segunda-feira, 7 de julho de 2008
Eu e a irmã de Juliano Guerra
Um sujeito meio desbotado e aparentando certa idade bate escandalosas palmas junto ao portão vazado duma casa ampla e de frente ajardinada.
Ao longe vê a porta abrir e distingue a silhueta de uma mulher saindo por dela. Ela caminha em sua direção. Onde se encontra só pode notar-lhe os longos cabelos negros, a blusa branca e uma justa e curta saia em jeans. E conforme a garota se aproxima, ele melhor a define, pois mesmo com a vista cansada e vestida na velha armação dum óculos de lentes negras e redondas pode notar a beleza que desprende da garota de talvez uns 22 ou 23 anos. E ela caminhava decidida à bordo dum estupendo par de pernas que facilmente competiam com a beleza dos jasmineiros e roseiras daquele jardim entrecortado por caminhos em pedras de ardósia.
Sim, só podia ser ela! Ela, a irmã do insólito Juliano Guerra.
Claro, eu poderia continuar relatando outras nuances que cercaram tal encontro, todavia é melhor que o protagonista assuma o seu próprio conto.
Portanto, com vocês o Véio China!
Grato a todos! (O Narrador)
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Bem, ao senti-la já próxima reparei que Juliano omitira para mim a melhor das referências; A sua irmã era simplesmente fenomenal! Feminina e dona de passos delicados, mas que ocasionavam um excitante movimento de quadris, parecia deslizar nas nuvens. E quanto mais ao meu alcance melhor era a definição do vigoroso par de seios. Concentrei-me nele, e ele pareceu pretender escapulir pelo generoso decote "V" da decotada blusinha. Era uma dessas blusas em decote "V" estampando letras negras onde se podia ler a frase imortal de um dos maiores da literatura - "Ser ou não ser eis a questão" -
Agora e já bem próxima de mim, ela pareceu lembrar-se de algo, e repentinamente faz um giro sobre o próprio eixo e muda a trajetória dos passos. E eu a vejo de costas e ela parece recolher algumas pétalas que se desprenderam duma roseira. E foi este o momento de prender a respiração, pois vista de trás o corpo era ainda mais espetacular, e suas nádegas polpudas e proeminentes, somadas ao par de grossas coxas seriam capazes de interromper os sonhos de Morfeu.
Inevitável, fotografei o instante, já que há mais de década não me enroscava com uma daquela. Aliás, a última delas e que valeria algum comentário ou lembrança estava muito além do tempo, talvez cinco ou seis anos. Entretanto para a minha sorte, naquela manha eu havia auto-resolvido as minhas questões libidinosas.
E assim que ela estacionou em minha frente apenas me olhou e nada disse, quem sabe por ter-me como mendigo ou um desses sujeitos que sobrevivem catando latinhas.
E ela persistia me olhando indiferente e indecifrável. Logo, como não tomava a iniciativa para a conversa, antecipei-me:
-Por favor, senhorita, o Juliano Guerra está?
-Quem gostaria de falar com ele? – Ela devolve num tom seco, sem intimidade.
Eu ouço a frase sem perdê-la da vista, e a resposta me faz manter meu pé atrás, afinal, pessoas que perguntam para se esquivarem da resposta não me merecem lá grande crédito. E assim penso porque elas deixam no ar toda a possibilidade sermos tapeados, pois mesmo a pessoa estando presente, não se faz garantia de sermos atendidos.
Eu a olhava mais atentamente e percebia-lhe as mãos inquietas nos quadris, enquanto o pé esquerdo vestido numa "rasteirinha" floral tamborilava freneticamente numa das pedras de ardósia.
-Bem, senhorita...no acaso de Juliano estar, diga que é o Véio China. – Devolvi amavelmente, mesmo que carregado de certo sarcasmo.
A garota continuou me olhando silenciosa, e seu olhar parecia estranho, vago, talvez fosse a TPM ou tivesse brigada com o namorado, ou mesmo perdido o cartão repleto de passagens do metrô.
Evidente, a gélida recepção me fazia sentir fora de lugar, do eixo, e eu não mais desejava falar com Juliano Guerra. Portanto estava prestes a me mandar dai quando vislumbro outra possibilidade.
- Olha moça, não é tão importante assim avistar-me com o seu irmão, mas, quando vê-lo apenas lhe entregue esse texto e diga que eu gostaria que desse opinião - Solicito educado numa vaga tentativa de quebrar o gelo que ela estabeleceu. Ainda tentando arrancar um sorriso daquele rosto bonito emendo:
- E diga para ele que está proibido de morrer antes de ler o conto! Ok?
Após a brincadeira os seus olhos castanhos me olharam de um jeito mais estranho, quase irados, e eu não poderia culpa-la. pois talvez eu também olhasse com muita raiva para a pessoa que fizesse uma brincadeira dessa. E o que era ruim foi se tornando pior, e num clima de quase hostilidade foi que relembrei que Juliano comentara sobre a forte natureza da irmã. E o seu comentário, sem reserva, fora numa daquelas noites, talvez até pelo fato do seu avançado estado de embriagues. Recordo que Juliano dissera exatamente assim: "Ih. minha irmã é dura na queda, dona de olhares gélidos e natureza indomável.
Sim, fora o que o Guerra disse, aliás, confidenciara ainda mais - "Minha irmã era uma dessas figurinhas metidas á “cult” fanática por Baudelaire, Rimbaud e Pessoa, alem de ser amante da cultura dos anos 50/60" -
Depois da confissão e ainda com a fala mole reportou que ela nutria adoração pelo do mundo das telas de cinema, principalmente os filmes "noir" que tinham como atores o Marlon Brando e o James Dean.
Lembro inclusive que achei graça de tal observação, afinal, nos dias de hoje ser fã desse pessoal é estar obsoleto e sem sincronia com o seu tempo, pois os finados atores nada representam diante as novas estrelas de Hollywood.
E para finalizar, e sem ao menos procurar manter o os olhos afixados em mim retirou as folhas das minhas mãos, deu-me as costas e fez o caminho de volta pela mesma trilha de ardósia.
Fiquei olhando para ela por alguns instantes até que chegasse à porta da sala. Com o corpo ereto e altiva a vi girar a maçaneta e gritar para o irmão que, naquele instante deveria estar de pé ao centro da sala, provavelmente namorando um feroz e empalhado tigre-de-bengala, peça que ele ganhara dum amigo ligado às artes plásticas.
-Juliano, você precisa ser mais comedido ao escolher seus amigos, principalmente esses escritores da velha guarda. - Foi o que ela disse para ele. Provavelmente Juliano deva ter rebatido o seu comentário, e ela voltou à carga;
-Sim! É isso mesmo se nhor Juliano! E principalmente esse velhote, pois o achei ridículo, e provavelmente não deve escrever merda que preste! – Ela esbraveja numa tonalidade absurda, mesque que sabendo que eu poderia estar ouvindo.
E pensei sobre o fato e sobre o que ela dizia para ele, pois talvez a garota houvesse chegado à tal conclusão por medir-me pela estampa. Sim, pois eu não fazia a barba há mais de semana, além de estar vestido com uma das três únicas calças de tergal que possuía. Evidente, elas eram muito antigas e demasiadamente usadas, portanto não mais apresentavam a coloração de quando compradas. Talvez eu até fosse o responsável por sua péssima avaliação, eu e as enormes manchas de gordura visíveis nas pernas das calças e no blusão desbotado dos tempos do ginásio, isso à década de 70. Sim, eu adorava aquele blusão, e ele fora garboso e sempre me orgulhei de usá-lo, não agora, velho, puído, trazendo o bordado brasão da escola no lado esquerdo do peito, isento porém de definição do desenho do escudo, assim como o nome da escola.
Bem, os seus motivos não me importavam, já que fato mais evidente é que ela não fora com a minha cara, enfim...
Assim, estacionada diante da porta de imbuia e no aguardo que o irmão fosse buscar a encomenda foi que ela passou os olhos rapidamente pelas folhas dos meus contos, lendo as primeiras linhas de cada página.Talvez ela procurasse por alguma prosa poética, ou algo que valesse a pena segundo seu critério por literatura. E assim ela ficou folheando as linhas do meu conto - PORFÍRIO E UM DIA DE SATANÁS - E seus dedos iam nervosos quando após uns dois ou três minutos alguns minutos Juliano foi ter com ela.
– Hahahaha. Eu não acredito que estou lendo isso! Meu Deus...esse velho além de pervertido é ateu! - Ela exclamou para ele agitando as minhas folhas ao ar.
Bem, aquilo pareceu ter sido demais até para o próprio Juliano Guerra, que, saído detrás do tigre de bengala caminhou até ela e, impacientemente e num solavanco retirou os meus escritos das impiedosas mãos.
-Ah Astride! Não venha me encher o saco! O China é gente muito da boa. Ele pode ser meio babaca, rabugento e à caminho da escleroso, mas, é gente muito fina. – Ele justifica enquanto ela o olha surpreso. Entretanto Juliano continuou, talvez até pretendendo me tirar da saia justa com que a irmã me vestiu.
-Ah, e outra coisa minha irmã! O Véio é um das caras mais centrados daquela bosta de buteco que frequento – Ele sentenciou procurando o Halls Morango Lyptus no bolso dianteiro da jaqueta Levis.
-Buteco? Qual boteco você ta falando, Julilano? - Ela questiona
-Ah que merda! Será que até isso tu deu de bisbilhotar? O buteco a que me refiro é o Bar do Escritor –
-Juliano, não é buteco, é boteco! E outra; Aonde fica esse tal Bar do Escritor, que nunca vi por aqui? – Ela insiste.
-Sim! existe sim o Bar do Escritor! Vou soletrar pro seu conhecimento - BE-A-ERRE- DE –O- E- ESSE –CE- ERRE- I -TE –O- ERRE – B A R D O E S C R I T O R - Sacou? - Ele responde para ela naquela pose de professor de história, desses recém formados.
Foi o suficiente para o olhar colérico da irmã. talvez se pudesse emitiria raios laser com os próprios olhos. Juliano pretendera zombar dela, e agora era o momento da forra, tanto que berrou à todo pulmão:.
-Bar do Escritor? Hã rã! Pois bem, com você só podia ser coisa assim, de corja, de vagabundos, desocupados e beberrões.
Foi o momento de escutei o "plaft" da porta, e a estranha e difícil garota cult desapareceu atrás dela. Talvez o pau la dentro fosse comer, talvez não, nem eu sabia, pois o que sabia e ela não, era que o “Bar do Escritor” era algo virtual e que tratava de literatura La não havia mesas, cadeiras, vodcas ou cervejas, e que, tanto Juliano quanto eu éramos apenas sujeitos metidos a escrever. Eramos sim compostos por indivíduos desconhecidos das editoras, mídias, ou do grande público. Além do mais, também não poderia passar por aquela cabecinha perfumada e fashion que esses encontros se concretizavam numa comunidade literária do Orkut.
E eu ali parado diante do bucólico jardim dos Guerra apenas sorri. E persisti sorrindo, anônimo e compreensível enquanto olhava para os meus desgastados sapatos negros tentando imaginar a opinião de Juliano.
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