-Vô, é verdade que a mamãe ta no céu, ali naquela estrela que brilha mais que as outras?
Perguntou
o garoto apontando para a mais fulgurante das estrelas do Cruzeiro do
Sul. Talvez os últimos meses houvessem endurecido o espírito daquele
homem simples e bom, e o suficiente para que não se saísse bem nas
explicações para Giorgio, o neto de quase oito anos.
-Quem te disse isso menino?
-A
tia Francisca! – Ela disse que às vezes Deus precisa das pessoas para
serviços importantes, e assim pede para elas irem morar nas estrelas -
Devolveu o menino com olhos dando a impressão que deixariam despencar pequenas
gotas de cristais.
-Não Gio. A tua mãe não
está naquela estrela – Secamente respondeu ao garoto.
Talvez fosse aquele o momento de
quebrar o encanto, o engano, fazer o menino encarar a realidade com mais crueza
ao contradizer as metáforas poéticas criadas pela professora que certamente pretendia dolorir menos aquele coraçãozinho
O
velho persistiu com os olhos fixados no moleque e pode perceber a decepção que
causara, ainda mais agora testemunhada pelas duas gotinhas que
escorrerendo pelas faces do menino se equilibraram em seu queixo, prestes a despencarem no chão.
-A
sua mãe está é ali. – Disse para o guri apontando o dedo de pele enrugada para outra
estrela, maior, mais fulgurante e que clareava o quintal mesmo que às nove da
noite.
-Uauuu! Será que Deus mudou a mamãe pra lua, vô? – Exclamou Giorgio espantando a aquosidade dos olhos com a manga da camisa.
-Sim, a sua mamãe foi levada para a Lua! – O velho confirmou num sorriso triste, o qual o garoto pode perceber.
-Ah
vô, fica triste não. Aposto que a mamãe encontrou a vovó que também foi
transferida. Tenho certeza que elas estão falando da gente, da saudade que sentem do
senhor, de mim e do papai –
O avo o ouviu calado. Fora um golpe duríssimo já que em menos de um ano perdera a esposa e filha, ambas com
câncer. Depois pensativos mantiveram-se em silêncio quando o garoto
firmou as vistas na direção da lua como estivesse procurando a
mãe e a avó. Sentados na varanda o velho podia sentir a brisa da
noite, o perfume soltando-se da roseira e um vento úmido que balançava as
folhagens do mesmo pé de limão que resistindo aos tempos sobrevivia
bravamente. Como a existência poderia parecer tão bela e triste ao mesmo
tempo?
-Ah se a nossa vida fosse igual a um pé de limão ou de
roseira. Como seria reconfortante saber que seria possível florir, desflorar, mas sempre renascer – O velho murmurou num
lamento.
Porém a vida não era pé de limão, e nem os homens frutos
que se renovavam numa mesma mãe - Concluiu melancólico. Contudo ele foi arrancado dum estado letárgico ao ser despertado pela estridente voz do
guri.
-Ô vô, será que elas encontraram a bandeira por lá?
-Que bandeira, menino? – Surpreendeu-se com a pergunta
-Oras vô! A bandeira dos Estazunidos! – O senhor não sabia que os astronautas chegram na lua?
-Quem te disse isso, garoto?
-Ah!
A National Geograph. Eu assisti ontem na casa do Naldinho. Eles
até mostraram como os astronautas fincaram a bandeira no chão.
-Ara garoto, isso é montagem de televisão. O homem jamais foi pra Lua.
Isso foi pura invenção daqueles malditos ianques. Eles querem que
acreditemos em tudo que dizem, que fazem...
-Bem.. Se for assim vô, como é
que a vovó e a mamãe foram parar lá? – Perguntoou Giorgio com olhos estalados. O
velho, pego desprevenido tentou se livrar do abacaxi.
-Ô menino, você nunca ouviu falar em disco voador? Então... elas foram pra Lua num disco voador!
-Disco voador? O senhor ta falando dos ETs, vô?
-Sim, de discos voadores e também dos ETs. Se tem disco voador é sinal que também há ETs! - O velho exclamou num tom da verdade.
O garoto se viu supreso com as falas do velho. O que o menino não sabia é que o avô sempre acreditara que havia vida em
outros planetas, crente em naves espaciais que visitavam a terra regularmente
para um ataque futuro e iminente. Portanto fora aquela a forma que o velho de fugir
da confrontação com o neto, afinal, depois de ter consentir que elas estavam na lua, como desiludir
Giorgio ao assegurar-lhe que elas jamais poderiam estar lá?
O menino ainda insistia quieto, perplexo, olhando para a ponta do tênis e esquecendo-se da lua.
Depois de pensar por alguns instantes olhou zombeteiramente para o velho e disparou:
-Nossa vô! Tem horas que parece que o senhor viaja na maionese! Nem parece desse planeta! –
Depois, saltitando rumou para o meio do quintal e lá
estacionou: Ele olhava para o céu. O velho mastigava a gozação do neto quando cravou os olhos na imagem de
Giorgio, e ele estava tão bonito, ali refletido pelo clarão. O menino persistiu olhando para os céus ao se aproximar da roseira e do pé de limão, numa cena de rara beleza, de esplendorosa humanidade. O menino
ainda procurava na lua as figuras da mãe e da avó quando um emocionado avô se deu
conta que poderia estar sendo teimoso, cabeça dura, ou no melhor das
hipóteses “viajando na maionese” como dissera o neto.
Sim, talvez fosse esse o momento de questionar seus antigos conceitos, abrir a mente, ser menos intransigente, interrogar suas irrefutáveis certezas.
-Só me falatava essa! Será mesmo que os comedores de hambúrguer desembarcaram por lá?
Ainda se interrogava quando elevou as vistas na direção do firmamento.
O pressentimento lhe dizia que era aquela a melhor das noites para se deparar com discos voadores.
Copirraiti06Jul2012
Véio China©
Um comentário:
Ue, viajar sempre e bom(seja na maionese ou em qualquer guloseimas)risos, a Xuxa tbm nao viu Duendes?Entao, eu acredito em tudo .....bjs
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