segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Encontro Satânico



"Eu poderia vomitar todas minhas aflições e rogar por um perdão que jamais me seria concedido.
Eu fora julgado. Um julgamento justo, desses que não precisam de advogados, juízes ou réus"

O meu lugar no bonde do inferno estava garantido. Seria um longo caminho, sem escalas, apenas aqueles trilhos incandescentes numa descida louca e vertiginosa. E no trem eu estava à janela, assustado, amedrontado numa composição que se movia por um desejo que não era o meu, para um destino que não escolhi.
De certa forma estava escrito e eu deveria me julgar culpado por algo que nem  sabia se havia cometido, assim como num desses crimes passionais, sem autor, vítima, testemunhas, e onde de fato não há a morte física, mas apenas a da alma.
Sim, era o meu destino no forjado do meu próprio holocausto. E pra piorar tudo poderia ser menos angustiante se não fossem aqueles enormes e negros besouros corroendo-me as vísceras, famintos e zombeteiros:

-Coisa ruim, tu vai encontrar Satã e lamber os seus chifres dourados! – Berravam e olhavam para mim. Eu odiava as bizarrices,  falácias e insolências daqueles seres estarnhos que certamente foderiam o rabo de Madonna num dia de juízo final.

Eu, impassível, apenas sentia meus pedaços sendo triturados por suas mandíbulas metálicas enquanto
o fogo ardia por todos os cantos e me alcançava e me queimava o rosto, cabelos e os fios da branca barba. Numa atmosfera sufocante o pouco ar que exalavam os meus pulmões era tão desgraçadamente quente que poderia fundir ligas de aço e do mais puro paládio.
Inexorávelmente era o meu destino sendo selado apesar de ainda pulsar vida dentro de mim.

Eu era apenas uma das suas peça de picanha escaldando num espeto imaginário. Eu era só os pensamentos e reflexões de algo que não me aclaraa. Eu não conseguia me fixar em qualquer coisa senão naqueles chifres reluzentes e pontiagudos que operavam  mim o terror e a inviabilidade de dicernimentos.
E agora sua vozes se calaram e na imensidão do nada eu apenas equestionava se aqueles chifres poderiam deixar em minha boca o refrescante sabor da hortelã.

Copirraiti16Fev2009
Véio China©