sexta-feira, 15 de junho de 2007

Os magníficos olhos azuis de Laura



A escolinha estava toda enfeitada naquele segundo domingo de Maio. Por lá se viam bexigas coloridas, bandeirolas e tudo mais que diverte a criançada em dia de festa.

Num palco, improvisado, um grupo de meninos e meninas do “prézinho” cantavam em homenagem às mães. Dr. Alberto, comovido, não desgrudava os olhos da sua pequena Laura, que de tão linda parecia sobressair entre as demais crianças. Pela primeira vez o Dia das Mães era passado sem a Dona Carla, a mãe da pequenina. A princípio e por conta da algazarra, Laurinha não deu por sua falta, mas à medida que as comemorações avançavam e que as garotinhas faziam homenagens às suas mães acabou por se perceber a situação ao ponto de pequenas gotas de cristais se formarem em seus magníficos olhos azuis de 5 anos de idade..

-Papai! Que saudades da mamãe! Ela está mesmo morando com "Deusinho"? – Perguntou apontando para o céu.

- Está sim, querida! Está morando lá em cima, com Ele – Respondeu o Dr.. Alberto, fragilizado, tentando evitar que desaguassem os olhos marejados

-E a gente não pode visitar porque ela está muito doente, né papai? Insistiu a guria

-É filha! Ela está doente e isso não deixa a gente não visitar a mamãe.- Finalizou escondendo o rosto para que ela não lhe visse as lágrimas.

Laura era uma menina sagaz e de inteligência rara, entretanto ele sabia que por tempo definido contornaria a situação. O que ele não tinha certeza era de como conseguiria tratar do assunto num futuro não tão distante, afinal, Laura era dotada de percepção impar, e por vezes tão geniosa como a mãe.
Segunda feira, 20 hrs, ele estava lá. O Dr. Alberto cumpria ao que se determinara. Há oito meses ele frequentava tais reuniões e o fato de, nela, comentar publicamente suas dolorosas experiência com o grupo parecia aliviar suas dores, assim como assumir as dos outros.

Na hora do seu “testemunho” ele retirou um papel do bolso. Era a notificação judicial convocando-o para novos depoimentos. Com a voz embargada e um olhar fixo fixo no papel falou para o seu grupo:
 
-Sou Alberto Junqueira! Para os que não me conhecem e estão aqui pela primeira vez, sou advogado, 35 anos, e estou quase há oito meses sem beber. Respondo por homicídio culposo ao estar embriagado  e causar acidente que vitimou a minha mulher –
 
A emoção ao proferir própria culpa foi tanta que ele não conseguiu evitar que as lágrimas descessem pelo rosto, abrindo caminho até o queixo, e de lá gotejando uma a uma no peitoral da camisa social.. Muitos dali se emocionaram e também choraram não só com esse, mas com outros relatos - Era triste ver neles as expressões do desespero, das ansiedades e incertezas, mesmo que procurassem de algum tipo de esperança.
Terminado, todos solidarizam cumprimentando-se, cada um tomando o seu rumo.

O advogado, abandonando a associação dirigiu-se para o seu carro estacionado um pouco adiante.
Dr. Alberto, o profissional de sucesso, proprietário de uma das mais famosas banca de advogados do país sabia que, juridicamente poderia dar-se um jeito, amenizando em parte as acusações que lhe seriam imputadas. Ele, ainda jovem e rico, herdeiro duma das mais tradicionais famílias do estado só não detinha o dom da premonição, afinal, aquela linda garota de olhos azuis haveria de crescer.

Enfim... um futuro imprevisível para ele, afinal, Laura era tão inteligente, tão impetuosa............

2 comentários:

Jobove - Reus disse...

please visit, thank

Cláudia I, Vetter disse...

Que pontada no coração.

Me perdoe a intromissão, mas esta tocou fundo; boa demais.