segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Garota de Beijim



- Papai Sam! Sabia que fez bem para Liu Twai? – Disse-me a princesa de Beijim fitando-me os olhos num misto de ternura e exaustão.

Eu a conhecera num bar situado no lado leste da cidade, num local que bem poderia ser um braço da máfia chinesa no Brasil. Foi numa noite de sexta logo após eu sair dum boteco, onde com alguns colegas da fábrica eu bebera o suficiente para me enfiar no primeiro ônibus que surgiu. Claro, como para todo bêbado que se preza, o destino não fazia a menor diferença, desde que tivesse algum lugar para largar o corpo e adormecer a mente.

-Hei! – Chamou o cobrador chacoalhando-me bruscamente pelos ombros – Ponto final! – Exclamou entediado.

Despertei assustado; Eu fora parar a mais de 30 kms de de casa. Olhei pelas janelas envidraçadas e reconheci aquele local singular – Xangaitow – um bairro de colônia chinesa em São Paulo, afinal eu já estivera por lá umas duas ou três vezes. Parado numa via transversal à avenida principal notei algumas construções que obedeciam certa semelhança com a arquitetura chinesa, e o que tornava o lugar um tanto insólito.
Tentando me colocar em pé voltei o olhar para a porta de entrada e uns 3 ou 4 passageiros subiam e tomavam seus assentos em silêncio. Persistindo em manter-me sóbrio fixei no relógio de pulso e os ponteiros de uma cor verde-limão me diziam que era meia noite e meia –
“ Acho que retornarei nesse” – Avaliei. Aquela seria a última viagem da noite, e se eu não permanecesse ali só poderia fazê-lo as 5 da madruga, quando a frota voltava a circular. Flexionando fortemente as pernas eu me levantei e permaneci olhando pela janela enquanto mais adiante alguns clarões coloridas chamaram a minha atenção como me seduzissem. Resolvido, desci e caminhei os 80 metros que me mantinham distante das luzes vermelhas e azuis que piscavam freneticamente. A noite gélida e o vento cortante faziam que eu ofegasse e que desprendesse de minha boca lufadas de névoas e com elas as lembranças das tórridas cenas vividas por Humprey Bogart e Grace Kelly no filme Cassino Royale. O ar úmido e as rajadas de vento me fizeram ajustar a jaqueta de brim ao corpo, mas apesar do incômodo não era o frio ou as névoas que importavam naquele momento; Eu necessitava fugir de mim mesmo e da mesmice que se tornara a minha vida - Eu estava com medo do mundo e dos sentimentos - Era chegada a hora de respirar outros ares além do cheiro mofo da minha casa. Passara da hora dos meus olhos se interessarem em outras coisas além do torno mecânico ou as esporádicas saídas para bebedeiras.
Definitivamente eu precisava me divorciar das paredes do meu quarto, pois me deprimia. Talvez as desilusões do passado e a falta de uma nova e boa garota me obrigavam a compenetrar na figura de Yashim, sempre próximo a lâmpada do teto, como ele fosse todas as cores do meu mundo.

Se a minha existência era entediante, o que deduzir da vida daquela pobre aranha? Ela e sua compulsiva calma , sempre à espreita, confiante na estupidez das moscas e de alguns tolos insetos que mais cedo ou mais tarde acabavam por se enredar nas suas teias. E o tudo demasiadamente previsível afetava a minha tolerência. Eu esperava mais dela – Ansiava que não aceitasse tudo tão passivamente. Esperava que algo a despertasse, que um novo destino insurgisse contra sua mórbida natureza da mesma forma que o cobrador fizera ao me acordar, mesmo que para isso tivesse que se engalfinhar com lagartixas jamaicanas, ou mesmo, bater em retirada diante da emboscada de marimbondos furiosos.
Mas, não, não havia esperanças para ela. Era o imutável lengalenga de sempre. Era o não foder e nem sair de cima, atos inacabados que se tornaram sua resignação, sua sina. Talvez ela pensasse o mesmo sobre mim e a minha solidão.
E a merda de afogar-me naquele isolamento é que ele me tornava amargo e calculista como o Yashin. E sem me comover com as pequenas coisas do dia-a-dia distanciáva-me das pessoas normais, atolando-me nas vísceras da insanidade. E eu, um reles misantrópico não via outra saída que não fosse acolher a companhia daquela aranha, gostasse ou não de tudo que estava a nossa volta

Lembro-me também que ao acordar naquela mesma sexta estava determinado a arrumar um cachorro. Eu queria a sinceridade de um amigo que me oferecesse a cabeça para ser acariciada toda vez que ele ou eu nos sentíssemos melancólicos. Porém ao imaginá-lo zanzando pela casa, defecando merdas por todos os cantos, fez-me sepultar a intenção.

-Yashim, vê se não apronta nada até eu voltar! – Recomendei antes de fechar a porta e deixá-lo às voltas com a sua certeza de erros.

Ainda pensava nele quando aproximei das luzes coloridas de um excêntrico bar - “Osaka Pub” - Dizia o nome no letreiro de neon que piscava incandescente. Ainda trôpego, mas tentando manter-me coordenado achei descabido o nome japonês para um bar chinês. E além disso eu jamais imaginaria um Pub ao fiel estilo britânico nas formiguentas ruas de Pequim.

-Amigo, são 35 mangos! – Me disse o chinês ao perceber minha presença. Olhei pra sua compleição forte e pra sua enorme barriga de chopp e o supus o segurança do local.

-Caracas, china! 35 mangos só pra entrar? – Reclamei perplexo - Ele me fitou severo.

-Sim! 35 pratas só pra entrar – Se não tiver a fim... vá dando o fora – Respondeu secamente. A testa enrugada e a cara de poucos amigos se fez certeza: era o leão de chácara do lugar.

Como a recepção não fora nada amistosa, somada ao fato que o “couvert” era um tanto salgado pro meu bolso, mais uma vez pensei em retornar. Porém, justamente naquele instante o ônibus atravessou a avenida e veloz seguiu em frente num ritmo que não pudesse ser alcançado por minhas pernas. Indeciso considerei de momento uma corrida de táxi, mas, ela custaria bem mais que o dobro do ingresso, portanto, resolvi entrar.
O sujeito ainda me olhava desconfiado ao me ver remexer no bolso traseiro à procura de algo. Assim que consegui retirar a carteira, abri e algumas notas de cinqüenta mantinham-se agrupadas às custas do salário que fora pago naquele dia. Contei o dinheiro aparentando um ar de superioridade e lhe passei as 35 mangos. Ele pareceu não satisfeito com a empáfia, mas, como negócios eram negócios acabou por escorregar na minha mão uma espécie de cupom onde eu li: “Consumação mínima R$ 35,00 - Gratuidade 2 doses uísque e 2 cervejas” Olhando atentamente para o cartão vi grafado uma fileira de pequenos quadrados que seriam assinalados caso eu bebesse mais que a cota concedia. - “Dois uísques e duas cervejas” - ruminei. Bem, já era alguma coisa – conformei-me.

Ao atravessar a pesada porta de imbuia com um dragão esculpido em alto relevo ao centro, adentrei num enorme salão com dezenas de lampadas vermelhas rosqueadas em arandelas laterais. Nas mesas, as fumaças de cigarros transpassadas pelo tom escarlate das luzes causavam um efeito sombrio ao percebê-las rumando na direção do teto. Não haveria exagero imaginar que saído daquela névoa carmim pudesse surgir uma banda de garotos cabeludos e que guitarras em punho fizessem o rock comer solto. Mas não havia no local nenhuma banda de rock pesado e sim uma potente e pragmática jukebox repousada ao lado do balcão do bar, e onde uma mulher de cabelos estranhos colocava suas fichas. Assim que a moedas foram introduzidas – “ Georgia on my mind” foi cantada com voz rouca e grave de um conhecido astro americano, ao mesmo tempo que focos multicoloridos eram golfados pela máquina.
Numa das muitas mesas algumas garotas e rapazes mais tagarelavam que bebiam. Ao atravessar a parte central do salão era visível presa ao teto uma imensa serpente metálica que lançava simultâneos flashes estroboscópicos, através das cavidades em sua extensão. Os efeitos psicodélicos e instantâneos dos raios faziam que os rostos surgissem e desaparecessem em frações de segundo. Sem conseguir ver o chão me senti desorientado, perdido que estava por não descobrir o lugar que eu ocupava no espaço. Assim que a música e os efeitos cessaram procurei por um lugar tranqüilo e fui encontrá-lo num canto, longe da mesa dos garotos falantes.

Sentei e acendi um cigarro e expeli uma longa baforada que subindo ocasionou o mesmo efeito sombrio que eu percebera ao entrar.
Mais ao fundo, num pequeno palco, algumas garotas magricelas tentavam excitar os freqüentadores num show stripper. Porém poucos pareciam se interessar, afinal dançavam com a parte de baixo da langerie. Permaneci fixado numa que tinha uns peitos enormes, iluminados por potentes focos que, lançados sobre os seios os deixavam com coloração pálida, como se fossem feitos de marfim. Terminado o número voltei o olhar e me deparei com a presença de uma garçonete. Indiscretamente inspecionei o seu corpo e reparei no seu traje: jaqueta prateada e uma saia vermelha. Da saia, justa, um corte lateral deixava à mostra um apetitoso naco da sua coxa cadavez que os trocava passos. A jaqueta, de corte militar e ombros quadrados mantinha-se fechada por botões negros que começando logo abaixo do queixo desciam e terminavam na altura dos quadris.
Ela me fitava enquanto eu continuava a dedicar-me às linhas do seu corpo. Esguia, pernas bem torneadas e um volumoso par de seios, sufocados pela insinsível túnica militar. No alto sobressaiam seus cabelos negros e compridos. Logo abaixo a surpresa: o rosto delicado de uma princesa chinesa. Ao permanecer fixa em mim eu senti seu olhar lançar labaredas com a mesma intensidade dos seus dragões mitológicos. O perfeito contorno da boca, os lábios, carnudos e tingidos de escarlate, mesmo mudos, sussurravam: “ Sexo, sexo, sexo”. Sem dúvida: sozinha ela era uma constelação.

- O que o moço vai querer? – Perguntou-me gentilmente com um sotaque carregado de quem está a poucos anos no Brasil.

-Por favor, uísque e cerveja – Respondi apresentando meu cupom.

Ela anotou o “x” nos retângulos que indicavam as minhas bebidas.
Mais rápido que me atendera, ela voltava. Assim que colocou as bebidas sobre a mesa entornei a dose de uísque numa única talagada e isso me fez constatar a péssima procedência da bebida- ”será que fabricam isso numa das banheiras ao fundo do bar?” – questionei.
O uísque havia descido rasgado, ardendo mais na alma que no esôfago.
Ao terminar estralei a boca – ela me olhava curiosa – Eu precisava de um gole gelado pra rebater aquela sensação horrível que a bebida deixara. Assim que dei o primeiro gole na cerveja ela se retirou e encaminhou para próximo do balcão, e por lá permaneceu me fitando por debaixo dos cabelos negros. Assim que terminei a cerveja lhe fiz um novo sinal. Pouco após voltou com uma nova e a meu pedido, inexplicável é certo, com outra dose do uísque: talvez eu e minha vida estivéssemos acostumados com coisas ordinárias – deduzi –.

Ansioso, bebia demasiadamente rápido, e isso me fazia surgir os efeitos que álcool em mim. E a bebida, entornada outra vez num único trago me encorajou a convidá-la para um drink. Surpresa, disse o que não poderia aceitar sem que fosse autorizada pelo homem que estava atrás do balcão. Dito isso, pediu-me alguns instantes e foi ter com um grisalho senhor chinês,. Após cochicharem por alguns segundos pude perceber a sisudez e a relutância do chinês com aquilo que ela lhe dizia. Mais que isso: pude vê-lo menear negativamente a cabeça em desaprovação. Mas o fato dela lhe dar as costas e vir em minha direção significava que ele não fora bem sucedido.
Aquilo me alegrou. E eu não sabia discernir quais os motivos que me impediam de desgrudar os olhos do seu enigmatismo.
Novamente parou em minha frente a sua imponência oriental, e isso me tornava refém dos devaneios. - imaginei possuindo-a em cima duma daquelas mesas - Ao sentar sorriu-me como se fosse eu o imperador e ela a vassala a mercê do seu soberano.

-Posso pedir uma bebida ? – Pediu. Estava na cara que a brincadeira poderia me custar os olhos da cara. Mas para mim havia uma única saída: era pegar ou largar.

-Claro! Sem problemas– Concordei com um sorriso – Eu acabara de fazer a minha escolha.

A garota fez sinal para uma das muitas garçonete que prontamente veio nos atender. Ela anotou os pedidos e retornou com eles. No centro da mesa colocou o seu drink: uma coloração ora se mostrando verde, ora azul. Ela o bebeu com competência enquanto eu deixava o meu fazer arder a alma, novamente. Aquela coisa de indecifrável procedência parecia exercer em mim um efeito quase que alucinógeno, e mesmo não sendo droga, me fazia sentir como fosse.
Bebidas terminadas e eu não me desvencilhava dela e nem do odor do suave perfume de mulher que ela exalava em todo ser.
Comigo, algo inusitado estava acontecendo, afinal eu jamais me interessara ou tivera qualquer “affair” com mulheres de descendência oriental.
Foi então que nos sentindo mais á vontade começamos a conversar. Julia, o seu nome de guerra – Liu Twai, de batismo –. No início, Julia parecia um pouco tímida, porém logo após a 2ª dose mostrou-se mais desinibida, Aí, mais solta falou-me de si e de algumas partes da sua vida: estava com 26 e a 8 anos no Brasil.
Adolescente, Liu Twai, oriunda de um pequeno e provinciano vilarejo ao norte da China, fora negociada por seus pais. De lá, na companhia de um mercador fora levada para Pequim, onde teve que se prostituir à troca de quase nenhum dinheiro. Neste prostíbulo travou conhecimento com um próspero empresário local que dizia manter alguns negócios no Brasil. Outra vez negociada e aqui chegando foi enviada para uma espécie de clube prive, exclusivo para homens de negócios com descendência da terra mãe.
Um pouco mais tarde e ainda numa de suas camas, conheceu senhor Lee Pen Shao, um sessentão apaixonado que acabou por tornar-se o seu amante. Foi assim, outra vez moeda de troca que veio parar nos balcões e mesas do “Osaka Pub”. E a finalidade do bar não era unicamente a de servir bebidas ou entreter as pessoas. Não, esse era somente o pano de fundo. No Osaka havia o agenciamento de prostituição, e todos tinham o seu preço. As garconetes, as strippers, e principalmente a estrela da companhia: a caríssima Liu Twai. Foi com olhos de orgulho que ela me disse que seu preço equivalia ao de 5 garotas de lá. Portanto, ela não era pro bico de qualquer um.
Claro, as confidências de Julia me deixaram incomodado ao ponto dela notar:

-Não se preocupe com o Shao. Aqui, negócios são tratados como negócios – Ela sorriu procurando me tranqüilizar, enquanto por debaixo da mesa acariciava minhas coxas na altura da virilha.

O sombrio senhor Shao percebia que ela deslizava as mãos em minhas pernas. Julia, notando a contrariedade do velhote fez-lhe sinal para que deixasse de ser tão ostensivo. Incomodado, ele foi sentar-se na extremidade oposta do balcão. Vez ou outra ele nos procurava com o olhar. Porém a sua resignação me fez perceber quem comandava as coisas por ali.
Ainda assim me sentia um tanto inquieto, já que sempre fora cismado com os chineses.

-Fique na boa, Sam! – Ele apenas está estranhando porque você é brasileiro – Disse contemplando profundamente os meus olhos.

-Como assim? – Perguntei sem perder o chinês de vista

Ela sorriu.

– É que jamais me relaciono com pessoas de outra nacionalidade. – Respondeu num sussurro como confessasse um segredo – E depois continuou:

-Mas com Sam foi diferente. Sam despertou os olhos de Liu, e os olhos de Liu não costumam sorrir facilmente para sujeitos que não são chineses - Sua confissão me fez sorrir - Foi um dos raros momentos naquela noite em que a preocupação foi derrotada pelo meu ego.

Continuamos a conversar e Julia mandava bem nos drinks, talvez tanto quanto eu.
A sua voz soava doce e ébria, mas seus olhos jamais perdiam a lucidez e o fogo.
Os olhos puxados, os lábios sensuais e os seios que arfavam nervosamente por debaixo da jaqueta militar estavam me deixando excitado. Aos poucos os freqüentadores foram se retirando, e quando demos por conta, às três e dez da madruga só estávamos os três.

-Liu, está na hora de fecharmos – Inquietou-se o senhor Shao, dedilhando nervosamente a madeira do balcão, voltando da outra extremidade do balcão. Julia pareceu se contrariar.

-Shao...feche e vá na frente! Logo mais irei – Comunicou secamente.

-Mas...... – O senhor Shao tentava argumentar, mas as frases que poderiam surtir algum efeito não lhes surgiam.

Ela nada respondeu. O velho e sisudo chinês a olhava resignado e vencido:

- Então....Por favor, não demore, Liu! – Disse, juntando o dinheiro da movimentação noturna e a colocando numa bolsa de couro reforçado.

Liu levantou-se e foi ter com ele e o acompanhou até a porta. Lá, parece que tiveram um pequeno entrevero, pelo tanto que o senhor Shao gesticulava. Todavia, demonstrando quem era quem, ouvimos o som da chave ao ser girada na imponente fechadura. O senhor Shao nos deixou sós. Julia sorria ao retornar. Atravessando o salão foi apagando luz por luz até sobrar uma única no fim do salão. Lá, eu a vi sumir na escuridão Repentinamente após um agudo estampido um potente foco de luz surgiu. E o facho centrou-se na numa longa mesa de um veludo verde. De lá onde estava pude ouvi-la me chamar:

-Venha Sam! Eu te quero – Ela solicitava a minha presença flexionando os dedos de ambas as mãos, num vai-e-vem.

Eu me levantei empunhando a garrafa de cerveja e caminhei em sua direção. Liu me aguardava em pé, escorada na mesa de bilhar.
Ao chegar, ela me abraçou e abruptadamente apertou o seu corpo no meu, excitando-me. No ar o cheiro dos cigarros ainda se mantinha soberano . No centro da mesa o foco se tornava o sol e desnudava sem as imperfeições do tecido verde. A sua boca percorria meu pescoço e seus dedos contornavam-me suavemente. Ela ofegava quando levou as mãos na parte frontal da minha calça e me encontrou latejando. Seus dedos, agora mais ansiosos faziam pressão no ziper da calça. Ouvi o ruído ao ceder e com a braguilha aberta, Julia ajoelhou-se e cuidadosamente resgatou o meu membro e acariciou sua extensão. Assim que o percebeu livre ofegou enquanto volteava a glade com a ponta da língua. Sua boca, felina e em chamas me consumia quando o abocanhou num alucinante vai-e-vem. Delicadamente, enquanto brincava com ele foi se desfazendo da jaqueta. Ao ver a túnica jogada num canto eu pude notar a magnífica exuberância dos seios. Dois lindos orfãos espremidos por um fino sutiã de reandas brancas.
Delicadamente estendi-lhe a mão e a trazendo lentamente a coloquei em pé e depois deslizei os dedos pelos contornos do seu corpo. Excitado, enfiei a mão pela abertura da saia e acariciei suas coxas e o centro da dimuta calcinha - Ela gemia - Sutilmente voltei a mão e pressionei o saia pelos lados e para baixo até que ela, em seus calcanhares me permitiu vislumbrar a calcinha - Fazia parte do lindíssimo conjunto - Ansiosos e apressados ajudamo-nos a nos desvencilhar das nossas roupas que ainda persistiam até estarmos totalmente nus. Julia empurrou com os pés as peças que se encontravam no chão e tolhiam a liberdade de movimentos. Assim que não mais atrapalhavam deitou-se suavemente sobre o veludo, sem perder-me de vista. Magicamente suas coxas foram se separando o foco de luz refletia em seu sexo. Excitado como um leão que presente o gosto do sangue da presa fui ao encontro dele. O peito de Liu arfavam e os seios ganhavam dimensão maior com sua ofegante respiração.
Inclemente e a sentindo molhada eu a penetrei de uma única vez e ela grunhiu de prazer ao cravou as unhas nas minhas costas. Permanecemos copulando como felinos até que lasciva ela virou e deitou-se de bruços. Estendida sobre o veludo, lentamente ela remexia as ancas numa ritual profana e excitante, me convidando a desvendá-la.
Deslumbrado com suas formas e com aquele jogo de sedução eu segui em frente e a penetrei insanamente. Nós gemíamos, sussurrávamos, dizíamos coisas obscenas, intercaladas por frases que ela proferia em chinês, e as quais só ela sabia o significado. Intensamente e cada vez mais a sua bunda subia e descia rapidamente e num presságio que o momento estava próximo. Repentinamente os espasmos, os murmúrios devassos, o retesamento dos corpos e gozo supremo exaurindo nossas forças.

Arfantes, tentávamos nos refazer. Deitados e olhando para cima evitávamos que o foco atingisse nossos rostos. Repletos de silêncio curtíamos os momentos de paz, concedidos às feras fartadas.
Nada falávamos, apenas dois sujeitos estirados sobre o veludo e que se completavam na ausência das palavras.
Repentinamente eu virei para seu lado e fiquei a admira-la. Recíproca, voltou-se para mim e me fez sentir-se se feliz ao me deixar vislumbrar a magia do sorriso e os olhos que agora não ardiam. Foi permitindo que aquele sentimento me penetrasse que pude compreender todo o ciúme do senhor Shao. Talvez, ele mais do que eu seria capaz de tudo por ela Com a delicadeza milenar das orientais ela me beijou a boca e desceu da mesa e num ritual quase sagrado repôs o seu traje. Recoloquei a minha roupa sem tanta cerimônia. Daí, prontos, ela pegou em minha mão e levou-me até o balcão. Gentilmente me fez sentar numa das banquetas em frente a ele enquanto caminhando um pouco mais adentrou na parte interna dele. Atrás dele a proprietária comunicava ao cliente que era chegada a hora de fechar.

-Quanto lhe devo, Julia? – Perguntei retirando a carteira do bolso.
Eu torcia para que me sobrasse ao menos o dinheiro do aluguel.

Ela, curvou-se no balcão e retirou do escaninho a comanda que descriminava a minha conta. Assim que encontrou o meu cupon fez nele algumas anotações.

-Vejamos....3 cervejas, 4 doses de uísque, 3 drinks Hong-Kong. É isso?

Eu tentava imaginar o preço não dos seus préstimos profissionais, e me preocupei - Talvez o meu dinheiro não fosse o suficiente -
Como ela poderia reagir?
Em todo o caso ela esperava a minha confirmação.

-Sim, sim, é isso – Confirmei. Ela retomou o assunto:

- Papai Sam,! Sabia que fez bem para Liu Twai? E como fez bem para Julia, o uísque e as cervejas são por conta da casa. – Disse sorrindo. E continuou:

-Agora....quanto ao ritual de acasalamento com Liu, você gozará de um desconto promocional, desde que prometa uma coisa...

-Sim, o que? – Perguntei ansioso. Ela olhou-me nos olhos e deslizou os dedos pelo meu rosto quando respondeu:

- Papai Sam não pagará nada desde que prometa voltar outras vezes –

Dito isto me entregou a comanda. Olhei no pequeno pedaço de papel e lá havia algo manuscrito em chinês, e que logo abaixo ela traduziu, - “Volte sempre porque Liu Twai te quer” - Um pouco mais abaixo da delicadeza de sua letra havia um número de telefone.

Eu sorri e lhe devolvi carícias nas faces. Era um momento mágico, mas que sabíamos não poder durar.
Certamente eu gostaria de visita-la outras vezes, porém eu deveria calcular os riscos que o velho Shao representava, afinal não podemos prever as reações daqueles que se sentem humilhados, principalmente por amor. Por alguns segundos permaneci com o cupom preso entre os dedos e depois o deslizei para o bolso da jaqueta. Sem nada falarmos nos dirigimos para a porta de saída. Aberta e já lá fora olhamo-nos e sorrimos cúmplices e nos beijamos timidamente. Em seguida ela quebrou a sua esquerda e pouco mais adiante entrou num táxi. Eu esperei que ele partisse e então virei para minha direita. Olhei no relógio e ele marcava 4:25 da manhã. Caminhando reto eu me segui na direção do ponto de ônibus, já que em breve eles voltavam a circular. Chegando, me apoiei no ponto e tocando ritimadamente o calcanhar no centro da madeira pintada eu ouvia o som oco que ressoava no silêncio da noite. Persisti nas estocadas por algum tempo até me desinteressar delas. O ar de uma madrugada ainda mais gélida era exalado em meus pulmões e isto me causava uma sensação boa, a gratidão pelo presente que a noite me dera .
Nada havia do que eu pudesse me queixar: eu bebera num bar chinês que homenageava o Japão. Aliás, não era um bar qualquer, não.
Era um pub, não um autêntico, londrino, mas chinês e num lugar distante na cidade de São Paulo. E o insólito: freqüentado por descendentes do oriente, mas admiradores dos negros cantores americanos

-À Ray Charles! – Brindei ao esticar o braço para o ônibus que chegara.

" Georgia on my mind" - Em meu peito todas as canções de guerra foram entoadas. Eu deixava para trás um olhar de fogo e as magníficas pernas de Liu. Provavelmente naquele momento Julia deveria estar exausta sob mantas de cetim. Sábia que era, milenar nas atitudes e na gratidão, naquele momento deveria estar deixando-se bolinar pelo velho Shao, como lhe conferindo um prêmio de consolação. Certamente, por sua garota de Beijim o velho chinês teria sido capaz de enfrentar os tanques de Deng Xiaoping, na Praça da Paz Celestial. Anti-herói, eu não teria me atrevevido a tanto. Mas isso era passado, só uma amarga recordação de 1989 e que agora fazia mais parte da história que das minhas preocupações.
Subi os seus degraus e seguindo pelo corredor inspecionei cada um dos rosto dos que viajavam nele. Passando por uma insinuante jovem de olhos rasgados eu tentei vislumbrar o rosto de Julia – impossível, havia o sorriso, mas não as labaredas – Eu me perguntei o por que procura - Caminhando mais alguns metros paguei minha passagem e fui me acomodar na última fileira de bancos. O frio não cedia e o silêncio só era entrecortado pelo ruído do motor que se tornava mais agudo conforme a marcha engrenada. A cada ponto que ele parava mais e mais pessoas entravam. Ao deixarmos Xangaitow outras raças foram misturadas numa miscelânea dos mais variados credos e cores.
Encolhido próximo à janela eu percebia o trânsito ficar mais denso enquanto o sono me pegava nas pálpebras pesadas –
Apesar da sonolência eu ansiava chegar em casa – Havia um monte de vantagens que teriam de ser contadas para Yashin. –
“Será que dessa vez ele se orgulhará de mim?” – Foi a última pergunta que me fiz antes do sono fazer pender minha cabeça e apoiá-la no ombro de uma senhora que viajava ao meu lado.
Incomodada ela se remexeu e isso me despertou. Olhei para o relógio: Seis e dez da manhã -
Procurando não mais incomodá-la virei o corpo para o lado da vidraça e voltei a dormir - O trabalho das oito me aguardava -