sexta-feira, 6 de julho de 2012

Sobre Luas e ETs - Da série infantil Avô & Neto

-Vô, é verdade que a mamãe ta no céu, ali naquela estrela que brilha mais que as outras?

Perguntou o garoto apontando para a mais fulgurante das estrelas do Cruzeiro do Sul. Talvez os últimos meses houvessem endurecido o espírito daquele homem simples e bom, e o suficiente para que não se saísse bem nas explicações para Giorgio, o neto de quase oito anos.

-Quem te disse isso menino?

-A tia Francisca! – Ela disse que às vezes Deus precisa das pessoas para serviços importantes, e assim pede para elas irem morar nas estrelas - Devolveu o menino com olhos dando a impressão que deixariam despencar pequenas gotas de cristais.

-Não Gio. A tua mãe não está naquela estrela –  Secamente respondeu ao garoto.

Talvez fosse aquele o momento de quebrar o encanto, o engano, fazer o menino encarar a realidade com mais crueza ao contradizer as metáforas poéticas criadas pela professora que certamente pretendia dolorir menos aquele coraçãozinho

O velho persistiu com os olhos fixados no moleque e pode perceber a decepção que causara, ainda mais agora testemunhada pelas duas gotinhas que escorrerendo pelas faces do menino se equilibraram em seu queixo, prestes a despencarem no chão.

-A sua mãe está é ali. – Disse para o guri apontando o dedo de pele enrugada para outra estrela,  maior, mais fulgurante e que clareava o quintal mesmo que às nove da noite.

-Uauuu! Será que Deus mudou a mamãe pra lua, vô? –  Exclamou Giorgio espantando a aquosidade dos olhos com a manga da camisa.

-Sim, a sua mamãe foi levada para a Lua! – O velho confirmou num sorriso triste, o qual o garoto pode perceber.

-Ah vô, fica triste não. Aposto que a mamãe encontrou a vovó que também foi transferida. Tenho certeza que elas estão falando da gente, da saudade que sentem do senhor, de mim e do papai –

O avo o ouviu calado. Fora um golpe duríssimo já que em menos de um ano perdera a esposa e filha, ambas com câncer. Depois pensativos  mantiveram-se em silêncio quando o garoto firmou as vistas na direção da lua como estivesse procurando a mãe e a avó. Sentados na varanda o velho podia sentir a brisa da noite, o perfume soltando-se da roseira e um vento úmido que balançava as folhagens do mesmo pé de limão que resistindo aos tempos sobrevivia bravamente. Como a existência poderia parecer tão bela e triste ao mesmo tempo?

-Ah se a nossa vida fosse igual a um pé de limão ou de roseira. Como seria reconfortante saber que seria possível florir, desflorar, mas sempre renascer – O velho murmurou num lamento.

Porém a vida não era pé de limão, e nem os homens frutos que se renovavam numa mesma mãe - Concluiu melancólico. Contudo ele foi arrancado dum estado letárgico ao ser despertado pela estridente voz do guri.

-Ô vô, será que elas encontraram a bandeira por lá?

-Que bandeira, menino? – Surpreendeu-se com a pergunta

-Oras vô! A bandeira dos Estazunidos! – O senhor não sabia que os astronautas chegram na lua?

-Quem te disse isso, garoto?

-Ah! A National Geograph. Eu assisti ontem na casa do Naldinho. Eles até mostraram como os astronautas fincaram a bandeira no chão.

-Ara garoto, isso é montagem de televisão. O homem jamais foi  pra Lua. Isso foi pura invenção daqueles malditos ianques. Eles querem que acreditemos em tudo que dizem, que fazem...

-Bem.. Se for assim vô, como é que a vovó e a mamãe foram parar lá? –  Perguntoou Giorgio com olhos estalados. O velho, pego desprevenido tentou se livrar do abacaxi.

-Ô menino, você nunca ouviu falar em disco voador? Então... elas foram pra Lua num disco voador!

-Disco voador? O senhor ta falando dos ETs, vô?

-Sim, de discos voadores e também dos ETs. Se tem disco voador é sinal que também há ETs! - O velho exclamou num tom da verdade.

O garoto se viu supreso com as falas do velho. O que o menino  não sabia é que o avô sempre acreditara que havia vida em outros planetas, crente em naves espaciais que visitavam a terra regularmente para um ataque futuro e iminente. Portanto fora aquela a forma que o velho de  fugir da confrontação com o neto, afinal, depois de ter consentir que elas estavam na lua, como  desiludir Giorgio ao assegurar-lhe que elas jamais poderiam estar lá?

O menino ainda insistia quieto, perplexo, olhando para a ponta do tênis e esquecendo-se da lua.
Depois de pensar por alguns instantes olhou zombeteiramente para o velho e disparou:

-Nossa vô! Tem horas que parece que o senhor viaja na maionese! Nem parece desse planeta! –

Depois, saltitando rumou para o meio do quintal e lá estacionou: Ele olhava para o céu. O velho mastigava a gozação do neto quando cravou os olhos na imagem de Giorgio, e ele estava tão bonito, ali refletido pelo clarão. O menino persistiu olhando para os céus ao se aproximar da roseira e do pé de limão, numa cena de rara beleza, de esplendorosa humanidade. O menino ainda procurava na lua as figuras da mãe e da avó quando um emocionado avô se deu conta que poderia estar sendo teimoso, cabeça dura, ou no melhor das hipóteses “viajando na maionese” como dissera o neto.
Sim, talvez fosse esse o momento de questionar seus antigos conceitos, abrir a mente, ser menos intransigente,  interrogar suas irrefutáveis certezas.

-Só me falatava essa! Será mesmo que os comedores de hambúrguer desembarcaram por lá?

Ainda se interrogava quando elevou as vistas na direção do firmamento.
O pressentimento lhe dizia que era aquela a melhor das noites para se deparar com discos voadores.


Copirraiti06Jul2012
Véio China©

Um comentário:

Anônimo disse...

Ue, viajar sempre e bom(seja na maionese ou em qualquer guloseimas)risos, a Xuxa tbm nao viu Duendes?Entao, eu acredito em tudo .....bjs