sexta-feira, 27 de junho de 2008

Deficiência.


Apesar da deficiência, ele parecia saber tudo que ocorria à sua volta.
Alegre, um pouco estabanado é verdade, mas, feliz, vivia distribuindo sorrisos e objetos espatifados por onde seu corpanzil passasse.
Um dia porém, na ante-sala de espera do ACD, uma garotinha, talvez uns 7 ou 8 anos, loira e bonita, sentada ao lado de sua mãe, olhando-o atentamente fez a seguinte observação. A sua voz soou alta e clara como a sua inocência:

-Nossa mamãe! Que garoto estranho! Tem olhos parecidos de um japonês mas, não se parece com um japonês.

O garoto síndrome de down ouviu. Apesar do esforço, não conseguiu concatenar o raciocínio e assimilar a conclusão da garotinha. Só ficou ali, parado, estático, um tanto triste por imaginar-se ofendido. Tal qual a garotinha, ele se encontrava com a sua mãe; era o dia de sua avaliação. Atingido, sentiu necessidade de ir à forra:

-Mãe, por que toda garota loira é burra? - Ele havia ouvido dezenas de vezes dos garotos da sua escola a tal famigerada piada da "loira burra".

-Filho, que é isso? - Comporte-se Fernando! - Admoestou-o a mãe.

As mães entreolharam-se amistosamente, sorrisos cúmplices e resignados.
Os garotos porém, se olharam num misto de antipatia e empáfia, mas algo tão momentâneo que não perdurou duas pulsações de um coração.
Momentos após, viu-se abrir nele um sorriso maravilhoso. E os olhos parecidos de um japonês, mas que não eram de fato de um japonês, brilharam esplendorosamente. E então ele se ateve nas reluzentes hastes metálicas que amparavam as pernas dela. Ela percebeu que ele mantinha o olhar fixo no seu aparelho, então sorriu-lhe timidamente. E a olhando novamente, concluiu que por mais que reluzisse aquele metal , jamais seria o suficiente para ofuscar os mágicos e resplandecentes olhos azuis daquela loirinha que ele achara tão linda.

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