sábado, 10 de novembro de 2012

A fábula dos doze poetas lobos maus

Era uma vez numa floresta encantada e onde vivia Chapeuzinho Vermelho cercada de 12 horríveis poetas lobos maus. Chapeuzinho era jovem e muito bonita e aqueles lobos queriam seduzí-la, provar da sua tenra carne, evidente, capaz de saciar os vorazes apetites dos meninos lobos.
Ora! Mas não era a sedução que ela tinha para lhes oferecer, não era a sua carne e  sim as poesias que guardava com tantas expectativas. E ela tentou, versejou, mas eles não queriam saber dessas coisas e muito menos das suas linhas - "isso parece feito por criança" - "isto está muito ruim" - “aprenda a gramática” - zombavam.
Porém, Chapeuzinho de boba nada tinha e assim percebendo o ardil das suas táticas contratou um advogado que de início também se imaginou num caso com ela. Todavia sendo um homem polido e profissional desistiu do intento ao perceber que a intenção feria o juramento que celebrara junto ao direito.  Sendo assim naquela mesma manhã o caso foi analisado e o advogado expondo o leque de opções vislumbrou proposituras de ações, se não de "Assédio Sexual",  certamente por "Danos Morais" afinal, os lobos achincalharam-na com termos e situações maliciosos. Entretanto diante das ponderações do advogado Chapeuzinho Vermelho pensou, pensou e pensou. Não! Não era o dinheiro deles que ela pretendia, queria sim o respeito para continuar se dedicando à poesia, apesar terem ferido a sua alma. E foi assim entre o contexto de argumentos viáveis que ela entregou uma pequena e perfumada carta para que o advogado lesse. Sim, era essa a sua pretensão e ela estava ali nos odores e letras daquilo que imaginou poema. Para Chapeuzinho Vermelho não importava o que o juiz viesse a decidir desde que permitisse que o seu desagravo fosse juntado aos autos.
Foi aturdido, porém convencido por sua cliente que o nobre defensor leu o manuscrito na suavidade do papel. Depois disso os seus olhos brilharam e ele exclamou otimista:

- Moça, melhor que isso só os teus saraus das terças feiras! Não há juiz para olhar com maus olhos a tua causa! - Ele disse e depois sorriu satisfeito.

No dia seguinte deram entrada na petição-poesia de Chapeuzinho Vermelho:


A fábula dos poetas lobos e maus


Ora, ora meus nobres poetas!
Por que se Idolatram e são tão presunçosos?
Ao acaso a poesia se veste numa única roupa?

Mas, os poetas-lobos
Claro, não se abalaram
Afinal não há o que iniba
A ira de versadores ardilosos
Porém a pior poesia é a do poeta algoz
Para ele não há curva, não se vê a cura
Jamais persistira numa reta


-Ora, às favas esse tanto racionalismo piegas!
Somos irracionais, e daí? Mas somos cultos!
E nisto se consiste a nossa vaidade!
Uivaram os ferozes garotos maus

Evidente, supunham-se sumidades
Da mais nobre e casta poesia
Onde a palavra de ordem era desdenhar
Da simplicidade dos versos da menina

Sim! Foi o massacre da corja letrada,
O nefasto desdém dos meninos mimados
Que armados até os dentes, encolerizados
Riam, achincalhavam, humilhavam

Poetas?
Poetas onde? Aonde?
Poetas é o caralho! Isso sim!
Ela esbravejou e continuou versando:

No mais, são arremedos daquilo que aprenderam nos livros
Vocês não os escreveram, então por quê tão magnânimos?
Saibam que a verdade jamais será as suas ou me serão essas
Pois os seus atos se assemelham aos das velhas rabugentas
Dessas que sibilam “S” ao traduzir as palavras dos dicionários
Encontradas nas edições do Houaiss, Michaelis e Aurélio

Sim, saibam! jamais foram e ou serão mais que isso
São uns nada insípidos, arrogantes, prepotentes
Cambada de "poetóides" esses que vivem para humilhar
São diamantes acrílicos reluzindo nas estantes dos bazares
Ricos em soberba, vestidos nas troças, nas coisas sem graça
São a ralé da futilidade, os pseudos-cultos caçando palavras


Copirraiti março/2010
Véio China®

**Fábula postada numa comunidade deOrkut  (BDE)por motivos óbvios

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