sexta-feira, 11 de abril de 2008

O dentista.



Houve época que a minha vida parecia não fazer qualquer sentido. Aliás, o único sentido era sentar-me diante da velha Remington e escrever estórias bobas ou contos que discorressem sobre um mundo fétido e pervertido, resevando às mulheres o papel de anjo pornográfico. Foi a época que conheci Vera. Vera e eu estávamos juntos há coisa de um ano e, antes de conhecê-la, fazia um bom tempo que não dava uma boa trepada.
À conheci numa poltrona de cinema, em uma sessão das dez da noite. O seu perfume um tanto ordinário impregnava o ar e mal deixava me concentrar na trama. Olhando-a na penumbra, sobressaia um par de pernas bem feitas, dentro de uma saia escura e nada comportada. O filme, um tanto erótico, me deixou com a libido a flor da pele ao ponto de sutilmente deixar escorregar levemente a mão no seu joelho. Claro, fiz o máximo para deixar transparecer que fora um acidente de percurso; o acaso de um braço escorregando do apoio da poltrona, sem qualquer intenção escusa, mas que, por acidente foi repousar sutilmente bem cima do seu joelho esquerdao.
Foi um momento tenso para ambos e como não houve protestos de sua parte permiti que meus dedos dedilhassem sutilmente aquelas coxas aveludadas. Ali no escuro trocamos o nosso primeiro beijo. Foi um beijo de sofreguidão e cheio de desejo. Naquela noite, ao sairmos do cine, fomos para o meu quarto de pensão e a ansiedade só nos foi contornada às custas de uma garrafa de vinho do Porto, aberta logo após adentrarmos. O vinho, tanto suave, surtiiu seus efeitos. Senti a mudança no seu comportamento logo após abrir a segunda garrafa. Ela, bêbada e tropeçando nas palavras, usava umas expressões torpes, porém engraçadas:

-Papai, vem foder o rabo da mamãe, vem! – Pedia. Papai no caso, seria eu.

Ela, a partir aquele dia alcunhou-nos de papai e mamãe. A princípio achei uma baita frescura, mas, nós homens somos chegados uma viadagem, e também acabei por me acostumae e até gostar.
Porém, naquela noite, a ansiedade aliada ao excesso de álcool me fizera brochar. Ele se mantinha ereto, mas, ao nos aproximar da sua bunda, ele e eu, perdíamos a concentração e a deixávamos rebolando naquele rabo maravilhoso, clamando por algo que, tanto ele quanto eu já sabíamos que não iria acontecer.
Num movimento abrupto e surpreendente levantou-se e concentrou suas energias no meu pau, já que nao perdera por completo a esperança. Num movimento rápido o abocanhou e começou a sugá-lo. Eu me animei. Sem deixar que a sua boca soltasse o meu pau, deitei-a calmamente na cama e tentei chupá-la. Em vão! O seu gosto, aliado à bebida me causou ânsias e tive que travar a garganta para não colocar tudo pra fora. Ela percebeu mas, excitadíssima veio de boca pra cima de mim, abocanhando-o novamente;

-Ah porra, pára! – Eu pedia. Vera parecia uma cadela no cio e o chupava, mordiscava, e isso estava me machucando. Comparativamente, parecia que eu estava sendo sugado por um triturador de carne.

Ela simplesmente não ouvia e continuava me mordendo e sorvendo como se eu fosse um daqueles imensos picolés de chocolate. -“Slap, slap, slap”- O som ainda reverberava quando senti o meu momento chegar:

-Ohhhh! – Foi o única palavra que emiti enquanto inundava a sua boca.

Terminado, olhei para o meu pau e na sua extremidade surgiu um ínfimo sangramento provocado pelos seus dentes afiados. - Ah meu Deus! Seria mais honesto ter sido engolido pelo um triturador de pia – Concluí. – Com o pau latejando doloridamente apoiei-me num das beiradas da cama. Vera levantou-se e eu rolei para um dos lados e me enfiei debaixo dos lençóis. Eu a vi lenta e cambaleante dirigir-se para o banheiro. Ver uma mulher nua à caminho do banheiro sempre surtia algum sentimento legal em mim.
Momentos após ela voltava já vestida da calcinha e do soutien, trazendo um rolo de papel higiênico. Olhando carinhosamente para o meu pau e para mim, curvou-se na altura da cama e me limpou. Eu gostei da sua atitude. Parecia uma fêmea cuidando do seu macho, não permitindo que nada de ruim acontecesse a ele. Devolvi-lhe o olhar em retribuição e a beijei carinhosamente.

Bem, a nossa vida continuou e parecia que eu estávamos numa fase totalmente seca de idéias, onde a produtividade da mina mente mais parecia o deserto do Saara, ou seja; nada!. Isso incomodava mais a ela do que a mim, já que o seu emprêgo de atendente numa clínica dentária estava sustentando a casa e pagando o nosso aluguel. Sempre que chegava mal humorada do serviço, perguntáva-me:

-Papai, escreveu alguma coisa interessante hoje? – Interessante? Ah! essa era muito boa. Eu não conseguia escrever sequer sobre o acasalamento de um casal de esquilos.

-Escrevi mamãe! Escrevi sobre um casal de esquilos transando no meio da floresta amazônica!

-Ah! Não é à-toa que estamos passando por necessidades! – Irritou-se ela. Provavelmente foi a minha resposta - imaginei -

Bem, isso era mais que o suficiente para ela começar um festival de queixas. Com feição irritadiça queixáva-se que há meses não comprava um único par de sapatos. Grande merda! Há mais de dois anos continuava com a mesma calça jeans e, nem por isso saia me queixando da vida - Justifiquei-me em conclusão -
Isso perduraria até que numa noite surgiu com um sermão diferente:

-Ah papai, você precisa arrumar um emprego fixo. Não é possível continuarmos passando por tantas dificuldades. E você, aí sonhando com os seus contos idiotas, que jamais te levarão a algum lugar. - Caracas! Ela sabia como ferir meus sentimentos.

Eu só a ouvia e não respondia nada. Se porventura eu a contestasse, certamente ela daria início a 3ª guerra mundial. E então continuou:

- Sabe papai, o meu chefe, doutor Marco Aurélio, disse que a coisa pior que pode acontecer para uma moça é ter que sustentar o seu homem. Fala que não há nada deprimente quanto isso - Terminado, fulminou-me com seu olhar severo.

Naquela noite ao dormir eu não tirava a porra do “doutor Marco Aurélio” da cabeça.
"Doutor Marco Aurélio...Marco Aurélio...Quem é esse merda pra sugerir como devem ser as coisas dentro da minha casa? Será que esse filho da puta anda comendo a Vera?
Então fiquei desconfiado, pois de um bom tempo ela estava chegando cada vez mais tarde alegando que o movimento aumentara e era necessário fazer horas extras. Doutor Marco Aurélio...Marco Aurélio".

-Vá se foder, doutor Marco Aurélio – balbuciei cerrando os dentes enquanto Vera ressonava levemente.

-Disse alguma coisa, papai? – Questionou ela, abrindo um dos olhos.

-Não, não disse nada não! Boa noite, querida! – Despedi-me com um bocejo fabricado.

Dois meses mais tarde um carro estacionado aguardava-a em frente à nossa pensão. Da janela do quarto eu pude vê-la caminhando com as suas peças de roupas dispostas em cabides. Alguém totalmente calvo a ajudava ou parecia tentar ajudar. Então aquela criatura vestida de branco tropeçou num daqueles vestidos do cabide e o cabide se esparramou pelo chão. Ela parecia nervosa e gesticulava bastante enquanto ele tentava voltar ajeitar o vestido no cabide. Era estranho mas, Vera tinha o predominante dom de atrair para si os tipos mais idiotizados possíveis. Evidente, eu fora exceção! Ela ainda gesticulava bastante quando eu os vi entrar no carro. Continuei analisando-os como personagens e não entendia como Vera pode trocar um “ainda não descoberto” escritor de sucesso por aqueles almofadinha bizarro. Talvez faltasse discernimento às mulheres – concluí – enquanto o automóvel dobrava a primeira esquina. Bem, talvez a fantástica bunda da Vera ornasse com o Mustang vermelho do imbecil Marco Aurélio. Ou, talvez, as pessoas não consigam ser imbecis por todo o tempo. Ou, mesmo, talvez eles conseguissem e por isso se mereciam– deduzi enquanto me dirigia à cozinha, a cata de uma garrafa de vinho ordinário que estava na segunda porta da prateleira. Abri e me servi da primeira dose. Ele desceu rápido demais, entao me servi da segunda. Na oitava dose levantei um brinde.
Era um brinde à Vera e ao doutor Marco Aurélio e a toda sorte que esse precisaria ter.
Ria com uma certa comiseração de mim. Eu ria, um riso triste, dolorido.

-Um brinde a vocês, cambada de filhos da puta! - Exclamei ao brindar o ar. O meu braço permanecia esticado e o copo mal se equilibrava e parecia querer escapar da minha mão.

Lá parado no meio da cozinha, olhando para o pinguim que parecia fiscalizar a geladeira, eu gargalhei. Uma gargalhada de quem precisava de mais doses de vinho. E então me servi da nona dose enquanto piscávamos um para o outro.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

BBB ( Bobagens, Bobagens & Bobagens )



Imaginei-me assistindo um BBB Universal.
Pluguei minha mente à bilhões de telas hipotéticas e as observei.
Ao final dos primeiro quinze minutos flertei com coisas tão triviais como o de tomar o café da manhã, ou o de como sorrir sem ter a menor vontade de sorrir. No último segundo, uma bunda arrebitada e de um brozeado artifical surgiu na tela; o biquíni era amarelo e avassalador.
Antes que pressionasse o OFF, me livrando dos bilhões conectores, me perguntei:

-Cara! É disso que a humanidade precisa?

Estático e perplexo, assenti:

-É!

E então clamei. Clamei por todos os meus super-heróis, por toda uma legião de super-homens que só habitaram o imaginário da minha mente; eles jamais foram reais.
E então chorei.
Chorei por nos deixarmos tapear tão fácil assim.

terça-feira, 1 de abril de 2008

O Retirante


Na sua valise, somente três pares de roupa, desodorante, pente de bolso, e o bicarbonato de sódio para a sua azia diária. Pensou em colocar um pouco de Maizena na maleta, mas concluiu: "Danem-se as assaduras!"
Na entrada do ônibus, com os braços esticados e mãos levemente trêmulas estendeu o seu bilhete ao motorista, observando que não esquecera de anotar o Rg e muito menos o endereço. Sentou-se na poltrona 26; reclinou-a, olhou pela janela e reparou no insulfilm, demasiadamente enegrecido e que revestia o vidro. Insistiu em olhar através dele e as lâmpadas da rodoviária, que lá fora pareciam tão reluzentes, permaneciam agora com uma luminosidade tênue, numa cor que poderia ser definida como um roxo, suave. Aos poucos os assentos foram tomados e o coletivo partiu. Trinta minutos após, o cheiro de mato impregnava seus pulmões e as luzes da cidade pareciam distantes como as do Cruzeiro Do Sul. No negrume da noite, apenas um discreto foco vermelho sobressaia no fim do corredor, indicando que o toillet estava ocupado. Do seu lado, os primeiros roncos de uma senhora gorda incomodavam a sua paz; evidente, as noites seriam de torturas. Pensou mais adiante, nos dias seguintes. Apalpou o bolso e os quinhentos reais que se encontravam dentro dele. Imaginou o futuro, que pra ele, agora, em nada diferiria do seu tempo presente: indecifrável. Pensou na grande metrópole; a maior do país. Pensou nos milhões de nordestinos e nortistas que habitavam por lá, que se espremiam em favelas, em construções precárias, em casebres em fundo de córregos, ou que, mergulhados em desesperanças labiam o asfalto frio e cru, cobertos por jornal. Pensou ainda mais; não conhecia ninguém pra onde ia. Então teve medo. E à medida que o ônibus imprimia velocidade, junto com ela veio a ansiedade, e essa, fazia o seu coração disparar como se fosse uma lebre assustada.
Que "Padim Pade Ciço" o guardasse. Que a grande cidade e os seus desconhecidos habitantes os acolhesse. E, acima de tudo, que a sorte e a fé em Deus jamais lhe faltasse.

Chegando em São Paulo, a sua primeira atitude foi o de comprar um cobertor, quadriculado e espesso. E assim o fêz, dando vasão ao miserável pressentimento que o empurrou para dentro da loja como se fosse uma folha, seca, assoprada pelos ventos do outono. Saiu sorrindo de la, acariciando a lã macia, sem saber porém, que aquele seria o seu único e inseparável companheiro.