sábado, 24 de abril de 2010

Porfírio, a Marques Sapucaí, e os McPherson



Eu vinha de São Paulo e estava com 22 anos quando conheci os McPherson no Rio de Janeiro, onde a Mocidade Independente de Santo Onofre desfilaria na Marques de Sapucaí. Domingo de carnaval e lá estava eu na avenida. Eu achava curioso como nós brasileiros éramos ávidos em homenagear culturas além fronteira, principalmente a norte americana, como se ela fosse um Fundo Monetário Internacional de alegorias e adereços e cheia dos quas quas quas. E por falar em quasquasquas, eu me vestira da fantasia de Pato Donald, comparada de última hora no barracão da agremiação. Sobre ela, achei-a de um mau gosto terrível; um complexo de penas brancas que ia dos calcanhares até o pescoço. Acima do corpo penado vestía-me uma camiseta de marinheiro ao estilo Popeye, e, no rosto, saindo de onde se localizava a boca,  um imenso bico de pato formado por duas grossas  bases de isopor  pintadas num amarelo gema que, quando abertos deixavam à mostra uma enorme língua vermelha, tecida em veludo grená. Isso sem falar nos pés, obviamente de pato, enormes, que me desequilibraram por duas vezes durante o desfile. Mas tudo era pela melhor  das causas, já que talvez Walt Disney se sagrasse campeão do carnaval carioca.

-Olhaí gente! Se unam bem espremidos! – Era o Carlinhos Boca de Pito – o puxador de samba da escola que, num português sofrível convocava os componentes  para a concentração.

-Vamo mostra pra esse povo que nóis tem raça e podemo levantá esse carnaval!E pra isso temos três bijetivo: Primeiro; o amor pelo Onofre – segundo: A Raça! – Terceiro: Samba no pé!

Ao meu lado um casal extremamente pálido batia palmas e tentava sambar. Tentava apenas, logo se via que o par não tinha qualquer intimidade com o samba enquanto tagarelava algo aportuguesado com sotaque inglês, mas de pessoas que tiveram algum longo relacionamento no Brasil:

-McPherson, my love! Eu estar adouruando o nossa escola nesse ano! – Disse a sorridente irlandesa para um maridoque requebrava os quadris e a segurava pela cintura como se quisesse que ela o acompanhasse naquele descompasso absurdo.
 
-Oh yeah, meu neguinha lindo! Eu estar apaixonado pelo Onofre dessa ano! - Exclamou com um entusiasmo exagerado para depois completar -  Só não estar gostando do meu fantasia de pato. Fazer muito calor aqui dentro, Elisabeth! – Queixou-se o Sr.  McPherson com a cabeça mergulhada atrás daquele bico de pato de língua escarlate

Eu olhei para ambos e o sorriso não me abandonou os lábios. Eu achava incógnitos os motivos que faziam esse pessoal sair do estrangeiro para vir desfilar no Brasil. Pelo jeito, Elisabeth também sofria com o inferno dentro do corpo repleto de penas. Foi então que aproveitei o momento que ela retirou aquela medonha  cabeça de pato para refrescar-se  e desembaraçar os cabelos úmidos pelo suor e a percebí profundamente; Elisabeth era linda e parecia feita de porcelana tcheca. Os cabelos avermelhados, os olhos de um azul límpido, a tez alva e aveluda e os lábios grossos e escarlates me fizeram desejá-los para mim. Ela notou que eu a inspecionava.

-Oh, brasileiro! Vamos fazer torcida! Eu acha que nosso escola vai ser campeão neste ano!

Exclamou num sorriso de dentes perfeitos e no exato momento que o sr. McPherson abandonara-nos para engatar na cintura de um desses pecados de mulata. Alta, bonita, pernas fortes e um rabo genial, a sambista vestia apenas um minúsculo tapa-sexo enquanto o seu busto abrigava duas armações retorcidas e vazadas por uma espécie de arame de plastificado que deixavam seus mamilos expostos. Ela parecia não se preocupar com a exposição, muito menos alguns componentes da escola que passavam e davam  tapinhas nas costas do gringo, quando ela exclamou:

-Mac! Mac, seu safadinho! – Pelo jeito  o casal era bem chegado na comunidade de Padre Onofre - deduzi.

E o pilanra do irlandês, assim que se viu enganchado na mulata circundou-a pela cintura e saíram requebrando no meio da ala das baianas que tomava assento. A Sra. McPherson apenas fitou-os ao se afastarem, sem demonstrar porém, surpresa ou ciúmes.E o seu sorriso persistiu no rosto alvo, mas o seu sorrisoja  não cintilava como antes.
Aquilo pareceu doer em mim no exato momento que o trio de cavaquinhos soou nas potentes caixas  do noso carro do som – Fora dada a largada para o nosso desfile –
Surpresa, Elisabeth não mais encontrou o sr. MacPherson pelo decorrer do desfile.
Claro, os meus interesses por Elisabeth me fizeram ficar grudado ao seu lado durante a travessia da avenida. Num certo momento, ainda quase no início, a sra. McPherson parecia esquecer a contrariedade e tentava  sambar o enredo da Escola: “O meu escola está muito linda./Revivendo os desenhas de puro magia/ Desenhei desenhei na minha  coração/ O Tio Walt Disney, trazendo emoção/ôôôôêêêôôô” – Ela cantava alto e atropelando as acertivas.

Por meu lado não me encontrava tão entusiasmado quanto ela; não me surpreenderia se com um samba-enredo e refrão daqueles não fôssemos rebaixados para o primeiro grupo no próximo ano.

Exatamente pelo meio do desfiles já nos pegávamos atracados um no outro. Era estranho apertar a Sra. McPherson através das penas sintéticas. O tato me fazia sentir que havia o volume em seu corpo, porém algo  fofo e oco. Eu não conseguia me desvencilhar daqueles olhos da cor de mar, e eles me eram mágicos c denotavam tanta  esperança quanto os jangadeirosdas  que  além-mar enfrentavam, mas que persistentes  voltavam para seus lares repletos de bons  pescados. E todo o clima não me permitia me concentrar no desfile, e eu me via perdidamente  magnetizado por Elisabeth.
Terminado e já na área de dispersão, a emoção tomou conta dos componentes da escola, contagiando inclusive a Sra. McPherson. Feliz, ela me abraçou um tanto felina e depois separando o seu peito do meu fixou o seu olhar em meus lábios. Pego de surpresa como picado por  traiçoeira cascavel, ela juntou-me pela camiseta do Popeye e me beijou violentamente, enquanto forçava a sua língua para dentro da minha boca. Aquela surpresa libidinosa  deixou-me com tesão e o meu pau eriçou imediatamente por debaixo daquela imensidão de penas brancas
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Já separados e um pouco constrangidos procuramos por algum tempo o Sr. McPherson, porém sem sucesso - Ele desaparecera - Sem outra saída, rumamos para fora do sambódromo quando,  preocupada com a malandragem carioca convidou-me para acompanhá-la até sua casa. Pegamos um táxi  próximo à Marques e rumamos para la. Foi quando durante o trajeto ela se referiu à residência:
 
-Olha! Nós alugar uma casa na Barra da Tijuca. Todos os anos nós alugar essa casa. Faz cinco anos que nós ficar na mesma lugar- Eu a ouvi atentamente enquanto alisava seus cabelos já livres da terrível cabeça do Pato Donald.

Na verdade, nem era pra eu estar ali naquele momento, mas, a curiosidade aliada ao tesão que aquela mulher me despertara me empurraram pra dentro daquele veículo amarelo. Durante o percurso ela perguntou por meu nome - Porfírio - Eu respodi. E então eu a beijei com sofreguidão enquanto enfiando uma das mãos para dentro do ziper semi-aberto, acariciei os  peitos das Sra. McPherson, avantajados, inclusive  transbordaram-me dos dedos.  Chegado ao destino ela observou com um ar de preocupação que as luzes estavam acesas no interior da casa.
Cautelosamente ela andou pé ante pé e fez sinal para que eu fizesse o mesmo. Sorrateiramente entramos pela casa e atravessando a sala na direção do quarto quando ouvimos gemidos de uma mulher.
Porta entreaberta, flagramos o Sr. McPherson fodendo a mulata da Sapucaí.

-Ah,  seu filho da puta de pau gostoso! –  Gemia a garota -

 Elisabeth, atônita e sem conseguir desgrudar os olhos do absurdo da cena, num ímpeto de fúria rasgou a sua roupa  na altura do peito, trazendo o talho até abaixo da calcinha. Foi então que pude notar o quanto de espetaculares eram os seios daquela irlandesa. Nas extremidades enormes mamilos róseos desabrochavam para mim como se eu fosse o culpado por estarem me fitando. Os devassos,  ao ouvirem o barulho  viraram  assustado e a tempo de ver a Sra. McPherson  livrar-se rapidamente da fantasia e tresloucada vir na minha direção e forçar com as próprias mãos a retirada da minha. E foi dessa forma que a agilidade das suas mãos me deixaram  semi nu e apenas de sunga, negra, por sinal. Ainda mais insana  me empurrou fazendo-me desiquilibrar sobre o grosso carpete do quarto enquanto se livrava da minha cuequinha trazendo-a em seus bons dentes  irlandeses.
Apavorado,  porém excitado, o meu membro enrijeceu enquanto Elisabeth o olhava  assustada, afinal o meu garoto sempre fora um tanto descomunal, inclusive fazendo merecer o constrangido apelido de Picão, quando em minha infância.
O Sr. MrcPherson vendo a esposa afogar-se em meu membro excitou-se, e pediu para que  a mulata  fizesse o mesmo. Ela não se fez de  rogada e exauriu o pobre sujeito.

-Oh, my God, Vêra! - Ele exclamou e flatulou ao chegar rapidamente ao orgasmo.

Comigo as coisas não foram diferentes, e eu transei com a irlandesa por trás, lambi e fui lambido por ambas e até elas esgotarem toda a reserva do meu precioso esperma. O Sr. McPherson, potente apenas na sugação dos  primeiros 10 minutos, dignou-se apenas a fitar-nos no ménage com olhos de aflição: talvez ninguém possuíra a sua esposa até então;  ou na sua presença, ou, que ele soubesse.

Terminado, nos vestimos e sentamos todos na sala de estar quando o Sr. McPherson se dirigiu para um  quartos e voltou com algo na mão: Era sua carteira. Manuseou-a e retirou de dentro algumas notas em dólares e as colocou no decote de Vera; Eram três notas de 100 dólares.  A sra. MacPherson pigarreando ostensiva e  apontando o seu olhar na minha direção, disse-lhe: “Pague o rapaz, também! “
O Sr. McPherson assentiu e escorregou  idênticas notas em minhas mãos.
E foi esse o exato momento da espetacular surpresa: Vera abrindo sua bolsa como se indo guardar seu michê retirou de lá  um revolver, não tão de grosso calibre, mas, um revolver, talvez um 22 calibre

-Você acha que sou putinha de miseráveis 300 dólares, seu gringo babaca? Vamos lá! Quero toda grana!

O casal permaneceu atônito, já que tinha vivência o suficiente para saber que no Brasil, e, principalmente no Rio de Janeiro a vida poderia se tornar como a  de cão.

Assustados e com o revolver apontado para nós três o Sr. McPherson nos levou até o mesmo aposento de onde retirou um falso quadro de parede e  lá abriu um cofre qu.e se escondia por detrás dele.

Foi uma noite espetacular para Vera! Nada menos que  18.500 dolares  estavam no seu interior.
Ainda sob a mira do revolver ele cedeu  o dinheiro que  permanecia com lacres à cada U$ 5.000.
Dinheiro em poder de Vera, ela ordenou ao irlandês que o colocasse numa dessas sacolas de magazine. Amedrontado ele o fez de imediato. Tudo terminado, Vera olhou pra mim e ordenou aos gritos:

-Se manda pivete! E agora, se não quiser levar um tiro! – Claro, eu me mandei o mais rápido que pude. Aquela garota de ingênua nada tinha, e certamente deve ter se apoderado  dos seus celulares e os trancado no banheiro da casa. Como o lugar era distante e cercado de rsidências de ótimo padrão,
comum era o fato destes imóveis serem isolados uns dos outros,. o que facilitara  toda ação da marginal.
Sai de lá correndo e o coração saía-me pelas narinas quando um táxi freou bruscamente ao meu lado.

-Bora, Pivete! O avião sai daqui 30 minutos! Era Vera sinalizando que tudo dera certo.

Talvez aquele motorista de táxi fosse interrogado, mas só saberiam muitas e muitas horas depois que estivéssemos no solo seguro de São Paulo. E para nós não haveria qualquer  problema,  já que  nossas identidades eram falsificadas.

Mas, tudo não fora tão simples assim. A semana difícil no Rio, a  quadra da escola de samba, a nossa apresentação como turistas e interessados em desfilar por aquelas cores. Houvear todo um investimento na infra-estrutura: despesas com estadias numa pousada mequetrefe, com alimentação à base de "comercial", aquele maldito feijão preto, diário e que só me descia na feijoada. O gasto com transportes, cigarros, algumas latas de cervejas, e pra finalizar; e a compra da nossa fantasia.  Talvez o investimento  total  bancado pela Vera deve ter estado na faixa duns R$ 3.500,00 - Portanto, um lucro fantástástico!

E evidente,  a minha função era apenas entreter a Sra. McPherson pelo maior tempo possível, depois que Vera escolheu o seu marido como o perfil ideal para ser "rapado" durante a semana que permanecemos na quadra da Mocidade Padre Onofre.

Chegando em São Paulo, e ainda no aeroporto, Vera deslizara em minhas mãos o menor dos  pacotinhos de dólares.

-Olha aê, Pivete! Leva 3.500 dólares pela participação! - Não pegue o taxi no saguão. Pegue diretamente na rua! - Ela insistiu comigo - Ela sabia das coisas.

Eu agradeci e rumei para a saída e atravessando os pátios internos do aeroporto dei na avenida. De lá acenei para o primeiro taxi que surgiu e entrei no Vectra branco e pedi para o motorista que seguisse para o Jardim Tiradentes. Quase 30 minutos após ele me deixou numa casa simples e de muitos comodos; eu ocupava  o último quarto, algo de aéra total com menos de 6 metros quadrados. Aquele era o meu paraíso, e claro, eu era milionário!

Ja deitado em minha cama analisei toda a ação. À primeira vista poderia parecer que fora um golpe fácil, mas não era bem assim, já que qualquer deslize ou falha  estaríamos vendo o sol nascer quadrado lá pelos fétidos presídios do Rio.
Fora sim um golpe de sorte. Não, definitivamente não era essa a vida que eu merecia e que serviria pra mim.
Eu queria algo mais limpo, refinado, digno.
Esperei pela chegada da quarta feira de cinzas e na parte da tarde procurei um balcão de anúncios de um grande jornal. Um senhor, funcionário do balcão,  recebeu o meu anúncio e o leu com esmerada atenção:

“Jovem de nobre estirpe, ótima aparência, bem dotado e com experiência internacional oferece-se para companhia de mulheres em batizados, casamentos, festas de aniversários, ou qualquer tipo de evento social. Período mínimo de 5 horas. Preço justo. Tratar c/ Porfírio pelo cel. 11-8588 8888 –“

-Quanto é o anúncio, tio? – Perguntei-lhe

-35 mangos – Respondeu com feição franzida.

Joguei-lhe na mão uma nota de 50 pratas.

-Fique com o troco, amigão! - Disse-lhe com ares de que não me faria falta aquele troco.

Ele me olhou, primeiro, agradecido, depois, com alguma inveja.

Ele podia vislumbrar à sua frente  um jovem de futuro promissor que conquistaria mais que um mero emprego num balcão  de classificados.

-Au revoir, tio! -

Acenei-lhe com os dedos  numa quase continência  militar ajeitando a nova  carteira de couro no bolso da não menos nova calça da  TNG. Olhei para os meus pés e  eles eram os maiorais dentro dum confortável  Nike Shox, legítimo,  e que me tinha custado pra  mais de 500 pratas.

Talvez ele imaginou que  eu o estivesse esnobando, então olhou-me de soslaio, com certa indiferença e voltou-se para um novo cliente que adentrava à loja. Eu sorri comigo mesmo; eu tinha toda uma juventude pela frente; eu tinha as mais belas mulheres que me esperavam avidamente.  E ele? Ele,  apenas mãos calejadas,  a caneta Bic e algumas folhas de papéis para anotações.

Saí para a rua e elevei o meu  olhar para um sol de meio de tarde e os seus raios me ofuscaram a vista. E isso me convenceu que eu merecia um par de lentes negras da Oacley; Não desses óculos falsificados e comprados em meio à balburdia dos camelôs, mas um de loja boa, com nota fiscal e certificado de procedência.
Segui adiante e na direção da padaria enquanto astro rei persistia ferindo os meus olhos:  mas tudo era uma questão de autoridade, afinal era ele  o  magnânino enquanto eu apenas o futuro rei das ruas.

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