa ele pareceu se interessar por Jim Jones.<br />
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-Ué Bradlley! Porque você disse... ta longe, muito longe? Por acaso esse tal de Jim mora no Saara? - Perguntou irônico. Essa era uma das formas dele tentar soar engraçado mesmo que se esforçando em manter a cabeça e o tórax eretos. Sim, aquele era o Girkins, e continuava afiado como sempre.<br />
<br />
-Não Girkins, Jim não mora e nunca morou no Saara – Repliquei - Pra te falar a verdade, numa hora dessa o cara deve estar pregando no inferno. Jim Jones era americano e fundador de uma seita religiosa denominada Templo do Povo<br />
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-Templo do Povo? Pregando no no inferno? Como assim, Bradlley? Não entendi bulufas. – Ele devolveu enfastido. Eu achava engraçado vê-lo tentando manter o corpo rígido, um super-herói resistindo ao avanço da embriaguês.<br />
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- Assim Girkins... Esse tal Jim Jones se proclamava um reverendo. Porém era um fanático insano e morreu junto dos seus 900 perturbados seguidores. Foi suicídio em massa, todos envenenados em 1978 na Guiana Francesa. Ah sim, todos exceto o grande Jones que se negando morrer daquela forma tão estúpida meteu-se um tiro nos miolos, afinal, era ele papai da turma.<br />
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-Ah... que interessante, suicídio em massa na Guiana Francesa, sei, sei – Divagou. Depois avançou – Bem, esquecendo essa bobagem de Jones, talvez o Bukowski pudesse ser o cara e tivesse algo pra falar. Mas o filho da puta tinha que morrer num leito de hospital em L.A leucêmico e com tripas adormecidas na bebidas? – Reclamou num tom dramático e mórbido. <br />
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Sim, para nossa sorte ou azar tínhamos em comum o fato de gostarmos das coisas do Velho Safado. Ele sorriu, eu sorri, amarelos. Depois pigarreou e perguntou, aliás, caçoou no estilo de sempre:<br />
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-Ah, por falar em Buk... continua escrevendo aquelas merdas que tentam imitá-lo? – Fiz que não escutei o seu mais recente surto de sinceridade. Porém Girkins ainda não estava contente.<br />
<br />
-Por mais que tente jamais escreveu bem. Sempre soube disso, não é? – Concluiu sacástico. Achei curiosa a afirmação, ainda mais para alguém que abominava dedos apontados. E além do mais eu até poderia concordar com ele. Não faria a menor ou qualquer diferença.<br />
<br />
Todavia aquele clima obscuro acompanhado da sua nervosa angústia me fez perceber que Girkins passava por sérios problemas, afinal, como que um sujeito em sã consciência poderia ver em Buk o atalho para mitigar incertezas de quem quer que fosse? Antes pedisse a ajuda de Kurt Cobain, talvez fosse mais produtivo – Concluí em pensamento - Sim, Kurt, lembram-se dele? Kurt Cobain, o fundador do Nirvana, aquele mesmo sujeito que cuspiu na lente duma câmera da TV brasileira. Ah, que besteira a minha! Kurt também não resolveria; Kurt estava morto por um tiro dado por sua própria mão. Morte que, dizem as más línguas, frustrada, pois ao que parece o maluco beleza descobriu que Courtney Love andava trepando com criador do maior Fã-Clube da banda. E o pior; Kurt conhecia o sujeito e até o julgava meio assexuado - Concluo no sorriso cretino dos meus delírios quando outra vez os meus desvairamentos são decepados pelas irritantes dúvidas do Girkins.<br />
<br />
-Onde estão os loucos, os livres, os rebeldes? Responda-me Bradlley! Não haverá ninguém para me salvar? – Insistia agora numa tonalidade alterada de voz. Eu achava estranho e inusitado o fato dum anarquista procurar por um salvador da pátria.<br />
<br />
- Ah não sei Girkins, realmente nem sei o que te falar – Devolvi lacônico e sem paciência num mesmo momento que o garçom veio até nós e nos ofereceu uma nova rodada de scotch. Servimo-nos, afinal de 12 em 12 anos nunca se sabe se havera uma nova chance. <br />
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Ficamos olhando um para o outro e eu bebericava o drink com as suas tolas questões me acabrunhando. Agora eu era o testemunho do quanto Girkins estava mal, muito mal. É muito ruim quando não temos as respostas para as perguntas que nos pareçam importantes, mesmo que estúpidas. Po fim, muitos poderão se questionar - Por que minha mulher traiu? Por que meu time perdeu? Por que meu filho bateu o carro? Por que a empresa demitiu? - Enfim, são e serão tantos os porquês das questões que jamais findam. Sim, e pensando noss "por ques" viajei numa antiga peça publicitária da IBM, talvez uma das mais inteligentes criadas. Dizia ela algo mais ou menos assim: O mundo não move nas respostas, mas sim em perguntas. E aquilo parecia fazer sentindo, afinal, quantas balas perfuraram miolos que apenas se perguntaram? – Eu não sabia, aliás, ninguém sabia - E aquilo me pela primeira vez me preocupou eu temi por sua integridade. Caraca! Repentinamente passou-me pela mente que Girkins poderia terminar como um Lennon. Não, que bobagem a minha! Girkins jamais seria assassinado pelo tiro certeiro de algum anti-fã ou por invejosos de plantão. Não, nada disso! Não haveria fã com suficiente coragem ou invejosos com um ranço de tanta violência. Não, não, é o oposto, literatos quando colocados sob pressão resolvem suas pendengas assim como as meninas futriqueiras, dessas que fazem beicinhos, fofocam no ouvido das amigas, colocam as mãos na cintura para ao fim darem tudo por resolvido. E outra, Girkins não se curvaria tão fácil. Girkins jamais fora um coração de pudim diet. <br />
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Não, definitivamente Lennon estava fora dos planos. Por que fora relembrar de Lennon? Antes, Jim Jones, depois Kurt, e agora Lennon? Não, não! Eu só podia estar fora de mim ou me acometer de insanidades temporárias ao supor Girkins na pele do beatle. Imaginem Girkins pousando para fotos aos seus milhões de fãs num desses hoteis decadentes de N.Y. Deixem a imaginação transcender e o vejam num ambiente claro, paredes alvas, tão brancas como a cor da paz. Não, era muita loucura pois jamais vislumbraria Girkins num terno branco, camisa branca, tênis e os cadarços brancos, apesar de na cena existir uma mulher nada branca, mas amarela, oriental. Enfim, apesar de toda aquela loucura a mulher também se encontraria lá, mas igualmente estaria fora de propósito. <br />
Não, eu tinha que mudar o foco das minhas tenebrosas premonições, afinal, Girkins jamais fora um sujeito do tipo afrescalhado, desses que só usam roupas e sapatos brancos e meias brancas que combinem com suas cuecas brancas . Não! Girkins era macho, tinha estilo, um desbravador, um contestador anarquista, apesar das suas leves andanças pelo selvagem mundo capitalista, incluindo o editorial.<br />
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Que merda! Girkins tinha que persistir naquele seu blábláblá em encontrar um salvador? Catzo, será que o sujeito não percebia que estava me deixando maluco com aquela conversa mole? Olhei pra ele e o mesmo tom inconformado continuava impregnado nele. Girkins clamava por respostas, e sem tê-las entupia-me de perguntas:<br />
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-Onde estamos todos nós senão procurando alguém que nos guie? Até você, Bradlley, precisa de alguém pra te guiar! - Agora ele quase que berrava numa expressão insana e de quem tinha certeza que eu necessitava do meu Malcolm X existencial.<br />
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-Vamos Bradlley, me diga, aonde vamos achar esse sujeito? Aonde se esconde o miserável, a pústula? – Girkins gritava demente enquanto seus olhos faiscavam loucura<br />
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-Fale Bradlley, por favor! Se souber me fale onde está o salvador? – Ele ofegava.<br />
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Porra! O cara era um perfeito mala! Eu poderia ter citado para duas dezenas de salvadores como o Elvis, Brian Jones, Jim Morrison, Hendrix, Joplin, Freddie Mercury, Bonham, Moon e tantos outros, afinal eu confiava mais no pessoal do rock que propriamente nos sujeitos temperamentais e volúveis da literatura, afinal quem acreditaria piamente naquilo que dissesse um Celine ou Ginsberg?<br />
Sim, haveria saída para Gurkins se não fosse ele tão radical. Verdade! havia salvação para ele, e ela poderia ser encontrada nas linhas bíblicas, porém Girkins jamais dera ouvidos ou acreditara naquelas conversas de céu e inferno, de Deus e o Diabo. <br />
Todavia eu também estava me enganando, afinal sabia que não existiria saída para ele exceto a complexidade dum sucesso imprevisto e meteórico. Porém aonde se escondia nele a fluência e a criatividade? Não, infelizmente inexistiam, não porque eu ou qualquer outro quisesse, mas sim pela própria limitação a que se impunha, vela boa desperdiçada com defunto sepulto. Era mais que chegada a hora de dar um basta naquele seu desvairamento.<br />
<br />
-Girkins, você já pensou em comprar um bar? Mas... to falando dum bar de verdade. Acredito que você daria um excelente dono do boteco. Sabe, um desses que jamais fecham. Já esteve em algum? – Perguntei-lhe à queima-roupa denotando austeridade na voz. Ele me pareceu surpreso e reticente, depois respondeu:<br />
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-Um bar que jamais fecha? Como assim..jamais fecha, Bradlley? – <br />
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-Assim, Girkins... um boteco 24hrs, do tipo caixa eletrônico, um lugar onde você comercializaria bebidas, aturaria bêbados, venderia rabos-de-galo, cachaças, sardinhas escabeche e picles em conserva, desses que vêm em enormes potes de plásticos... você deve saber – Sugeri num tom mais leve, amuando os ombros <br />
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-Cara você só pode estar ta louco! – Fuzilou-me Girkins. Seus olhos faiscavam – Minha praia é outra, sabe disso, é a literatura. Você acredita que ser dono de bar me faria encontrar respostas? – Acredita mesmo nisso? – Perguntou-me com olhos esbugalhados. Ele estava furioso.<br />
<br />
-Não! Pra falar a verdade, acredito não, Girkins! Mas... você quer a máxima sinceridade, não é? – Perguntei calmamente. Eu jamais poderia supor que o simples fato de sugerir a compra dum bar pudesse repressar tamanha ira.<br />
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-Claro Bradlley, sempre máxima sinceridade! É justo diante da estupidez da tua proposta. Que vantagem eu poderia levar ao ter um bar? Vamos, fale! - <br />
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-Você? Bem, Girkins... você talvez nenhuma... mas em contrapartida sairia de um pouco de circulação, daria um tempo, uma folga, um break... – Respondi na estampa de um sorriso cretino.<br />
<br />
Girkins apenas ficou me olhando perplexo. Levantei, dei alguns passos e sai dali. Ganhando o ambiente da sala e perdido entre mais de 200 pessoas trombei com o garçom e ele me pareceu familiar.<br />
<br />
-Ta lembrado de mim? – Perguntei <br />
<br />
-To sim senhor! – Ele respondeu com um sorriso desbotado nos lábios. Ele me parecia cansado. - Bem, há algum problema se eu me servir de dois desses três copos que estão na sua bandeja? – Perguntei.<br />
<br />
-Claro que não, senhor! Se quiser pode beber todos! - Ele respondeu solícito e sem denotar espanto,<br />
<br />
-Ok, valeu! - Agradeci ao retirar os dois copos de uísque da bela peça de prataria. talvez eu não tenha me apossado do trio por não ter três mãos. Pensei comigo mesmo.<br />
<br />
Pensei no garçom e concluí que certo estava ele. Ele e a sua paciência em servir todos aqueles caras esnobes, pedantes, arrogantes. A necessiadade o obrigava estar ali batendo o seu ponto, ganhando um dinheiro honesto, mas aquilo que ansiava estava fora dali, e ele queria dar no pé o mais breve, se possível antes das duas da madrugada prum último e solitário ônibus das três no terminal do Parque Dom Pedro. Aposto que naquele instante seus pensamentos se concentravam na sua casa de periferia. E agora ele entrava pela porta da sala e se dirigia ao quarto. E mesmo estando aqui era como se ele pudesse sentir a fragrância da lavanda impregnando os lençóis azuis da sua cama onde a esposa de banho tomado o aguardava ansiosa e preocupada. Ainda o vi bailando pelo salão com a bandeja e seus pensamentos quando resolvi me retirar dali com um copo em cada uma das mão e estacionei num putro ponto da sala, talvez há dez ou doze metros donde estava. Com um olhar que afirmava ainda não estar ébrio levantei o braço da direita e dei um gole na bebida. Provavelmente me imaginassem um cara ridículo com aqueles dois copos nas mãos, porém eu olhava para as pessoas e elas pareciam não se importar, e continuavam falando, gesticulando quando virei o corpo e olhei à direção da sacada e o Girkins não mais se encontrava por lá. Procurei-o ao redor e o vi conversando com um sujeito idoso, talvez uma recente vítima que estivesse em condições de lhe indicar o novo gurú, messias, ou fosse lá o nome que se desse ao fantástico salvador. A conversa entre ambos desenrolava não tão próxima de onde eu estava, mas o velho sorria bastante e eles pareciam navegar por mares tranquilos. Repentinamente eu vi a sua mão direita pousar no ombro do velhote, e eles calmamente seguiram para a sacada. Chegando lá o senhor ajeitou-se numa daquelas confortáveis poltronas estofadas num um couro grená enquanto Girkins já havia se acomodado e parecia procurar por algo que só ele sabia o que era e onde estava. Eu olhei para a cena e sorri. E sorrindo elevei agora o braço o esquerdo, e curvando o pulso centrei o copo à boca e traguei outro gole do uísque que tingiu o vidro numa tonalidade à caminho do ferrugem.<br />
<br />
As coisas não me pareceram tão ruins quando uma loira muito assemelhada à uma Ana Hickmann em menor escala grudou em minha estampa e não mais desviou o seu olhar. Eu olhei pra ela e retribui. A seguir notei que a amiga se retirou do seu lado, talvez me deixando lvire o caminho. Sem pressa alguma e ainda com um copo em cada mão me dirigi até ela. A garota continuou sorrindo, depois me pediu licença e pegou o copo que estava na minha mãoda esquerda e deu um delicioso gole feminino. Eu olhava para ela e observava a sensualidade dos seus lábios mordiscando um ao outro com o intuito de evitar o acúmulo do malte escocês sobre o batom cintilante e de tom claro. Ainda persistíamos sorrindo um para o outro, simpáticos e receptivos. <br />
<br />
-Muito prazer, meu nome é Bradlley! - Apresentei-me com feição impressionada<br />
<br />
-Prazer! O meu é Ana Beatriz! - Ela devolveu expondo a dentição alva e perfeita. Eu sorri; A garota se chamava Ana além de ter os dentes bonitos.<br />
<br />
Sutilmente inspecionei-a dum jeito mais apurado e, se se houvesse coisas que conhecia bem eram os olhos e olhares. Portanto, apesar de serem lindas, aquelas contas esverdeadas não eram suas, afinal eu trabalhara sete longos anos no balcão de uma grande ótica da cidade. Porém as suas lentes eu reconhecia, inclusive a excepcional qualidade. Tudo se caminhava promissor quando repentinamente me veio à mente o filme "Easy Rider" lançado no Brasil com o título de "Sem destino". Porém eu não era Peter Fonda e nem ela o Dennis Hopper. Entretanto não conseguia me desvencilhar das imagens das Harley Davidson, do amor e nem vento mimando o rosto da pequena Hickmann. Sim, era mais uma viagem minha, uma das tantas que eu tinha. Continuei sorrindo e depois traguei outro gole quando o gelo colidiu com meus dentes tornando-os sensíveis. Aquilo não me incomodou e nem eu pretendia ser clichê, mas a noite era e seria uma eterna criança. Falávamos e nossos rostos estavam tão próximos que um pressentimento me dizia que as coisas ainda iriam esquentar.<br />
Aquele seria o meu último drink da noite, decidi. Eu percebia claramente que deveria poupar energias.<br />
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Copirraiti22Set2012<br />
Véio China© Véïö Chïñä‡http://www.blogger.com/profile/05692483004996136184noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5769304454583925168.post-21511008812621329102012-09-03T19:25:00.004-03:002012-09-12T13:37:29.147-03:00À noite todos os gatos são pardos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbC87HtzPC-LIrdeVKoUIA1-8LvQdGo7kYx9nOS2T0ZRLBpbcBiTYRMjzQnf-GcXtdS-4_gzuUQO0xiyTT7QnzIUgi5ApBnkv8S-qv4LaMkKh-QR8EkS4W4W88WNE-iSldtW0MguHSuV25/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbC87HtzPC-LIrdeVKoUIA1-8LvQdGo7kYx9nOS2T0ZRLBpbcBiTYRMjzQnf-GcXtdS-4_gzuUQO0xiyTT7QnzIUgi5ApBnkv8S-qv4LaMkKh-QR8EkS4W4W88WNE-iSldtW0MguHSuV25/s1600/V%25C3%25A9io+China+2_100x120.jpg" /></a></div>
Wal ainda não sabia a fria que estava entrando, porém começava desconfiar.<br />
O bip do celular da moça indicava mais uma mensagem; Era a quarta em menos de meia hora. As três primeiras ela achou melhor ignorar e aguardar por um momento mais apropriado para responder, talvez ao voltar para casa.<br />
Sim, Wal pensou em desligar o aparelho, mas como a vida é repleta de imprevistos poderia surgir a qualquer instante algum recado ou ligação importante, assim o manteve em funcionamento.<br />
Todavia a insistência dos rápidos tons fizeram-na mais uma vez pedir licença aos amigos de mesa num bar para ler a mensagem.<br />
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“Loira, pq ñ respondeu, eim? Já sei! comendo fgo à passarim e com seus dedos engordurados. Ah, alguém está te paquerando? rs” – Queria saber o amigo emissor.<br />
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Aliás, nem amigo seu era, mas apenas um conhecido, um sujeito vinte e tantos anos mais velho que ela conhecera através da internet. E o conhecimento se deu numa dessas comunidades literárias de Orkut onde ambos participavam escrevendo e comentando textos de outros autores. Sim, Wal, aliás, Walkiria era escritora e o sujeito também dizia ser, ao menos era o que sugeria ao escrever parecido com um. Como ele parecia ser uma pessoa legal e o relacionamento literário cercado de coisas espirituosas e divertidas, Wal, cedeu á solicitação do homem e passou o seu número de celular. <br />
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E ele ligou, e naquela primeira ligação ao fim duma tarde mormacenta conversaram por um bom tempo, falaram sobre literatura, relacionamentos e algo de suas vidas pessoais. <br />
Sim, fora um papo agradável, divertido e que até gerou algum interesse.<br />
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-Então Alberto. Nesse próximo sábado vou sair com uns amigos, beber alguma coisa e conversar um pouco para espairecer dessa minha vida louca e atribulada. Quando estou “zen” consigo escrever melhor, as idéias surgem com mais facilidade – Ela disse naquela ligação.<br />
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-Ah, vai sair, é? Que bom! Adoro quando as pessoas espairecem – Respondeu antes que amistosamente se despedissem ao celular.<br />
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E agora era isso. Depois de dois dias do telefonema e decorridos nem 30 minutos de estar no bar atendia a quarta mensagem diante dos amigos, interrompidos pelos frenéticos e sonoros “bips” do aparelho.<br />
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Bem... o melhor era resolver a situação – Wal comunicou a si mesma já que não via razoabilidade no ficar entretida às mensagens dum sujeito que a deixava distante dos papos da turma.<br />
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“Alberto, é o seguinte...estou com amigos, bebendo e conversando um pouco. Há gente bacana, médico, advogado, até um delegado de polícia. Um beijo de boa noite para você. Até!. rs” – Wal enviou a resposta sem as costumeiras abreviações. Era bom dar um chega-pra-lá no rapaz, e talvez agora Alberto percebesse que poderia estar interferindo<br />
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-Wal, quem é o sujeito dos bips? – Pergunta-lhe Silvio, um dos presentes na mesa, um advogado atento ás suas atitudes.<br />
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-Ah... é um amigo meu. Conheci numa comunidade literária. Ele mora em São Paulo.<br />
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-Poxa Wal! Não poderia encontrar um xarope que estivesse mais próximo de você? – Na outra ponta da mesa, Gilberto graceja para o divertimento da turma. Óbvio, o mais “próximo” foi mera alusão ao fato de Alberto estar há quase 3.000 km de distância dali.<br />
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-Ah, ele não é chato não, e além do... – Wal pretendia justificar o amigo paulista quando foi novamente interrompida pelo som do bip. Mais uma vez os colegas se entreolham com um certo desconforto. Wal pela quinta vez pede licença, puxa a cadeira para o lado direito e lê a mensagem curta, descabida até<br />
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“Loira, por acaso esse médico que ta falando é ginecologista?”<br />
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Na mesa os amigos sussurram e ela ouve pequenos risos ao virar-se repentinamente e pegá-los numa expressão de gozação. Gilberto, em flagrante de delito tenta disfarçar ao procurar por alguma coisa no bolso do paletó pendurado no encosto da cadeira. Achado, faz o uso dos objetos.<br />
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-Não fui eu quem disse que teu amigo é um chato! – Defende-se o médico à bordo dum óculos de armação quadrada, enorme, plástica e sem lentes. Nas narinas ele carrega uma meia bola vermelha onde faz desfilar um perfeito nariz de palhaço.<br />
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Convém frisar que os adereços estavam em seu rosto porque naquela mesma tarde ele fora visitar o asilo, onde, para divertir os velhinhos fazia coisas engraçadas, coisas de um verdadeiro palhaço. E como as suas palhaçadas não tinham fim ali estava ele a suas micagens no celular, simulando alguém que enviava e recebia mensagens. Evidente, todos se divertiam com suas fanfarronices. <br />
Wal, sem graça, novamente pede licença arrastando a cadeira um pouco mais adiante e redige a mensagem.<br />
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“Alberto, o médico é o Gilberto, aliás, um caso raro na medicina. Ele clinica em duas especialidades. É um verdadeiro gênio. rs” – Claro, ela se reportava ao amigo ginecologista/ urologista apesar de não mencioná-lo na mensagem. <br />
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Sim, poderia ter dito também que ela e Gilberto foram namorados na juventude e quase noivaram, que só não ocorreu porque à época ela se apaixonou por um outro rapaz, porém não vinha ao caso. Antes de enviar, Wal relê cada uma das palavras a procura de alguma inexatidão, e a mensagem está prestes a ser enviada quando um novo toque sonoro se ouve. Todos se olham. Nervosa, Wal imprime um dos dedos no teclado e libera o torpedo que acabava de entrar.<br />
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“Wal, esqueci de falar q detesto urologistas e ginecologistas. Os urol. São estúpidos, insensíveis com os dedos. E os ginecos pq são canalhas. Teve um gineco, um palhação que em 80 roubou uma noiva que tive. Torço pra esse q taí seja um pediatra duns 73 anos. rs”<br />
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Foi o suficiente pra Walkíria irromper numa estrondosa gargalhada. Pra falar a verdade Wal acabou por engasgar de tanto rir. Depois, tentando findar o surto brincou com o médico na outra ponta da mesa:<br />
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-Gil, tem horário para ambas especialidades na segunda? Barba e cabelo! Pode ser?<br />
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-Ulala! Claro meu anjo! Pra você sempre tenho tudo! – Respondeu piscando os olhos dum palhaço gozador e descarado.<br />
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Wal continuou rindo e depois um pouco mais tranqüila pede outra vez licença e vira a cadeira para o lado e se promete a uma última mensagem. Novamente passa as vistas à procura de lapsos e estando em tudo em ordem a envia.<br />
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“Alberto, desculpe, mas avisou tarde demais. Já marquei tuas consultas pra segunda. Agendei com o gineco na manhã e com o urologista à tarde. Ah! Tava quase me esquecendo de falar... Gilberto também é um palhaço sacana nas horas vagas! Ah..você me lembra “Le Postiche”<br />
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Depois, sorriu para a turma, enfiou o celular na bolsa de grife e tomou o seu drink tranquilamente. Seria a plenitude de um sábado que começava a se tornar perfeito se não fosse o som de um novo bip no interior da sua Louis Vuitton negra – “Não acredito” – Murmurou baixinho. Contrariados os seus olhos cerraram e não faltou para ela a vontade de retirar o pequeno aparelho do conforto da bolsa e espatifá-lo ao meio da rua. Antes que se permitisse a tal agressivo prejuízo retira o celular e lê o mais recente recado.<br />
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“Nossa! Le Postiche, ñ é a Lj de cart. e mochilas? E esse papo d consultas, palhaços, o q é? Vc é mto doida! Gosto gente divertida! Sabia q t amo, loira?” – Realmente, Alberto não tinha percepção do que se passava”<br />
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Wal lê e ri um riso debochado, nervoso. O babaca se esquecera de mencionar que, além de carteiras, mochilas, cintos e acessórios, a famosa loja era no país uma das maiores revendedoras de malas de viagem. Malas de todos tamanhos, de todas as cores, de todos sabores. <br />
Ainda continuava sorrindo quando desligou o aparelho e o voltou à bolsa para agora sim se divertir sem restrições. Porém ela sabia que havia algo que apesar de não fazer diferença agora, deveria ser providenciado na segunda feira ao ir para o escritório; A compra de um novo chip para o seu celular.<br />
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Copirraiti03Set2012<br />
Vío China© <br />
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