quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A culpa de Fernando Pessoa

Bem... tudo começou com a amabilidade dessas gentilezas de sermos simpáticos uns com os outros. Claudio, meu amigo, por debaixo dos panos me deu o convite para uma festa, já que este não poderia estar presente no aniversário de 35 anos de um desses playboy da alta - "Cara, será a festa do ano! Só Whisky 25 "years" e lagostas no menu do jantar. Ah! e te empresto um terno legal"- Ele disse. Bem, na verdade as únicas coisas que tínhamos em comum eram  nossas estaturas além do fato de termos passado parte da juventude  num ginásio estadual e até o momento do seu pai ter faturado alto e sozinho o prêmio da Loteria Esportiva, isso lá pelo meio da década de 80. E sobre a lagosta? Bem..sobre ela posso dizer que  jamais no foi traço comum, já que  nunca degustei uma, sendo que minha única experiência  com ela foi na TV e num programa do Ronnie Von onde um "maitre" e seus complexos talheres  ensinavam a dar cabo de uma.. Portanto fiquei olhando para aquele convite personalizado e na minha mente ebulia a curiosidade sobre o mundo dos ricos. Também pensei na solidão de estar lá entre duas centenas de grã-finos, porém levei em conta que os ricos fossem solitários e necessitavam de eventos iguais aquele para denotarem a ostentação das suas fortunas ante ao testemunho da imprensa "Jet-Set" e colunas sociais.
Enfim, esperando não ser barrado na porta de entrada com um pedido de "RG" lá estava eu naquele magnífico salão de festas duma cinematográfica mansão do Jardim Europa. Cheguei lá por volta das 8 da noite e apresentei o convite para um daqueles sujeitos de quase dois metros de altura e e ele me liberou a passagem. Talvez eu o tenha impressionado ao estar trajando uma estupenda gravata Dior grená e o belo terno do meu amigo, um Hugo Boss cinza e clássico. Entrando no jardim que antecedia o salão de festas fui servido pelo garçom a bordo de sua reluzente bandeja de prataria. Me servi do copo com maior quantidade  e zanzava por entre as pessoas quando os nossos corpos se esbarraram acidentalmente desequilibrando o meu Whisky e o dela,  um Martini com cerejas.

-Desculpe-me!-  Apressei-me diante o seu olhar surpreso: O meu nome é Odraude Inavap. Muito prazer senhorita... senhorita...  –   De imprevisto apresentava-me a ela deixando no ar um proposital intervalo de tempo entre as duas palavras finais

Óbvio, eu tinha cem por cento de certeza que aquela moça jamais ouviria da boca de um relés mortal  um nome como o meu. Talvez lhe fosse mais fácil entender que aquele meu intervalo entre as palavras "senhorita"  nada mais fosse que a minha curiosidade em saber o seu nome. Ela, apesar de continuar surpresa, também me surpreendeu..

-Muito prazer, Odraude Inavap! Te peço desculpas também! O meu nome é Gal Pernambuco de Menezes – Respondeu como uma flecha, um tom cantado, diferente, sorrisos nos olhos e aos cantos da boca.

Provavelmente Gal deva ter ficado abismada com meu ar de  perplexidade ao  ouvi-la proferir o meu nome sem um único equívoco. Por fração se segundo pensei naquilo e concluí que  aquela sua agilidade de raciocínio poderia indicar que estivesse diante duma pessoa bem dotada ou de alguém extremamente focada no ser humano.  Ah sim! Sobre a questão do meu nome e a dificuldade e estranheza que ele causava às pessoas era comum me questionar os motivos de mamãe ou de papai ao me imporem uma condecoração daquela. E mais, nas minhas divagações sempre considerei a possibilidade de no dia do meu registro de nascimento papai estar sendo demitido de algum emprego importante, ou quem sabe se não somente isso mas, também a perturbação de mamãe ante das insistentes dores do pós parto. Sim, muitas vezes mamãe me disse que sofrera extraordinariamente com a recuperação do meu parto. E comigo mesmo questionava o sofrimento dela e perguntava-me se o parto "normal" e os meus mais de cinco quilos e meio tivessem contribuído. Também levava em conta o fato das cirurgias "cesáreas" não estarem ao alcance de gente simples e humilde como nós. Aliás, se perguntassem para papai alguma sobre "cesarianas" ele seria bem capaz de imaginar que houvesse ligação com as voluptuosas mulheres de Cesar, à época o fanfarrão centroavante do Palmeiras.

-Nossa! Que calor infernal está aqui, não? – Ela sorri me absorvendo das extravagâncias . Olhei para a sua mão e notei que a bebida fizera um veio que escorria pelo vão dos dedos seguia na direção do pulso.

-Oh, desculpe senhorita! – Urgenciei ao retirar o lenço do bolso traseiro da calça. Rapidamente surgiu em minhas mãos um de marca Presidente, alvo, perfumado e que eu havia comprado uma semana antes, portanto um marinheiro de primeira viagem.

-Não é necessário te incomodares com isso, Odraude! - Ela continuava sorrindo, não sei se pelo fato de alguém ser tão antiquado ao ainda carregar o lenço ou, por eventuais cócegas que o tecido pudesse estar causando em sua pele.

-Odra! – Repentinamente ouço uma voz de mulher e sinto dedos pousando em meu ombro. A voz me soa familiar. Viro o corpo e la estava ela; Carmem, aliás, melhor dizendo, Carminha.

Olhei surpreso, enfim, há mais de 9 anos não nos víamos e ela continuava com o mesmo rosto lindo de sempre.

-Que prazer! Tudo bem com você, Carminha? –  Cumprimentei-a e apresentei uma a outra, pois senti o incômodo da garota do Martini  – Gal, essa é Carmem, Carmen essa é Gal –

O que veio a seguir foi uma cena constrangedora, ja que a Gal manteve sua mão estirada ao nada enquanto Carmem apenas se esboçou num sorriso de má vontade. Sobre Carmem também jamais seria impróprio confessar que tivera um caso com ela naquele tempo, mas não com essa que agora interferia. Carmem e eu nos conhecemos há coisa duns 11 anos, época do meu último ano duma tardia faculdade. Eu estava com 32 e Carmem cursava o segundo ano de jornalismo e era extremamente falante, comunicativa e chamava atenção pelas roupas espalhafatosas que usava, juntamente com suas insubstituíveis calças jeans rasgadas e os impreteríveis  All Star na tonalidade rosa. Às vezes me questionava por que Carmem se vestia de forma tão mulamba, apesar do seu pai ser montado numa grana federal. Mas isso fazia parte da sua natureza e apesar dos indícios de uma "porra louca" qualquer Carmem jamais se viu "antenada" nas contemporaneidades do início dos anos 2000 ou nos oba-oba dos "descolados" ou daqueles que pretensamente pousavam de "cult".

E recordando Carmem é impossível não relembrar daquela vez que me vi maluco para ver algumas das obras de Salvador Dali que foram temporariamente cedidas pelo Museu de Madrid ao MASP. Recordo inclusive que tive que carregá-la à força, pois nem pelo motivo ela se interessou. Sei que lá chegando foi que soube, e então passamos apreciar as obras do imortal, e ela me pareceu bem desinformada ao se sair com uma conversa tola e sem sentido: “Nossa amor... pinta muito esse boliviano, não?”. Talvez ela nem se dera por acordada tal o efeito do seu viciante Diazepan, porém o bastante para que o senhor ao nosso lado e que parecia entender daquilo olhar para nós com certa desconfiança e se afastar. Claro, deve ter imaginado que éramos malucos e gozadores. Ma mesmo assim  Carminha nem se apercebeu, afinal estava demasiadamente entretida com um dos seus bombons Kopenhagen que acondicionava na sua  mochila de brim cru da Ellus. Bem, também não podia culpar unicamente Carmem, afinal aquele relacionamento se quedou à época à fissura que sentia por garotas "cheinhas" e de estruturas avantajadas. Portanto foi mais que normal que me apaixonasse pelos seus mais de 85 quilos que se acondicionavam no seu metro e cinquenta e cinco, apesar do esforço sobre-humano para enfiá-los nas suas três únicas calças Lee

Enfim, voltemos à mão da Gal ainda abandonada ao vento quando, Carmem, persistindo em ignorá-la dá o ar da sua graça:

-Odra, olha para mim! Não nota algo diferente? – Perguntou-me num sorriso largo e olhos brilhantes

Achei curiosa a sua pergunta, pois se fosse para perceber o que havia de diferente seria desnecessário o seu giro sobre o próprio eixo numa espécie de "Estou maravilhosa? Diga logo!”. Após o rodopio eu a passei em revista e  Carminha que, deveria estar com uns 31 anos me pareceu espetacular naquele vestido negro e tão justo que expunha um fantástico par pernas bronzeadas, provavelmente adquirido na piscina de sua casa. Atrás, o seu bumbum proeminente se fazia acompanhar da curvatura dum tecido que não escondia o ínfimo “V” marcas de sua calcinha.
Eu estava boquiaberto com as mudanças e ela aguardava o meu veredicto quando acreditei que ela tivera alguma ajuda extra na perda de tanto peso.

- Poxa! Foi a bariátrica, né? –  Os seus olhos me fulminaram e parecia até que eu havia cometido todos os sete pecados capitais, e eu senti as adagas da sua fúria penetrando o meu coração.

- Pobre é foda, é literalmente descompensado! Foi dieta e esportes radicais,seu  imbecil! - Ela se exasperou ao apontar o indicador no meu nariz.

Pego de surpresa pela sua reação apenas fiquei olhando aquela longa unha vermelha a milímetros do meu nariz,  aturdido demais para que esboçasse qualquer reação.
Depois da tentativa de me humilhar, Carmem deu sua meia-volta e foi parar num canto oposto do enorme salão. E conforme ela ia abrindo caminho por entre as pessoas deixava atrás de si  ávidos e pecaminosos olhares masculinos  focados no subir e descer de cada uma de suas nádegas. Também não me seria surpresa que tivesse feito alguma lipoaspiração no bumbum, se é que isso fosse possível.

-Ops! Desculpe Gal! Essa menina sempre foi assim, meio... “avoadinha” – Tentei justificar enquanto Carmem, mais adiante parecia "bater boca" com um sujeito que provavelmente lhe dirigiu algum gracejo.

-Ah, não te perturbes com isso! A natureza humana sempre foi e será difícil -  Gal responde num tom delicado e sorri enquanto eu recolhia o lenço no bolso -Nossa! É uma surpresa ver alguém andando com lenço nos dias de hoje! – Ela completa ao acompanhar o movimento do meu braço. Claro, me senti ridículo, porém não era o momento de me deixar abater. Contra-ataquei:

-Pois é! Nunca sabemos quando uma linda mulher deixará escorrer despropositadamente a bebida em sua mão. Por isso me mantenho sempre alerta!

-Hahahaha...Essa foi ótima! Te saíste bem, guri! – Gal riu prazerosa.  Eureka! Parecia que eu estava no caminho certo. Ah sim, também não seria impróprio dizer que eu gostava de usar palavras, termos e gírias antigas, portanto comum ouvir em minha boca; Eureka – nos frigir dos ovos – pacas - putz – caraca – mina – boy - babado, lance, entre outras.

-E tu Odraude, o que fazes? – Claro que a pergunta de Gal me incomodou. Mas estava aí uma ótima chance para saber que eu era um escritor, e dos bons.

-Bem... quando não trabalho, escrevo! – Respondi na estampa dum sorriso confiante. Era o gancho, a forma dela se interessar pela minha literatura, quem sabe até perguntar se eu tinha  blog.

-Ah sim! Mas quando tu não escreves, trabalhas em que? – Jesus Cristo! O tiro saiu pela culatra.

-Assim... pra te falar a verdade ultimamente não tenho trabalhado, só escrito – Justifiquei-me inquieto.

Também não diria para ela que aos 43 anos estava aposentado por invalidez. E isso deveria ser creditado a um médico camarada do INSS que, talvez por estar numa semana de benevolência achou por bem assinar um laudo federativo onde dizia que eu sofria de doença grave e incurável.  Sim, isso fora há 7 anos,  quando me acometi de depressão fortíssima, inclusive, acompanhada da síndrome do pânico. Mas de lá pra á não me mutilei e nem me joguei da Ponte da Aricanduva e saio toda semana pra beber minhas cervejas com os amigos, e até para uma trepada relâmpago vez ou outra. Entretanto não seria necessário que ela soubesse destes fatos.

-Bah, que legal, Odraude! Tu tens livros publicados? - Ao fazer-me a pergunta Gal cravou o olhar em mim. Bem, já escondia-lhe a depressão, a síndrome, agora, furta-me à verdade de outros detalhes seria deselegante e injusto.

-Não não... apenas escrevo crônicas e pequenos contos para jornais de bairros. Inclusive no mês passado teve uma publicação minha no Shopping News – Respondi com um pouco mais de confiança. Porém eu pressentia que deveria demonstrar certa altivez, pois Gal não me parecia o tipo de mulher que se acomodava com fracassados. Então emendei: Há duas editoras interessadas em meus textos –  Na verdade não era propriamente interesse, mas apenas  lhes deixara os meus textos há coisa de quatro anos e sem que houvesse qualquer retorno.

-E você Gal, o que faz? – Era a minha tentativa de mudar o rumo da prosa.

-Sou escritora, Odraude - Foi a sua resposta acompanhada de outro dos seus doces sorriso.

Olhei nos olhos dela. Eu estava perplexo e eles não me pareciam os olhos de uma escritora, aliás, a sua aparência pouco transpirava literatura e sim as passarelas de modas, tamanho era a beleza do seu rosto, corpo e dos cabelos lindamente loiros.
Talvez Gal fosse uma escritora tal qual a mim, uma blogueira obcecada, afinal nos dias de hoje todos os amadores que se consideram escritores mantêm um ou mais blogs para desovarem suas criatividades. Em todo o caso tentei ser recíproco ao devolver a pergunta:

-Fera, Gal! Algum livro publicado? – Inquiri com um ar de quem esperava como resposta: "Não! Apenas tenho um blog de poesias!" - Não foi a resposta, caí do cavalo.

-Tenho sim,Odraude. Seis. Quatro de poesias e duas novelas. Todos pela M&LP –

Gal respondeu sem qualquer afetação na voz, olhar, ou retesamento nos músculos ao se confessar uma mulher literariamente bem sucedida. Pra falar a verdade eu estava tão surpreso que nem sabia o que comentar, até que me veio á cabeça me mostrar interessado por suas obras.

-Poxa, que bacana, Gal! Qual é o título da sua última novela?

-Morrendo em Machu Picchu – Ela respondeu na lata. Não! Gal só podia estar de gozação comigo, afinal, era um título de muita procura. Eu mesmo tive que me deslocar e ir duas vezes à livraria para conseguir o meu exemplar, pois assim que chegavam à loja desapareciam rapidamente das prateleiras

-Mas, espera... - Divaguei atônito: Este livro não foi escrito por um excepcional escritor de nome Antonio Nogueira de Seabra? E sei por que pastei pra conseguir o meu – Protestei.  Gal continuava com o mesmo sorriso; Será que ela estava a fim de tirar um barato com a minha cara?

-Ora! Que mesquinhez, Odraude!  Somente a Fernando Pessoa  foi dado direito de uso dos seus muitos pseudônimos? - Ela respondeu e eu vi os seus dentes alvo e perfeitos. Depois continuou: Então... acredito que não, e assim eu o homenageei com parte do seu nome – Devolveu com um ar de menina arteira.

-PQP! É verdade! Fernando Antonio Nogueira de Seabra Pessoa é o Fernando Pessoa! - Exclamei desenxabido.

Caia a ficha no telefone de mim. Que porcaria de escritor que desconhecia o nome de um dos maiores escritores da humanidade? Que raio de escritor seria um sujeito que não tinha condição de memorizar o nome dum imortal? - Só me restou sorrir  desajeitado e com  ela percebendo o meu constrangimento.

-Odraude, gostarias de sentar no banco do jardim? Continua demasiadamente quente aqui - Ela pediu com toda delicadeza. Talvez fosse a sua tentativa de aliviar a minha barra.Respondi que sim e então saíamos pela porta envidraçada e rumamos para um imenso jardim, anexo ao salão.

A festa que estávamos era de Olavinho Drummond, filho de um milhardário empresário no ramo da engenharia pesada. Conversando foi que soube que ela fora convidada pelo próprio pai de Olavinho, Dr. Olavo Drummond. Também me disse que viera do Rio Grande do Sul e estava em São Paulo para uma sessão de autógrafos de seus livros na Livraria Cultura do Conjunto Nacional na manhã daquele mesmo dia. E assim sentados num banco de jardim foi que conversamos demoradamente e eu adorava aquele seu sotaque sulino, e era como se a qualquer instante ela fosse sair com um dos tradicionais, tipo; Eu adoro leite quente! -  E a sua fala sairia cantada, charmosa, irresistível.

Conversamos mais ainda e entramos na pessoalidade e falamos de nossas vidas,  dispusemos das nossas alegrias e de algumas desilusões. Ali eu não soube omitir e contei sobre a época da minha depressão. Em contrapartida Gal disse-me ser divorciada e ter uma filha de 12 anos e isso me dava a ideia que sua idade estivesse na casa dos 33 aos 35 apesar da sua aparência apontar para uma garota dos seus vinte e tantos. Porém eu deveria ser cuidadoso, pois sempre será bom ser discreto como uma mulher ao jamais perguntarmos da idade e nem a marca  do seu absorvente . E o fato é que era mágico estar ali e ouvir cada uma daquelas palavras que soavam mansa, doces, fala pausada e sem pressa e nem atropelos. Dela se desprendia um perfume feminino e suave, algo clássico e que não impregna o ar, mas fundia-se a ele e seduzia a noite. E nós permanecíamos ali, engraçados, espirituosos, confidenciando pequenos delitos e outras coisas como a predileção por cores, carros, escritores e times de futebol. Passavam das 23,30 horas quando o Dr. Olvavo procurando por Gal veio dar até nós. Ali mesmo ele sorriu e abraçou afetuosamente Gal e ao sair me disse:

-Moço, cuida bem dessa garota, pois ela é estupenda! - Talvez o velho percebesse algo. Ele não era bobo.

Cumprimento dado ele se retirou, pois se mantinha no hábito de velhos generais; o de não se recolher tardiamente. Nós continuamos a conversar animadamente, e á medida que conversávamos os nossos corpos se aproximavam e resvalavam, já que estávamos lado a lado. E agora a fragrância do seu perfume não pertencia unicamente à noite, mas também a mim. Eu não  desgrudava os olhos da sua figura e percebia a doçura do olhar castanho-esverdeado que me encantava a cada vez que  ele pousava no meu. Pouco distante dali  ouvíamos um som de violão e a bonita voz de um desses bons cantores da noite interpretando canções românticas. Repentinamente  acordes conhecidos e uma outra canção.

“Assim/ Que o dia amanheceu/ Lá no mar alto da paixão/ Dava pra ver o tempo ruir/ Cadê você? Que solidão!/ Esquecera de mim”

Era Oceano, de Djavan. Talvez o instante tenha feito me levantar e estender a mão para ela num convite á dança. E eu achei adorável perceber no alto do meu olhar o ar de surpresa de seus olhos que pareciam reluzir com igual intensidade da lua que nos brindava. Repentinamente ela me concede a mão e se levanta e começamos a dançar,  e era apenas ela, eu e o jardim. E os nossos passos cadenciados foram testemunhados por  flores de muitos perfumes,  jasmins, tulipas, rosas, e por outras que jamais saberia como identificar. Eu podia sentir cada tremor dos seus músculos ao ter o seu copo colado ao meu. Eu podia sentir o arfante vai-e-vem do seu peito ansioso e que denunciava o descompasso do seu coração. Lentamente nossos rostos se tocaram e eu pressionei suas costas com as mãos, enquanto os seus dedos se aninhavam em minha nuca e timidamente brincavam com meus cabelos. E Djavan persistia cantando, e eu me sentia o próprio oceano, imenso e azul e depois outra sensação me toca e me sinto vaga, bravia e sou  a própria tormenta ao sentir o calor da sua pele e a maciez da tez.  Mais que nunca eu distinguia o seu cheiro e o odor do seu perfume, fragrância que agora eu não dividia com os mistérios da noite, pois era unicamente minha.
E era algo tão intenso e de tanto esplendor que naquele instante o universo poderia desaparecer sob os meus pés e eu nem sentiria, e continuaria dançando... dançando... dançando..,

-Eiii, Odraude, a música terminou! – Ela me acordou e riu discretamente. Eu me separei do seu  rosto e corpo e constrangido olhei para ela.

-Ops! Foi mal! Desculpa, Gal! - Ela ainda sorria ao começar a nova canção. Era uma música de Vander Lee.

“Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores/  Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores/ Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores”

Dessa vez foi ela que me pegou pela mão e uniu o seu corpo ao meu e colou nossos rostos. Ao fim da música estávamos nos beijando apaixonadamente.
Depois retornamos para o banco e continuamos a conversar e magia estava ali. Sim, a magia vivia ali mesmo que não houvesse mágico, cartola, bastões e coelhos. A magia respirava e se traduzia em vida mesmo não existindo papéis picados transformados em  em flor e nem as moedas sendo retiradas de ouvidos. Não, não havia nada disso, era uma outra magia, a magia que persistia ali.
Passavam das duas da manhã quando Gal sussurrou em meu ouvido:

-Odra, se preciso, por ti irei até o inferno! – Eu olhei para ela e sorri, e depois nos retiramos dali.

Estávamos na humildade da minha Pálio Weekend 2002 quando perguntei se gostaria que fôssemos a um motel.

-Não, Odra! É possível irmos para a tua casa! – Era uma quase súplica.

-Mas.. a minha casa é simples. Aliás, é um pequeno  apartamento de quarto/sala/cozinha e um minúsculo terraço. E está numa bagunça! - Envergonhado tentei me justificar.

-Bem... e nesta amplitude toda há ao menos uma cama de casal? – Ela pergunte e o seu olhar é divertido e há um tom de carinho naquele proposital deboche.

-Sim, há! - Confirmo - Depois assumi um ar  prepotente e comuniquei: -  Mas, mocinha   estou acostumado a hospedar realezas!  Você é realeza?-  Seus lábios grossos se alargaram no sorriso mais lindo que vi.

-Sou realeza sim ! Sou a reencarnação da Lady Di! Agora vamos embora! – Ela ordenou ao acariciar os meus cabelos enquanto eu engatava a primeira marcha.

Era manhã de domingo e acordamos com uma das suas pernas enfiada no meio das minhas e o seu rosto aninhado em meu peito. Fora uma noite de amor selvagem, felino, do tigre indômito e de garras enormes diante duma onça feroz  e que esturrava bravia. Na madrugada fôramos tudo, caça, predador, e eu jamais fizera amor com tanta volúpia e paixão.  Levantamos e ela me pediu uma camiseta. Dei-lhe uma nova, a do meu time, e ela posicionou o polegar para o  alto e disse que apesar de não ser a do seu Inter, passaria a torcer pelo meu time em Sampa. Assim que vestiu a camiseta eu ri escandalosamente, pois ficou engraçado o tamanho GG naquele corpo de corpo manequim 40, aliás, algo parecido com essas guriazinhas que colocam os vestidos das mães. Por sorte eu tinha escovas novas e ela  retornando do banheiro com a maciez da fragrância que agora seduzia a atmosfera da minha casa. Olhei para ela e estávamos famintos. Apontei o dedo para  a direção da cozinha e rumamos pra lá, e e lá apenas uma lata de leite Ninho, Nescafé,  pão de forma e uma pequena peça de salaminho ainda lacrada. Sim,  foi aquele o nosso café da manhã, mesmo que delicadamente reclamasse do adoçante ao lugar do açúcar.
Depois voltamos para sala e ela pediu permissão para usar o meu notebook.

Com ele conectado ela verificou os seus e-mails, respondeu e deixou recados no Facebook e por fim acompanhou as últimas referências no fórum do seu site pessoal. Sim, ela criara um fórum para que os seus leitores emitissem opiniões, sugestões e até críticas aos seus livros. Segundo Gal a interação ajudara em muito a sua escrita. Após satisfeitas suas coisas perguntou-e se eu tinha comigo alguns dos meus textos e eu respondi que sim, pois sempre guardava muitas cópias. Abrindo a porta da estante peguei e dei em suas mãos  uma pasta abarrotada de contos, crônica, até poemas. Com paciência e diante o calhamaço de papéis  ela leu o primeiro, o que estava acima dos outros. Chamava-se – A vigarice e o efeito dominó – Era o título dum conto curto conto onde eu caçoava dum oficial de justiça metido a literato. Gal riu um bocado com o texto e depois leu outro, e mais outro e mais outro. E sempre interrompia a leitura e levantava os olhos e me dizia “Bom, muito bom” – E eu apenas sorria. Talvez ela quisesse ser generosa e fortalecer a minha moral. Estávamos às duas da tarde quando ela me pergunta:

-Odra, podes emprestar este material?  Preciso levar comigo.

-Claro, fique à vontade, já que gostou.. – Respondi surpreso e feliz.

-Se gostei, Odra? Eu  A DO REI ! – Gal respondeu exatamente assim em sílabas. Havia um resplandecer estranho naquele olhar.

Vestimos nossas roupas e fomos almoçar num lugar chamado "Sujinho" ali na Rua da Consolação, talvez a melhor bisteca bovina do país. Gal adorou. De lá seguimos para o seu hotel, pois o voo para a sua Porto Alegre partiria às 20 horas, e teríamos que estar com uma hora de antecedência no aeroporto de Congonhas. Diante da gentileza do porteiro que nos abriu a porta do elevador subimos para o seu quarto, e lá chegando  nos atracamos e começamos a nos beijar e foi inevitável deixarmos de fazer amor. Porém dessa vez foi diferente, foi doce, romântico, carinhoso e tão puro como a prece de fiéis em altar de milagres. Não sei se seria demasiadamente cedo para concluir, mas parecia que nos apaixonáramos.
Às 19 horas estávamos na ala de embarque da companhia aérea quando trocamos o último e ardente beijo. Antes, porém permutamos algo que não tínhamos feito até então como os números dos nossos números de celulares, MSN, e até Skype.  Gal sorriu e eu sorri e era espantoso como a internet a cada vez mais fazia parte da vida do indivíduo.
No decorrer daquela semana conversamos longamente por celular e nos vimos todos os dias pela webcam. No sábado e um pouco após acordar uma estupenda surpresa ao abrir o meu Outlook.

“Prezado Senhor Odraude Inavap. Lemos os seus textos e gostamos deveras  Há todo o interesse de nossa parte. Há o vosso? Se houver poderemos agendar reunião para discutirmos as bases para um acordo de publicação. Cordialmente.
M&LP – Editores –

Passados nem 10 minutos toca o celular  – Era Gal

-Amor, a M&LP adorou os teus textos. Ligaram-me agora pouco e disseram que mandaram e-mail  propondo-te uma reunião. Tu recebeste?

-Sim Gal, acabo de ler! - Exclamo entusiasmado  Porém de imediato me bate a dúvida:  Espera... Me fala... você têm algo a ver com isso? – Questiono num timbre austero

-Sim, claro que tive, amor! – Ela respondeu à queima roupa

-E qual? – Pergunto num tom de aborrecimento

-Eu apenas fiz o trajeto em avião e entreguei a pasta dos teus textos para eles. O resto meu bem, é problema teu e deles! – E riu gostoso.

-Ah bandida! Tu me paga! – Também acabei por achar graça

-Amor, falas que eu posso. Falas? – Gal vestia a voz num tom pastoso, melado,  tipo assim, gata prenha – miau – miau – miau

-Pode o que, Gal? – Questionei. O que será que ela estaria aprontando? Repentinamente a sua tonalidade de voz denota séria maturidade

-Amor, ao fim de minha rua há um edifício que é uma graça. Inclusive são as mesmas dependências que tu tens aí em Sampa, só que são bem maiores. Posso alugar pra ti?

-Ah Gal, não sei. Tem o pessoal, a reunião, vá que não dê certo? –  Ela me pegou desprevenido e devolvo cauteloso

-Bah, Guri! Já vi que não conheces o povo gaúcho – Ela contestou. Parecia que eu fizera pouco caso d nação sulina.

-Uai! Como assim meu amor? – Perguntei

-Saiba sujeito de nefasta poluição! Gaucho quando gosta é porque gosta, tchê!  E vai até ao fim do mundo  pra alcançar o que pretende! – Respondeu num tom insinuante

-Bah, guria! Se for assim eu topo! – Devolvo tentando imitar o sotaque.

- E outra seu potro abobado... tenho para ti uma proposta que segundo o meu ponto de vista é plenamente irrecusável. É impossível não aceitares! - Ela me desafia

-Bah! Então diga guria! – Apesar de curiosíssimo, tentava me familiarizar ao gauches

-A cama de casal, o leite Ninho, Nescafé e adoçante Zero Cal serão por minha conta numa primeira rodada! Topas, amor?

-Hahahaha. Negócio da China! Fechado! – Foi a minha resposta

-Orra meu, sabia que te amo? Até que enfim, eim tio? - Gal exclama, aliás, grita, estranho, num tom esquisito, uma gaúcha tentando se passar por uma paulistana do bairro da Moóca, por sinal lugar  onde nasci. Como ela soubera?

Aquilo me foi simplesmente inacreditável e eu gargalhei até contrair os músculos abdominais e doer.
Pelo jeito eu e Gal não nos livraríamos um do outro de forma tão fácil e num tempo tão curto. Talvez até jamais nos livrássemos

Era simplesmente o amor.


Copirraiti22Nov2012
Véio China©

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Os amores Mortos-Vivos

A natureza humana está sempre assassinando algo. Portando, assassinos nos tornamos ao desarraigar de nós as crenças que sempre nos foram vitais.
E assim ocorrendo nos transformamos em mortos-vivos, esses que se levantam para outra vez deitarem. A morte ronda por todos os lados e ela é voraz  e por vezes trama e faz com que assassinemos a nós mesmos, levando para um nosso caixão ainda em vida a pujância  do fogo, ar, terra e água. Talvez muitos de nós não percebam que estes elementos são motrizes das sensações vivas, são forças geradoras que sinalizam para a existência única e na qual poderíamos estar ou tentar ser feliz. Enfim, somos nós os motivos das próprias revoluções, guerreiros digladiados entre o bem e mal, o ódio e paixão, verdade e mentira,  razão e emoção

E me rendo enquanto soldado a este ser racional que me devora por não mais te sentir na posse destas forças. Sim, não te sinto arrebata no jeito que te me entregas ou  que me fitas, afinal o que em ti transborda é a melancolia no olhar. Não desisti e procurei rotas que nos convergessem, mas sempre me sentii num teatro de portas cerradas onde a única saída foi a de aniquilar as sandices dos teus personagens e as tramas com quais me enredaram. Claro, é doloroso esse processo de extrair  mentiras nas verdades e separar o sal das turvas  águas do teu oceano. Não há em ti a dimensão do quanto me dilacera agora ver-te com os olhos cerrados, pois me lembro deles ainda plenos de vida e eles sorriam dum jeito que eu tanto gostava.
Não, não te mexas, permaneças assim como estás e permita-me acariciar-te a maciez dos cabelos e recordar as palavras de ordem, as quais consentias apenas verdades, como por exemplo, o eterno do teu amor por mim além das confessas  paixões pelas flores e noites de lua cheia.
Ah! Eu adorava te ouvir, e como um menino sapeca devolvia-me em sorrisos  que se ungiam de encantos e esperanças. E quanto mais falavas mais eu continuava sorrindo, talvez até no mesmo tom esverdeado dos teus campos e pradarias.

Mas era ilusão, portanto transitório. E é desiludido que me flagro no lugar onde estou. Deprimente e perturbandor é este o odor doce, este cheiro de morte que escorre como o suor da pele nestas flores que agora te afagam. Desespera-me a imininência destas pétalas aveludadas e as rosas que te ladeiam em tons avermelhados. Entendas, elas igualmente lamentam ao contornarem a tua delicada silhueta e o petreo do teu sentimento. Enfim... Não há choros e nem do que te queixares, afinal, hoje e tão somente hoje elas te serão infinitas companhias, únicas testemunhas do sentimento que, antes carne e unha se viu arrancado de ti; O amor
Portanto  este é o momento de celebrar o novo, de festejar a vida, não a tua, mas sim a minha, pois ainda me sopram as forças e os elementos. Não, não vou negar e te confesso que,  por vezes me faltou vigor e me senti a caminho da morte. Entretanto eu era um guerreiro e lutei, me  ressuscitei,  e agora me sinto desperto, lúcido, logo, aquelas mortes não foram as minhas.

Portanto dona, mesmo que me doa e dilacere  te peço perdão por este último exalo do perfume dos teus cabelos e o beijo derradeiro: É-me impossível te relegar ao frio desta madrugada sem ao menos sepultar-te.

Ah minha doce senhora... Se soubesses a dor ao enterrar um morto-vivo...

Copirraiti13Nov2012
Véio China ©


**Sei lá...ontem amanheci com Nelson Rodrigues
na cabeça...saiu isso. hehehe

sábado, 10 de novembro de 2012

A fábula dos doze poetas lobos maus

Era uma vez numa floresta encantada e onde vivia Chapeuzinho Vermelho cercada de 12 horríveis poetas lobos maus. Chapeuzinho era jovem e muito bonita e aqueles lobos queriam seduzí-la, provar da sua tenra carne, evidente, capaz de saciar os vorazes apetites dos meninos lobos.
Ora! Mas não era a sedução que ela tinha para lhes oferecer, não era a sua carne e  sim as poesias que guardava com tantas expectativas. E ela tentou, versejou, mas eles não queriam saber dessas coisas e muito menos das suas linhas - "isso parece feito por criança" - "isto está muito ruim" - “aprenda a gramática” - zombavam.
Porém, Chapeuzinho de boba nada tinha e assim percebendo o ardil das suas táticas contratou um advogado que de início também se imaginou num caso com ela. Todavia sendo um homem polido e profissional desistiu do intento ao perceber que a intenção feria o juramento que celebrara junto ao direito.  Sendo assim naquela mesma manhã o caso foi analisado e o advogado expondo o leque de opções vislumbrou proposituras de ações, se não de "Assédio Sexual",  certamente por "Danos Morais" afinal, os lobos achincalharam-na com termos e situações maliciosos. Entretanto diante das ponderações do advogado Chapeuzinho Vermelho pensou, pensou e pensou. Não! Não era o dinheiro deles que ela pretendia, queria sim o respeito para continuar se dedicando à poesia, apesar terem ferido a sua alma. E foi assim entre o contexto de argumentos viáveis que ela entregou uma pequena e perfumada carta para que o advogado lesse. Sim, era essa a sua pretensão e ela estava ali nos odores e letras daquilo que imaginou poema. Para Chapeuzinho Vermelho não importava o que o juiz viesse a decidir desde que permitisse que o seu desagravo fosse juntado aos autos.
Foi aturdido, porém convencido por sua cliente que o nobre defensor leu o manuscrito na suavidade do papel. Depois disso os seus olhos brilharam e ele exclamou otimista:

- Moça, melhor que isso só os teus saraus das terças feiras! Não há juiz para olhar com maus olhos a tua causa! - Ele disse e depois sorriu satisfeito.

No dia seguinte deram entrada na petição-poesia de Chapeuzinho Vermelho:


A fábula dos poetas lobos e maus


Ora, ora meus nobres poetas!
Por que se Idolatram e são tão presunçosos?
Ao acaso a poesia se veste numa única roupa?

Mas, os poetas-lobos
Claro, não se abalaram
Afinal não há o que iniba
A ira de versadores ardilosos
Porém a pior poesia é a do poeta algoz
Para ele não há curva, não se vê a cura
Jamais persistira numa reta


-Ora, às favas esse tanto racionalismo piegas!
Somos irracionais, e daí? Mas somos cultos!
E nisto se consiste a nossa vaidade!
Uivaram os ferozes garotos maus

Evidente, supunham-se sumidades
Da mais nobre e casta poesia
Onde a palavra de ordem era desdenhar
Da simplicidade dos versos da menina

Sim! Foi o massacre da corja letrada,
O nefasto desdém dos meninos mimados
Que armados até os dentes, encolerizados
Riam, achincalhavam, humilhavam

Poetas?
Poetas onde? Aonde?
Poetas é o caralho! Isso sim!
Ela esbravejou e continuou versando:

No mais, são arremedos daquilo que aprenderam nos livros
Vocês não os escreveram, então por quê tão magnânimos?
Saibam que a verdade jamais será as suas ou me serão essas
Pois os seus atos se assemelham aos das velhas rabugentas
Dessas que sibilam “S” ao traduzir as palavras dos dicionários
Encontradas nas edições do Houaiss, Michaelis e Aurélio

Sim, saibam! jamais foram e ou serão mais que isso
São uns nada insípidos, arrogantes, prepotentes
Cambada de "poetóides" esses que vivem para humilhar
São diamantes acrílicos reluzindo nas estantes dos bazares
Ricos em soberba, vestidos nas troças, nas coisas sem graça
São a ralé da futilidade, os pseudos-cultos caçando palavras


Copirraiti março/2010
Véio China®

**Fábula postada numa comunidade deOrkut  (BDE)por motivos óbvios

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Bem vindo ao mundo do Ficci Buk - crônica- -



Coitado do pobre senhor Orkut, ficou velho, obsoleto, ultrapassado.
Veio o Ficci Buk e com ele a nova casta da cultura babaca, chata e bocejante. Dessa que escreve mil e tolas mensagens, que posta sem pudores fotos, imagens e vídeos que nada tem a ver ao supor que todos serão “descolados” e "dissilábicos"  quanto ela. Inclusive há muito disso entre nós que gostamos de escrever, óbvio. Sabe, ando meio cansado de ver fotos e vídeos de cachorrinhos basset hound e gatos angorás vestidos de Barbra Streisand e de Tony Bennett. Sei lá! Conheço o sentimento e sei que animal de estimação passa a ser parte da família, pois tive quando pequeno uma irmã vira-lata chamada Diana.

Todavia uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e que diga  os milhões de albuns de fotos dos bichinhos fantasiados e em carreira solo (sim, muitos liberam seus albuns) ainda mais que, expostos para a comunidade mundial.
E por falarmos nisso (nas coisas ridículas e abusurdas) boa parte de nós que nos conjecturmos no divino  traje de "escritor"  promovemos em nossas linhas do tempo o campo das batalhas navais, ops, digo, virtuais. Aí tomem xingos e levem críticas e haja esporro e sopapos cibernéticos.

E isso me faz refletir sobre os egos, ególatras e literatura. E pensando em literatura jamais poderemos  esquecer os literatos contextualizados no Ficci Buk e que o usam para a autopromoção Porém até a simplicidade do fato nos leva a perceber o quanto as coisas andam avacalhadas, afinal, até título acadêmico é concedido com festa de smoking e uísque importado (ou chá, não sei ao certo) agraciando pessoas que, da ferramenta não muito entende.

Inclusive não é de se duvidar que haja "acadeirado" acentuando o "pára" por tê-lo como verbo. Não, não é impossível mesmo! E outra, se algum desses letrados soerguer a sobrancelha direita e permanecer com esquerda estacionada ao pretender-me elo de comparação, aviso, será mera estupidez. Por conseguinte me defino; Não possuo títulos ou assento numa dessas academias de letras pelo Brasil afora. Entretanto se eu fosse ou pensasse como um não incentivaria  tantas modificações no samba do crioulo doido dessa enigmática e complicada língua portuguesa ( hehehe )

Enfim, são tantos os fatores que me levam coerentemente ( ou não) a pesar o que somos e o que nos tornamos quando nos sentimos na pele do artista ao fazemos parte desse show chamado Ficci Buk.
E isso novamente me faz questionar; Qual é a importante e pertinente diferença entre o desprezado frequentador dos subterrâneos do Orkut e do acelerado passageiro deste trem-bala chamado Facebook?

Bem, a meu ver uma só: O formato do Ficci Buk ajuda na propagação da idiotia e da futilidade e facilita o aceso do sujeito a tanta banalidade que, ele próprio acaba por perder o "ponto" da  autocensura e permitindo que deixe de existir no software do seu discernimento uma função conhecida - DELETAR-

E você Veio China, está aqui e faz parte disso junto com seus hehehe?
Claro que faço! Tento ser discreto, mas... não posso me furtar a festa!

hehehe

Copirraiti06Nov2012
By Veio China©


Uma última e importante notícia para a Nação Ficci Buk

O corpo humano expele a média diária de 700 G. em fezes.
Se levarmos em conta que o tempo de vida do brasileiro é estimado em 70 anos, assim como o seu peso médio em 70 Kg, teríamos o seguinte cálculo:

700 G. x 365 dias =        255,50 Kg (de merda ao ano)
255,50 Kg  :  70 Kg   =      Quase quatro vezes o nosso peso em bosta

255,50 Kg x 70 anos=             17.885 Kg >>>> Total de merda em 70 anos

Pasmem senhores! Isso significa que durante a vida produzimos quase 18 toneladas de merda!  E o pior! Elas correspondem a quase 280 vezes o peso de nossa massa corpórea.

Sim meus senhores! Isso é incrível!

Portanto não seria de estranhar se a derradeira pergunta de um desses metabolizados ficcibukianos fosse:

-Ei tio, isso não me interessa! Só quero informação essencial; Isso traduzido em gigabytes vai dar mais ou menos quanto?




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