quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Lana


O bar fervia. No interior as fumaças acinzentadas dos cigarros  tornavam o ar irrespirável e tanto abafado. Tossiu, pigarreou, olhou para o relógio; duas da manhã. Recriminou o próprio vício enquanto olhava para as pontas dos dedos que  amassavam o toco do cigarro no fundo de um cinzeiro. Sim, havia certa simpatia aos movimentntos anti-tabagistas, mas, inviáveis pra ele. Acendeu outro Marlboro e resolveu mudar de lugar. Escolheu uma das banquetas do balcão e acomodou-se.
- Outro uísque, por favor! – Pediu  ao barman.
Enquanto aguardava passou os olhos pelo ambiente; alguns rostos amuados contrastavam com os sorrisos e dentes das mais diferentes pessoas.  Perto dali numa mesa, apesar de não distinguir perfeitamente, reparou numa mulher que aparentava algo próximo dos trinta. De onde estava só se viam as pernas bem torneadas,  levemente deixadas à mostra num curto vestido azul.  -"Mais uma prostituta" -  Pensou - Tranquila, a moça sorvia o seu drink,  reticente, não se dando conta do que se passava à sua volta. Nesse  transe ela circundava o dedo indicador pela borda do copo com um líquido de tonalidade esverdeada.

Novamente olhou e a achou interessante. Perguntou-se; “ O que deve passar pela cabeça duma prostituta?" –  Não teve  resposta. Nem ele sabia.  Após o insólito questionamento, sorriu: Talvez as pessoas estivessem mais preocupadas com as suas contas de água, luz e telefone. Talvez as preocupações com  pais idosos, queixas de desencanto de ex-esposas, ou mesmo,  o lamento  juvenil dos filhos engravidados pelo  tesão de instantes fossem mais importantes que a questão  – Concluiu. 
Exorcizando as divagações persistiu na mulher vestida de azul. Num impulso confiante levantou e encaminhou-se  na direção onde ela estava. Contudo os impulsos por vezes são covardes. Disfarçou e sentou-se numa mesa à frente a dela.  Preocupado olhou por cima do ombro; será que o garçom tinha percebido o deslocamento?  Assim que os olhares se cruzaram o atendente fez um sinal de positivo.  Ele sossegou. Agora, bem mais próximo estacionou os olhos na moça o suficiente pra perceber que havia beleza ali, apesar da precocidade de algumas rugas. Talvez tenha insistido em demasia e ela percebeu. Soergueu o rosto e interromopeu o ato contínuo de voltear o copo. Os olhos dele persistiam cravados nela, que, constrangida devolveu um sorrisso nostálgico e suave.
De alguma forma a mulher o impressionava, principalmente o sorrriso que, além de triste parecia ser sincero.  Era  como se ela dissesse  falas que não conseguia ouvir -  “Ei moço! Posso parecer uma puta,  mas sou uma pessoa decente” - Sabiam ele e ela da importância das aparências das pessoas. Todavia, sabiam também que as aparências enganam e, humanos que somos vivemos do incorrer em  grandes equívocos. Talvez pessoas que exarcebem  classe e perfumes de 300 dólares são aqueles que vao te trair diante dum interesse  maior.  Ele mesmo já fora vítima de um desses punhais cravado nas costelas.
O sorriso ainda se emoldurava no rosto da mulher quando seus impulsos renderam-se  à coragem  fazendo-o levantar. Com a sua bebida na mão  estacou-se  à frente dela.

-Oi! Tudo bem com você – Perguntou amistoso. Afinal, tinha que começar por algum lugar.

-Sim, tudo bem! E com você? – Ela se manteve a reciprocidade.

Bem, daí para frente a noite se transformou em magia. Como se fossem dois velhos amigos falaram de suas vidas, contaram  suas ilusões, desilusões, algumas alegrias e um tanto das tristezas.  Beberam bastante, mais que o aconselhável. Evidente, um sujeito de classe paga a conta. Ele tinha classe, pagou.

Lana o impressionava cada vez mais com seu sorriso ora nostálgico, ora misterioso. No rosto,   lábios carnudos e carmins adornavam-se por fileiras de dentição perfeita. Ela sabia se cuidar - Deduziu satisfeito.
Assim que se levantaram ele pode observar que o corpo da mulher ainda se encontrava em plena forma. O porte ereto realçava a maturidade de sua beleza enquanto a voz um tanto rouca e grave conferiam à ela  um ar de fêmea fatal.

Convidada, aceitou: Iriam para o apartamento dele. Atravessaram o bar e deixaram para trás a fumaça azulada e o alarido das bocas insones . Lá fora o ar úmido e o denso nevoeiro  faziam das lâmpadas dos postes  focos de luminosidades  opacas, num efeito semelhante ao do gelo seco. Não  se surpreenderia se um  astro do rock surgisse da cerração. 
Atravessaram a calçada, tomaram um táxi e rumaram para o apartamento. Ali, espremidos no banco traseiro de um fusca trocaram carícias, beijaram-se e, só não foram mais longe porque ainda não era o momento e nem o lugar. Ele, apesar de excitado, aguardava; Era afeito às surpresas. Entraram no edifício, subiram pelo elevador e ela o excitou ao aninhar-se de costas e pressionar a bunda bem no centro do seu pau. Ela sabia como fazê-lo, meneando sensualmente os quadris como se procurasse o encaixe para algo. Ansioso,  ele atravessou os braços por suas llaterais e os cruzou no peito dela, massagendo os seios por cima do sutiã. Surpreendeu-se com  volume e o fato dela mantê-los em tal estado de rigidez. No curto trajeto até o apartamento comparou-a às atrizes dos anos 50, e aos filmes que jamais perdia. Relembrou alguém que carregava o mesmo nome  - "Ei, você me lembra  Lana Turner" - Disse-lhe - Ainda viajou e recordou-se da bela Grace Kelly e da ingênua Audrey Hepburn. Enfim, só foi abortado das cinéfilas recordações ante o fato do elevador ter chegado ao  seu destino. Ele estava feliz; havia encontrado alguém que falava a sua língua, que entendia a sua melancolia, e  fundamentalmnte; alguem que sabia excitá-lo como ninguém..

Claro, não era jovem. Sabia que o sentimento da paixão já havia desistido de si. Todavia Lana inspirava-lhe confiança com aquele olhar cativante e compreensivo.
Na sala, Lana repousou a bolsa de couro em cima da estante e pediu para fazer uso do toalete. Estava ansiosa por um bom banho; “ Querido, preciso livrar-me desse cheiro de cigarros. Posso tomar uma ducha?”  – “Sim, claro meu anjo!” – Foi sua resposta.  Lana perguntou também se ele tinha uma camiseta folgada,  que pudesse deixá-la mais confortável. “Sim, meu amor! Tenho uma das grandes” – Confirmou ao procurar em suas gavetas um dos seus camisetões GG que tanto gostava de vestir ao dormir. Por sorte encontrou um novo na cor de um amarelo canário. “Uau! Ela vai ficar um show” – Concluiu ao entregar-lhe a peça. Vomo não poderia deixar de ser,  um risinho sacana se estampado em seu rosto.

Assim, à merce das devassidões da imaginação foi que Lana rumou para o banheiro. Ele  ouviu o barulho do chuveiro enquanto preparava  drinks para os dois. Tudo teria que ser perfeito -  Concluiu – Prontos,  colocou-os acima da cômoda do quarto. Desastrado, ao retirar a mão acabou por esbarrar num dos copos. derrubando-o.  Ansioso, voltou à cozinha e refez o drink.  Ao retornar deu com Lana e a luz apagada; Ela deixara acesa apenas  a tênue luz dum abajur de estilo oriental, ali,  à  mesinha de cabeceira. Estava linda naqueles  cabelos negros escorridos pela água. Deitada de costas, sedutoramente deixou as fenomenais pernas à mostra, talvez um palmo acima do joelho. Tal como previra, a tonalidade amarela caíra-lhe estupendamente.  Agitado,  entregou-lhe a bebida e sorveu a sua  num longo gole. Olhou para ela que bebericava seu drink com delicadeza de uma dama. Procurou ter a mesma gentileza ao  retirar-lhe o copo de sua mão e os repô-lo à cômoda.
Fazia frio, muito frio. Lana aninhou-se debaixo do espesso edredom.  Deitou-se de bruços. Estimulado, ele se desfez de suas roupas e permaneceu apenas de  cueca. Sentia frio, porém logo esqueceu-se da sensação ao correr as mãos por cima da manta pressionando as nádegas estupendamente rijas.  Inflamado, foi para debaixo do edredom e levou as mãos por dentro do camisetão - Surpresa! -  Lana estava sem a calcinha. Voluptuosamente imprimiu força nas mãos e massageva a sua bunda  quando empinou o rabo.  Aquilo o deixou transtornado. Excitadíssimo e ofegante ele se ajeitou em cima dela  e penetrou-a como um animal. Sentia-se na pele dum leão que devorava a sua presa.
Lana gemeu, rebolou, fazendo que ele fosse cada vez mais fundo. Ela agora sussurrava grave e sensual. - "Vai amor! mais! mais fundo!" - Ela o estava deixando maluco.  Com movimentos  perfeitos Lana facilitava a penetração. Foi no ir e vir das bestas feras que ele atingiu o orgasmo enquanto ela gemia, agora alto.
Ela ainda arfava quando desceu da montaria e deitou-se de costas. Olhou para o teto e depois para ela.  Carinhosamente usou os braços para fazê-la virar na sua direão. Queria beijar a boca daquela mulher, retribuir  em ternura aquilo tudo que houvera ganho.

E foi beijando que procurou pela vagina de Lana. Gostava de sentir os líquidos femininos escorrendo pelos vãos dos dedos. Ah sim! Também penetraria o dedo médio em sua vagina assim como fazia com suas poucas mulheres. Talvez Lana não soubess, porém, isso lhe causava imensurável  prazer.

Repentinamente o horror.

E foi assim, perdido mais na alma que num corpo de mulher que ele conheceu João Antonio.
Talvez para não demonstrar a sua estupidez e a falta de conhecimento da anatomia  humana  persistiu na conversa como se nada tivesse acontecido. Falaram do como e dos porques. Contudo, impossível. João Antonio alias... Lana, percebia o constrangimento do companheiro, e isso os afastou; sentía-se um pássaro no aguardo do descuido de uma porta aberta na gaiola. Após um interminável olhar para  o nada, levantou-se,  pegou suas roupas e rumou para o toalete. Ela se encontrava tão surpresa quanto ele. "Babaca!" - Susssurrou ao se defrontar com a própria imagem no espelho. Ela jamais poderia imaginar que o imbecil não soubesse diferenciar um travesti à uma mulher.

-Foi um prazer enorme, Getulio – Vestida e já maquiada despediu-se do dono da casa.

-O prazer foi todo meu, Joa...  - Respondeu disperso, porém à tempo de se lamentar da gafe -

-Perdão...Quero dizer...Lana - Tentou desculpar-se coagido pela asneira que acabara de cometer

-Não, meu querido! Nada me deve, nem cerimônia! Pra você é... João Antonio de Alburque – Finalizou com a voz rouca que ele achara tão sensual, mas que agora consentia máscula.

Despediram-se  forçados quando João Antonio assoprou um beijo nas pontas dos dedos e saiu meneando o inacreditável bumbum na direção do elevador. Getúlio  ainda fixava  as estupendas nádegas dentro daquele atraente vestido azul. Os saltos de Lana deixaram de tamborilar no piso quando o elevador chegou. A porta se abriu e depois fechou fazendo desaparecer a silhueta de alguém aparentemente feminina, quase mulher.

Assim que ouviu o som das engrenagens  do elevador em movimento, ja na posse da paz  e de sua consciência,  sentiu-se ridículo . Circunspecto teve vontade de estapear-se - "  Oh Deus! por que somos tão imperfeitos?" - Reclamou.
O inconformismo cedeu à princípio ao sorriso desenxabido, depois um outro mais estranho, indecifrável, talvez quase que insano.
Surpreso, não soube confirmar para si se seria aquela a sua primeira e única vez com esse tipo de gente.

Copirraiti 2007Ago
Véio China®