quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os dois velhos e todos robalos do mundo - Ao mestre Calaça -


Há muitos anos queriam se conhecer. A admiração mútua jamais atravessara as fronteiras da virtualidade, contudo a vida fizera chegar o dia, aliás, o grande dia para que dois personagens transpusessem às linhas de meros perfis duma comunidade de Orkut para se confraternizarem num  memorável encontro, um brinde a mútua e indisfarçável tietagem que sempre se flagraram
Antes porém os leitores estarão  me perguntando;  qual motivo que obrigou a existência tramar tal confraternização? A resposta é simples meus caros, aliás, assustadoramente simples. Querem ver?  -
Imagem dois velhos; o primeiro, participante ativo e com profundas raízes fincadas nas questões ambientais, principalmente à ecologia. O outro, meramente um acompanhante, um desses sujeitos que caminham por aí olhando vitrines e de olho nas bundas e pernas de garotas com saias de 7 dedos acima dos joelhos.
Agora,  reunamo-los  numa concentração em São Paulo, melhor ainda,  num  protesto diante da pesca predatória, fator preponderante para a possível extinção do robalo.
Bem...Outra vez poderão questionar: O fato constituiria  motivo suficiente para fazê-los se encontrar? Digamos que, depende. Se analisarmos pela ótica geográfica talvez não, afinal, quem se deslocaria dum  lugar distante como  Maceió, e de ônibus para estar em São Paulo  portando cartazes do tipo - Death for the killers of fish ? - A resposta é única e simples; Um sujeito chamado Calaça!

Enfim, após conversações telefônicas ficara acertado que ele chegaria ao mesmo dia da manifestação. Logo, conforme o combinado lá estava o velho admirador de jovens bundas na área reservada ao desembarque de passageiros da Rodoviária do Tiete. Ele aguardava a chegada do amigo   - "Por volta das 8,30 estarei aí" - Calaça dissera  ao telefone. Contudo era compreensível a ansiedade daquele senhor pela chegada do amigo. E ele, calvo e de barbas brancas  sapateava nervosamente o piso como se estivesse com as pernas dormentes. No seu rosto, além das rugas carregava  imensas e redondas lentes negras que escondiam os  seus olhos. A ansiedade se fez maior no momento que o ônibus encosta na plataforma e o desembarque de passageiros tem o início. O velho de barbas brancas e seu  olhar de águia procuram avidamente a figura do amigo  nos degraus do carro. – Sim, é ele! - Disse para si ao avistar um sujeito de contornos generosos, barbas grisalhas e um arredondado rosto nordestino.  E  foi na saudação  dum abraço emocionado que aqueles dois permitiram que as linhas virtuais se  transformassem em nada mais, nada menos que a pura realidade.  Porém, a partir deste momento  e melhor que personagem de lentes negras e redondas assuma o leme dessa emocionante história e navegue nas linhas de próprio punho, expondo o clima de magia  que coroou o encontro.

Grato pela atenção, pessoal!

O narrador.

___________________________________________________________________


-Eita! Eita! Eita! Veja se não é o meu querido mano Calaça! Como foi de viagem? - Perguntei ao compadre num abraço emocionado.

-Cansativa, mano Véio! Cansativa e dolorida –  Exclamou  todo alquebrado, espreguiçando os ombros e  meneando os quadris.

-Dolorida?  Ah, sei, claro, o sacolejamento do ônibus, os buracos na estrada, essas horríveis estradas  do país - Divago compreensível

-Não mano Véio! Foi isso não, mas, antes fosse!

-Como assim? O ônibus não sacolejou?

-Sim, sacolejou e muito! Ele responde ao nos dirigirmos para a parte traseira do veículo com os tíquetes das bagagens em mãos.

Então mano velho...foram as pimentas! – Ele me diz ao entregar o recibo para o rapaz do bagageiro.

-Pimentas? Que raio de conversa é essa Calaça? -  Pergunto sem nada entender.

Ah sim! Foram as pimentas porque as malditas hemorróidas afloraram pelo caminho! – Resmungou o compadre com ares de incômodo.

-Ah, nem me diga, Calaça, sei como é isso! – Respondi com sorriso cúmplice, e continuei - Vez ou outra elas também me acometem, doloridas. Aí só um banho de assento com água morna para dar jeito.

Ele me olha um tanto sem jeito; Talvez ele imaginasse que paulistanos não sofressem desse mal. Pegamos as suas bagagens e saímos pelo saguão de desembarque. Óbvio, o mano estava cansado, então nada mais justo que eu carregasse duas das quatro malas que retiráramos do bagageiro. Seguindo em frente pegamos o elevador que desceu um único lance e nos dirigimos para o estacionamento onde o meu carro se encontrava.
Assim que chegamos ao automóvel olho para o relógio.

-Calaça, são nove horas da manhã. Quer  descansar um pouco? -Claro, eu percebia que  se locomovia com certa dificuldade ao manquitolar discretamente a perna esquerda

-Ta doido Véio? O que menos quero fazer é descansar! Você não faz idéia do que é enfrentar o tédio por mais de 40 horas dentro dum ônibus chacoalhando de la pra ca!   - Ele disse com enfado.

Bem,  eu poderia levá-lo para  o Cine-teatro Vitória, um lugarzinho bem rampeiro pra vermos algumas garotas molambentas num streap-tease de quinta, mas as sessões começavam por volta das quatro da tarde, portanto, sem chance. Mal concluo o pensamento e ele me pede:

-Mano velho, bora prum bar? Eu quero mais é sentar numa mesa de boteco e tomar uma branquinha com você! – Disse-me com um olhar esfuziante, apesar das olheiras. Eu sorri; Era bom tê-lo comigo.

Ajeitada a bagagem na Palio Weekend  rumamos para o Madri, um bar muito próximo ao apartamento duma nossa amiga em comum, ali no Bairro da Consolação. Evidente, apesar do desejo que Olga estivesse conosco não iríamos acordá-la num horário daquele. Isso tinha um motivo; Provavelmente e como de hábito  Olga devia ter encontrado seus amigos de bar na noite anterior.  Portanto,  era certo que fora dormir com o galo fazendo gargarejo. E outra; se alguém desejar conhecer o temperamento duma mulher e verificar se ele é irritadiço é só ligar e acordá-la após poucas horas de sono,  principalmente se o sono foi precedido por algumas biritas.  E eu, como de besta nada tinha não seria a pessoa que acordaria a Olga. Portanto, seguimos viagem.

 Pouco mais de 30 minutos de percurso chegamos no bar que começava a se preparar para seus clientes de almoço. Entrando  no Madri andamos pela área externa, onde um imenso toldo frontal e em plástico transparente  permitia ver a intensa movimentação das pessoas e dos carros na rua.  Olhamos a disposição das mesas e seguindo por  um estreito corredor interno sentamos na última delas,  um de frente para o outro.
Acomodados, chamei o Zelito e pedimos bebidas: bloodmary,  caipira de vodka e duas Serra Malte pra rebater o álcool e o calor de um sol já abrasivo que secava nossas gargantas..
Zelito, apesar de discreto deve ter achado estranho e engraçado o fato de dois velhos estarem acordados e enchendo a cara numa hora daquelas. Eram exatamente dez horas quando encostamos nossos lábios nelas. Calaça sorveu o seu drink com gana para em seguida se refrescar com um copo de cerveja. Ficamos conversando sobre seus sofrimentos de viagem por coisa de 30 ou 40 minutos e terminamos nossas bebidas. Novamente convocamos Zelito que e ele nos trouxe outro par de cervejas,  sem vodkas desta vez. Ficamos por ali bebendo e conversando sobre outros assuntos, amenidades, agruras da vida,  e,  finalmente,  sobre aquilo que foi um dos motivos de  paixão; a Comunidade de Orkut chamada Bar do Escritor.
E nessa surpreendente conversa  foi que nos sentimos termômetros para muitas coisas vistas e acontecidas ali. Comentamos sobre a quantidade de ótimos poetas e escritores. Declinamos sobre os temperamentos daqueles que se faziam mais presentes, a dificuldade no tratamento com alguns,  e,  finalmente sobre o ego de muitos que tinham  e faziam daquilo um campo de batalha, o motivo de sua sobrevivência literária. Entretanto o melhor estava guardado para o final quando, prazerosos, discorremos  sobre uma maioria de gente boa que ali picotava o ponto diário.  A conversa continuou a rolar solta e  gostosa   tanto quanto as 13 garrafas de cerveja que se acumulavam vazias num recuo em alvenaria  ao lado de nossa mesa  Já passava das duas da tarde quando senti o estômago roncar, pois  até ali não tínhamos comido nada.

-Calaça, aqui eles fazem um frango à passarinho da hora! – Comuniquei, afinal era bem provável que ele também estivesse faminto

-Opa! Então manda ver, Véio! –  Ele exclamou acariciando o bucho.

-Zelito! Sai um frango à passarinho! E olhe... capriche no alho e traga mais duas Serra Malte - Pedi

-Claro seu China! Daquele jeitinho que o senhor gosta...isento de varizes! – Zelito respondeu e sorriu.

Ele sempre fazia essa brincadeira comigo, e provavelmente com outros clientes. Sorri também. - Eu gostava dele - Calaça que pelo jeito  não era de perder  amigo e muito menos a piada,  emendou:

-Ô "Zélinho”! A minha parte traga pródiga em celulites e estrias! Não me prendo à essas questões estéticas assim como o mano velho! –

O garçom o escutou com um sorriso nos lábio e por fim riu, Calaça  também. Aliás, Calaça mais parecia  como um menino arteiro diante do destino que, por ora nos parecia irrefutável; a embriaguês.
Zelito anotou o pedido com um sorriso malicioso, talvez do tipo;   “Caraca!  esses dois velhinhos são mesmo da pesada!” – Ele já saíra com o nosso pedido quando derramei um último resto de cerveja em nossos copos. Subitamente me lembrei da  manifestação do robalo. Olhei para o relógio; 14,10hrs.  A concentração ocorreria as 15,30hrs , próxima dali, à  Av. Paulista.
Preocupado expus ao Calaça:

-Companheiro, a manifestação será às 15,30! Ou seja, daqui uma hora e vinte minutos. Portanto, teremos que engolir esse frango rapidinho!

-Manifestação? Que manifestação, compadre? – Ele indagou com a fala já arrastada.

-Uai! A  manifestação dos robalos, da  pesca pedratória! – Respondi também tropeçando na língua.

-Hã? Acho que  você pretendeu dizer  "predatória". Não é isso Véio? – Calaça me corrigiu A bebida parecia não causar efeitos na sua coordenação motora, porém  não no seu trato da língua mãe.

-Sim sim! É isso sim, compadre! - Eu sorri sem graça.

-Ah, é mesmo! Bem lembrado mano velho...tinha esquecido da pesca predatória! – Exclamou bonachão.

Porém, de súbito o seu semblante alargou-se e ele sorriu de um jeito quase diabólico e que me lembrou a atuação de Robert De Niro em Coração Satânico. O sorriso  vestiu-se de riso para em seguida trovar sonoras gargalhadas. Surpreso à princípio me divorciei de qualquer compreensão ou nexo e gargalhei juntamente com o compadre. Poderia parecer idiota, aliás, poderia não, era pura idiotice  dos dois velhotes  se estrebuchando de rir  sem que ao menos um  soubesse o motivo. E foi no acalmar das contrações estomacais provocadas pelas gargalhadas que, ele me fez sinal com a mão direita  me chamando para um particular ao pé do ouvido. Eu dobrei o tórax por sobre a mesa e me acheguei dele o mais próximo possível.
Com o rubro alcoolizado nas faces e um olhar sacana no rosto ele me sussurrou:

-Quer mesmo saber sobre os peixes, o tal do robalo e as manifestações?

-Sim, quero!  O que têm, compadre? – Perguntei num sussurro para manter o clima de mistério.

Outra vez ele me olhou demoradamente enquanto o seu cotovelo escapava da mesa e colidia pesadamente na sua perna direita. Ele se riu do fato enquanto  a sua voz abandonava o silêncio nos olhos e sova grave,   acompanhada do cativante sotaque nordestino:

-Véio, eu quero mais é que o desagravo, os peixes e todos os robalos do mundo  vão à puta que pariu! -  Eu fiquei olhando para ele, atônito, e ele irrompe numa nova gargalhada. Depois completa:

-Véio! Não há nada que me tire do prazer de estar ao seu lado e nem da cadeira, e que muito menos me faça desistir de degustar essa franguinha cheia de alhos, estrias e varizes!

Eu olhava para ele, e o seu jeito foi tão divertido que acabei rindo, rindo muito! Um meu riso, largo, repleto de dúvidas: Como alguém vindo de tão longe poderia não estar presente àquele responsável levante anti-predatório?
Foi então que a ficha caiu e eu compreendi tudo.  Era a compreensão que ele preferira estar comigo ali  ao ato de manifesto apesar do ser ecologicamente combativo o ser que nele latejava.  E isso se mostrou tão nítido, pois a
 virtualidade teve o dom de aproximar pessoas e fazer-nos objetos da  admiração  mútua e consentida. E, havendo o  progresso nesses sentimentos é criado o desejo do conhecimento pessoal,  a ampla confraternização dos espíritos, muito além do fraterno abraço. E essa amizade eu podia sentir perpetuada  naquilo que de mais nobre existe no ser humano, além das mais de 20 garrafas de cervejas  entornadas por dois sujeitos agora completamente bêbados, tolos  e sentimentais.

Eu olhei para os olhos do meu compadre e  esse  mesmo sentimento se impregnava nele. E quanto a essa emoção cúmplice  jamais haveria manifesto ou robalos que  resistissem.

-Véio! Vamos ligar para Olga? - Mais que um pedido seu, traduzi suas falas como um convite à satisfação.

-É agora! - Respondi abrindo minha mochila emborrachada à cata do celular. Encontrado, liguei:

-Alooooo! Olguita?  Sou eu, o  Veio! Surpresa! Se é boa a surpresa? Bem....o que diria se te falasse que estou com Calaça no Madri? . Sim.. sim, é verdade, por que mentiria? No não, verdade sim! Por acaso hoje é o dia primeiro de abril? Então! Ah legal, já está vindo?  Bacana! Estamos  te esperando!

À tudo Calaça ouviu. No fim mais um dos seus sorrisos de prazer e a voz ébria para mais um novo pedido:

-"Zelinho" Mais três poeticamente geladas! Por favor!

Eu apenas sorri diante do derradeiro gole duma última garrafa que se esvaziava enquanto Calaça se dirigiu ao banheiro pela quarta ou quinta vez onde fatalmente  foi extrair nova água dos joelhos.
Ao voltar pude notar a surpresa em seu olhar ao ver  Olga sentada em nossa mesa.

-Good morning Mr. Calaça!. What a pleasure to meet you and drink with you in a bar in São Paulo! - Olga o cumprimenta sorridente cheia das suas frescuras assimiladas com o seu descoladérrimo amigo Mr. Bryan.

Ela apenas dava boas vindas a ele e dizia do enorme prazer de poder estar ali para beber com ele numa mesa em São Paulo. Ele  riu, eu ri, nós três rimos. Então os dois grandes poetas se uniram num abraço de carinho enquanto  Zelito, curioso, chegou a mim e perguntou discretamente:

-Seu China! O que foi que a dona Olga disse para o seu amigo? -

Eu olhei pra ele, e Zelito não deve ter percebido que vez ou outra os contornos dum grande sacana habitava no meu sorriso e olhar. Enfim, era chegada a hora de ir à forra e vingar-me daquela sua gozação do  frango com varizes.

-Nada de muito importante, Zelito! Fica frio! - Respondi compenetrado e sem demonstrar qualquer afetação - Ela apenas disse para ele tomar muito cuidado com os garçons de São Paulo, pois muitos são  gays enrustidos - Concluí num olhar indiferente e atento ao movimento das pessoas e carros através da transparência do toldo frontal.

Zelito me olhou assustado, depois fincou as vistas  no seu talão de pedidos e dando meia volta bateu a retirada. Ele pensa que não o ouvi resmungar ao se afastar, mesmo que num  murmúrio indignado:

-Eu heim! Só dá gente louca e velha nesse bar!



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Charlie & Nancy

Era apenas um velho. Um velho e decadente escritor de dois publicados e desconhecidos livros que se fazia acompanhar de sua amiga de bar.
Bebiam.  Ela bem mais que ele, afinal, ele já não agüentava beber como outrora.
E sobre isso, ultimamente ele se sentia entregando os pontos e sem encontrar  forças que o fizesse reagir, mesmo querendo. Quantas vezes  se questionara o por que de estar acontecendo isso? E o fato o perturbava. Não via sentido em consumir cada vez uma menor quantidade de álcool e a reação  vir tão fulminante, tornando sua fala confusa, e seus  olhos sempre desanexados do ponto de onde deveriam estar. E mesmo em estado de embriaguês  as pernas estremeciam sem qualquer controle como se estivessem desnudas numa estação polar.E o fato o aborrecia já que a bebida se tornara o único parâmetro do seu  discernimento ante a vida.
Para ele essas reações eram o indicativo de que as coisas não andavam bem e o que o final se aproximava de forma lenta e cruel.
Ali sentados numa mesa de bar ela percebia o que o lacerava apesar de não compreendê-lo por inteiro. Se dava conta que a auto-reclusão a que ele se impusera era a sua reação diante a desilusão que se instalara, a fuga de si e das suas deprimentes verdades. Nancy acreditava piamente no que a percepção de mulher lhe dizia;  as amarguras de Charlie não foram abortadas a tempo de lhes trazerem opções menos dolorosas. Contudo ela adorava estar na sua companhia e poder fitar aqueles olhos reluzentes e alcoolizados e a sua barba desgrenhada de fios negros e brancos.

Naquela noite ela percebia uma melancolia e laconismo além do habitual, até que num certo momento ele desatou:

-Nancy, queria te fazer um poema. Posso?

-Claro, Charlie! Adoro tudo que você escreve.

Foi o sinal pra Charlie se aprumar na cadeira, ajeitar o tronco no esgarçado blazer de lã cinza com rótulos de um couro negro nos cotovelos. Feito, buscou em sua mochila  a caneta e a inseparável agenda de trezentas folhas que o acompanhava havia anos.
Passados não mais de quinze minutos pigarreou, firmou as vistas no papel e as primeiras palavras lhes abandonaram a boca:
 
"Ai de mim, Nancy
Sem estes teus modos de borboleta
Dentro do sensual vestido vermelho
Que me veda nacos destas coxas macias
Bronzeadas em praias de ondas perfeitas

Ai de mim, Nancy
Se furtassem a tua companhia
Se com concreto vedassem meus ouvidos
E não mais me houvesse o tilintar dos copos
E nem o vento brando a celebrar nossa amizade

Ai de mim se não mais pudesse ver teu meigo sorriso
Refletido nestas doses de um uísque mentiroso
Destilado falso, criminoso, mas que finjo não percebo
Se não me fosse meu repúdio ante outras farsas vis
Que me envergam mas não destroem
Como a um escorpião sucumbido de morte ante a chama

O que seria de mim? "

Nancy ouviu atentamente a embriagada e  rouca leitura do poema. Os olhos marejaram e ela fez o possível para que as gotas não caíssem; não queria que ele percebesse. Tentou sorrir, não  conseguiu; Ela sabia que não havia valor inestimável no que Charlie escrevia, mas,  amava sobremaneira a honestidade na qual ele se expunha. Admirava-lhe a coragem de  desabrochar-se como uma flor que jamais mente. Todavia, logo após, Charlie retornou ao imutável laconismo, olhos cravados no rótulo da cerveja; Estava sendo impossível evitar que a amargura não o fizesse prisioneiro mais dessa vez. Uma amargura nostálgica, soturna, carregada de melancolias.  Nancy repassava em flashes muitas das cenas do seu relacionamento com Charlie. Relembrou que cinco anos haviam se passado desde que  se conheceram. E nesses cinco anos,  às sextas feiras  se tornaram sagradas para ela. Nestes dias não havia compromissos, nem mesmos os necessários à advogada de sucesso que se tornara. Nada, absolutamente nada a afastava de Charlie e nem dos instantes que permaneciam juntos.

Ela continuava a fitar aquele estado lôbrego quando pressentiu uma sensação ruim. E ela não viera só, mas sim  acompanhado de um nó no peito, de algo que parecia dizer que alguma coisa se encontrava fora de lugar. E foi navegando nestes sentimentos que, inesperadamente  Charlie levou a mão direita ao centro do peito numa expressão de horror, de dor. Repentinamente sua cabeça desabou pesadamente indo se amparar no início do tórax. Assustada ela agitava com força o ombro do amigo.

-Charlie, Charlie! –  Não obteve resposta - Charlie, Charlie! – Insistiu num tom elevado e que chamou a atenção das pesoas próxima à sua mesa.

Incontinente alguns clientes se levantaram e foram ter com eles enquanto Nancy levava seus dedos para o pulso de Charlie à procura de sentir os latejamentos de sua artéria.- Nada -  A toque dos seus  dedos não detectaram qualquer pulsação. Em pânico procurou em sua bolsa  o espelhinho de maquiagem e o colocou diante a boca  e as narinas de Charlie  na esperança de ver algum embaçamento no vidro. – Outra vez sem  qualquer efeito - Charlie apenas permaneceu ali com o rosto cravado no peito como se estivesse em profunda penitência. Era  a parada obrigatória, o ponto final de Charlie.

Charlie nunca mais beberia com ela e nem haveria outras quaisquer sextas feiras. Charlie simplesmente se submetera á vida deixando o seu ali,  presente, até sentir-se  ternamente beijado em seu semblante num choro contido e sem lamentos. Naquele momento Nancy tinha por companhia a dor e o imensurável vazio que de tudo se apoderou. 

E aquilo lhe doía, doía como dói a saudade, como a dor que nos impõem como se decreto fosse.

E com Charlie aninhado por entre seus braços ele tomou consciência que naquele canto não mais haveria poesias e nem as tristezas do amigo.
Enfim, a partida dele deixara algo vago e incluso dentro de si: por que ela o queria tanto a.ssim? Que afeição era essa?

-Vá com Deus, Charlie! Ela sussurrou ao seu ouvido para depois revirar novamente a bolsa à procura do seu celular. Haviam providências a serem tomadas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O velho tolo e o gel lubrificante

Conheci Jorge num pizzaria bar próximo ao centro da cidade. Sobre sua mesa  uma pizza de mussarela consumida  de 3 fatias. Ao pé da cadeira , 7 ou 8 garrafas de cervejas adormeciam vazias. Evidente, Jorge, como todo bebum que se preza bebia pra caralho e comia quase nada.
Parado diante o tempo e um  olhar ébrio destinados a todos e a ninguém   ele vocifereva suas infames piadas sobre operadoras de telemarketing. E o engraçado é que quando terminava as anedotas de mal gosto dava de gargalhar de si próprio. Alguns clientes ignoravam, outros achavam graça e riam, mas não de suas piadas, evidente.

Eu estava ali no momento, e  solitário  eu comemorava os meus 72 anos. Acomodado numa mesa de canto eu degustara o pedido que havia feito: meio alicci, meio margarita. Eu me empanturrara com 4 dos seus 8 pedaços. Em cima do tampo da mesa  umas a 6 garrafas de cervejas  jazidas faziam me lembrar que a minha vantagem sobre   Jorge era contundente; Eu não contava piadas sobre operadoras de telemarketing.
Aliás, eu jamais fora um cara bom de piada e apenas o olhava à distância seguindo  à risca a tradição dos sujeitos de não tão boa vizinhança. Em todo eu o achei curioso.  Era mais de uma da manha quando ficamos somente ele e eu no pequeno reservado da pizzaria enquanto mais adiante, no balcão do bar,   fervilhava de gente que  devorava pedaçõs de pizza  à la carte e sanduíches emergenciais. Jorge permanecia calado agora, mas ainda curioso sobre a sua pessoa tomei a iniciativa e aproximei-me de sua mesa, parando à sua  frente,  ofuscando em parte  a luz que advinha da luminária no teto.  Ele me olhou surpreso e com aqueles seus olhos avermelhados de tanto álcool, e perguntou:

-Que é?

-Bem..... amigo, uma curiosidade; Por que não te simpatizas com esse pessoal de  telemarketing?

-PORQUE A FILHA DA PUTA DA ISAURA ME ABANDONOU POR UM DESSES BABACAS! UM DESSES VENDEDORES DE PLANO SE SAÚDE POR TELEFONE. - Ele berrou chispando brasas com o olhar.

Claro, escolado que eu era podia compreender o motivo de sua dor; eu também já fora trocado um dia,  não por um vendedor de planos de saúde, mas pelo sorriso cativante de um gerente de rotisserie. Contudo mudei de assunto e percebi que Jorge era um cara bem descolado. Sabia das coisas, de esportes, de cinema, até mesmo de política. No fim, era  mais de duas da manhã quando nos despedimos da conversa  e trocamos os telefones para marcarmos uma eventual cervejada. Passado algum tempo, me desfazendo de papéis que vão se acumulando sem motivos em minha carteira  deparei-me com o seu cartão pessoal. Sorri. Momentaneamente a curiosidade de saber como ele estava e como ele se ajeitará com a sua ex- telemarketing,  telefonei-lhe:

-Fidelis Souza Representações! Em que podemos servi-lo? –  Antecipando-se à mim perguntou-me a voz.

-Alô! Por favor, eu poderia falar com o Jorge? -

-Sim, é ele mesmo! Jorge Fidelis, às suas ordens, senhor! - Respondeu-me num tom bem profissional

-Jorge, aqui é o Isidro! Lembra-se de mim? Nos encontramos há uns 4 meses atrás, numa pizzaria do Bixiga! Lembra-se?

-Não.  Não me lembro não senhor! Mas...aproveitando a sua ligação, como é seu nome, mesmo?

-Isidro. Isidro Torres, Jorge - Confirmei

-Sim seu Isidro! Sabia que hoje é o seu dia de sorte? E que  somos os maiores revendedores de genéricos do Viagra e Cialis em território nacional? - Exclamou sem que tivesse lhe perguntado ou me interessado por qualquer coisa.

-Não, não sabia! Verdade?

-Sim, plenamente verdade, senhor!

-Vem aqui Jorge.... Esses medicamentos funcionam mesmo?

-Claro! Nós os fabricamos com os mesmos princípios ativos dos originais. Na verdade por questões de comércio exterior e do direito de marcas e  patentes não podemos lhes dar os nomes originais.

-Ah, é? 

-Sim, é sim seu Isidro. Por isso, de embalagem eles saem com os nomes de Deflagra para o Viagra, e Erectis para o Cialis.  E é importante que se saiba : empregamos tecnologia de ponta e  nacional, e ainda utilizamos mão de obra caseira, valorizando assim o pai de família, o trabalhador brasileiro.

Meu Deus! Aquilo me cheirava à picaretagem. Pelo o que ele me tinha? Um idiota?

Porém a sua abordagem era tão ou mais eficaz que uma metralhadora RPK-74N2, em mãos do tráfico da Rocinha. E o danado era espetacularmente convincente.

-Sabe, seu Isidro, há anos somos os maiores exportadores desses medicamentos para a China. Portanto tenha em conta  a densidade populacional daquele país. Filhos para serem gerados dependem da imprescindível rigidez do membro peniano. Sendo assim a dedução é simples: funciona!

Surpreso com aquela situação e com a bateria de seus argumentos  ri comigo mesmo. Afinal eu jamais suporia que Jorge  se transformaria  num eficientíssimo telemarketing, ainda mais diante da sua outrora aversão ao ramo. E isso me fez questiná-lo:

-Jorge, sinceramente?  Não te compreendo! Como você foi se transformar num vendedor virtual?  Justo você que sempre foi avesso ao telemarketing?

-Pois é seu Isidro! A vida, do mesmo jeito que joga contra, joga a favor e nos ensina preciosidades: Se não pode vencê-los, junte-se a eles! – Respondeu-me com certo riso.

- Bem...Isso é! – Concordei, e ainda curioso sobre os medicamentos - Jorge, quanto ta saindo a caixinha do Erectis? -

-Bom... Estamos com uma promoção estupenda: Uma unidade, cinqüenta reais. Duas,  oitenta reais – Quatro,  cento e vinte reais!

-Não dá pra melhorar esse preço nas quatro unidades? – Regateei.

-Bem... aí só se o senhor comprar dez unidades por duzentos e sessenta reais! Se fizer as contas verá que o desconto é quase de 100%  sobre o valor de cada unidade básica.

-  É mesmo, Jorge?

-Sim seu Isidro. E o senhor comprando as 10 unidades  ainda lhe enviamos a Suzy! –

Fez-se um breve e estratégico silêncio; Jorge aguardava  pela  minha reação.
Contas feitas, parecia-me interessante aquela oferta e ainda mais porque  achei bacana essa inovação de interagir com o cliente enviando os medicamentos de forma rápida e através de uma moto girl.

-Jorge, fechado então! Anote meu endereço! Que horas vocês mandarão passá-la aqui?

-Passá-la?  Passar quem aí, senhor?

-Oras! A Suzy! A garota, a moto girl de vocês!

-Senhor Isidro, deve estar havendo algum engano.

-Como assim, Jorge?

-Suzy é nosso o brinde se for finalizada a compra.  É uma boneca inflável fabricada nos rígidos padrões internacionais de qualidade. Os seus orifícios vêm com a lubrificação de um gel especial e de alta sensibilidade. A vagina possui a mesma elasticidade e umidade de uma normal. Os mamilos são protuberantes e seios, redondos e fartos. Ah! Ela  vem com uma razoável abertura nos lábios e isso irá permiti-lo sugar a sua língua, igualmente  úmida e de sabor hortelã fresh.

Jesus Cristo! – Pensei - Eu me espantava com a rapidez do progresso. A tecnologia se tornara arma letal para os iguais a mim, os sobreviventes da década de 40.  E, talvez se soubesse antes  desse   negócio de boneca inflável,  provavelmente meus problemas estivessem resolvidos. Porém a evolução tecnológica ainda me causava dúvida:

-Jorge, e como se faz pra ela ficar... ficar...cheinha, com formas de mulher?

Do outro lado apenas a gargalhada de alguém que desistiu momentaneamente do seu tom profissional.

-Senhor Isidro, desculpe a riso, mas.... o senhor é bem antiquado, né? O senhor nunca ouviu falar em compressor portátil? Nós  vendemos também!  E estamos com uma excelente promoção: Cento e oitenta reais, a unidade!

-Claro que já ouvi! Acha que sou um desses bobalhões que não sabem o que é um compressor?! – Respondi com austeridade, incomodado com a sua galhofa – Afinal, nos meus tempos de mocidade eu fora um excepcional ajudante de funilaria e pintura. E outra; jamais um compressor que se preze poderia custar uma ninharia dessa. Tava na cara que ali tinha embromação.

Em todo o caso eu jamais compraria uma geringonça daquelas, máquina horrenda, ocupando um espaço precioso em meu quarto, emitindo  a maldita fumaça daquilo que a alimentaria; óleo diesel. Portanto, pensando em todos esses aborrecimentos  achei por bem fecharmos o negócio e deixarmos o compressor de fora.
E assim que Suzy chegasse rumaríamos para uma bicicletaria e compraríamos uma bombinha manual e assunto encerrado. Claro,  seria um esforço a mais, mas, quem sabe se aqueles orifícios lubrificados e sua língua de hortelã  não compensassem?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ÀLCOOLFAGIA

Tento sonhar com um tempo presente dissipado das quimeras que sempre infernizam minha vida

As pálpebras pesam e eu reviro no leito e o sono tarda, porém vêm sem que eu precise contar carneirinhos.

Na madrugada, aos sobressaltos acordo. Acendo o abajur enquanto meus olhos estalados rondam pelas paredes e mobílias. Nada de anormal; não há monstros de antenas azuis impregnados no meu teto e nem por detrás das persianas de alumínio. Procuro por Dandara, a quem me acostumei chamar de "Dand".
Dand é a minha ursa de pelúcia; Minha velha e cinqüentenária companheira que jamais soube dos prazeres da vida. Claro, e continuará virgem apesar da companhia.

Agora, literalmente desperto percebo que nada mudou; Os meus sonhos continuam como sempre foram; insólitos. Sonhei com o passado e me vi de pernas entrelaçadas nele. Não gostei de suas pernas frias e compridas, aliás, maiores que as minhas.
O futuro também não escapou ileso; Ele pareceu-me uma linda garota de seios avantajados e mamilos protuberantes; Apertei-os no bojo, afinal, eles sempre nos causam dúvidas e espanto; Os seios do futuro eram reais, não havia neles qualquer material ou prótese siliconada.
Talvez incluindo uma ou outra coisa que devo ter me esquecido, em regra foi o que sonhei. Com se evidencia, ainda continuo sonhando com loucas fantasias. E por ter essa certeza é percebo o quanto sou contraditório; Seria o sonho algo mais que uma pujante fantasia?

Perdido neste conceito levanto-me e coloco o meu roupão branco feito de um tecido grosso, felpado, e noto que os seus dois números maiores ao que deveria ser me deixam com a fisionomia de um desses ex- campeões mundiais de boxe. Algumas vezes chego a imaginar que sou um, então fecho a porta do quarto e fico me exercitando em frente ao imenso espelho que instalei na folha interna da porta. Com feição severa faço jogo de pernas, solto jabs, e outras firulas até remeter meus potentes cruzados de ponta de queixo. Atingido, invariavelmente meu oponente ilusório beija o carpete. Fim de corrida para ele, faço uso do meu braço esquerdo para me erguer o direito, declarando-me vencedor do combate. O que também não se constitui surpresa; No meu roupão, do lado esquerdo, no alto, há um imenso bordado com linha grená - We are the Champions - lê-se claramente. Exercito as pernas, saltito, enquanto de mim só cumpro a sina de não perder para lutadores imaginários.


Ainda ruminando o sonho atravesso a sala igual a um zumbi. Na penumbra, desajeitado vou colidindo com os objetos que cruzam a minha frente. É habitual quebrar enfeites da mesinha, vasos decorativos, inclusive houve uma vez que ao perder o equilíbrio destruí um quadro pintado a óleo que estava preso à parede. Sim, eu consegui a façanha!
Poderia acender as luzes ao atravessar a sala, porém um estranho pressentimento nunca me permite acende-las ao cruzar o cômodo. Eu sempre questionei que pressentimento seria esse, contudo, como isso poderia me levar à viagens piores, evito.

Saindo da sala encontro a porta que eu precisava. É a porta do banheiro; sempre a deixo fechada, pois minimiza os cheiros indesejáveis que alcançam os cantos da casa. Acendo a luz, olho-me no espelho do armarinho e não me assusto. Evidente, eu teria todos os motivos para me assustar; Os quase 60 anos parecem ter envelhecidos e estacionado nos 80. Rugas adornam os sulcos do rosto. Ao lado dos olhos ranhuras diversas fazem-me recordar que já tive bonitos olhos castanhos. Com um certo desponto desisto do espelho, abro a tampa da latrina e urino. Poderia vomitar também, mas, não agora; não me parece uma boa hora pra se vomitar. Olho pela janelinha ao lado do box do banheiro e na rua despontam os faróis de um ou outro carro que transitam nesta hora. Repentinamente um deles para bruscamente onde uma garota morena com cabelos tingidos de loiro se exibe numa escandalosa micro saia.Ela se dependura na porta do passageiro. Percebo que ela gesticula bastante os seus braços. Logo após parece que o preço do michê foi acertado pois ela entra no carro e eles partem

.Ainda penso na garota enquanto lavo e enxugo o rosto. Inspeciono-me e sorrio; a aparência não me melhorou. Desligo a luz, saio do banheiro e dirijo-me à cozinha. Lá abro o armário da dispensa e pego uma caixinha de remédio: Revia® é o nome.

Trata-se de um medicamento cujo componente é o naltrexona, e é indicado para o tratamento de alcoolismo. Faz um bom tempo que o tomo, mas até o momento não surtiu o efeito desejado já que persisto na indômita vontade de beber.
Com o comprimido à mão vou até à geladeira e pego a garrafa de água mineral gasificada; Como tantos outros velhos tenho minhas manias, talvez frescuras, não sei ao certo. Derramo o líquido num copo e o engulo a drágea, fazendo a minha parte do acordo.

Saio da cozinha, apago a luz e volto pela sala onde o meu joelho derruba um novo enfeite comprado a menos de uma semana. Por sorte ele resiste ao meu poder de destruição. Ao entrar no quarto acendo a luz e noto que um lado da box casal está vazia e isso me leva a divagar que poderia ter alguém ali deitada ao meu lado. Meã culpa! Redimo-me; eu não quis ou não fiz a menor questão que houvesse uma mulher que recebesse o seu extrato bancário no mesmo endereço meu. Além já se faz muito tarde para levar isso em consideração  já que devo estar no fim do meu prazo de validade.
Ainda imaginando que nesta noite eu gostaria de ter alguém debaixo do edredom, deito-me,  cubro-me e tento dormir. Talvez dessa vez me seja necessário contar carneirinhos.

O amanha  é hoje e ele virá. Virá presente com muito sol,  chuva, calor ou frio, nunca sabemos. Além do mais será um dia 5, dia de aluguel, de despesa de condomínio e da mensalidade do carro no estacionamento da esquina.
Talvez essa seja uma daquelas noites de expectativas para alguns; A do síndico (dono do meu apartamento) torcendo para que eu resista a mais essa noite, e a minha,  em não querer entregar a rapadura tão fácil assim. Afinal, já não fui um campeão mundial?