Las Vegas, cassinos, o The Bellagio o mais famoso deles. Sábado à noite, sorte, muita sorte. A roleta gira magnetizada por sua presença, pelo bafejo morno que abandona a sua boca para que esquente as mãos.
A noite persiste gélida, porém, há a sorte, muita sorte para aquele sábado. Ao seu lado, como se fosse Marilyn Monroe, a vadia dos três últimos anos dependura-se em seu pescoço e lhe mordisca a orelha. Seus cabelos platinados mergulham numa das metades do rosto enquanto a língua de mil lambidas tenta sorver as últimas gotas do dry martini umificado nos os lábios dele.
A roleta gira, frenética, e a platéia delira. Mais um jogo ganhador? Simplesmente ainda não há como saber.
- Tudo no vermelho 7, seco! – Ele dita para o homem da banca –
Seco, significa que se a jogada for vencedora pagará um prêmio na proporção de 35 dólares para cada dólar apostado. São trinta e cinco chances contra a misericórdia de uma única a seu favor. Apesar de menor o risco ele evita um Split de 17 x 1 como nas vezes anteriores -
Ele se recorda que ao amanhecer olhou pela janela do quarto de hotel e vislumbrou um esplendoroso tapete de gramas verdes seguindo ao pé da colina até derramar-se no topo com o azul do céu.
Levantou o olhar e o sol cintilava magnânino e turvava suas vistas. Apesar disto sentiu-se sereno. Repentinamente pareceu ouvir sussurros vindos de algum lugar e eles pareciam dizer: "É o seu dia, cara! Hoje é seu grande dia!" - Debruçou-se sobre o peitoril e inspecionou a janela do quarto ao lado. Nada. Voltou para o interior e nada viu ou ouviu que não fosse Jannie ressonando pesadamente por debaixo dos lencóis. "Devo estar ficando louco" - admitiu.
O ocorrido na parte da manhã lhe perseguira por todo o dia. Agora lá está ele no Bellagio, às quase duas da madrugada com um pouco menos de meio milhão de dólares no bolso - O delírio não mentira. Era o seu dia de sorte -
Olhou para as fichas que se debruçavam sobre a banca e flertou novamente a roleta.
-Hoje, nada me detém! Vamos homem! Ouviu o que eu disse? Todas as fichas no vermelho 7!
Murmúrios de surpresa ecoam próximos. Indiferentes, alguns persistem nas mesas de carteado e nas máquinas de caça níqueis, onde, fracassados, punemente perdem seus valores.
-Gira Roda! Gira! – Gritam os covardes que não teriam culhões para uma aposta deste tipo.
Jannie rebolando a mágica bunda e esfrega-se na calça do amante postado atrás de si. Ele, devasso, desce a mão pela curvatura do seu rabo e lhe dá duas palmadinha.
Fichas de todas as cores contrastam com a tonalidade verde musgo do veludo – Matar ou morrer – Diz para si ao ver a roleta em ação - Roda! Roda – Gritam os que torcem contra ou pró.
Alguns segundos e a física prevalece e a roleta perde a força. Mais outros e os giros se tornam lentos, quase inertes - 36, 1, 2, 3, 4, 5, 6 – A bolinha pulula de casa em casa como se carregasse brasas nos sapatos. Indecisa, ela ameaça não invadir a casa do vermelho 7 porém. Na dúvida, não resiste e invade.
- Ganhei! – O apostador explode num grito - Ganhei! - Repete flexionando os braços num vai e vem como se estivesse copulando.
Vencedoras, as fichas o encaram e parecem lhe dizer: É tudo teu, papai! 13 milhões de dólares! É o topo do mundo!
Surreal, ele ainda não crê quando abraça a centena de peças coloridas - Alguem seria capaz de prever 10 mil transformando-se em 13 milhões de dólares? – Jamais! Somente ele e as mais de três horas em que permaneceu com o olhar devotado para aquela roleta - Decerto, Cristo não teria feito melhor mesmo que multiplicasse um milhão de pães – Concluiu descomedido.
Ao lado a insana Jannie emitia gritos estridente, horríveis, e que inexplicavelmente terminavam graves, seguidos de uma espécie de quizo, como se cascavel pronta para dar o bote. E ela, depravada, já não se importava com as atitudes ou com algum bom senso, tanto que no meio daquela gente roçou-se com mais vigor no seu homem. Não contente, vigorosamente apertou-lhe as bolas do saco.
Ele sentiu a pressão dos dedos e gemeu com alguma dor; “aiii, putinha” - Queixou-se cafajeste.
Ela o olhou com desdem e gargalhou, alto – Afinal, com essa grana, etiqueta pra que?
A poucos metros dali uma bela mulher o olhava fixamente. Ela flertava o alinho do seu smoking e com as abotuaduras de ouro 18, cravejadas de duas esmeraldas triangulares – Mais que nunca ele lhe pareceu uma divindade –
Contudo, de costas, ele não a percebeu.
A moça dos lindos olhos negros, um tanto ansiosa lançou o olhar na direção da própria mão esquerda e se certificou se ainda ela encontrava-se la. Sim, estava la a aliança de brilhantes que a pouco menos de dois meses o seu deus havia a presenteado pelo quinto aniversário de casamento. Se tratava de uma peça de valor relativo, mas o importante não era exatamente o seu valor e sim um casamento de cinco anos que ela julgava ser feliz - Mero engano, não era. Outro angano; Outro engano; estava em viagem de negócios. E finalmente o pior deles; não sabia de Jannie.
Portanto, assim que seus olhos negros voltaram à realidade se confundiram com coloração daquele smoking, vindos impregnados de um brilho inusual, misterioso –
Calmamente ela retira alguma coisa de sua bolsa de pouco mais de 100 dólares. Algo reluzunte a prateado desafia o espaço e o estampido ecooa, obrigando algumas pessoas se atirarem ao chão. O projétil vara o espaço e penetra por trás, no meio de sua cabeça. - Para ele não haveria perigo algum se aquele calibre 22 estivesse a uma distância relativamente maior, porém ele permanecia tão próximo, tão à mão...
O impacto o fez desabar. No chão, o seu refinado smoking era tomado e tingido por um líquido rubro, viscoso, que, escorrendo pela nuca desbrava um trajeto no chão. - O tiro fora certeiro e mortal –
Apaixonada ela o olhou estirado ao chão. Ela admirava seus cabelos grisalhos e o ar feudal daquele homem bonito. Diante de olhares atônitos ela circuncou o seu corpo; agora ele mais se assemelhava a um toureiro golpeado de morte por touro de Mourão.
Jannie, deparavada, permaneceu gritando, guizando até o derradeiro suspiro do homem.
A banca havia sido quebrada.
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