sábado, 15 de setembro de 2007

Mulheres & Vinhos


Seu horário de almoço estava por dar. Denise, estava uma tanto depressiva pelo desgaste que o seu casamento vinha apresentando de uns tres meses pra cá. Justo ela uma arquiteta de status, afamada e que mantinha seu escritório numa das casas mais caras do jardim Europa. Sergio, seu marido e diretor de negócios de uma mega empresa de informática estava por viajar naquela tarde e ela lembrava da discussão que tivera com ele na noite que passou.

-Let It Be, Denise, Let It Be! Calma Baby, please! – Dizia ele, exasperado.

Fora mais uma noite que ele não conseguira a ereção, quem diria, o orgasmo. Essa situação a afligia e o sentia cada vês mais distante de si. Pensou em lhe fazer uma surpresa e lhe falar o quanto o amava antes que viajasse. A viagem estava marcada para as 18;00 hrs, viagem de negócios; como sempre, portanto ainda havia como lhe encontrar e tentar a reaproximação:

Alo! Catarina! Tudo bem com você? É a Denise. Poderia falar com o Sérgio? – solicitou gentilmente à secretária como sempre o fizera.

-Dona Denise, o doutor Sergio já foi viajar. Ele não lhe avisou? – justificou ainda mais gentil a funcionária.

Para não se constranger ainda mais, criou algumas desculpas com a secretária e desligou. Oras! Mas se a viagem estava marcada para o final da tarde, como ele poderia ter partido? Até onde soubera, e sabia, nos vôos nacionais a necessidade é a de apresentar-se com uma hora de antecedência ao início do vôo. Que estaria aprontando o Sergio? Por onde andaria numa hora dessas? E também não agüentava mais aquela mania miserável de em qualquer situação sair-se com aquele “Let it Be” – alguma afetação, imaginou - já que até onde sabia, ele nunca fora fanático pelos Batles.
Sabendo que não chegaria a qualquer conclusão e com a finalidade de tentar se distrair desceu num dos luxuosos elevadores do edifício e foi numa loja de lingeries - não estava com fome-. Chegando ao Shopping estacionou o seu Mercedes bens numa das vagas e subiu para o andar de lojas. Entrou na “Womans” a sua loja predileta de lingeries.
Era lá que comprava os seus refinadíssimos conjuntinhos da “Victoria Secrets” e os baby-dolls do mais excitantes, mas de uma classe absoluta. Ao entrar na loja reparou numa mulher morena aparentando algo próximo da sua idade. Olhou-a fixamente e ela se distraída apalpando algumas peças apostas sobre o belíssimo balcão em mármore. Certificou-se que poderia ser a própria. Era ela, não havia qualquer dúvida agora.

-Claudiaaaaaaaaa?- chamou exultante..

-Deniseeeeeeee! – Era a amiga de faculdade e uns dez anos as separaram, mas as feições e as vozes permaneceram as mesmas. Identificaram-se com facilidade aquelas duas lindas e apetitosas companheiras de universidade.

Ambas, alegres, mostram-se felizes pela surpresa do inusitado encontro e ali, ajudando uma a outra escolheram os seus adornos, caros e requintados. Sorriam ainda e mutuamente se convidaram para almoçarem naquele refinado e famoso restaurante de uma rede francesa, ali, ao lado da praça de alimentação. Entraram e o maitre, impecavelmente vestido veio lhes dar boas vindas. Ao lado do maitre, o garçom, alinhadíssimo em seu paletó branco, calça negra e gravata borboleta. Anotou os pedidos que foram escolhidos juntamente com a sugestão do maitre. Enquanto aguardavam conversaram amenidades, perguntaram por suas mães já que não havia sido mais de uma única vez que estiveram na casa uma da outra para a realização trabalhos acadêmicos. Claudia mantinha-se bela como sempre fora. Apesar de se formar arquiteta não exercera a profissão e casara e separara-se de um jovem milionário e industrial que a deixou com uma pensão abastadíssima. Portanto, dinheiro e vida apertada, não era com ela.. Denise contara que sua mãe havia falecido porem o pai continuava vivo e morando no mesmo local. Ainda mais; tinha aquele famoso escritório de arquitetura. Os pratos chegaram pouco depois do vinho de procedência francesa. Foram servidas e bebiam descontraída e sorriam ao lembra-se das farras na faculdade.
Recordaram-se até do baile do “cabide” onde ficaram só de calcinhas e soutiens e os rapazes em cuecas. Riram muito ao recordar que Denise ainda conseguiu
Escapar sem ser “traçada” por algum daqueles pervertidos colegas de classe e que a mesma sorte não tivera a Claudia.

-Ah! Mas quer mesmo saber? O Elder era uma graça e foi uma das melhores transas que eu tive – confidenciou Claudia

Como toda patricinha, mal enfiaram os garfos nos pratos. Porém, enxugaram rapidinho o vigoroso vinho francês. Pediram outro. Chegando, encheram os seus copos e bebiam e riam divertidas. As risadas agora soavam altas e chegavam até incomodar o maitre, já que outros clientes entravam no local. As duas já se encontravam um tanto altas e no início da terceira garrafa.

-Denise, e você, têm filhos – perguntou Claudia.

-Sim, um casal, o menino com 6 anos e a menina com 4. – disse Denise , enfastiada

-Ah! Eu tive só uma. Ana Carolina, 8 anos. Fica no colégio de freiras o dia todo e o meu pai vai buscá-la todos os dias. –confirmou Claudia, com o olhar um tanto ébrio.

-E tem mais, eu não quero mais casar. Homem pra mim é só pra curtir a vida. Sair, se divertir e terminar a noite num bom e caro Hotel. Nada de Motel. Motel é coisa de proletário! – riu-se Claudia, divertida com o que acabara de dizer.

-Ah! Comigo não tem nada disso. O meu casamento já dura oito anos e está bem desinteressante. Meu marido de uns quatro ou cinco meses pra cá tem se mostrado distante.
-Ih menina! Vá viver a vida! Se o marido não te dá bola, procure outro.b Eu já fazia isso no tempo que estava casada. Numa das vezes sai com um dos gerentes da empresa dele. Quando ia lá o sujeito me comia com os olhos. Atraente, atlético, olhos azuis, moreno, simplesmente um deus! – gargalhou dessa vez a nada discreta Claudia diante de uma Denise, constrangida e meio que envergonhada pelo espalhafato da outra.

Permaneceram em silêncio por minutos e Denise estava sufocada, inconformada pela atuação sexual do Sergio que nem mesmo a ereção conseguira.
E isso a sufocava e era necessário desabafar.

-Claudia, vou te contar uma coisa. Morrendo de vergonha, mas vou. Nessa noite o meu marido não conseguiu nem mesmo a ereção. Ficou só nas desculpas evasivas, virou a bunda pro lado e roncou que nem um porco. – Denise parecia bem desanimada ao lhe confidenciar.

-Eu já te disse menina! Saia para a vida! Mergulhe nela. Faça como eu. Homens são descartáveis e eu os uso conforma a necessidade. Agora mesmo, estou com um garanhão que me da prazer extremado. Aquilo não é homem; é um cavalo de raça!

-Poxa! Quem me dera meu marido fosse assim, mas sabe que nunca teria coragem de traí-lo. Juro! – Uma pequena lágrima rolava numa das faces de Denise.

Pela primeira vez na tarde, o sorriso de Claudia se extirpou e ela percebeu que a amiga precisava de um ombro amigo e não de fanfarronices. Percebeu ali a amiga da faculdade, honesta, sincera e pau pra toda obra; ela bem se lembrava. O Seu rosto se entristeceu e então tentou ajudar:

-Leit It Be, Denise! Calma baby, please! Tudo há de melhorar!

A taca do vinho francês, de um rubro esplêndido - como todo bom e sofisticado vinho deve ser – escapuliu de sua mãe e estilhaçou-se ao chocar com a dureza da pedra.
E no chão de um branco infinito, quase celestial, as lágrimas transformadas num pequeno rio de sangue, escorreram.

A taca do vinho francês, de um rubro esplêndido - como todo bom e sofisticado vinho deve ser – escapuliu de sua mão e estilhaçou-se ao chocar com a dureza da pedra lá embaixo. E no chão de um branco infinito, quase celestial, as lágrimas transformadas num pequeno rio de sangue, escorreram..

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