quarta-feira, 7 de março de 2007

O dia que Bukowski se tornou Fake e criou o Orkut.


Estávamos em 1992, portanto a dois anos da minha morte, quando me passou pela cabeça que em qualquer um daqueles dias um desses garotos cibernéticos, com um QI duas vezes acima da média, criaria um site de relacionamentos a nível mundial. E, que a partir desse conceito surgiriam páginas pessoais que seriam definidas por perfis. Criariam-se também comunidades das mais variadas e inusitadas com o propósito de discutir qualquer assunto que se possa imaginar. Evidente, isso seria interligado por usuários que em rede global permanecriam conectados por computadores pessoais, geringonças medonhas que se parecem mais com um cacete do que uma bunda.

E eu acreditava que fosse mesmo acontecer,apesar de não ter certeza se conseguisse me manter vivo até lá. E se conseguisse a façanha, eu torcia pra que chegado esse momento me fosse possível passar incólume e sem ninguém pra saber da minha identidade, torrar-me os culhões ou lamber-me o rabo. E como a revelação de uma curiosidade é o orgasmo dos insatisfeitos, perguntariam; Mas, há algum motivo para que o senhor não queira que saibam da sua real identidade? E eu responderia: não, é só o mero prazer da diversão.
E dessa forma que eu me veria. E o faria justamente para não inspirar qualquer outro sentimento como o da vaidade ou outro tipo de competição, afinal, os nossos egos, vaidosos, estão sempre necessitando se sobressair e se afloram facilmente quando colocados sob pressão em confronto com os dos outros. Obvio, e em acontecendo, suponho que haverá sempre uma seleta minoria exigindo todo o realismo que eles julgam possuidores. Imagino também que nestas páginas haveria algum tipo de álbum fotográfico e as pessoas em sendo bonitas e pródigas em estética , não exitariam em mostrar as linhas perfeitas de um corpo dourado a beira de uma piscina ou nas areias de um mar. E isso lhes satisfaria as vaidades como o estivesse desafiando num "Está vendo? isso é ser real" pra em seguida arrematar "Ei! e você por que insiste em não se mostrar?” Então eu penso nisso e questiono se não seria esse um caso de exibicionismo e chego à conclusão que seria bem provável, mas, de bom grado aceitaria como definição o termo ”vaidade" para não gerar mais polêmicas e dissabores com esses perfis tão reais.
E era sobre isso que divagava quando me perguntei:
-Sr. Bukowski, existiria algum termo com o qual gostaria de ser rotulado?
Fiquei pensativo afinal, convenhamos, que é difícil conseguir passar desapercebido, anônimo e, não querer expor a sua identidade parece incomodar grande parte das pessoas. Em todo caso levei isso em consideração, deixei a mente fluir e as idéias brotaram aos montes mas, nada que definitivamente gostasse, até que;
-Fake! Fake!- exclamei.
E eu, encontrava aí o termo que tanto eu procurava. Bem...era temerário ser um fake e sair por aí grafando abobrinhas, coisas que talvez de cara limpa eu não tivesse peito suficiente pra dizer. Então,eu sabia que daria a oportunidade pra me pegarem pelo rabo. Sei que me acusariam de ser sem personalidade, recalcado, doente e o cacete a quatro. Fariam isso sem dó e sem piedade, mesmo sendo, muitos deles, uns bons filhos da puta travestidos de gente de bem. E geralmente, esses se julgam os donos da verdade e se consideram tão espertos e ardilosos que tentam se passar por dóceis cordeiros mas que, na realidade são tão falsos como um belo diamante de vidro. Bem, era tanta merda que achei que uma a mais ou a menos que não faria a menor diferença.
-Fake! está decidido,- e eu seria um fake do rabo.
Mas, mesmo assim, ainda me sentia incomodado pela idéia. Será que me deixariam em paz, mesmo não sabendo da minha identidade? Acho que não e quando menos se espera surge um desses sujeitos metidos a defensores da moralidade, perfeitos cagadores de regras, desses que certamente lhe torra o culhão com um prazer quase sádico.
E esse tipo de sujeito é o supra-sumo da babaquice. É daqueles que se irrita só pelo fato de não pensarmos ou compartilharmos das mesmas opiniões. E, ele sabe que vai te pegar e fará de tudo pra que isso aconteça, nem que seja necessário cheirar o teu rabo através do vitrô do banheiro.
Que merda! Por falar nisso, quebrei um dos vidros num dia que estava bêbado e o barulho da porrada e dos vidros se estilhaçando no corredor talvez tenha acordado algum vizinho mas, ninguém se manifestou já que sabem que bêbado eu me sinto o valentão do pedaço. Mas o que me fez macetar a mão naquele vidro? Sinceramente eu não sei, mas me recordo do talho e do sangue jorrando feito esguicho maluco e eu, correndo, tropeçando, esbarrando , derrubando móveis a procura de um pano, na tentativa de estancar o sangue que escorria pela mão e deixava no piso um contínuo trilho vermelho. Lembro que fiquei três semanas com aquela porra de ferimento e que as pessoas aparentavam nojo quando se deparavam com o relevo grosso e escuro que se formou no topo da mão e que, depois de completamente seco, a casca que se formara foi desprendendo e aí só a lembrança da marca de uma cicatriz.
E eu recordava todas estas coisas quando reparei que, por displicência, havia deixado acabar os cigarros e que meu lote de bebidas se traduzia em três latinhas de cerveja e a metade de uma garrafa de vinho do Porto.
- Porra! hoje não é mesmo o meu dia de sorte!
Olhei pela pequena janela e a tarde estava morna mas, as nuvens se tornavam pesadas e soprava um vento ligeiramente úmido que deixava a certeza que a chuva não tardaria. Olhando ainda, eu percebia que as nuvens cinzentas se fundiam a outras mais claras e antes que o aguaceiro me pegasse, resolvi sair e comprar as bebidas e o cigarro.
E, antes de deixar atrás de mim o velho e enferrujado portão de entrada, ainda balbuciava:
-Fake, fake -

2 comentários:

Giovani Iemini disse...

véio, vc leu tanto o Velho que ele tá incorporado em vc. acho que se um dia deixasse o fake ter vida própria, ser verdadeiramente o véio china e não o clone do Buk, vc se surpreenderia com a boa repercussão.
o texto é bom. tem energia.
e capta o que o mestre tinha de bom e que as pessoas têm dificuldade em notar: a doçura e a insegurança atrás da casca grossa.

vc é assim, véio? doce atrás da amargura?

Véïö Chïñä‡ disse...

Gigio;
Evidente que sempre carregamos influência de alguém. Do velho safado trago muita coisa, claro!
Mas a intenção com essa brincadeira, foi a de imaginar se seria possível escrevê-la de forma bem semelhante ao que o Buk escreveria.(inclusive com um jargão que ele sempre gostou de usar..rabino do "rabo"..num sei o que do "rabo")
Essa foi a intenção e pelo jeito, consegui!!valeu!!!

hehehehe.

***Se existe a doçura detrás da amargura do véio china?
Claro! Desde que não passem a mão na bunda dele!!