Conheci Jorge num pizzaria bar próximo ao centro da cidade. Sobre sua mesa uma pizza de mussarela consumida de 3 fatias. Ao pé da cadeira , 7 ou 8 garrafas de cervejas adormeciam vazias. Evidente, Jorge, como todo bebum que se preza bebia pra caralho e comia quase nada.
Parado diante o tempo e um olhar ébrio destinados a todos e a ninguém ele vocifereva suas infames piadas sobre operadoras de telemarketing. E o engraçado é que quando terminava as anedotas de mal gosto dava de gargalhar de si próprio. Alguns clientes ignoravam, outros achavam graça e riam, mas não de suas piadas, evidente.
Eu estava ali no momento, e solitário eu comemorava os meus 72 anos. Acomodado numa mesa de canto eu degustara o pedido que havia feito: meio alicci, meio margarita. Eu me empanturrara com 4 dos seus 8 pedaços. Em cima do tampo da mesa umas a 6 garrafas de cervejas jazidas faziam me lembrar que a minha vantagem sobre Jorge era contundente; Eu não contava piadas sobre operadoras de telemarketing.
Aliás, eu jamais fora um cara bom de piada e apenas o olhava à distância seguindo à risca a tradição dos sujeitos de não tão boa vizinhança. Em todo eu o achei curioso. Era mais de uma da manha quando ficamos somente ele e eu no pequeno reservado da pizzaria enquanto mais adiante, no balcão do bar, fervilhava de gente que devorava pedaçõs de pizza à la carte e sanduíches emergenciais. Jorge permanecia calado agora, mas ainda curioso sobre a sua pessoa tomei a iniciativa e aproximei-me de sua mesa, parando à sua frente, ofuscando em parte a luz que advinha da luminária no teto. Ele me olhou surpreso e com aqueles seus olhos avermelhados de tanto álcool, e perguntou:
Aliás, eu jamais fora um cara bom de piada e apenas o olhava à distância seguindo à risca a tradição dos sujeitos de não tão boa vizinhança. Em todo eu o achei curioso. Era mais de uma da manha quando ficamos somente ele e eu no pequeno reservado da pizzaria enquanto mais adiante, no balcão do bar, fervilhava de gente que devorava pedaçõs de pizza à la carte e sanduíches emergenciais. Jorge permanecia calado agora, mas ainda curioso sobre a sua pessoa tomei a iniciativa e aproximei-me de sua mesa, parando à sua frente, ofuscando em parte a luz que advinha da luminária no teto. Ele me olhou surpreso e com aqueles seus olhos avermelhados de tanto álcool, e perguntou:
-Que é?
-Bem..... amigo, uma curiosidade; Por que não te simpatizas com esse pessoal de telemarketing?
-PORQUE A FILHA DA PUTA DA ISAURA ME ABANDONOU POR UM DESSES BABACAS! UM DESSES VENDEDORES DE PLANO SE SAÚDE POR TELEFONE. - Ele berrou chispando brasas com o olhar.
Claro, escolado que eu era podia compreender o motivo de sua dor; eu também já fora trocado um dia, não por um vendedor de planos de saúde, mas pelo sorriso cativante de um gerente de rotisserie. Contudo mudei de assunto e percebi que Jorge era um cara bem descolado. Sabia das coisas, de esportes, de cinema, até mesmo de política. No fim, era mais de duas da manhã quando nos despedimos da conversa e trocamos os telefones para marcarmos uma eventual cervejada. Passado algum tempo, me desfazendo de papéis que vão se acumulando sem motivos em minha carteira deparei-me com o seu cartão pessoal. Sorri. Momentaneamente a curiosidade de saber como ele estava e como ele se ajeitará com a sua ex- telemarketing, telefonei-lhe:
-Fidelis Souza Representações! Em que podemos servi-lo? – Antecipando-se à mim perguntou-me a voz.
-Alô! Por favor, eu poderia falar com o Jorge? -
-Sim, é ele mesmo! Jorge Fidelis, às suas ordens, senhor! - Respondeu-me num tom bem profissional
-Jorge, aqui é o Isidro! Lembra-se de mim? Nos encontramos há uns 4 meses atrás, numa pizzaria do Bixiga! Lembra-se?
-Não. Não me lembro não senhor! Mas...aproveitando a sua ligação, como é seu nome, mesmo?
-Isidro. Isidro Torres, Jorge - Confirmei
-Sim seu Isidro! Sabia que hoje é o seu dia de sorte? E que somos os maiores revendedores de genéricos do Viagra e Cialis em território nacional? - Exclamou sem que tivesse lhe perguntado ou me interessado por qualquer coisa.
-Não, não sabia! Verdade?
-Sim, plenamente verdade, senhor!
-Vem aqui Jorge.... Esses medicamentos funcionam mesmo?
-Claro! Nós os fabricamos com os mesmos princípios ativos dos originais. Na verdade por questões de comércio exterior e do direito de marcas e patentes não podemos lhes dar os nomes originais.
-Ah, é?
-Sim, é sim seu Isidro. Por isso, de embalagem eles saem com os nomes de Deflagra para o Viagra, e Erectis para o Cialis. E é importante que se saiba : empregamos tecnologia de ponta e nacional, e ainda utilizamos mão de obra caseira, valorizando assim o pai de família, o trabalhador brasileiro.
Meu Deus! Aquilo me cheirava à picaretagem. Pelo o que ele me tinha? Um idiota?
Porém a sua abordagem era tão ou mais eficaz que uma metralhadora RPK-74N2, em mãos do tráfico da Rocinha. E o danado era espetacularmente convincente.
-Sabe, seu Isidro, há anos somos os maiores exportadores desses medicamentos para a China. Portanto tenha em conta a densidade populacional daquele país. Filhos para serem gerados dependem da imprescindível rigidez do membro peniano. Sendo assim a dedução é simples: funciona!
Surpreso com aquela situação e com a bateria de seus argumentos ri comigo mesmo. Afinal eu jamais suporia que Jorge se transformaria num eficientíssimo telemarketing, ainda mais diante da sua outrora aversão ao ramo. E isso me fez questiná-lo:
-Jorge, sinceramente? Não te compreendo! Como você foi se transformar num vendedor virtual? Justo você que sempre foi avesso ao telemarketing?
-Pois é seu Isidro! A vida, do mesmo jeito que joga contra, joga a favor e nos ensina preciosidades: Se não pode vencê-los, junte-se a eles! – Respondeu-me com certo riso.
- Bem...Isso é! – Concordei, e ainda curioso sobre os medicamentos - Jorge, quanto ta saindo a caixinha do Erectis? -
-Bom... Estamos com uma promoção estupenda: Uma unidade, cinqüenta reais. Duas, oitenta reais – Quatro, cento e vinte reais!
-Não dá pra melhorar esse preço nas quatro unidades? – Regateei.
-Bem... aí só se o senhor comprar dez unidades por duzentos e sessenta reais! Se fizer as contas verá que o desconto é quase de 100% sobre o valor de cada unidade básica.
- É mesmo, Jorge?
-Sim seu Isidro. E o senhor comprando as 10 unidades ainda lhe enviamos a Suzy! –
Fez-se um breve e estratégico silêncio; Jorge aguardava pela minha reação.
Contas feitas, parecia-me interessante aquela oferta e ainda mais porque achei bacana essa inovação de interagir com o cliente enviando os medicamentos de forma rápida e através de uma moto girl.
-Jorge, fechado então! Anote meu endereço! Que horas vocês mandarão passá-la aqui?
-Passá-la? Passar quem aí, senhor?
-Oras! A Suzy! A garota, a moto girl de vocês!
-Senhor Isidro, deve estar havendo algum engano.
-Como assim, Jorge?
-Suzy é nosso o brinde se for finalizada a compra. É uma boneca inflável fabricada nos rígidos padrões internacionais de qualidade. Os seus orifícios vêm com a lubrificação de um gel especial e de alta sensibilidade. A vagina possui a mesma elasticidade e umidade de uma normal. Os mamilos são protuberantes e seios, redondos e fartos. Ah! Ela vem com uma razoável abertura nos lábios e isso irá permiti-lo sugar a sua língua, igualmente úmida e de sabor hortelã fresh.
Jesus Cristo! – Pensei - Eu me espantava com a rapidez do progresso. A tecnologia se tornara arma letal para os iguais a mim, os sobreviventes da década de 40. E, talvez se soubesse antes desse negócio de boneca inflável, provavelmente meus problemas estivessem resolvidos. Porém a evolução tecnológica ainda me causava dúvida:
-Jorge, e como se faz pra ela ficar... ficar...cheinha, com formas de mulher?
Do outro lado apenas a gargalhada de alguém que desistiu momentaneamente do seu tom profissional.
-Senhor Isidro, desculpe a riso, mas.... o senhor é bem antiquado, né? O senhor nunca ouviu falar em compressor portátil? Nós vendemos também! E estamos com uma excelente promoção: Cento e oitenta reais, a unidade!
-Claro que já ouvi! Acha que sou um desses bobalhões que não sabem o que é um compressor?! – Respondi com austeridade, incomodado com a sua galhofa – Afinal, nos meus tempos de mocidade eu fora um excepcional ajudante de funilaria e pintura. E outra; jamais um compressor que se preze poderia custar uma ninharia dessa. Tava na cara que ali tinha embromação.
Em todo o caso eu jamais compraria uma geringonça daquelas, máquina horrenda, ocupando um espaço precioso em meu quarto, emitindo a maldita fumaça daquilo que a alimentaria; óleo diesel. Portanto, pensando em todos esses aborrecimentos achei por bem fecharmos o negócio e deixarmos o compressor de fora.
E assim que Suzy chegasse rumaríamos para uma bicicletaria e compraríamos uma bombinha manual e assunto encerrado. Claro, seria um esforço a mais, mas, quem sabe se aqueles orifícios lubrificados e sua língua de hortelã não compensassem?
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